Redundância não. Pensei mesmo em uma objetivação do universo tolkieniano sobre o nosso mundo, como se nossas mitologias fossem todas linguagens anunciando uma verdade universal, verdade perfeitamente exemplificada no universo tolkeiniano.
Bom, nisso sabe-se que Tolkien acreditava [parte em negrito] e foi nisso que ele se baseou para começar SdA.
Pelo que já li a respeito - embora esteja meio enferrujada. To em outra
vibe no momento - Tolkien quis criar um passado mítico para a Inglaterra. Um passado épico, grandioso, admirável e tão maravilhoso que seria plausivelmente real - mesmo envolvendo magia e seres extraordinários demais!
Ele quis criar para a Inglaterra algo que fosse equivalente ao "passado" dos gregos, por exemplo. Eu diria que ele fez um trabalho com intenção semelhante [semelhante não é sinônimo de igual, antes que retruquem!] a Camões ao escrever Os Lusíadas. A intenção de criar um épico. Obviamente - pelo menos é o que me parece - Tolkien foi mais bem sucedido, até porque não tentou copiar outro autor / poeta... ele preferiu - com razão - usar seu próprio estilo de escrita!
Mas a ideia era a de "enobrecer" seu próprio povo através de seus - supostos - heroicos ancestrais! É uma ideia bem antiga: todo rei, todo imperador, ou equivalente, da Idade Antiga e da Idade Média afirmava ter poderosos ancestrais afim de legitimar seu lugar no trono. Muitos se declaravam deuses ou semi-deuses, especialmente no Egito Antigo e na Roma Antiga. No mundo cristão, era comum lançar mão desse "passado mítico glorioso", em que os homens eram mais fortes, mais honrados, mais altos, mais resistentes, mais bravos e com vida mais longeva.
Assim sendo, ao tentar "recriar" esse "passado" da Inglaterra, Tolkien estava seguindo esse tipo de conceito, esse tipo de linha de raciocínio.
As vezes, por algumas fontes, tenho a impressão que Tolkien realmente acreditava que era capaz de estar redescobrindo e reescrevendo um passado existente e esquecido. Por outro lado, nas referências que já vi em suas Cartas - livro que eu ainda não tenho, então dependo dos quotes dos colegas daqui do Fórum - me parece que das 2 uma: ou ele tinha consciência de que isso era um trabalho de exercício imaginário e literário ou ele procurava assim fazer parecer para não ser taxado de tolo e excêntrico.
Afinal, por mais minucioso que fosse - e ele era MUITO - e por mais que procurasse indícios em velhas canções, poemas, lendas, etc... para (re)construir o
legendarium da Terra-Média, ele não era um historiador, arqueólogo ou coisa do tipo.... ele era um escritor, e como tal não procurava indícios em fatos, em pedras, em ruínas, em tumbas ou em materiais testados por carbono para comprovar a idade... e sim em velhas histórias das quais - muitas - ninguém nem sabia quem era o autor. Sua fonte era puramente literária e, do ponto de vista histórico-científico, certamente duvidosas!
Fosse como fosse, é mais que óbvio que ele conseguiu o seu intento se estamos aqui discutindo a possível veracidade dos fatos por ele narrados. Ele conseguiu criar um universo mítico tão atraente ao ponto das pessoas chegarem a cogitar que pudesse mesmo ter existido e até a
desejar isso!
Agora, por outro lado, existe uma teoria
muito loka que vi esse dias - enquanto pesquisava sobre multiuniversos e coisas do tipo - que diz que tudo que nós criamos em nossa mente se torna real em algum lugar do universo. Ou seja, se você cria um mundo - com fez Tolkien e diversos outros autores - ele pode se tornar uma espécie de universo paralelo. Então, se for assim - e seria muito legal se for mesmo - imagine o tamanho da responsabilidade apenas por imaginar algo inocentemente?
Citando - por que não? - Dumbledore:
"Claro que está acontecendo em sua mente, Harry,
mas por que isto significaria que não é real?"