Mercúcio
Usuário
Vou entrar em um ponto potencialmente polêmico, em que até mesmo a forma de abordagem é delicada. Por isso, vou contar com alguma boa vontade de quem me lê.
Dia desses conversava com uma amiga que é assinante de um desses Clubes de Assinatura de livros, famoso, e essa conversa me suscitou algumas questões.
Ela comentou que este Clube manda muita coisa meia-boca, apenas por estar na moda. E que, entre outras coisas, está na moda o discurso da representatividade. [Não, ela não é minion.]
É fora de dúvida que a questão da representatividade se tornou um valor de mercado e que algumas empresas têm a intenção de construir uma certa imagem positiva dando visibilidade em suas campanhas a representantes de minorias sociais. E notem: aqui eu estou partindo do pressuposto de que isso é uma coisa positiva, ok?
O ponto do comentário dessa amiga é o seguinte: algumas dessas escolhas editoriais desse Clube de Assinatura, que foram feitas com base nesse valor da "representatividade", recaíram sobre algumas obras que ela considerou "meia-boca", do ponto de vista da qualidade literária. Só que ela entrava no aplicativo desse Clube e parecia que as pessoas tinham uma certa propensão a amar esses livros, sem muito critério. E se você dizia algo de negativo sobre algum desses livros...
Primeiro ponto para discussão: essa lógica da "representatividade", aplicada ao universo editorial -e aqui lembrando que em um Clube desse tipo você está pagando também pela curadoria, pode eventualmente sacrificar a qualidade da obra por uma condição específica do autor? E aqui é preciso dizer o óbvio: eu não estou dizendo que autores que venham de grupos historicamente invisibilizados e silenciados não possam escrever obras de altíssima qualidade. Nem vou me dar ao trabalho de citar exemplos.
O segundo ponto para a discussão é do lado da recepção: se você diz algo de negativo sobre uma obra que traz esse selo da "representatividade", a coisa, nesse universo maluco das redes, facilmente pode ser recebida como um ataque discriminatório a uma minoria. Nessa tensão entre um impulso (elogiável) de tornar visível os invisíveis, de um lado, e a necessidade de valorar as qualidades artísticas de uma obra, de outro, quão livre é a apreciação qualificada de uma obra literária? Quão condicionada por esta necessidade de validação social, de se mostrar progressista, inclusivo, etc, essa análise de uma dada obra pode estar? E, por fim: é um problema quando uma certa qualidade/condição/circunstância específica da pessoa que escreve é privilegiada em detrimento daquilo que foi escrito?
Dia desses conversava com uma amiga que é assinante de um desses Clubes de Assinatura de livros, famoso, e essa conversa me suscitou algumas questões.
Ela comentou que este Clube manda muita coisa meia-boca, apenas por estar na moda. E que, entre outras coisas, está na moda o discurso da representatividade. [Não, ela não é minion.]
É fora de dúvida que a questão da representatividade se tornou um valor de mercado e que algumas empresas têm a intenção de construir uma certa imagem positiva dando visibilidade em suas campanhas a representantes de minorias sociais. E notem: aqui eu estou partindo do pressuposto de que isso é uma coisa positiva, ok?
O ponto do comentário dessa amiga é o seguinte: algumas dessas escolhas editoriais desse Clube de Assinatura, que foram feitas com base nesse valor da "representatividade", recaíram sobre algumas obras que ela considerou "meia-boca", do ponto de vista da qualidade literária. Só que ela entrava no aplicativo desse Clube e parecia que as pessoas tinham uma certa propensão a amar esses livros, sem muito critério. E se você dizia algo de negativo sobre algum desses livros...
Primeiro ponto para discussão: essa lógica da "representatividade", aplicada ao universo editorial -e aqui lembrando que em um Clube desse tipo você está pagando também pela curadoria, pode eventualmente sacrificar a qualidade da obra por uma condição específica do autor? E aqui é preciso dizer o óbvio: eu não estou dizendo que autores que venham de grupos historicamente invisibilizados e silenciados não possam escrever obras de altíssima qualidade. Nem vou me dar ao trabalho de citar exemplos.
O segundo ponto para a discussão é do lado da recepção: se você diz algo de negativo sobre uma obra que traz esse selo da "representatividade", a coisa, nesse universo maluco das redes, facilmente pode ser recebida como um ataque discriminatório a uma minoria. Nessa tensão entre um impulso (elogiável) de tornar visível os invisíveis, de um lado, e a necessidade de valorar as qualidades artísticas de uma obra, de outro, quão livre é a apreciação qualificada de uma obra literária? Quão condicionada por esta necessidade de validação social, de se mostrar progressista, inclusivo, etc, essa análise de uma dada obra pode estar? E, por fim: é um problema quando uma certa qualidade/condição/circunstância específica da pessoa que escreve é privilegiada em detrimento daquilo que foi escrito?