A política é muitíssimo mais morosa que a atividade econômica, em parte porque ela tem que ser assim. Encontrar a solução mais bem estruturada leva de muitos meses a anos, e a atual situação deteriora-se muitíssimo mais rapidamente que isso. Este é um dos motivos pelo qual em quase todos os contextos de crise econômica em países há um aumento inicial da carga tributária. Acaba sendo o que dá para fazer. Quanto à possibilidade de diminuição da arrecadação devido a um deslocamento para baixo na curva de Laffer, ela é real, mas acaba que a economia demora um pouco para se ajustar - sejam empresários reduzindo os investimentos, sejam pessoas que, tentando driblar o aperto tributário, caçam novas formas de sonegar outros impostos. Num instante inicial, que eu não sei quanto dura, tipicamente, um aumento na carga tributária deve impactar positivamente no caixa do governo.
Mas aí também é preciso levar em conta que nesse curto prazo o governo não precisa assim desesperadamente do dinheiro. Não corremos o risco de dar um calote da noite para o dia ou coisa do tipo. O que é mais importante no curto prazo não é a grana, mas a sinalização. E nesse caso, na intenção de sinalizar um equilíbrio fiscal, sobretudo a partir de 2016, um aumento de impostos é um sinal menos positivo (ou talvez até negativo, pela perspectiva de deterioração econômica) do que um sinal de corte de despesas. E aproveitando esse gancho do sinal, é preciso ter em mente que os agentes antecipam as mudanças. Se a CPMF for anunciada como valendo a partir de data x, as pessoas não vão esperar ela vigorar para começar a se adaptar - esse processo já ocorre a partir do momento do anúncio. Ou antes até: o mero fato de estar em discussão já faz alguns se coçarem.