Membros deste tribunal, seguem os esclarecimentos acerca dos fatos relevantes ao julgamento.
Vocês citaram vários, mas qual é o principal crime cometido por Ar-Pharazôn?
Não existe um crime central. Todos os crimes citados foram igualmente hediondos, e todos devem ser considerados no processo de julgamento - cada qual ampliando individualmente a intensidade da punição a este monstro.
O que vocês têm de concreto para me convencer de que o homem não foi apenas um tolo, em vez de mau e corrupto?
A própria defesa alegou que o medo da morte conduziu Ar-Pharazôn a um estado de semi-loucura, e portanto, mesmo tendo executado atos tão malévolos, este não possui imputabilidade penal. Ar-Pharazôn jamais poderia ter criado a maior armada da história de Arda do dia para a noite. Esta foi uma elaboração lenta, precisa e eficaz - muito bem planejada, muito bem calculada, muito bem executada. Se ele possuía a razão para organizar a maior ofensiva já vista, então ele estava plenamente capaz de mensurar os próprios atos. Ar-Pharazôn não estava, e jamais esteve, fora da sua sanidade. Um demente jamais lideraria um exército grandioso o suficiente para fazer as forças de um dos maiores Maiar, Sauron, deserdarem sem que ocorra combate. Um demente afogado em dúvidas jamais lideraria uma armada que, para que maiores males não fossem realizados, obrigaria a intervenção do próprio Eru; sendo que este jamais interviu, nem nas grandes batalhas da primeira era. Ar-Pharazôn estava em pleno domínio das suas faculdades mentais, mas infelizmente elas visavam a destruição, a anti-criação.
As capacidades de Ar-Pharazôn eram e sempre foram impressionantes. Portanto, ele não pode ser classificado como tolo. Dentro do domínio da própria pergunta, só resta a alternativa "mau e corrupto".
Que argumentos me trazem para demonstrar que as intenções do senhor de Númenor não eram, na realidade, positivas, ao não ignorar a ameaça que, a qualquer momento, poderia provir da Terra-média, através de Gorthaur?
Assim que Ar-Pharazon derrotou Gorthaur, ele se auto-proclamou o senhor de todos os homens. Evidentemente a tirania de Sauron foi encerrada. Mas, se Ar-Pharazôn tivesse o objetivo positivo de livrar a terra-média da tirania, ele jamais teria reproduzido uma logo após ser vitorioso. Nenhum rei que detém boas intenções para algum povo específico o escraviza, o assassina, pilha as suas riquezas, o obriga a executar atos controversos. Como entender este cenário de uma tirania substituindo outra, senão através da pura disputa por poder? Disputa que não apresentou nenhum lampejo de justiça com os povos menores, ora oprimidos por Sauron, ora por Ar-Pharazôn.
A banca de acusação aguarda ansiosamente mais questionamentos, para que possamos, através da luz da razão, dispersar toda e qualquer treva de dúvida que possa comprometer a justiça deste julgamento.
Sem mais.