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[Fic Martin-Based] Valar morghulis [/Fic]

  • Criador do tópico Criador do tópico Paganus
  • Data de Criação Data de Criação
P

Paganus

Visitante
Paegge​

Fazia um calor intenso, abrasador, quente como os infernos subterrâneos da antiga Valíria. Paegge não se lembrava de dias tão quentes em Bravos desde que era garoto, no auge do que se supunha ser o Grande Verão, na época que parecia tão distante de paz nas Cidades Livres, paz em Westeros, paz até no Leste, época de calor e paz. Mas agora o calor lhe parecia agourento, tenebroso, uma alta temperatura na pele e corações gelados. Bravos não estava em paz.

Paegge estava sentado à porta da Casa do Preto e Branco, observando o movimento declinante das ruas poeirentas e o movimento dos próprios pensamentos, suas lembranças, memórias de dias antigos e de dias recentes, dias em que observou os pequenos fatos que eclodiram nos grandes eventos da Guerra dos Cinco Reis, que ainda rugia. Lembrou do dia em que o Rei Robert Baratheon partira de Porto Real, e ele partira com ele, rumo ao Norte gelado e ominoso. Detestava Porto Real.

Partira de Bravos em um navio do próprio Senhor, comissionado pela Ordem e tripulado por corsários experimentados, partira em direção a Westeros, terra de sua mãe, terras vastas e belas que sempre amava visitar. Dessa vez vinha a trabalho. O Gentilomem fora claro:
- Você irá a Westeros, a Porto Real. De lá acompanhará a comitiva do rei seguindo pela estrada do mesmo rei até Winterfell. - decretara o sábio e inexpressivo homem, a quem Paegge respeitava como o próprio Deus.
- Qual a missão, senhor? - perguntara, ansioso.
- Observar. - respondera ele.
- Observar? Mas o que exatamente...
- Silêncio. Jack irá com você, zarparão juntos mas não se manterão juntos. Ele o informará de tudo.

Depois de dez anos fazendo o que fazia, Paegge estava mais que acostumado à laconicidade da figura enigmática do Gentilomem para questionar suas ordens, ou mesmo pedir esclarecimentos. E haveria Jack, seu melhor amigo no mundo, seu companheiro, comparsa, confidente, sua sombra. Ele lhe informaria de tudo. E o mar é sempre o mar, sempre haverão ondas, e o sol escaldante, e a travessia perigosa do Água Negra. E Jack.

Paegge nasceu em Porto Real, em um bordel fétido de prostitutas baratas, entre as quais se encontrava sua mãe, uma visível dothraki, com seus trapos de couro, sua pele dura e acobreada, seus grandes olhos e cabelos negros como a noite. Seu pai era um desconhecido. Sua mãe provavelmente fora capturada por um khalasar inimigo do que ela se encontrava, fora estuprada e vendida como escrava na Baía de Escravos, dali recomprada por algum mercador de uma das Cidades e assim exportada a Porto Real. Os grandes senhores dos ândalos podiam se gabar de sua honra mas apreciavam carnes tenras e às vezes exóticas e pagavam caro por elas. Mas sua mãe não tivera sorte, fora adquirida por um proprietário de bordeis baratos da Baixada das Pulgas e era montada por todo tipo de gente, de ralé e bichos imundos, e o pequeno Paegge se acostumara àquela vida. Mas não por muito tempo...

Ele fugira da maldita cidade e da sua mãe puta escondendo-se em uma galé mercante de Bravos e veio parar como uma mercadoria indesejada na famosa cidade. Ali escapou dos mercadores e gatunos, passou a roubar para viver e foi crescendo em graça e vigor, senão em virtude. Conheceu outro pequeno gatuno, Jack, o terror mirim das rameiras e dos quitandeiros de toda sorte, figura conhecida. Conforme ia vivenciando melhor a cidade, acabou na Casa do Preto e Branco, e aos poucos, através de inúmeras provas e pequenas missões, foi iniciado nos mistérios do Deus de Muitas Faces e se tornou um honorável membro da Ordem, cumprindo missões cada vez mais arriscadas e sujando mais e mais as mãos. Mas não se importava. O que o movia era a gratidão ao Gentilomem que sempre o livrou de poucas e boas e mais que tudo: a fidelidade à Ordem, seus objetivos, planos e uma diligência que nenhum dos Sem Face esperaria possível de um rato de esgoto como aquele.

Diligência com a faca e com os livros. Vivia nas diversas bibliotecas da cidade e nas livrarias surrupiando livros e mais livros, anais dos escribas dos Senhores e Arcontes das Cidades, livros famosos de história e ciências dos meistres, volumes consagrados de magia e conhecimentos ancestrais da Cidadela e, mais que tudo, lia os mitos da antiga Valíria e das Cidades e textos sagrados da Fé, das crenças de diversos povos bárbaros, dos deuses dos Primeiros Homens, canções e lendas diversas. Lia pricipalmente sobre Valíria, os Targaryen, a Perdição e a Conquista de Aegon, com especial ardor, a história e objetivos da Ordem, seus ensinamentos e filosofia. Paegge, o Papa-Livros, era como ficou conhecido nas ruas de Bravos.

