Pensei que eu tivesse comentado o quarto episódio no domingo! Como não o fiz, vou tentar rascunhar a minha impressão geral. Queria falar detalhadamente, mas ontem tive um dia horrível no trabalho (não apenas no trabalho; no âmbito pessoal algumas coisas me afetaram absurdamente também), e estou exausta até agora. Não conseguirei elaborar muito bem a minha resposta. Realmente pensei que tivesse comentado no domingo, logo após o término do episódio, quando tudo estava fresco na minha memória.
Episódio soberbo! Cheio de camadas e, de certo modo, de mudanças de tonalidades no que tange aos personagens, o que antecede a dança dos dragões. Rhaenyra começou o episódio demonstrando o poder de uma princesa nomeada herdeira do rei: terminou a viagem para a suposta escolha do seu pretendente muito antes do previsto. Ela o fez porque podia fazer, ela o fez porque tinha poder para tal. E é também por causa do poder que ela decidiu voltar para onde realmente está o poder: onde os homens fazem política e decidem o futuro do reino.
Junto de Rhaenyra, mas vindo de um lugar diferente, chega Daemon: este, com muito poder, após a batalha de Stepstones. Trouxe até uma coroa, mas o maior poder que ele detinha, mesmo, era a afeição da sobrinha. Como o grande banana que era, Viserys, o homem mais poderoso do reino, temeu que o irmão fosse ameaçá-lo.
Com a dubiedade que lhe é peculiar, Daemon, ao mesmo tempo, demonstra poder e respeito diante do irmão. Daemon veio se desculpar com o irmão ou demonstrar força? As duas coisas. O irmão do rei nos concede, então, a primeira lição sobre política: ela está entranhada em toda e qualquer estrutura de poder. Ela sangra e faz sangrar.
Posteriormente, virá a segunda lição sobre política, mas, antes, veremos o poder da rainha Alicent diminuir. Após parir os herdeiros que o rei queria, foi deixada de lado por ele, que faz troça de sua opinião (como é visível no momento em que ela sugere que o príncipe Daemon fosse ver a tapeçaria).
Pouco depois disso, Daemon conversa com Rhaenyra, e temos as percepções dele sobre casamento e prazer. Ele diz que casamento é um arranjo político e que isso não impedirá que Rhaenyra faça o que quer. Oh, meu caro Daemon! Agora, chegamos a um ponto: o poder de Rhaenyra não vai tão longe assim. Esse é um privilégio masculino. A princesa tem útero real (como lhe disse a mãe, Aemma, no primeiro episódio da série). Espera-se que ela gere herdeiros. O casamento para ela significa prisão (veja o exemplo de Alicent, cuja importância diminuiu após cumprir a missão, isto é, parir um herdeirO).
Enfim, eu queria continuar a falar sobre como isso se desenrola, mas, como mencionei, estou muito cansada. Então, vou para fora dos muros do castelo: a Baixada das Pulgas. Daemon foi mostrar à Rhaenyra mais uma camada do que já vimos: poder, política e casamento. Adicionemos a esse balaio, agora, o prazer. Ao encará-lo, a princesa não recuou. A mulher é do sangue do dragão, ela tem fogo; não vai recuar, uai. E ele sentiu. Ah, mas sentiu. E sentiu pesado. Rhaenyra é o Calcanhar de Aquiles do Daemon, porque ela vem adicionar mais uma camada de complexidade a tudo o que já vimos: paixão. Daemon quer o poder total, isto é, ser rei; mas descobriu que também quer a Rhaenyra.
Voltemos à princesa: ela aprendeu a lição sobre o prazer e decidiu aliá-la ao poder. Como detentora do poder, foi reivindicar o prazer. Queria o Daemon, mas, como não funcionou, bora lá, Sor Criston Cole, porque ela é Rhaenyra Targaryen, herdeira do Trono de Westeros. Ela quer, ela deseja, ela tem! Foi bem bonito! Mais bonito do que todas as cenas de sexo de Guerra dos Tronos. E o detalhe da demora de se tirar a armadura? (sim, os memes são ótimos!) Camada por camada: como as estruturas de poder, cuidadosamente trabalhadas no episódio; como as hesitações do Sor Criston; como o desejo queimando nos olhares da Rhaenyra... que coisa bem feita! Foi certo fazer com que ele quebrasse os votos? Desde quando existe certo ou errado quando se trata dos Targaryen?
Outra coisa que eu achei sensacional foi o contraste entre a Baixada das Pulgas e o castelo. Aquele lugar, supostamente, deveria ser sujo, afinal, trata-se de um "antro de perdição"; e este, deveria ser um lugar "limpo", pois é onde habita a realeza. Mas na casa dos prazeres, há verdade, há vontade, há desejo. O ambiente estava leve. No castelo, por sua vez, o que se viu foi o rei — em putrefação — sobre a rainha, espremida, sendo usada para o prazer do rei, mas sentindo nojo, virando o rosto, sendo infeliz.
Agora, para fechar com chave de ouro, veio o Viserys falando com a Rhaenyra que a verdade não importa, o que importa é a percepção, e que o fato de ela ter estado em uma casa dos prazeres, com o Daemon, já atiçava quaisquer percepções. Nesse contexto, pensando recuperar o domínio da narrativa, e exercendo o poder de princesa, Rhaenyra aceita a proposta do pai de se casar com Laenor Velaryon. Antes, porém, o rei teria de tirar Otto Hightower da posição de Mão. Ele aceita.
Não houve tempo para a princesa saborear sua vitória, porque o rei exerceu o seu poder sobre ela, quando o meistre entrou com a poção que deve ser a "pílula do dia seguinte" do medievo, né? Isso significa que a percepção do rei é a de que o irmão e a filha copularam. E, como ele é o detentor do poder, nenhuma outra percepção (ou a verdade propriamente dita) importa. A verdade não importa, o que importa é a percepção. E uma das lições que o quarto episódio nos deixa é que a percepção que impera, não raro, é a de quem detém o poder e o arcabouço político para sustentá-la.