Haran
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"Centro" é um termo cujo significado varia. Entendo que muitos residam em um universo semântico em que, sei lá, Ciro Gomes seja centro,(!) mas esse não é o único universo semântico e nem o mais prevalente. Desde 2018 a imprensa já tem chamado de centro possíveis agremiações que estariam à direita do Lula/Ciro e à esquerda de Bolsonaro, chapas que possam embarcar gente de esquerda (como Marina Silva), de direita (como João Amoêdo), ou de classificação mais discutível (como Luciano Huck e tucanos). Ainda que João Amoêdo (classifico eu) seja direita, e não centro, ele poderia muito bem liderar uma chapa nesses moldes de alcunha 'centro', sem qualquer contradição. Mesmo que Paulo Guedes tenha sido essencial ao bolsonarismo em 2018-20 (e foi), ele poderia romper com Bolsonaro e também liderar uma chapa nesse sentido, também sem qualquer contradição. Então criticar o Moro por não ser de centro ou por ter sido profundamente bolsonarista é, além de questionável, uma discussão pouco relevante. E uma situação dessas seria apenas uma escolha politicamente promissora para evitar tanto os males de Lula/Ciro quanto os de Bolsonaro - nem João Amoêdo e nem Paulo Guedes renegariam seu passado ou presente direitista por causa disso, nem sua maior ou menor ligação com o bolsonarismo. Ou a Marina Silva e certos psolistas se envergonham de seu passado petista? Não me parece ser o caso.
Nesse sentido, vejo tudo nisso uma questão puramente semântica: poderíamos, se insistirem, abandonar o uso do termo "centro" e adotar o termo "centro-direita", "turma do Bolinha" ou (vá lá) "extrema-direita" para uma chapa com Huck, Moro, Doria. Ainda assim seria uma chapa menos ameaçadora no que diz respeito aos males que elenquei e que são frequentemente apontados pela esquerda para criticar Bolsonaro. Acho difícil acreditar no contrário, por mais que se critique o Moro por causa disso ou daquilo. E acho que a campanha que apostar nesse discurso vai se dar mal, "Moro extrema-direita", "Moro anti-democrático" é do naipe de "Bolsonaro fascista", ou até pior, só cola em convertidos.
"Essa desculpa" faz parecer que eu estava dando essa desculpa, e não é o caso, meu post é neutro quanto a essa questão aí. Mas vou morder a isca e opinar sobre isso. Eu acho que algumas coisas não davam pra saber e outras davam pra saber, como é natural, qualquer presidência tem aspectos previsíveis e imprevisíveis. O rabo preso de Bolsonaro com corrupção e o olavismo, por exemplo, não dava pra saber,[1] e é só pesquisar no fórum pra averiguar que pouco se falava nesse sentido. Com respeito ao rabo preso com corrupção, tinha inclusive o "me chama de corrupto" do Bolsonaro que colava e ninguém retrucava. Ninguém imaginava que já em 2019 o presidente estaria fazendo concessões pra se proteger contra acusações na justiça, e esse foi um dos motivos para as pautas ideológicas e econômicas perderem força. Até mesmo o Ciro Gomes, que se orgulha por levar processo de (entre muitos outros) Eduardo Cunha por dizer a verdade, não levantava a voz contra Bolsonaro para acusá-lo de corrupção, só foi fazê-lo durante o mandato. Inclusive ria feito moça no debates, tratando o Bolsonaro com o maior dos coleguismos.[2] Havia sim uma ou outra notícia circulando, mas soava como ruído - algo a ser investigado e que só ganhava maior repercussão por motivos políticos - assim como soa como ruído a questão da merenda do Alckmin, e ele passou a imagem de ser um candidato honesto em 2018 [3][4] (e ainda passa, até onde sei). Haddad chegou a chamar esdruxulamente Mourão de torturador (no sentido literal do termo), mas não Bolsonaro de corrupto.[5] Por outro lado, aqui na Valinor uma grande preocupação era a morte de gays, e hoje é uma questão menor ou inexistente dentre os problemas do governo Bolsonaro. Outra coisa que não dava pra prever é que viria a pandemia e o negacionismo de Bolsonaro adquiriria a repercussão que teve, esperava-se que o grande problema nesse sentido fosse unicamente o ambiental.
Não acho certeza que Moro e Bolsonaro disputem o mesmo eleitorado, porque o bolsonarismo de 2018 é diferente do bolsonarismo de 2020 ou 2022. Em 2018, ele tinha maior vantagem nas classes mais altas (de renda e escolaridade),[6] mas hoje em dia talvez não seja o caso, o Bolsonaro pode eventualmente se direcionar ao antigo eleitorado do Lula, em especial, aquele que é alvo de programas sociais.[7][8] Já as classes médias e altas poderiam muito bem optar pelo centro sob Moro.
Já tá tarde, fica pra outro dia sua última pergunta. Deixei passar porque foi a última coisa, fui seguindo na sequência e coisa e tal.
