Até porque a campanha do Lula é basicamente "Vô tirá o Bolsonaro", tá com zero profundidade nas propostas, só dizendo que já fez e fará de novo, como se o mundo de 2002 fosse o mesmo de 2022.
Se profundidade de propostas ganhasse eleição, Bolsonaro não seria presidente da República.
A questão é que, objetivamente, o Lula não precisa propor às claras a que veio. Inclusive, eleitoralmente falando, para ele pode ser realmente mais inteligente não dizer tão às claras a que veio. Tem capital político suficiente para "jogar parado" - ou quase. E ele é efetivamente um polo de atração. E por isso tem condições de se postar como um centro aglutinador da rejeição ao bolsonarismo, como a zona de convergência para o voto útil...
Certamente, o Lula sabe que o mundo não é o mesmo de 2002. Não é uma alusão ingênua. Ora, ele foi o presidente mais popular da nossa história, entregou o bastão em 2010 com incríveis 87% de aprovação popular, num país que então caminhava para ser a 6a economia do mundo.* Isso é um ativo eleitoral e é claro que ele vai usar isso... vai usar isso inclusive para se esquivar das perguntas mais espinhosas, que podem lhe trazer desgaste eleitoral.
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* As críticas do Ciro a esses governos são, em boa medida, as mesmas que eu faço. Mas isso não vem ao caso...
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Pro Lula é mais inteligente trabalhar pela construção de uma coalizão que lhe dará sustentação, que lhe garantirá palanque nos estados, etc... e, a partir desse pacto, com os constrangimentos que dele decorrerão, definir o que será a cara desse governo. Nesse ínterim, ele se limita à economia eleitoral dos acenos. Acena para o mercado aqui; acena para os evangélicos ali; etc.
Ciro vem se mostrando incapaz de fechar qualquer costura política. Está usando bem as redes sociais, mas talvez tenha se deixado seduzir pelo espírito de gueto dos algoritmos. Até essa altura, as pesquisas mostram que ele segue estacionado...