"Diz uma grande verdade de que eu andava suspeitando às escondidas — que somos todos uns Jecas Tatus. Pura verdade. Com mais ou menos letras, mais ou menos roupas, na Presidência da República sob o nome de Wenceslau ou na literatura com a Academia de Letras, no comércio como na indústria, paulistas, mineiros ou cearenses, somos todos uns irredutíveis Jecas. O Brasil é uma Jecatatuasia de oito milhões de quilômetros quadrados. " Monteiro Lobato
Não mudamos muito
Monteiro Lobato foi o homem multifacetário que escreveu dezenas de contos, cartas, traduções, livros destinados ao público infantil, um romance e também se consagrou como o editor que revolucionou o mercado livreiro de nosso país na década de 1920. Muito já foi escrito sobre o trabalho de Monteiro Lobato como escritor e de suas inovações como editor, mas poucos se aventuraram a estabelecer um diálogo entre essas duas facetas.
Assim como em sua vida, dentro de sua produção literária Lobato também foi dono de muitas terras. Não apenas foi criador do famoso Sítio do Picapau Amarelo — localizado no interior de São Paulo e no imaginário de leitores de todas as idades —, como criou inúmeras fazendas, descritas nos contos que escreveu. Esses locais fictícios são exemplos de territórios cultivados pelo escritor e explorados por seus leitores.
Lobato nasceu e cresceu no interior de São Paulo, em Taubaté, convivendo com os caipiras que trabalhavam na fazenda de seu avô. Enquanto jovem, durante o período em que cursou a faculdade de Direito, morou na capital paulista, lugar onde, desde aquela época, o progresso era constante. Ao retornar para a fazenda, anos mais tarde, pôde perceber que não houve evolução naquelas terras, os métodos agrícolas continuavam os mesmos e as queimadas cada vez mais constantes.
Para o jovem Lobato, o atraso do povo do interior tornava-se inaceitável. O convívio com jovens da capital e do interior, a comparação entre seus meios de vida, seus procedimentos trabalhistas e suas culturas fizeram-no perceber o quão ultrapassados e incorretos estavam os métodos agrícolas do homem caipira. É a literatura criada por Lobato no período em que “condenava” as atitudes dos caipiras que se observa em " O comprador de fazendas".