Jogou pesado agora Ilmarinen! Uma saga criada por Paul Levitz e Keith Giffen que é o pai do Lobo (a melhor criação da DC, IMO) e outra pelo Marv Wolfman que deu origem a Crise das Infinitas Terras ao lado do mito George Pérez é difícil de contra-argumentar! E na saga dos Novos Titãs o próprio Trigon explicou como ficou overpower no capítulo 5.
Explicou sim, mas não foi muito bem explicado não, ou melhor, a explicação que ele deu cria tantas perguntas quantas as que ele, teoricamente, respondeu. Ele disse que drenou a energia dos bilhões e bilhões de espíritos do universo original onde ele nasceu, a mesma dimensão visitada pelos Titãs antes, mas por que só X-tempo depois da sua derrota anterior e não imeditamente depois e COMO ele tinha tido acesso a essa energia sendo que ele estava selado no Limbo e não podia agir diretamente?
As explicações pra essas coisas até estão, possivelmente, SUGERIDAS na história ( na arte do Pérez- desafio você a descobri-las, eu tenho a minha particular teoria ( "como sempre né Paulo" as más línguas diriam!)
mas não estão dadas lá ipsis literis como exposição narrativa e é exposição que vc está cobrando da saga da Liga da Justiça Dark sendo que, todas as coisas que teoricamente não estão contadas tintim por tintim lá estão ou pra servir de base pra world building em estórias posteriores ( a Enchantress vai se tornar parte do elenco de um jeito ou de outro, por exemplo) ou são coisas que vc, sendo inteligente e versado na lógica desse tipo de universo como é, deveria ser capaz de inferir por conta própria.
Só que agora você me deixou intrigado. Em todos os posts, há mais citações de obras clássicas do que as das sagas atuais, com a excessão de Flashpoint. A minha reclamação e acredito que da maioria, não é sobre as sagas anteriores e sim das atuais que, na comparação, estão bem aquém daquelas que deram início aos arcos da DC. Tá certo que hoje em dia o Morrison, o Waid, o Johns e Rucka são os reponsáveis pelas atuais mudanças no UDC e que eles têm talento para isso. Só espero que daqui a 6 meses eu não vá ver outra notícia sobre mais um evento que irá mudar tudo de novo... parece que a teoria de um reboot a cada 25 anos do Marv não levou em consideração as rápidas mudanças dos leitores nas últimas duas décadas e o tempo entre um rest e outro diminuiu.
PS: Flashpoint é uma saga fechada ou ela se espalha por outras revistas. Fiquei com vantade de ler, agora.
É lógico que estou usando histórias clássicas pra facilitar a conversa: em primeiro lugar, eu não quero espoilear a trama pra quem está lendo agora, se eu saio explicando as deduções, inferências e explicações narrativas no que está rolando agora, em alguns casos, seria o mesmo de eu chegar pra todo mundo logo no comecinho da Great Darkness Saga da Legião e falar: "DARKSEID É O VILÃO"!!
Em segundo lugar, somos leitores da "mesma geração", com a mesma idade aproximada e tivemos experiências literárias parecidas. Nesses casos, acho que referir a fatos que mostram que diversas histórias clássicas que lemos e admiramos, numa maior ou menor escala, recorriam a "retcons" ou seja, reboots parciais da história e da ambientação, similares em concepção e execução ao que Tolkien fez com o Hobbit em sua forma original, é minha obrigação moral, por assim dizer. E por quê? Não porque eu ache que vc está "errado" em sentir o que sente em relação ao Reboot ( todo fã já devotado se sente assim quando rola reboot em maior ou menor grau), mas pra mostrar que condenar uma história ou tramas ainda em curso por causa de detalhes feito esses é o equivalente de "jogar o bebê fora junto com a água do banho".
