E a minha tia que soltou essa: "o coronavírus é um castigo divino".
Amiga, se o seu deus é capaz de dar um castigo pra que pessoas inocentes morram sem mais nem menos, eu não quero ter nada a ver com essa cara não. Obrigada.
Eu concordo com sua tia e com o
@Caio de Exu . Castigo Divino.
É claro, como o Caio falou, não é “só” isso. É um conjunto de fatores tão grande e vasto, tão complexo, que o máximo que nossas melhores teorias podem fazer é arranhar pedaços da realidade.
Penso que é uma forma de Deus fazer nós rezarmos mais, praticar mais nossa espiritualidade.
É uma forma dele fazer nós darmos mais valor a família, parentes que nem sempre queremos encontrar (afinal é uma doença que não pode reunir).
No começo da pandemia ano passado lembro de uma imagem poderosa do Papa rezando sozinho na imensidão do Vaticano, para uma imagem do Cristo crucificado que ajudou a parar a gripe espanhola, salvo engano. Uma imagem fortíssima. Mostra como somos fracos e dependentes de Deus.
Quando vemos aqueles absurdos que fazemos: filhos matando pais ou o contrário. Corrupção nos governos matando milhares silenciosamente. As maiores bizarrices que imaginarmos, e também as menores, as pequenas mentiras/corrupções das pessoas nas cidades, nos seus empregos. Fazemos muita coisa errada. Uma doença dessa é uma resposta de Deus a tudo isso.
Eu sou católico, leio todos os dias a primeira leitura e o evangelho. Lembro que no ano passado, no dia que o Covid chegou no Brasil a primeira leitura falava da história do profeta Jonas. Nessa história, um anjo avisou Jonas em sonho que Deus iria destruir a cidade de Nínive “porque nela já não havia mais nenhum homem justo”. (Olha que impressionante a força dessas palavras). Jonas então foi para Nínive avisar o rei. A cidade era tão grande que levava 4 dias para atravessá-la. E no caminho Jonas foi avisando o povo e fazendo sua pregação. Quando ele chegou até o rei e contou seu sonho (pasmem) o rei acreditou nele! Tirou suas roupas chiques, se vestiu com trapos, saiu do trono e se sentou em cinzas, e jejuou. E ordenou que todo homem, mulher, criança ou animal dos homens fizessem o mesmo, a fim de que talvez Deus se compadecesse e perdoasse Nínive. E (pasmem), as pessoas acreditaram e fizeram como o rei. E Deus perdoou-os e não destruiu a cidade. E essa leitura caiu no dia que o primeiro caso foi diagnosticado no Brasil.
Eu lembro que anos antes numa missa que o bispo estava ministrando, também era essa leitura. Lembro bem porque na explicação o bispo disse que naquela igreja, naquele prédio, naquela sala, “não tinha nenhum homem justo” (reparem que o bispo também estava na sala), porque só Deus é justo. Só Deus é bom. Jesus disse isso também.
Então nós somos pecadores, nós erramos demais. Nós sabemos disso. Todos os dias travamos uma luta interna contra a Serpente dentro de nós, temos que escolher entre fazer o que é melhor pra gente ou fazer o que é melhor pra maioria, ou fazer o que é certo. Nem sempre é fácil fazer essa escolha, nem sempre é óbvio. E podemos pecar por palavras, atos, pensamentos ou omissões. Então sem dúvida pecamos demais.
Então Deus não mata “inocentes” , estamos todos longe disso. E a vida nesse plano acaba, por mais santo que sejamos. A vida eterna que Cristo promete é em outro mundo/plano. Não nesse. Aqui é passagem e aprendizado.
Mas a vida eterna existe, é uma promessa de Jesus, e como diz na oração da Salve Rainha, temos que fazer de tudo para sermos merecedores dessa promessa.
Tudo isso pensando no viés de Deus, podemos pensar em outros viéses também:
o viés científico, por exemplo, sempre que a população de um animal cresce demais e desequilibra a natureza, ela responde, cria algo para controlar o desequilíbrio e tudo voltar ao normal. Será que o covid é uma resposta dessas, da natureza? A humanidade de vez em quando sofre grandes males que ceifam milhares de vidas.
Eu falo mais da visão católica, porque é a que eu conheço um pouquinho. Mas o castigo de Deus pode ser explicado em muitas religiões diferentes, como o Paganus disse: como o Karma budista por exemplo. Explicação diferente, mesma idéia.
Marco Aurélio, imperador romano e filósofo, que não era Cristão, obviamente, também disse: “Não existe uma árvore hoje que ontem não foi uma semente. Não existe uma semente hoje que amanhã não será uma semente “.
Jesus disse o mesmo com palavras diferentes: “a semeia é livre, a colheita é obrigatória “, ou seja: “você vai colher o que plantar. Não tem como plantar maçã e colher jaboticaba. Se plantou maçã, só poderá colher maçã, não tem outra opção “. Por isso temos que estar sempre atentos no que estamos plantando hoje, porque a colheita vem amanhã, inexoravelmente.
Notícia boa: o universo é cosmos, não é caos. É uma engrenagem perfeita e tudo está alinhado, cada peça move a seguinte num fluxo eterno e perfeito. Os estóicos acreditavam nisso. Ou seja: se existe a doença, existe a cura. De outra forma o mundo sairia do eixo.
No caibalion, filosofia antiga egípcia, tem isso também: “assim embaixo como em cima “, por exemplo. “É estudando o grão de pólen que se compreende o arcanjo”. Ou seja: não tem boi, se existe a doença, existe a cura. Só temos que encontrar.
E castigo gente, não é coisa ruim (embora pareça num primeiro momento). Quem não castiga um filho, cria um ser humano ruim. Castigo serve pra gente aprender. Reposicionar a rota. Se não temos prova, não estudamos.
E vamos aprender. Vamos superar esse desafio, se Deus quiser
. Vamos sair dessa melhor do que entramos
É o que penso. Porém respeito todas as opiniões. Ninguém precisa “engolir goela abaixo “, é apenas minha opinião. Como eu disse no começo, o problema é tão complexo que mal podemos arranhar a verdade completa por trás dele. Só temos opiniões parciais da realidade. Apenas o que conseguimos ver (e que também pode estar errado, claro).