Jack era membro da Ordem também, astuto e ágil na entrega dos presentes do Deus mas pouco diligente nos estudos.

Quando chegou o dia, uma manhã nublada e igualmente quente, Paegge desceu aos cais e procurou por Jack entre os marinheiros do Senhor, esperando alguma indicação. Depois de muito andar pelos cais e procurar, viu um homem careca e de faces enrugadas lhe acenando de um navio de costado vermelho-tijolo, feio como a flor de uma puta, olhos brancos e cegos, e um movimento de braços pelancudos que lhe era familiar. Maldito imbecil. Jack nunca usava sua verdadeira aparência, era um abusador das Faces, e o próprio Paegge chegou a ficar meses, até um ano, sem lhe ver a verdadeira cara chupada e morena, seus cabelos crespos e negros, os olhos roxos e as sobrancelhas grossas, o porte meio corpulento, os braços e pernas peludos e longos como de um macaco das ilhas. Ele ao natural era estranho, mas raramente estava ao natural. Antigamente vivia sendo espancado pelo Orthon, outro Sem Face, pelas ousadias. Agora lhe chamava:

-Aqui, seu idiota. Você é cego? Ou burro? Estamos quase zarpando sem você, ratinho lerdo. Vem pra cá logo! - gritava o velho asmaticamente.
-Já estou a caminho, seu monte de merda lysena. Está fazendo o que, vestido de velho? É pra se aparecer? Você não sabia que o objetivo as Faces é exatamente o contrário disso? - dizia enquanto caminhava, calmamente, em direção ao navio.
-Ah, vá à merda. - gritou em resposta, o velho, arrancando risadas da tripulação de homens bronzeados e fortes do Fúria Syreana, um dos navios do Senhor de Bravos.

Subindo ao convés, o jovem tratou de se informar sobre a missão com o 'velho' mas antes que dissesse qualquer coisa este apontou para os marinheiros a bordo, indicando o sigilo absoluto da missão. Já era de praxe o uso de sinais e outras formas mais heterodoxas de linguagem entre os Sem Face mas Jack elevara tal arte ao mais alto nível de sofisticação e estupidez. Revirando os olhos, o jovem assassino se encosta na amurada do navio e fita longamente o cais e sente o odor conhecido de merda, sêmen e fumo, cada um dos quais acompanhado de lembranças doces, algumas não tão boas, mas todas que lhe falavam igualmente ao coração, à alma. E suspirou.

-Aposto que sei em quem você está pensando. Foi bem aqui, não? - perguntou Jack, rindo maliciosamente, entre dentes podres e uma boca babenta e enrugada.
-Sua sensibilidade é uma coisa admirável. - respondeu o jovem, enojado. Como pode ser tão boçal?

De qualquer forma, nunca se realiza aquilo que se quer, pensava ele então, antes como hoje. Amara muito, amara demais, mas sabia que nada disso tinha valor, nada que vive tem valor, dura, permanece, tudo volta ao nada e somente no Nada se plenifica.

Estava nessas reflexões contemplando a baía enquanto o capitão dava suas ordens, Jack bocejava, os remos começavam a trabalhar e o navio a se afastar da costa de Bravos, e rumava para o Oeste, para o Ocidente, para Westeros. Enquanto a embarcação se afastava e era impelida por braços e ventos, com as velas içadas, e com o suor dos marujos, Paegge permanecia olhando Bravos, que se afastava, por sua vez, que se tornava menor, mais distante, mais etérea, como nos seus sonhos e na sua infância, o portos sujos, as casernas caindo aos pedaços, as grandes mansões senhoriais, o Palácio do Senhor, a Casa do Preto e do Branco, as ruas poeirentas e lúgubres de noites estreladas, fumacentas e mal iluminadas, dos dias apertados, calorentos, sufocantes em peles e couro. A Bravos de sua vida.

Subindo ao convés, Paegge só podia lembrar do quanto amava essa cidade e se perguntava se a veria novamente, se essa viagem terminaria como todas ou se o Deus teria finalmente se lembrado de lhe conceder a dádiva do fim.

Talvez não a merecessem ele, Sem Face e Sem Escolha.
 
Jack​

A embarcação já deixara a Cidade fazia vários dias. Já se vislumbrava a Baía da Água Negra, enorme e delimitada, como uma gigantesca bacia por onde entravam pelo bico, abandonando a liberdade do Mar Estreito e memórias doces e suadas, para irem se enfurnar em sedas, roupas de seda, exércitos de seda, mercadores de seda, senhores e reis de seda, uma corte de seda, ao redor de um Trono de Ferro. O pensamento lhe nauseava, posto que não fosse dado a reflexões muito profundas. Olhou para o céu que ameaçava chuva, e suspirou:

-Parece que os deuses vão cagar na nossa cabeça.

