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BERNARD CORNWELL
Bem, pessoal, esse é o esperado tópico (esperado porque muito enrolei) do Autor da Semana, o que foi escolhido por vossos votos.O senhor Bernard Cornwell é inglês, nascido em 23 de fevereiro de 1944, filho de um aviador canadense e de uma auxiliar da Força Aérea Britânica. Foi entregue para adoção e criado pela família Wiggins em Essex, onde vivia em relativa paz com a família, membros de uma seita protestante rígida chamada Peculiar People (Pessoas Peculiares), que bania toda frivolidade, até a medicina. Dá pra entender de onde veio o ateísmo desse inglês. Estudou na escola Monkton Combe e depois na Universidade de Londres. Após sua formatura trabalhou para a BBC por 10 anos, fazendo reportagens investigativas e até mesmo cobrindo guerras. Começou como pesquisador no Nationwide e foi promovido a Chefe de Assuntos Televisivos.
Enquanto trabalhava em Belfast, Irlanda, Bernard conheceu a americana Judy, por quem se apaixonou. Como ela não podia permanecer na Inglaterra por problemas familiares, o autor a acompanhou aos EUA, onde o Greencard lhe foi negado. Casaram-se em 1980. Sem poder praticamente trabalhar, o jornalista decide escrever romances: poupa uma grana que possa lhe sustentar, e inicia seus trabalhos (o ofício de escritor não necessitava de permissão do governo americano), que conquistaram milhões de fãs pelo mundo todo.
Por sorte, Cornwell já tinha em mente fazer romances históricos sobre um soldado inglês nas guerras napoleônicas, e assim nsceu o ousado Richard Sharpe e suas aventuras nas famigeradas guerras pelo período de 12 anos, distribuídos por um total de 21 livros. Isso mesmo, 21! A série fez tanto sucesso que ganhou uma série televisiva estreada por Sean Bean:
Cornwell escreveu também a tetralogia As Crônicas de Starbuck, situada durante a Guerra Civil Americana; as trilogias Crônicas de Artur, uma reconstituição fictícia mas historicamente fidedigna do Artur histórico e sua 'corte', e A busca do Graal, ambientada no século XIV, mais precisamente em um período turbulento da Guerra dos 100 anos entre Inglaterra e França, e os seis (por enquanto!) livros da série Crônicas Saxônicas, que recontam a heroica resistência do último reino inglês da Inglaterra contra os invasores nórdicos, vikings e pagãos. Outras obras: Stonehenge, Azincourt, O Condenado, A Fortaleza, Casaca Vermelha, Anjos Caídos, Uma graça herdada.
Em junho de 2006 recebeu o título de OIB (Oficial, Ordem do Império Britânico) na lista de honra do aniversário de 80 anos da rainha.
Obras
Vamos começar por suas primeiras obras, sua primeira série, As aventuras de Sharpe:
A série conta as aventuras e desventuras do jovem Richard Sharpe, soldado do exército inglês no século XIX que passa a crescer no exército britânico após salvar a vida de Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington. O foco dos livros está nas ações colonialistas do Império Britânico e seu papel nas Guerras Napoleônicas. Uma análise detalhada de cada um dos livros é complicada pela sua grande quantidade, mas compenso isso com esses 3 vídeos de uma entrevista de Cornwell contando muito sobre a elaboração da série, curiosidades históricas e um pouco de sua história pessoal:
A trilogia se propõe a recontar, a reconstituir, de acordo com os registros históricos e uma série de licenças poéticas, ou liberdade de criação para preenchimento de lacunas, a vida e obra do chamado Artur histórico, um personagem real e livre das interpretações e romanceamentos da literatura fantástica medieval, muito diferente das belas e poéticas estórias do Rei Artur, conforme cantadas e contadas por inúmeros bardos e poetas, como o francês Chrétien de Troyes. A versão de Cornwell é uma versão muito mais realista, dura, histórica do que possa ter sido o Artur histórico e seu poder enquanto Dux Bellorum, ou Senhor das Batalhas, como o denomina o cronista Nennius.
A história se passa no século V, na Britânia, antiga colônia romana, com seus pequenos reinos (na maioria, fictícios) que são o resultado dessa mistura de povos, fantasmas do passado de tribos que viviam lutando entre si mas com uma certa identidade cultural e religiosa, esses reinos vivem a lutar entre si, se aproveitando do vácuo deixado na região pelo fim da ocupação do destroçado Império Romano. Com a fuga dos romanos, porém, a pretensa liberdade veio acompanhada dos ataques dos furiosos e sedentos por terra e comida, os numerosos e selvagens saxões, vindos do continente.
