Shazan
siscapuliu
Eu também sinto muito pelo meu pai, que depois de cinco anos batalhando para ser transferido para São Paulo e ficar mais perto da família, o que faria com que eu não o visse mais quase mensalmente como fazia, morre desse jeito.
Também sinto pelos colegas e funcionários dele que morreram. E sinto pelos familiares de todos os passageiros que nem têm corpos pra enterrar. Sinto por ter cassoado do acidente da Gol quando ele aconteceu. E por não levar a família e a morte a sério.
O acidente é o que menos preocupa. Sei lá quem foi culpado... eu não sei é como vai ser pra minha vó sem o filho dela, pro meu tio sem o irmão dele, pros amigos dele sem ele e pra mim sem meu pai. Ele era a única pessoa que me orientava nas minhas decisões importante. Quando eu começo a pensar nos pais que ficaram sem filhos e nos filhos que ficaram sem pai a coisa só piora. A falta que faz é muito grande e sinto como se eu não tivesse sentido nem 10% do que eu ainda vou sentir nos próximos dias. Vão passando as horas e eu vou lembrando das coisas que eu vou ter que fazer sozinho e isso preocupa muito.
Ele era muito apaixonado pela aviação. Trabalhou 30 anos com isso, chegando mais cedo e saindo mais tarde. Ele até trabalhava demais. Ia de terno pras festas de aniversário, mas nunca se atrasava pras datas importantes.
Logo depois do acidente minha madrasta ligou pra ele e ele disse "um avião caiu em cima da gente, tô ajudando as pessoas" e a ligação caiu. Depois disso a única coisa que eu vi foi ele na cama da emergência, com a cabeça enfaixada, a língua preta pra fora da boca, a pele descascada e os pés gelados, sendo que os pés dele sempre estavam quentes, como os meus. Foi a imagem mais chocante que eu já vi na minha vida. Meu estômago embrulhou, eu não parei de tremer. Eu nem sabia o que dizer... parecia pesadelo.
Na segunda visita, já com a cabeça mais fria eu vi coisas que eu não tinha visto. Um tubo saindo do nariz dele, por onde vinham excrementos (e de onde estava vindo muita fuligem, que ele engoliu). Consegui ver os olhos dele, por entre as faixas... e descobri que estavam negros como o rosto todo dele estava quando ele chegou. Descobri também que apesar dele não estar tendo NENHUM reflexo (tentaram até causar dor profunda), ele chorou. As lágrimas estavam escorrendo para a parte do rosto onde não havia faixas.
Eu queria saber se ele ia se recuperar... eu nunca tive muita noção do quão grave são acidentes ou emergências. Quando soube do tempo que ele ficou sem oxigênio minhas esperanças foram pelo ralo. Minhas últimas horas foram torcendo pra que ele sobrevivesse... nem que fosse com dependência de pessoas e equipamentos... até em estado vegetativo, para que tivesse uma chance de se recuperar. Mas ele não resistiu, estava com o organismo comprometido.
Quando a gente tem contato assim com a morte de alguém que a gente ama muito a gente sempre quer ter um pouco mais de contato. Eu queria muito saber se ele ouviu as coisas que eu disse... mas quando pensei que eu tive pelo menos a chance de ver, tocar, abraçar ele uma última vez eu sinto por quem não pode nem se despedir de quem amava...
E ainda teve que identificar corpos carbonizados...
Também sinto pelos colegas e funcionários dele que morreram. E sinto pelos familiares de todos os passageiros que nem têm corpos pra enterrar. Sinto por ter cassoado do acidente da Gol quando ele aconteceu. E por não levar a família e a morte a sério.
O acidente é o que menos preocupa. Sei lá quem foi culpado... eu não sei é como vai ser pra minha vó sem o filho dela, pro meu tio sem o irmão dele, pros amigos dele sem ele e pra mim sem meu pai. Ele era a única pessoa que me orientava nas minhas decisões importante. Quando eu começo a pensar nos pais que ficaram sem filhos e nos filhos que ficaram sem pai a coisa só piora. A falta que faz é muito grande e sinto como se eu não tivesse sentido nem 10% do que eu ainda vou sentir nos próximos dias. Vão passando as horas e eu vou lembrando das coisas que eu vou ter que fazer sozinho e isso preocupa muito.
Ele era muito apaixonado pela aviação. Trabalhou 30 anos com isso, chegando mais cedo e saindo mais tarde. Ele até trabalhava demais. Ia de terno pras festas de aniversário, mas nunca se atrasava pras datas importantes.
Logo depois do acidente minha madrasta ligou pra ele e ele disse "um avião caiu em cima da gente, tô ajudando as pessoas" e a ligação caiu. Depois disso a única coisa que eu vi foi ele na cama da emergência, com a cabeça enfaixada, a língua preta pra fora da boca, a pele descascada e os pés gelados, sendo que os pés dele sempre estavam quentes, como os meus. Foi a imagem mais chocante que eu já vi na minha vida. Meu estômago embrulhou, eu não parei de tremer. Eu nem sabia o que dizer... parecia pesadelo.
Na segunda visita, já com a cabeça mais fria eu vi coisas que eu não tinha visto. Um tubo saindo do nariz dele, por onde vinham excrementos (e de onde estava vindo muita fuligem, que ele engoliu). Consegui ver os olhos dele, por entre as faixas... e descobri que estavam negros como o rosto todo dele estava quando ele chegou. Descobri também que apesar dele não estar tendo NENHUM reflexo (tentaram até causar dor profunda), ele chorou. As lágrimas estavam escorrendo para a parte do rosto onde não havia faixas.
Eu queria saber se ele ia se recuperar... eu nunca tive muita noção do quão grave são acidentes ou emergências. Quando soube do tempo que ele ficou sem oxigênio minhas esperanças foram pelo ralo. Minhas últimas horas foram torcendo pra que ele sobrevivesse... nem que fosse com dependência de pessoas e equipamentos... até em estado vegetativo, para que tivesse uma chance de se recuperar. Mas ele não resistiu, estava com o organismo comprometido.
Quando a gente tem contato assim com a morte de alguém que a gente ama muito a gente sempre quer ter um pouco mais de contato. Eu queria muito saber se ele ouviu as coisas que eu disse... mas quando pensei que eu tive pelo menos a chance de ver, tocar, abraçar ele uma última vez eu sinto por quem não pode nem se despedir de quem amava...
E ainda teve que identificar corpos carbonizados...
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