Reduzir consumo de carne, principalmente vermelha, já é realidade no Brasil, mas pelos motivos errados. Nem lembro a última vez que compramos carne bovina no mercado. É frango e porco, frango e porco. Eu tentei, uma época, fazer um esquema tipo o que a Blendinha citou, mas reparei que 1) eu ficava morrendo de fome muito rápido, mesmo me entupindo de carboidrato (tipo um pratão de macarrão) e 2) HIPOGLICEMIAAAAAAAAAA. Não sei se é algum efeito psicológico, já que o causa hipoglicemia é falta de glicose, mas eu reparei que eu ficava hipoglicêmica mais rápido e mais frequentemente sem carne nas refeições (meus testes eram, principalmente, no RU da faculdade, já que a carne lá não era uma coisa assim que se diga noooossa que carne deliciooooosa imprescindível ter no meu prato), então eu almoçava meio dia e duas e meia da tarde já tava sentindo os sintomas da hipoglicemia e FOME. Aí lá ia eu enriquecer a menina que vendia trufa.
Outra coisa que eu estou atentando é para um consumo mais consciente (nesse sentido, a Paola Carosella é minha maior inspiração) pra alimentos orgânicos, inclusive carne e laticínios. Algumas marcas grandes estão investindo nesse nicho, de frangos criados soltos e sem medicamentos, ovos de galinhas "felizes", como diz a Paola. Mais caro, mas não é proibitivo como já foi, na carne, por exemplo, é uma diferença de dois, três reais. Só a carne de porco é que eu ainda não vi nenhum rótulo nesse sentido de "gado feliz", então sigo comprando o que tem disponível.
Então eu não tenho a menor idéia de como é, para uma pessoa que gosta de comer carne, ter que abandonar. Não posso pedir pra alguém fazer um esforço que pra mim foi desproporcionalmente conveniente. Eu vejo uma bandeja de carne no mercado e me da nojo, é como se fosse um pedaço do braço de alguém decepado ali, um olho boiando num pote, sei lá. O corredor de carnes eu pulo meio virando a cara. Um açougue mesmo é um freak show, não tem diferença nenhuma prum filme de terror. Se alguém me disser "esse negócio que vc comeu tinha carne" eu vou reagir mais ou menos do mesmo jeito que se tivesse me dito que tinha esterco.
É tipo dizer "pare de fumar" ou "pare de beber". Ok, dependência química é uma doença real, mas também tem a ver com o hábito e o prazer do consumo. A ideologia tem que ser MUITO forte, tipo a razão de viver, ou alguma experiência de medo/trauma que desperte um tipo de gatilho (tipo uma colega da faculdade que pegou trauma de comer carne depois que um coelho dela foi comido pela família e ela descobriu) ou questões de saúde mesmo (tipo a minha sogra que tem problema renal por excesso de ácido em decorrência das gravidezes e não pode mais comer carne nem beber álcool).
Fora isso, é muito, muito difícil. Não é cômodo, é um processo longo e que pode ser bem doloroso. Meio que passei por algo assim quando descobri que era diabética. Meu consumo diário de chocolate e doces era absurdo e, apesar de não ser imperativo que eu cortasse de vez, era imperativo que eu pelo menos reduzisse tremendamente a quantidade. Passei por duas nutricionistas que simplesmente ignoraram a questão psicológica e recomendaram cortes abruptos na minha rotina alimentar, não só nos doces, mas também macarrão, arroz, pães, tudo que fosse carboidrato e que eu comia com muita frequência. Nem preciso dizer que falhou, né? Até achar a nutri que realmente se deu ao trabalho de entender como eu tinha ficado diabética aos 14 anos e me ensinou a reduzir as porções. "Pra quê comprar 5 trufas? Compra duas, depois se sentir vontade compra mais... pra quê comer dois pacotes de biscoito? Come um e se der vontade come mais... Pra quê comer a barra inteira? Come metade e se der vontade come mais..." Enfim, acontece que realmente era mais olho do que vontade real, e assim eu consegui manter a diabetes sob controle na maior parte do tempo. Mas não foi fácil, foi bem doloroso, desgastante, precisou da ameaça de um problema sério de saúde e ainda por cima SEMPRE aparecia um gatilho pro descontrole (foi na época que virou moda comemorar aniversários em rodízios de pizza, que ADIVINHA? TÊM MUITO CARBOIDRATO!), sempre tinha alguém vendendo bolo de pote, trufa, pudim, cocada ou bala baiana (eu sou absurdamente viciada, comprava dez por dia) na escola, tinha anúncio de Chokito todo dia na TV...
Long story short: é MUITO difícil. E boatos correm por aí dizendo que carne contém uma substância viciante, então talvez essa seja uma explicação plausível. Talvez isso também explique por que eu consumi quase 2kg de churrasco em uma tarde.
E
@Vela- o Rousoku eu era o seu oposto quando criança
Tinham que esconder legumes no molho da carne pra eu comer, tenho um paladar muito rústico e infantil, detesto quase todos os legumes e verduras existentes.