Não fui rápido o suficiente pra criar o tópico com uma introdução gracinha.
Mas já que estamos aqui, seguem as 5 melhores e as 5 piores leituras de 2021.
Melhores leituras
1) O papel de parede amarelo, de Charlotte Perkins Gilman
Bom, é um conto que veio na forma de livro solo, então...
Mas eu adorei como ela criou uma obra que abre espaço para múltiplas interpretações e fiquei impressionado como na leitura ela expressa uma ambiguidade sobre a natureza dos eventos. É esse tipo de abordagem que sinto falta muitas vezes ao ler obras de terror - ouviu, Stephen King?
2) Sonhos de trem, de Denis Johnson
É um romance curto pelo qual não dava nada, mas que até me pega reflexivo. Creio que seja o anti-romance histórico do século XXI, já que ele fala dos eventos sem se referir a eles, a historicidade está lá mas atravessa a dimensão pessoal do protagonista. Além disso, o estilo deve muito a Ford Maddox Ford. É um autor que merece mais atenção.
3) O bandido que sabia latim, de Toninho Vaz
Entendi porque a família de Leminski não queria reeditar o livro, mas é uma pena porque Vaz soube como "dar cola" aos testemunhos sobre o poeta e tradutor. Uma pena que não seja tão fácil de encontrar - até vendi meu exemplar em tempos de "vacas magras", porque eu aprendi muito sobre Leminski. Se tiver nova edição, contudo, vão ter que atualizar algumas coisas recém-descobertas sobre ele - eis o mal da biografia.
4) Hellblazer Origens, Vol. 5: Histórias Raras
Pra me desfazer das minhas HQs de Hellblazer, comecei a ler e me deparei com esta que não só explica certos eventos da vida de Constantine (o exorcismo que deu errado, a maldição que o atormenta, o assassino que se prova mais perigoso que o sobrenatural para o detetive), como também expõe críticas pertinentes ao descontrole psicológico na era das paranoias - a história sobre a bomba nuclear de Newcastle me deixou impressionado e desconfortável.
5) O Espetacular Homem-Aranha: A Última Caçada de Kraven, de JM DeMatteis, Mike Zeck e Bob McLeod
Meu Deus, esse cara só leu HQs este ano?! Eu não sabia o que esperar ao pegar essa pra ler, mas as imagens são incríveis - do Kraven experimentando a roupa do Aranha ao Peter saindo do túmulo - e me impressionou como a trama funciona em paralelos: afinal, tanto Kraven como Parker estão lidando com seu subconsciente, mas enquanto um tenta domá-lo, o outro não sabe como deixá-lo vir à tona, algo importante para quem tenta definir ou precisar sua própria identidade. Mas a minha cena favorita é do vilão Rattus, que quer vingança contra o Homem-Aranha, quando ergue um bueiro só pra sair correndo ao ver uma aranha pequena - ele é justamente o inverso de Kraven e Parker, mas tão compreensível quanto para o leitor. É uma obra que sabe dosar ação e reflexão.
Piores leituras
1) Juventude e outros contos, de Isaac Asimov
O problema não foram os contos, mas a tradução porca da L-Dopa. Fujam dessa editora.
2) A festa da insignificância, de Milan Kundera
Queira Deus que eu não conceba que qualquer coisa que eu escrever valha a pena ser lida. É um exercício de estilo em forma anedótica, mas outros já fizeram isso melhor - até mesmo o próprio Kundera.
3) Goldfinger/Diamantes são eternos, de Ian Fleming
O problema com Goldfinger é que a trama beira o irreal com o vilão sendo tão obtuso com a investigação de Bond. Já Diamantes... não surpreende por Bond, mas por Tiffany Case, o que é uma pena porque temos que acompanhar quem? Pois é. Sem contar que outro vilão obtuso, vários blocos de informações necessárias - você começa lendo Ian Fleming e termina com Irving Wallace.
4) Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança, de Roy Thomas e Howard Chaykin / Star Wars - Episódio VI: O Retorno de Jedi, de Archie Goodwin
O único mérito da adaptação do Episódio IV que ficou a cargo de dois dos maiores quadrinistas de todos os tempos é que você vê como era parte do roteiro original do primeiro filme de Star Wars. De resto, não há nada interessante em termos de traço.
Já no caso do Episódio VI, creio que simplesmente jogaram a toalha. Uma pena, pois o Episódio V pelo menos tinha ótimas ilustrações de Al Williamson.
5) Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre
Não é que seja ruim, mas entre este e Seu Ibrahim e as Flores do Corão, de Éric-Emmannuel Schmitt, preferi escolher o de Silvestre porque a inverossimilhança saltou os olhos, sem contar que em alguns momentos parecia que o autor não sabia quando era o momento de passar do thriller que escrevia para a peroração social. Espero que a série seja melhor.
Alguns livros que estiveram entre os melhores e que vale a pena ir atrás:
Os salgueiros, de Algernon Blackwood;
O labor da morte, de Ferdinand Barth;
Hellblazer, Origens 6 e 7;
Casanova: Luxuria, de Gabriel Bá e Matt Fraction;
Viva e deixe morrer, de Ian Fleming - talvez até
Da Rússia, com amor, se você tiver saco pra atravessar a primeira parte;
A guerra dos gibis, de Gonçalo Junior;
À sombra de Yavin, de Brian Wood, tanto pelo enredo como pelo traço;
As cavernas de aço e
O sol desvelado, de Isaac Asimov (reli
O fim da eternidade e continuo achando ótimo);
A mulher calada, de Janet Malcolm, e
Pulp, de Charles Bukowski - acho que em ambos os casos é preciso ver quão familiarizado se está com as personagens discutidas;
A balada de Adam Henry, de Ian McEwan, sua releitura d'Os mortos de James Joyce; e
Realidade e sonhos, de Muriel Spark.