Nós podemos ter CERTEZA ABSOLUTA que houve leitores da Saga das Trevas Eternas que jogaram seus comics fora ou pararam de ler a revista na época porque viram Darkseid, um vilão do Quarto Mundo criado por Kirby, que é um conceito ODIADO por nove entre dez leitores de quadrinhos com mais de sessenta anos, ou seja, de outra "rogues gallery"),transformar o Senhor do Tempo e Mordru ( os titulares arquinimigos da galeria de vilões da Legião) em dementes balbuciantes com um acenar de dedinho, sugando seus poderes como uma esponja, coisa que ele nunca tinha feito antes.
Se era fácil assim, porque o vilão não sugou o Dr Fate ( já que, inclusive, depois, o próprio Keith Giffen definiu que Mordru também era um Lorde do Caos, ou seja, do mesmo status que o Lorde da Ordem do capacete do Destino)
na história da JLA desenhada por George Pérez que havia sido publicada cerca de um ano e meio antes? História essa, aliás, que a Abril não publicou. A gente deve presumir que
explicação tem, provavelmente ligada à hibernação de 1000 anos do Darkseid que precedeu seu despertar no século XXX ( confirmada como sendo resultante da conclusão dos eventos de Final Crisis que saiu quase trinta anos depois) assim como, possivelmente, a hibernação do Balrog debaixo de Caradhras poderia ter algo a ver com seu aparente aumento de poder e possíveis alterações físicas em relação aos seus pares da Primeira Era.
Em relação ao Darkseid, considerando que na mencionada história da JLA ele teve seu efeito ômega ( disparado com a mão ao invés de pelos olhos, veja só o "nível" da pesquisa do Conway)
desviado por um "cano" ou campo atômico gerado pelo Nuclear, a gente deve PRESUMIR que ele não estava lá essas coisas não... Afinal de contas tinha sido desmaterializado um pouco antes e tinha usado uma traquitana tecnológica pra reencarnar. Que eu saiba, aliás, ao terminar a trama no mesmo status, desmaterializado,até onde eu sei, ele reapareceu em Crise nas Infinitas Terras SEM EXPLICAÇÃO (
confirmado!! Darkseid, quando apareceu em Crise, oficialmente, deveria ESTAR "MORTO" no DCU; a volta dele rolou Off Panel e NUNCA FOI explicada. Deve ter tido fã jogando Crise nas Infinitas Terras fora por causa disso! Vê agora como é que a "Velha, festejada DC dos anos oitenta também tinha histórias com DÚZIAS de incógnitas, reboots e erros/obscuridades na continuidade?
Buááááá!!!Urrrghhhhh!!! Quem viu essa cena teve ter dado um "kirby krackle" de fúria ao ver Darkseid humilhado pelo personagem Gary Stu do Gerry Conway
Muito melhor foi isso daí ( justamente em
uma história abominada pelos rancorosos fãs da Supergirl do Peter David, rebootada pela Infinite Crisis, vejam que não dá pra agradar a gregos e troianos) que, inclusive, tornou a acontecer na Nova Continuidade Pós Reboot.
Michael Turner se redime de todas as suas pretéritas trangressões, cintura feminina de minhoca anoréxica e tudo, desenhando "Minha Deusa" rechaçando o Efeito Ômega na cara pedregosa de Titio Darky pela primeira vez. OHHHH, joy!!
Mulher Maravilha dá (de novo!) uma dose do seu remédio ômega ao despótico Darkseid na nova Liga da Justiça Pós Reboot. E depois...
A primeira faz tchum, a segunda faz tcham e... Tcham,Tcham, Tcham!!
Voltando a falar dos "reboots softs" em meio a continuidades pré-estabelecidas e suas consequências. A explicação do incidente entre Nuclear e Darkseid dada acima é o tipo de explicação "fácil" pra nível flutuante ou incongruente de poder que Tolkien muitas vezes
DEVERIA ter usado ao invés dos retcons bizantinos, como o de revelar que "só havia "sete balrogs"" incrivelmente mais poderosos e não as legiões que existiam até então em qualquer versão escrita do Legendarium. O lance é: se o leitor pesquisa um pouquinho e usa um bocadinho a imaginação ( respira fundo, reza um Pai Nosso e uma Ave Maria por inspiração), tendo cumplicidade com o universo e seus narradores, o que esse tipo de ficção mitopoética DEMANDA do leitor,
dá pra bolar explicações legais sem dar chilique ou menosprezar a história prematuramente.
