Não consigui acessar. É só para assinantes.
@Béla van Tesma, como estou interessado em assistir a série em questão, dá pra fazer um resumo deste artigo que você postou?
Obrigado.
Colar aqui só o texto mesmo:
1) Um roteiro extremamente bem construído
Em suas duas primeiras temporadas, Dark conseguiu montar um enorme quebra-cabeças, de fritar o cérebro até dos telespectadores mais atentos. Tudo isso partindo de um premissa simples: no interior da Alemanha, o suicídio de um homem e o desaparecimento de um adolescente desencadeiam uma série de acontecimentos misteriosos e põe antigos segredos de quatro famílias em xeque. A partir daí, a série caminha para uma trama nebulosa que ultrapassa as barreiras do tempo e, para cada resposta que conseguimos, ganhamos com duas novas perguntas.
Como a história não se passa em ordem cronológica, é preciso muita atenção para entender os acontecimentos e as motivações dos personagens – e é por isso que a série prende tanto o telespectador. Isso sem falar nos plot twists, que marcam alguns dos melhores momentos das temporadas. Na terceira, vale dizer, não é diferente.
2) É complicado, mas faz sentido
Um dos diferenciais que torna Dark tão boa é que a série responde os mistérios que coloca – ou, pelo menos, fornece o necessário para que as pessoas tirem suas próprias conclusões. Obras que trabalham com conceitos de ficção científica ou sobrenatural muitas vezes podem cair no erro de criar situações enigmáticas e nunca explicá-las de forma satisfatória, ou então propor uma resposta rápida – e ruim (sim, estamos falando de você, Lost).
Ajuda e muito o fato de que os criadores, Baran bo Odar e Jantje Friese, terem pensado toda a história há 9 anos. Pois é: as três temporadas já estavam planejadas quando a série estreiou, em 2017. Aos poucos, o quebra-cabeça começa a ser completado, e há coisas da primeira temporada que só são completamente compreendidas na terceira, por exemplo. Mas não pense que a série nos apresenta tudo de forma explícita e didática: sem subestimar a inteligência do público, Dark nos oferece um material para que nós mesmos passemos noites sem dormir tentando criar teorias que façam sentido na trama. E essa é a melhor parte.
3) Subtramas de tirar o fôlego
O grande trunfo de Dark é, de longe, a história principal, que envolve muita viagem no tempo e ficção científica. É nela que o protagonista Jonas brilha, por exemplo, e é daí também que surgem as maiores perguntas e os maiores plot twists da série.
Mas esse não é – e nem tenta ser – o único ponto alto da série. As tramas secundárias recebem a atenção merecida e não deixam a desejar, com muito drama familiar, traições e segredos envolvidos.
Os personagens, aliás, são complexos e bem trabalhados. A todo momento, a série nos mostra como o conceito de “bem” e “mal” são meras simplificações que construímos, e é difícil simpatizar 100% com algum personagem, já que a maioria tem alguns podres no currículo. E isso é bom: Dark não é uma história de vilões contra mocinhos, mas de humanos agindo de acordo com seus próprios interesses (com uma ajudinha de máquinas do tempo).
4) Um ótimo elenco
Além dos criadores da série, um outro nome da produção merece um parabéns especial: Simone Bär, responsável pela escolha do elenco. A maioria das atuações não deixam nada a desejar, principalmente nas frequentes cenas dramáticas (o que não falta é choro). Mas o mais impressionante é o fato de que a série conseguiu escalar atores bastante parecidos para interpretar os mesmos personagens em diferentes épocas – não é incomum encontrar pela internet comparações que evidenciam as semelhanças entre atores que interpretam o mesmo personagem.
Obviamente, maquiagem e figurino ajudam. Certos detalhes, inclusive, recebem atenção redobrada no processo porque também ajudam o telespectador a entender quem é quem (algo que não é fácil de primeira): alguns personagens tem cicatrizes, pintas ou outras características marcantes para guiar nosso olhar.
A série conta com nomes consagrados na televisão da Alemanha, como Winfried Glatzeder (Ulrich velho), mas também ajudou a elevar a carreira de atores relativamente menores para níveis internacionais, como o próprio protagonista, Louis Hofmann (Jonas), e Maja Schöne (Hannah).
5) É visualmente impecável
Dark não nos oferece somente um roteiro impecável, mas também é extremamente bem feita nos quesitos técnicos. Visualmente, todo os cenários são construídos para fazer jus ao nome: as cores são opacas e cinzentas, a atmosfera é sombria e depressiva, e algo sempre parece estar escondendo nas florestas frias de Winden ou na chuva torrencial típica dos episódios. A ambientação temporal também é um ponto alto da obra, que tem cenas em três diferentes épocas – e a atenção aos detalhes neste ponto é de impressionar, já que há easter eggs e referências a todo momento, nas três temporadas.
Outro fator que se destaca é a edição dos episódios. Os cortes de cenas têm também função didática, especialmente para mostrar os mesmos personagens em diferentes épocas ou para mostrar relações de causa e consequência entre acontecimentos que assistimos. Tudo isso, vale lembrar, sob uma trilha sonora desconfortável – e de arrepiar.
6) Soube quando (e como) parar
Dark chega ao fim neste dia 27, após apenas três temporadas, apesar do enorme sucesso internacional incomum para séries que não sejam em língua inglesa. É com certeza uma notícia triste para os fãs – mas a verdade é que isso foi uma decisão acertada dos produtores.
Séries que ganham muita projeção geralmente têm dificuldades em terminar de forma satisfatórias (quem aí realmente gostou do fim de Game of Thrones?). Pior, podem cair na armadilha de se estender demais e recorrer à famosa enrolação, ou então perder a essência. Baran bo Odar e Jantje Friese não cometeram esse erro. Com um planejamento prévio para três temporadas, Dark fornece tudo o que tinha a oferecer – nem mais, nem menos.
Além de tudo, o final da série traz a maioria das respostas que tanto queremos. É bem provável que não veremos uma legião de fãs decepcionados xingando a série nas próximas semanas. Dark tem um fim agridoce, sensível e bonito, que fecha com chave de ouro uma obra que, merecidamente, já entrou para a história como uma das melhores dos últimos tempos.