Nesse momento o jovem Paegge subia ao convés, saindo como uma sombra de sua alcova e lhe mirando, desconfiado. Aproximou-se, se encostou à murada do barco, ao lado de Jack e lhe perguntou:

-Você não tem vergonha de blasfemar no começo de uma missão perigosa como essa?

Jack cuspiu na água.

- Vão à merda, você e seus deuses. – cuspiu displicentemente, com a voz carregada de um desprezo benigno, que lhe era característico.

Paegge olhou para ele, e assim se manteve por um minuto inteiro. Jack o odiava nesses momentos, quando se usava do olhar penetrante para irritar seu interlocutor, provocá-lo a derramar o que havia no coração em uma torrente de impropérios e ofensivas reveladoras. Ele era bom nisso e Jack era muito propício a cair nessas armadilhas. Mas não dessa vez, só virou o rosto e continuou a contemplar a Baía. Por fim, desistindo, suspirou:

-O que você quer?

-Quero saber tudo. Você me disse que haveríamos de nos infiltrar na cidade pestilenta, nos misturarmos à comitiva do rei, mas não me falou nada sobre a missão em si. Por que estamos fazendo isso? – respondeu o jovem, querendo saber a razão que o outro se recusava a lhe dar.

Jack continuava a contemplar o mar, perdido em pensamentos e de como sairia daquela situação de ter de explicar e explanar ordens já recebidas e assumidas interiormente. O jovem continuou:

-Por que a Ordem precisa de nós dois, sob tamanho sigilo, para acompanharmos a comitiva do rei? O que temos a fazer em Winterfell? E o que temos a vigiar? Tem algo a ver com as profecias? Com os Lannisters? É sobre a morte de Jon Arryn? Aeg...? – jorraram as perguntas, em tom ansioso, intranquilo, dos lábios morenos e sedentos por discussões e vinho doce.

-Pelos setes infernos, cala a porra dessa boca! Quer que toda a tripulação saiba dos planos? – retrucou, irritado, o assassino mais velho, hoje trajado de marujo lyseno, de costas de fora, arqueado, bronzeado e cheio de pelos castanhos.

-Queria eu saber da décima parte deles.

-Isso é mais complicado do que você pensa. O Gentilomem quer que acompanhemos o rei nessa viagem porque acha que ela é importante. – respondeu, com ar de importância.

-Você muito me esconde. – observou Paegge, olhando para ele, de forma irritante. Ninguém era mais irritante.

Jack revirou os olhos. Por que diabos ele tinha de ser tão teimoso? Tamborilou com os dedos na amurada, olhou para cima e disse, baixo o suficiente para que ninguém mais ouvisse:

-Ele suspeita que haja alguma relação entre as predições dos Grandes Sábios e a morte de Jon Arryn. Não conheço os textos, mas parece que a cúpula decidiu abdicar do bom senso e seguir os velhos gagás. Querem que tentemos descobrir algo sobre o que ele crê ser assassinato.

-Então ele tem certeza que foi assassinato? Em todo caso não vejo essa relação, meia centena de Mãos já foram assados, cozidos e devorados pelos Targaryen e o Fim ainda não chegou. – retrucou, sério, o jovem assassino.

-Mas não há mais dragões. – suspirou Jack.

-Nunca pensei que isso fosse se tornar um problema, mas tem razão. Com o fim deles... muito se torna possível. E tenho ouvido umas notícias perturbadoras vindas da Muralha...

-O caso é que parece que suspeitam que o velho Arryn viu o que não devia, suspeitou de algo e os gêmeos dourados fizeram algo para que ele parasse de meter o nariz. Sementes especiais, eu não duvidaria...

-Podemos contar com Varys? – aventurou-se Paegge, pensando, esperançoso, no eunuco de quem era muito amigo anos atrás.

-Com as nossas credenciais? Você é louco? Tudo o que podemos fazer é tentar descobrir algo de segunda ou terceira mão, não conte com nada vindo daquele castelo maldito, é melhor confiar nos ratos e rezar para que descubramos algo.
-Eu não achei mesmo que isso nos ajudaria.

Pararam. Aproximavam-se das Lanças do Rei Bacalhau, um amontoado de rochedos, alguns invisíveis mesmo para os melhores timoneiros, por entre as águas traiçoeiras do Água Negra. O imediato fez um regiro forçado, perdera o rumo um pouco para o sul, ainda zonzo da bebedeira da noite passada.

-O Gentilomem falou em ‘averiguar as relações entre os Lannisters e os Starks’. O que isso quer dizer? – questionou Jack, tendo sérias dúvidas.

-Se estamos perto de uma guerra civil, provavelmente.