Caso hilário de atitude de fã meio histérico que acabou sendo "desmentido/dissuadido" pelo devir da história foi o do
Kurt Busiek que, apaixonado pela Jean Grey ( compreensível, eu chorei uma semana em cima do Grandes Heróis Marvel 7 e relia a história do começo, rezando pro final mudar), teve uma síncope com o final original da Saga da Fênix Negra em 1980 nos EUA, uma revolta tão grande que ele PAROU de colecionar o gibi logo depois do funeral no nº 138, perdendo o resto da fase hoje tida como "histórica", emblemática e inesquecível, inclusive o copiadíssimo e influente Dias de um Futuro Esquecido que será a base pro próximo filme da continuidade de X-Men First Class.
Carta de Busiek publicada na sessão de cartas do nº 143 que encerrou a era Claremont/Byrne; o exemplo clássico de "jogar o bebê fora junto com a água do banho". O futuro prestigiado escritor EXECRAVA a fase tida como o Creme de La Creme da continuidade de X-Men, dizendo que "os X-Men haviam se tornado uma perversão do que uma vez haviam sido". A "verdade"? Tem méritos nas duas posições, mas a reação dele na época, de parar de ler o comic, era puramente emocional e chiliquenta. Aí em cima com a antológica e sensata resposta do Claremont: "infelizmente, a Era das Trevas de alguém é a Renascença de outra".Extremamente adequada ao nosso caso do atual Reboot da DC
Além do mais, como as historias da Liga Dark vão mostrar, ( eu já li até o número 8 ou nove) várias coisas na metafísica do DCU mudaram e estão sendo explicadas não só la mas também em algumas das outras revistas principais como Stormwatch e Liga da Justiça ( é, o leitor tem que acompanhar mais de uma revista pra ter o quadro completo, como acontecia com o Superman Pós Crise do fim dos anos oitenta). No meu ponto de vista, tá muito prematuro pra formar opinião sobre várias das sagas que ainda estão em desenvolvimento ou sendo apresentadas pro público leitor brasileiros só agora. O fato é: a maioria das coisas pequenas que lhe estão incomodando serão ou já foram explicadas em números subsequentes.
A respeito do status da Enchantress: ela, a entidade, parece ser agora
um correspondente fêmea do Espectro-conspícuo pela sua ausência até agora, diga-se de passagem- ( o capuz verde, um monte de clues visuais revelando a coisa, bem como o incremento de poder), tanto é que seus poderes como o lance da tempestade de dentes podres capazes de ferir o Superman ( repare na relativa incolumidade da Diana cujos poderes são místicos) mimetizam os efeitos "nonsense" de algumas histórias do Espectro da década de setenta. Sendo o foco "comico" ou dramático como no filme dos Ghostbusters, os dentes são exatamente iguais ao gigante de marshmallow, eles são
construtos de ectoplasma conjurados pela entidade mística cuja "coesão", potência ou resistência refletem a força do conjurador.
É diferente, boa parte do material que chegou e chega até nós veio de centenas de rascunhos, anotações e modificações que Tolkien fez ao longo de cinquenta anos. Mesmo que tenha preservado algumas discrepâncias como Glorfindel, Balrog e Bombadil no Legendarium, a literatura de Tolkien foi sendo aprimorada. E se não apareceram bizarrices é devido a proibição do próprio autor em ter seus personagens alterados, como é o caso do Ciclo de Arthur visto em Camelot 3000 (que hoje custa os olhos da cara e é muito boa história).