Nesse sentido, vejo tudo nisso uma questão puramente semântica: poderíamos, se insistirem, abandonar o uso do termo "centro" e adotar o termo "centro-direita", "turma do Bolinha" ou (vá lá) "extrema-direita" para uma chapa com Huck, Moro, Doria. Ainda assim seria uma chapa menos ameaçadora no que diz respeito aos males que elenquei e que são frequentemente apontados pela esquerda para criticar Bolsonaro. Acho difícil acreditar no contrário, por mais que se critique o Moro por causa disso ou daquilo. E acho que a campanha que apostar nesse discurso vai se dar mal, "Moro extrema-direita", "Moro anti-democrático" é do naipe de "Bolsonaro fascista", ou até pior, só cola em convertidos.
vou começar dizendo que não aceito de forma alguma essa desculpa de que não tinha como saber que o bolsonaro seria exatamente o que está sendo. todo mundo sabia, MAS achavam que seria um mal menor caso a agenda econômica fosse tocada para frente. só não contavam com o fato de que o guedes é tão inapto quanto bolsonaro e se qualquer reforma foi pra frente foi pela articulação do rodrigo maia.
enfim. minha pergunta para os progressistas foi mais como um exercício de se colocar no lugar de quem via bolsonaro x haddad como escolha difícil. foi uma ficha que caiu para mim só no dia seguinte ao resultado das eleições nos eua, quando vi a ideia de nomes como moro, mandetta e mourão sendo apresentada como de "frente ampla para derrotar bolsonaro" (ou "biden no brasil").
o que vá lá, não são, né. biden não ajudou trump a se eleger, não foi ministro do trump, etc.
mas, dito isso, convenhamos - até pelo cenário que tem se repetido no brasil desde as eleições de 89 - a tendência mais pessimista para 22 é que tenhamos ou um bolsonaro vencendo já no primeiro turno, ou bolsonaro indo para segundo turno com um candidato de esquerda. é pessimista mas não improvável, já que a direita aparentemente não admite uma aliança com nomes de esquerda para fazer, de fato, uma frente ampla contra bolsonaro.
vale dizer também que um cenário bolsonaro x moro em segundo turno me parece bem improvável, até porque por razões óbvias, eles dividem eleitores entre si.
e dá para somar aí o histórico de 18, quando temos que a esquerda com candidato em segundo lugar (haddad com 29,28% dos votos) e em terceiro lugar (ciro com12,47%). essa gente não vota no moro num primeiro turno. quem vota no moro num primeiro turno são os 4,76% que votaram no alckmin, os 2,5% que votaram no amoedo e uma parcela de arrependidos do voto no bolsonaro. isso não deve chegar nem nos 12,47% do ciro.
enfim, bolsonaro x moro é improvável. provável é bolsonaro x um nome da esquerda. e aí a tendência é que se repita o desespero da direita lá em 18, que mesmo tendo alckmin, amoedo, meirelles entre nomes para escolher para um segundo turno, ainda assim votaram em peso no bolsonaro, porque as pesquisas apontaram que era o único que venceria o pt num segundo turno.
e então, considerando que esse é o cenário mais provável eu te pergunto: se dá bolsonaro x um candidato de esquerda no segundo turno em 22, vc vai no bolso de novo, haran?
"Essa desculpa" faz parecer que eu estava dando essa desculpa, e não é o caso, meu post é neutro quanto a essa questão aí. Mas vou morder a isca e opinar sobre isso. Eu acho que algumas coisas não davam pra saber e outras davam pra saber, como é natural, qualquer presidência tem aspectos previsíveis e imprevisíveis. O rabo preso de Bolsonaro com corrupção e o olavismo, por exemplo, não dava pra saber,[1] e é só pesquisar no fórum pra averiguar que pouco se falava nesse sentido. Com respeito ao rabo preso com corrupção, tinha inclusive o "me chama de corrupto" do Bolsonaro que colava e ninguém retrucava. Ninguém imaginava que já em 2019 o presidente estaria fazendo concessões pra se proteger contra acusações na justiça, e esse foi um dos motivos para as pautas ideológicas e econômicas perderem força. Até mesmo o Ciro Gomes, que se orgulha por levar processo de (entre muitos outros) Eduardo Cunha por dizer a verdade, não levantava a voz contra Bolsonaro para acusá-lo de corrupção, só foi fazê-lo durante o mandato. Inclusive ria feito moça no debates, tratando o Bolsonaro com o maior dos coleguismos.[2] Havia sim uma ou outra notícia circulando, mas soava como ruído - algo a ser investigado e que só ganhava maior repercussão por motivos políticos - assim como soa como ruído a questão da merenda do Alckmin, e ele passou a imagem de ser um candidato honesto em 2018 [3][4] (e ainda passa, até onde sei). Haddad chegou a chamar esdruxulamente Mourão de torturador (no sentido literal do termo), mas não Bolsonaro de corrupto.[5] Por outro lado, aqui na Valinor uma grande preocupação era a morte de gays, e hoje é uma questão menor ou inexistente dentre os problemas do governo Bolsonaro. Outra coisa que não dava pra prever é que viria a pandemia e o negacionismo de Bolsonaro adquiriria a repercussão que teve, esperava-se que o grande problema nesse sentido fosse unicamente o ambiental.
Não acho certeza que Moro e Bolsonaro disputem o mesmo eleitorado, porque o bolsonarismo de 2018 é diferente do bolsonarismo de 2020 ou 2022. Em 2018, ele tinha maior vantagem nas classes mais altas (de renda e escolaridade),[6] mas hoje em dia talvez não seja o caso, o Bolsonaro pode eventualmente se direcionar ao antigo eleitorado do Lula, em especial, aquele que é alvo de programas sociais.[7][8] Já as classes médias e altas poderiam muito bem optar pelo centro sob Moro.
Já tá tarde, fica pra outro dia sua última pergunta. Deixei passar porque foi a última coisa, fui seguindo na sequência e coisa e tal.
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