Todos sabiam que sem os Targaryen a amarrarem o reino com sua energia de insanidade voraz e ardente (mesmo sem dragões), era uma questão de tempo até o reino usurpado cair nas chamas da guerra civil e da fragmentação sucessiva, um péssimo prognóstico em muitos sentidos. Sabia-se que a paz ancorava em Robert Baratheon, mas não impediria o Norte de se separar do Sul, com seu vigor gélido e orgulhoso, não fosse o papel essencial de Stark na transformação de uma rebelião local em uma vitoriosa conflagração contra a dinastia reinante. Foram os Starks que acenderam a rebelião pela reação às ofensas que sofreram, pela perseguição do príncipe a uma loba selvagem, pela paixão do veado pela loba. Foram eles que transformaram desgosto em conflito aberto e nunca tiveram papel passivo na guerra, mas essencial, ainda que as grandes glórias, coroas e canções coubessem ao veado. Seriam eles que manteriam a usurpação com dentes de aço na rebelião Greyjoy, assegurando ao rei um reino, e uma amizade invencível. Quem quisesse se amarrar à coroa teria de escalar o rochedo dos lobos, teria de conquistar os Starks. Ocorre que Cersei Lannister era orgulhosa demais para isso e tudo que tal viagem poderia angariar seria mágoa, despeito e aversão mútua. Tywin seria mais sábio, era muito ambicioso, e o Regicida... bem, este não contava. Nunca contou. O que todos sabiam do Leste ao Oeste do Mar Estreito é que essa viagem seria profética, serviria para selar a amizade entre Norte e Sul durante o Novo Reino, mas quem ignorava as péssimas relações entre os lobos e os leões?

-Quando os Starks e os Lannisters irão se arremessar às gargantas um do outro? E quem vencerá? – perguntou Paegge, mais para si do que para o outro.

-Não importa quem vencerá, mas há de acontecer inexoravelmente. Eu que não cago meio punhado de bosta pra essas profecias sei muito bem que estamos todos bem fodidos se isso acontecer. Vai despedaçar o reino e afetar as Cidades. Os selvagens vão adorar, e a Patrulha, detestar. A propósito, era disso que falava? Porque a segunda parte da missão se trata de acompanhar Benjen Stark até a Muralha, sabe O Deus para quê.

-Você é um imbecil, mas vou contar. Os textos falam que se os sinais estiverem propícios, o Gelo irá despertar exatamente no momento em que os Guardiões do Norte estiverem despedaçados, os Guardiões do Sul crerem que estão protegidos e bem estabelecidos e quando o Fogo brilhar no Oriente. Em outras palavras, se a cúpula estiver correta, os selvagens são os menores de nossos problemas.

Jack balançou a cabeça, incrédulo. Estava cheio de servir em missões absurdas para a Ordem por comissões dos velhos Sábios que enchiam a cabeça dos mais crédulos entre a cúpula e mesmo entre os recrutas com histórias sobre profecias apocalípticas, guerras universais, dragões e demônios da Noite ressurgindo de tumbas geladas. Histórias que sua avó lhe contava para dormir, mas que não valiam bom ouro em tripulação e ouro ainda melhor em assassinos sem face para espionar e vigiar fidalgos westerosi em suas maquinações de sempre. O mundo continuaria a girar como sempre, com ou sem sandices desse tipo, guerras ocorreriam sempre, pessoas morreriam, virgens seria defloradas e prostituídas, o preço da carne ia subir. Etc.

Mas Paegge não era assim. Não desperdiçara anos de estudo para apostar que essas coisas nunca aconteceriam. A questão era saber se esse era o momento, se veria os sinais, portentosos ou não, se a missão que lhes foi dada serviria para impedir, ou ao menos, atrasar um conflito interno, até que o Fogo chegasse, até que alguma esperança pudesse vir do Leste. Pensava em termos fantasiosos, crendo que os mitos antigos não apenas eram verdadeiros como haveriam de se cumprir. Tinha uma mentalidade fatalista, não que fosse um fanático, mas pensava freqüentemente como alguém que estivesse lutando uma guerra de vida ou morte contra forças impessoais e medonhas, contra algo que não poderia evitar mas teria de se consumir nessa luta. Jack pensava que rasgar gargantas para ele nunca foi mais que uma forma de ascese estranha, de obrigação mais espiritual que militar, mas descobriu que se enganara. Era litúrgica.

- Iremos à Muralha, então, rasgar nossos buracos de cagar com aquele frio de merda, aquelas prostitutas feias, aquele... – explodiu de raiva o Jack, seriamente angustiado em visitar aquele lugar inóspito e gelado, e vasto como o oceano.

-Cala essa boca, quem liga se esse seu pau mal usado congelar e cair? Estou mais preocupado com a Muralha que com esse servicinho de espionar fidalgos e seus achaques de honra em banquetes para os quais não seremos convidados.
-Você é um Sem Face. Somos convidados para todas as festinhas.

-Vá lá. Fale-me dos seus planos.