O lance é que o Hobbit
não era um rascunho. Já era um livro publicado com dezessete anos de vida quando o SdA foi, enfim, publicado. E Tolkien retconou, rebootou o capítulo inteiro do Achado do Anel do Poder pra possibilitar o novo contexto e história retroativa envolvendo Sauron, os elfos e os anéis do poder, criada no período intermediário, pra possibilitar a publicação do SdA onde ele basicamente fundiu os universos do Hobbit e do Silmarillion numa coisa só. Se ele tivesse se apegado à respectiva continuidade dos "universos" nós nunca teríamos tido o SdA.
E o lance de Tolkien com os diversos "rascunhos" ( na verdade não são bem rascunhos no sentido literal da palavra, vários deles já são manuscritos feitos em requintada caligrafia, já "prontos" e acabados) não era só uma questão de "aprimorar", era, principalmente, uma necessidade de Tolkien de enfocar novas coisas, atingir um público diferenciado ou refletir a situção política/econômica da época em que ele contemplaria a idéia de publicação. Acontece que durante as décadas em que ele deixava o Legendarium ainda sem conclusão esses propósitos ou condições mudavam. Ou seja: os mesmos objetivos dos editores e artistas da DC comics cujas histórias, reboots e rectons refletem o cambiar de variantes similares.
Quer dois exemplos elucidativos, um na ficção de JRRT vis a vis com um episódio similar no continuum do DCU? Compare a evolução da caracterização dos anões do Tolkien do Livro dos Contos Perdidos até o SdA e vc vai ver a maneira com que Tolkien
aparentemente dialogava com as teorias racialistas de sua época e como a narrativa refletiu uma gradual mudança de posição ou aquisição de discernimento crítico do autor a respeito do assunto Coisa que muito escritor contemporâneo dele como o nosso Monteiro Lobato, tido como muito mais progressista e favorável à evolução científica e tecnológica ( o perigo das noções estereotipadas está aí),
não deu conta de fazer ou, se o fez, não verbalizou ou realmente inseriu isso na obra.
A ficção de Tolkien reflete o contato maior de JRRT com o desenvolvimento científico de sua época e, ao contrário do que muita gente pensa, Tolkien era EXTREMAMENTE antenado com essas coisas, em muitos setores, fazendo dele umas duas ou três décadas À FRENTE do seu tempo.
Compare com as alterações retroativas que a
DC TEVE que fazer com a deusa Hécate da continuidade da Mulher Maravilha e os motivos sociológico/religiosos que, aparentemente, deram causa à mudança cujas causas prováveis ( tudo teoria minha) também repercutem uma mudança no perfil do público leitor e nas condições do panorama religioso da sociedade ocorrida entre o fim dos anos oitenta e a nossa contemporaneidade.
As muitas faces de Hécate- Por que a Deusa da Lua mudou tanto sem explicação na história? E por que os fãs deveriam se importar? No link acima eu dei minha resposta pra angústia dos "naysayers" que queriam linchar Straczynski e Phil Hester
Aí, no caso da saga Odisséia, recém concluída no Brasil, o leitor médio, lá fora inclusive, NÃO QUESTIONOU o óbvio ( e saiu não entendendo a moral e metafísica da história inteira por conta disso): por que a mesma saga que apresentava uma vilã nova ( Nemesis) com o mesmo objetivo principal da Hécate Pré Crise Infinita aparecendo "do nada", TAMBÉM fez questão de "sem necessidade" apresentar
uma versão nova da deusa Hecate de acordo com os modelos neo-pagãos atuais "politicamente corretos"?
De maneira geral, o Tolkien respeitava a continuidade do material já publicado durante a vida dele mesmo mas há grandes e notórias exceções; o capítulo retconnado do Hobbit, onde a história original de 1937 foi reinterpretada como sendo uma mentira do Bilbo Baggins já sob efeito da "tentação do Anel" e a história sanitizada da Galadriel e Celeborn que apareceu no Contos Inacabados são exemplos muito bons disso.