Se você leu direitinho eu coloquei que ele "tinha" potencial e isso era o que eu pensava na primeira vez que ele se candidatou a presidência em 2002 e que por sinal foi a única vez que votei nele.
Pois é. Eu li. Só que você chegou a ler o que o Ciro escrevia em 2002?
Meu ponto é esse: desde aquele contexto, eu vejo que já não havia "potencial" para que o Ciro fosse um queridinho do mercado.
O grande agora xodó da esquerda (Reinaldo Azevedo) foi um dos poucos que na virada dos anos 2000/2010 ousou bancar que essas politicas "me-engana-que-eu-gosto" de aquecimento de economia em seu programa diário do rádio e já desconfiava que todo aquele cenário não seria positivo a médio e longo prazo. A cortina de fumaça foi boa pra ter retardado ao máximo os efeitos da "marolinha" e fez a Dilma cair de paraquedas, mas o grande delírio de quem sonhou alto, foi achar que os efeitos positivos durariam por todo o mandato dela e aí pra garantir a reeleição dela precisou apelar feio com aquele corte na conta de luz, que arrebentou com o setor elétrico e se hoje temos as infames bandeiras tarifárias nas contas de energia, muito se deve a isso. O Bolsonaro repetiu recentemente essa mesma fórmula ilusória com os combustíveis, seguindo essa mesma escola de "sucesso".
E quando me refiro ironicamente a lucidez do mercado não é pela saudade que ele tem do seu antecessor e sim exercer o direito de estar com mais de um pé e meio atrás, pois o que ele quer é ver o país entrar nos eixos de verdade, sem ter mais nenhuma politica que ainda cause desconfiança e rumores negativos, sem repetir erros do passado e logicamente sentir que o país finalmente possa crescer de forma sustentável.
Uma bela pirueta essa, Fúria. Você não disse o mal que aquelas falas do Lula, das quais você se queixou, causou ao país. Logo acima, você dizia: ah, mas o presidente tem que ter cuidado com o que diz, porque afeta a economia dessa ou daquela maneira.
Você esquivou de demonstrar os supostos efeitos negativos dessas falas para passar à sua leitura sobre a política econômica do Segundo Governo Lula. E aí você dá um salto argumentativo, derivando todos os males do governo Dilma das escolhas políticas do governo Lula, como se o governo Dilma não tivesse ele próprio feito as suas escolhas, como se não tivesse existido a Nova Matriz Econômica, etc. E veja... eu nem estou dizendo que algumas das escolhas políticas do governo Lula não tenham repercutido adiante. Só que você se desobriga de indicar que escolhas foram essas e que efeitos foram esses. No passo seguinte, você já está nas eleições de 2014, derivando retrospectivamente a conjuntura econômica de 2014 de escolhas políticas feitas 6 anos antes.
Beleza. Cada um tem direito à sua própria leitura dos fatos. É totalmente legítimo que você tenha a sua leitura crítica dos governos petistas. Eu também tenho a minha, estou certo de que não pelos mesmos motivos. Mas não era essa a discussão.
Sobre a sua fala sobre a "lucidez do mercado", a questão da saudade do projetinho de ditador está implícita. Você diz que é legítima a desconfiança ante a apreensão de que repitamos erros do passado. Está implícita a ideia de que o país estava no rumo certo, sob o governo Bolsonaro, que contava com o beneplácito do "lúcido" mercado apesar de todos os apesares.
Por fim, eu acho curioso como você assume mesmo a procuração para falar em nome do "mercado", assumindo que "o que ele quer é ver o país entrar nos eixos de verdade". O mesmo "lúcido" mercado que aderiu a Bolsonaro quer ver o país entrar nos eixos de verdade. Claro! Talvez se estivermos falando do "eixo" do fascismo, da instabilidade política, da degradação das instituições, da ruptura democrática e de uma política da morte. Isso deve ser ótimo pros negócios.