O plano era simples, embora de difícil execução, deveriam se misturar à multidão de mercadores, peixeiros, putas praianas, pescadores, enfim, o inferno de promiscuidade comercial e física que era Porto Real no seu Portão da Lama,e arranjar um jeito de alcançar os portões da cidade que davam para a Estrada do Rei. De lá seguiriam as caravanas que retornavam ao Lago da Donzela para se reabastecerem e ali aguardariam a comitiva do rei. Passariam por pequenos cavaleiros livres e seguiriam os Baratheon até Darry, depois até o Gargalo, até Winterfell. Uma viagem longa, difícil, lenta, mas segura, sem perguntas e cheia de oportunidades para descobrirem muito entre a fidalguia inferior algo sobre Arryn.

Paegge perguntara porque não se imiscuíam na comitiva já na saída dela dos portões mas Jack lhe fez ver que isso era uma loucura, as patrulhas estariam mais atentas do que o normal, não muito, é verdade, mas o suficiente para se preocuparem em saber de onde vieram aqueles dois cavaleiros, o que faziam em Porto Real, por que vieram de uma galé em Bravos, o que lá faziam, de onde realmente eram, a que casa menor pertenciam, a que casa média ou maior serviam, enfim, toda uma aporrinhação infinita que lhes levaria a paciência, tempo e chamaria atenção em demasia de certas pessoas. Isso era o que menos queriam. Paegge concordou mas achou a idéia do Lago da Donzela uma temeridade, porém, mas Jack não quis ouvir falar nisso, disse que tinha um ‘esquema ‘ preparado. Paegge apenas deu de ombros.

Nesse momento as casas de telhado de sapé e paredes de madeira velha dos cais de Porto Real já se tornavam visíveis ao fim da longa baía, no fim do Água Negra, onde este banhava as costas nuas e imundas da capital de Westeros, onde já vislumbravam o movimento de incontáveis navios atracando, descarregando, carregando, zarpando com mercadorias, pessoas, pessoas e mais pessoas, alguns animais... Aqui já se aproximavam do começo da aventura mais dura de suas vidas, já se aprumavam para algo menos grandioso que pontual, um simples elo de uma corrente a que se chama destino. Já Paegge se lembrava, com náuseas, da vida de sujeira, fome e vergonha, de sua mãe maltratada, de seus muitos ‘pais’, de sua vida anterior, suja e que procurava esquecer. Jack, este só se lembrava de algumas aventuras ocasionais, sorria diante da iminência de outras tantas. Assim o Fúria Syreana se aproximava de seu destino.
 
Gentilomem

Um homem caminhara por alguns becos escuros em Bravos, se esgueirara pelo cais, e tomara um pequeno barco com um remador que lhe esperava. O homem escondia o rosto em um capuz de couro sobre uma capa e uma túnica surradas, de algodão puído. Não era visível seu rosto mas o homem sentia seu olhar profundo sobre si, a exigência da resposta, uma senha pedida para um encontro combinado nalgum lugar.

- A morte é a minha única fé. - saiu a voz cristalina, doce, segura, do homem, um homem vestido em couros de montar, como se fosse algum mercador de Westeros, mas com um rosto moreno, de barba, olhos amendoados, cabelos crespos e escuros, pele morena, um dothraki perfeito, embora inusual. O barqueiro assentiu com o remo e o pôs para trabalhar.

Saíram da enseada e se dirigiram a uma minúscula ilha, que ficava em uma grande propriedade, pertencente ao Senhor de Bravos. Essa ilhota não era mais que um pequeno monte de areia que pairava sobre as águas, tendo em seu centro uma cabana de sapé, mal discernível naquela noite escura que os fogos da cidade não ajudavam a iluminar. Aproximaram-se com o barco, em um mutismo por si só suspeito, eloquente pelas circunstâncias.

Ao ancorar, o barqueiro desceu primeiro para puxar o barco e ajudar o estranho dothraki a subir. Meio atrapalhado com aquela roupa sufocante na noite fervente de Bravos, o homem quase caiu, mas segurou no ombro do seu ajudante com uma das mãos enquanto se firmava no barco com um dos pés enquanto o outro tocava a água rasa da praia. Segurou, deu um impulso e sem ser possível acompanhar o movimento, mergulhou em terra, se firmou e abraçou o barqueiro, cujo capuz caiu, cujos olhos assustadoramente azuis brilharam, arregalados, casando mal com um sorriso escorrendo sangue. Cuspiu aquele sangue quente e fresco no peito do dothraki, abriu com dificuldade a boca e murmurou, quase inaudivelmente, no ouvido de seu assassino: 'valar morghulis'.

- Valar dohaerys. - murmurou solenemente o homem moreno, puxando rapidamente a faca do peito do velho barqueiro e se esquivando das tripas caindo do cadáver, que desmoronava na água.