No passado, Roma pôde conter o furor desses bárbaros e dos pictos. No presente, nada além da bravura de reinos com dificuldade de se unir pode resistir à sanha desses demônios do Mar do Leste. Mas quem poderia levar a cabo tal união? Só um homem poderia inspirar lealdade e confiança, poderia unir esses reinos em uma resistência de vários reinos britânicos contra os inimigos ingleses (saxões) e impedir que suas terras sejam devastadas, suas colheitas tomadas, suas mulheres e filhas defloradas e seus filhos escravizados. Somente Artur, filho bastardo do Grande Rei Uther, da Dumnonia, conseguirá, apesar das inúmeras dificuldades, decepções e traições, somente esse senhor das guerras poderá unir seu povo dividido contra o inimigo comum. Isso se a ambição dos cristãos e o espírito conservador e ardente de Merlin e seu paganismo tribal, antigo, seu druidismo que representa a alma da Britânia não entrarem em um choque por demais profundo que ameace a unidade e os intentos de Artur, que só deseja a paz.
Esses livros são verdadeiros tesouros da puríssima filosofia pagã de Merlin; imagens de heroísmo e bravura excepcional de Artur e seus guerreiros; realismo absoluto nas descrições das batalhas sangrentas e outras cenas fortes, pesadas, grotescas; acontecimentos traiçoeiros, sombrios, terríveis; realidade cultural e religiosa crua, sem frescuras e encobrimentos. O romance também dá o ar de sua graça, com triângulos amorosos meio tensos e a bela alma romântica do narrador e guerreiro mais confiável do Dux Bellorum, o carismático e bravo Derfel Cadarn. A trilogia que é considerada o melhor trabalho de Cornwell.
A busca do Graal
Essa trilogia relata a busca do misterioso Santo Graal pelo arqueiro inglês Thomas de Hookton, que decide se unir ao exército inglês nas campanhas contra a França após uma desgraça na sua cidade. Os livros retratam fielmente a vida e a política medieval, com a cavalaria mostrada como ela realmente era: não uma instituição cortês, honorável, mas mera fachada social para que seus aristocratas pudessem se refestelar em matanças esportivas e ter honras a mais, mais privilégios nos espólios. Temos aqui também uma dose de romances que permeiam as constantes batalhas bem descritas, com seus cercos, intrigas e humilhações bélicas diversas, além de cenas fortes.
Assim como a trilogia de Artur 'purifica' o heroi das lendas fantasiosas, esse livro apresenta uma Europa cristã absolutamente real, sem máscaras, suja, doente, podre de superstição, histeria e guerras em nome de Deus e de ideologias, ou simplesmente pelo prazer de lutar, de ser homem na matança.
Crônicas Saxônicas
É a melhor série, na minha opinião, e ainda está inacabada com seus 6 livros. Aqui vemos a Inglaterra saxã, a Britânia do século IX, já dominadora dos celtas e com seus reinos mais ou menos consolidados e tendo de enfrentar a terrível praga do norte: os sanguinários vikings, pagãos sanguinolentos, idólatras demoníacos, flagelos de Deus e aliados do demônio. Assim a sociedade cristã, formada por ex-bárbaros, agora domesticados pelo cristianismo e seu 'amor' pela fraqueza, viam esse povo exuberante de poder, transbordante de vida, esses pagãos cheios de instintos saudáveis, honrados mas sem escrúpulos para fazer seus saques, chacinas, estupros, queimas de vilas e cidades. Nosso heroi é o jovem Uhtred, herdeiro da fortaleza de Bebbanburg, tida como inexpugnável, mas que acaba sendo capturado pelos dinamarqueses vikings em um ataque e termina sua adolescência criado por eles, treinado para matar, para ser um homem de rapina, para ter arrogância, orgulho, e para cultuar os deuses cheios de vida e afirmadores da vontade de viver.
Porém, Uhtred nunca deixará de ser inglês e toda a série passa esse impasse, esse conflito interno do jovem saxão: defender seu povo fraco, cristão, amedrontado dos terríveis nórdicos que ele tanto ama, ou se juntar aos nórdicos e se vingar das constantes humilhações que seu senhor, o rei Alfredo de Wessex lhe impõe, com sua alma de galinha piedosa? Que caminho tomar?
Novamente Cornwell nos apresenta aqui um mundo terrível, uma época suja de corrupção, de um cristianismo parasita, de instintos que se digladiam pelo domínio, de guerras entre grandes homens, e tendo como centro a defesa do rei Alfredo, que nada mais é que sua ambição de se utilizar da fragilidade dos reinos ingleses dominados e de sua influência para criar uma Inglaterra unificada, poderosa, e cristã!
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