Pisando em terra firme, o homem moreno se encaminhou, totalmente descansado e impassível, para a cabana, uma iurta miserável de teto de palha e paredes e porta de lascas grandes de madeira amarela. Entrando, só viu escuridão e um alçapão sob seus pés. Agachou-se, puxou a tampa, e desceu por um pequeno túnel, apertado, para um quarto iluminado por velas, um cubículo cavado no subterrâneo da ilha. O lugar era apertado, sufocante e úmido, opressivo. Diante de si, no meio do quarto, viu um homem de pele negra como a de um ilhéu, sentado sobre um tapete. O homem estava nu, de pernas cruzadas e olhava fixamente para ele, com olhos negros sobre um fundo vermelho saltado, mas estranhamento sereno.

- Você foi seguido? - saiu sua voz grave e clara.
- Que espécie de pergunta é essa, Phronésios? - respondeu a voz clara do Gentilomem, que se agachava, para se sentar defronte do estranho homem. Arrancava sua face enquanto falava. - Posso estar enferrujado mas ainda não perdi o jeito. - um sorriso novo, em uma nova face, sorria discretamente.
-Não perca nosso tempo com amenidades. Os Sábios se aborrecem com sua lentidão em cumprir nossas ordens.
- Os Sábios se esquecem, às vezes, que o dever da obediência não existe divorciado da responsabilidade de consciência da realidade enfrentada.
- Não seja insolente, garoto. Você é um dos Grandes, está no Conselho, mas não lhe cabe questionar Ordens Sagradas nem exigir um conhecimento que não é de sua alçada.

Um silêncio breve se seguiu a essa troca seca de palavras duras, mas em nenhum momento se desencontraram os olhos desses dois. Agora os de Phronésios riam.

- Sua hora logo vai chegar, meu amigo. Por enquanto, coloque-se no seu lugar. Já despachou os meninos?
- Já. Jack foi informado dos detalhes e atualizará Paegge quando chegar a hora.
- Então, eles de nada sabem.
- Nada há a saber. O que eles tem de fazer se apresentará aos seus olhos, se seguirem o roteiro que preparamos eles. Estarão no olho do furacão dos acontecimentos ao mesmo tempo que se manterão distante deles. Sua missão se resume em...
- Cale-se. Sabemos muito bem. E quanto a Jon Arryn? Tem novidades?
- Lágrimas de Lys. Descobri seu fornecedor.

Phronésios se remexeu em seu lugar, estranhamente desconfortável, como se temesse que alguém caísse do alçapão em sua frente.

- Mantenha-o por perto.

O Gentilomem se atreveu a avançar, com cuidado:

-Aegon...
- Basta! - Phronésios gritou, quase pulando em cima do seu interlocutor, com as veias saltadas pelo crânio careca, os olhos flamejando de fúria e os braços arqueados, tensos, como se segurando para não usá-los para estrangular seu amigo. Respirando fundo, ele continua:

- Estamos fora disso, Conselheiro. Já nos envolvemos demais. Recusamos essa missão, e tudo que se relacione a esses indivíduos. Jon foi informado, terá de se virar sozinho a partir de agora.
- Não seria a primeira vez... e quanto à interpretação?
- Foi decretado que se tivermos de abdicar de sermos engrenagens do Primeiro Motor Imóvel por conta de 'interpretações', então somos iguais a todos os outros homens, portanto, completamente inúteis.

A nota de desprezo na voz do ilhéu era de congelar a bílis do Gentilomem, e condenava todas as suas esperanças. Imediatamente, se culpou pela fraqueza de ter esperanças, como se não fosse um ninguém, como se ainda existisse. Doeu em si o orgulho, e teve pena de si. Parecia que afinal...
- O destino não nos pertence... - deixou escapar, entre dentes.
O olhar de Phronésios relampejou em sua direção, junto com sua forte palma, que estapeou o Gentilomem na face, que cai e quase desmaia de dor.
- Fraco.

Ao voltar a si da dor e humilhação, o Gentilomem se vê completamente só no quarto subterrâneo. Perdido em pensamentos, ele coloca seu coração, o que sobrou dele, nos seus dois pupilos. A noite se aprofunda enquanto o jovem conselheiro se retira ao abismo de sua inexistência.
 
Última edição por um moderador:
Puta-cavalariço

Caía a noite sobre os acampamentos sem fim dos Lannisters e da corte real, com a enorme casa ambulante do Rei, e uma planície tortuosa de flâmulas vermelho-douradas e carmesins se espraiando por milhas e milhas, a perder de vista. A luz da Lua se refletia nos tecidos brilhantes e no aço de castelo, refulgindo em uma miríade de armas e armaduras jogadas por entre os becos labirínticos ladeando as barracas. De manhã as cores Baratheon e Lannister pareciam fazer crer que o vale se incendiara, agora o orgulho das Casas sucumbia perante o poder da Noite.

Uma bela mulher, loira, de olhos penetrantes e azuis como o céu do Verão Eterno, cabelos encaracolados e soltos, com suas pinturas manchadas, marcas de mãos fortes em suas costas nuas, observava o vale do alto de uma pequena colina a sudoeste, coberta por um bosque recém-queimado, de onde via toda a movimentação. Suas mãos ensaguentadas trabalhavam, trouxera um corpo consigo, arrastando-o sofregamente pela colina, adormecido como um bebê, ressonando como um porco. Um cavalariço. Seus couros e panos imundos se encontravam cuidadosamente dobrados a um canto do bosque, próximo às maiores carcaças de árvores, junto com suas botas de couro de cabra. O pobre rapaz, de uma cor morena, tostada pelo sol de Porto Real, tinha hematomas por todo o corpo, sinais visíveis de espancamentos antigos e recentes, muitas cicatrizes pelo corpo jovem e de pele rústica, com cabelos curtos e lisos, belos, embora sujos, castanho-escuros.

A loira examinava cada pedaço de seu corpo nu, pegava nos músculos de suas coxas, flexionava seus pés calosos, sentia nas mãos feridas e frágeis as mãos duras do rapaz, acariciava seu tronco grosso e forte, apertava seus ombros, sentia o corpo do jovem cavalariço adormecido como se lhe fizesse uma massagem, mas sem se preocupar em acordá-lo. Agora flexionava seus braços, tocava no seu membro viril, quase com nojo. Dormia como uma pedra. Ela usara as próprias mãos para cavar uma cova para ele, uma pequena cova, mas profunda o suficiente para enfiá-lo lá dentro. Então, sacara uma adaga dentro de seu decote generoso, uma lâmina de mantícora e cabo de osso de baleia e cortara sua garganta, de orelha a orelha, escutando atentamente os cantos dos pássaros noturnos. O sangue vazava copiosamente para a tumba, enquanto o dom era entregue em sua plenitude à alma que alçava voo.

Aguardando mais alguns momentos até que o sangue da ferida começasse a se encrespar e diminuir o fluxo, a prostituta começara sua operação. Fizera incisões diversas por várias partes de seu corpo, no peitoral superior, nos ombros, nas coxas, joelhos e cotovelos. Sussurrava algumas palavras quase inaudíveis para a noite enquanto observava uma sombra se formando dentro de sua própria sombra, envolvendo suas finas mãos, agora translúcidas. De seus dedos finas pontas de agulhas invisíveis se cravavam na incisão e, com um esforço que parecia fenomenal, ela puxara todo o seu corpo para trás, testando o quanto a sombra prendera o corpo ao chão. Um segundo chão, acima do de terra e grama queimada, um chão de escuridão se formara entre seu corpo e o solo, prendendo-o e o envolvendo em amarras negras. Com mais um esforço descomunal a moça se jogou para trás, ainda de frente par sua vítima, lhe arrancando grandes tiras de pele, esfolando-o. Ela tentara mais uma vez, dessa vez tomando maior distância e com maior força, mas pequenas tiras ainda se fixavam à carne. Uma terceira tentativa. E a pele estava livre do corpo. Com a carne viva exposta, só os músculos, lhe restava a última e mais perigosa parte da operação. Perfurara seu pomo-de-adão com uma das agulhas negras e com a outra mão, prendera outra agulha no fim da nuca, e outras duas se desprendiam do chão negro, fixando sua cabeça. Outro puxão e sua pele do crânio fora removida, deixando só a cabeça descarnado à mostra. Por último lhe arrancara os olhos com a adaga, quando a escuridão já se dissipara e as agulhas quedavam imóveis no chão.

A prostituta guardara as agulhas e as tiras de pele em um grande saco que trouxera. Então, jogara o cadáver descarnado na tumba e começava a lhe jogar terra por cima, selando o presente do Deus.

Agora outra operação haveria de começar. Ela se afastara, se ajoelhara, fazendo uma oração silenciosa diante do túmulo, virando as costas ao que já foi e jamais será de novo. Abrindo o saco, ela retirara as tiras de pele, fizera mais uma oração, enquanto seu corpo inteiro escurecia, aumentava, alargava, seus músculos expandiam, uma forma sombria lhe cobria. As agulhas voltaram a trabalhar, rasgando sua pele exatamente nos mesmos pontos que fizera no corpo do cavalariço morto, mas sem o sustentáculos de suas unhas, sem derramar nenhum sangue. As mesmas agulhas expeliam sua pele em tiras limpas e quase secas, e começava a costura das peles do cavalariço em seu lugar. Marcada por profundas marcas e sulcos, a prostituta, agora o cavalariço nu, com a pele quase em carne viva, inclinava a cabeça em um tronco, se encostando ali enquanto sua face derretia como cera, sendo levada pelas sombras e o rosto do cavalariço subia pelo seu corpo nu como uma aranha branca e pegajosa, tocando no seu membro recentemente reconstruído pelas sombras, subindo pelo peito recentemente destroçado e se agarrando como uma tarântula ao crânio negro. Os olhos são devorados pelos olhos, e um novo olhar surge. Assumira a nova face.

O cavalariço agora se vestia com suas roupas surradas, colocava as peles da puta e seus apetrechos todos de volta no saco, se ajoelhava, fazia mais orações e comandava em palavras um último sopro da sombra, a limpar o local. Amarrara os sacos nas costas e começara a descer a colina pelo sul, silencioso como um gato, se apoiando por entre as raízes enegrecidas, quase tropeçando, mas terminando por se agarrar ao tronco de uma das árvores e se utilizando do impulso para uma última acrobacia. Ao final da descida, se esgueirava por entre algumas moitas e árvores povoando a encosta, sumindo na noite clara, por entre os tecidos esvoaçantes de seda lysena.

Dez milhas adiante encontra um escudeiro, magrelo, raquítico, de cabelos pretos escorridos, olhos fundos, e totalmente equipado com seus couros, o aguardando. Esperava pela margem do Lago, junto a um bote sem tripulante, com os pés de fora, a brincar com a superfície do lago. A noite começava a anunciar a aurora.

Seu olhar era sarcástico, debochado e ainda irreconhecível por trás do falso rosto:

- Você está fora de forma. Levou umas três horas, e uma facialização tão simples... está perdendo o jeito, Pae...
- Cale-se! - respondeu o cavalariço com sua voz rouca e forte, segurando o escudeiro pelo braço com força. - Estamos a poucos dias de Darry, talvez dois ou três. Não vá você estragar tudo com essa língua bifurcada.

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O amanhecer encontrara ambos se levantando com o resto da comitiva a levantar acampamento. O escudeiro se juntara a um cavaleiro desconhecido dentre os vassalos dos vassalos dos Lannisters, e o cavalariço o seguia com os olhos, levando dois cavalos para pastar antes da arrancada inicial. O plano do rei Robert era seguir direto pelas terras Darry, sem se incomodar em se certificar da fria hospitalidade de uma das Casas mais fieis aos Targaryen que não só não aceitara a vitória do Usurpador como se recusavam a dar mais à nova ordem que obediência tributária. Pretendia passar ao largo dos Darry mas não poderia fazê-lo sem passar por suas terras vazias e melancólicas, e se fizesse isso sem prestar uma visita a seus antigos inimigos, isso poderia ser considerado ainda mais ofensivo. O dilema não era muito grande, aliás, o óbvio já fora decidido em favor da permanência da comitiva em Darry, o rei só se remoía do seu pouco poder, da necessidade de ser diplomático e não poder queimar aquele castelo e matar todos ali.

- Minha pele ainda está coçando, e parece aderir menos, cada vez menos à carne. - sussurrou o cavalariço ao escudeiro, alcançado-o em uma ponta de bosque dos Darry, ao final do dia.
- Isso é normal no primeiro dia. Há um limite para o que o poder pode fazer na conexão, o limite do seu corpo. Tantos anos e ainda não se acostumou?
- Há algo errado. Não é a coceira de sempre, é um formigamento estranho, já o sentia com a pela antiga. Há algo de diferente nesse ar, algo nesse continente.
- Pare de besteiras. Prepara-se para muita cerveja, que finalmente vamos poder descansar!

Não havia maior contraste entre aquele rosto azedo e chupado e o ar de alegria da perspectiva de farra que agora demonstrava, mas o jovem e bonito cavalariço não tinha muitas dúvidas. A cerveja seria pouca e regulada, a coceira não ia embora e ele se sentia mais e mais preso dentro de si mesmo.

Quando a noite seguinte chegou e os encontrou aquecidos sob o teto dos Darry, ou melhor, de um de seus estábulos, a viagem já alcançava seu décimo dia e ainda estavam muito longe de Winterfell. Não puderam apreciar a cerveja, o escudeiro foi escolhido para o turno da maior parte daquela noite, o que também lhes deu pouco tempo de conversarem. Mas isso deu tempo de o cavalariço observar atentamente à movimentação dentro do pequeno castelo.

Segundo suas observações, o rei batera novamente na rainha por algum motivo fútil. Estava novamente bêbado de hidromel e cidra vagabunda e agora jogava com alguns nobres, Jaime Lannister dentre eles. O cavalariço se esgueirara para dentro do salão e pode ouvir algumas conversas. Falavam naturalmente de prostitutas e de como procurá-las pouco diferia de tratar de assuntos de Estado. Entre os impropérios e arrotos estridentes do rei e as tentativas frustradas do Cavaleiro da Guarda Real de manter alguma dignidade, não havia muito que descobrir. Exceto que os Darry se retiraram para seus aposentos, se recusando a receber o rei Robert. Apenas ordenaram a abertura dos portões de seu castelo e de seus estábulos para abrigar parte da comitiva enquanto o restante se abrigava em seus belos e úmidos bosques, mas não estavam à vista. O rei estava furioso com essa afronta, mas estava mais curioso sobre como encontraria seu velho amigo Ned. Nesse instante o cavalariço apurara seus ouvidos, prestando muita atenção, mas só o que percebera era a reticência do rei em afirmar algo positivo sobre o motivo da visita ao Norte exceto que viera até Ned, sua mulher e filhos para choraram juntos a morte de Jon Arryn.

Não convencera Paegge.
 
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