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Morre Fidel Castro, aos 90 anos, em Cuba

Essa discussão (masturbatória, mas que todo mundo gosta) sobre se tal movimento é esquerda ou direita não leva a lugar nenhum se ela não partir de um ponto essencial: qual é a definição de esquerda e direita? Só dá para construir alguma coisa a partir de uma definição.

A sua ideologia, suas crenças, sua visão da sociedade. Enquanto a direita acredita na hierarquia social como algo natural, a esquerda enxerga que essas hierarquias são um mal, uma injustiça a ser combatida, seja por meios extremos, como as revoluções socialistas, ou seja por meio de políticas que visam a diminuição da desigualdade, como programas de distribuição de renda, taxação de grandes fortunas, etc...

Só nisso já se enxerga o nazismo como direita. Hitler em momento algum tenta alterar a ordem da sociedade, apenas excluir aqueles que ele julgava inferiores, como judeus, gays, ciganos, negros, etc...dando lugar aos arianos, sua "raça superior". Essa ideologia de raça superior também é algo que não existe em nenhum espectro da esquerda, seja ela progressista ou conservadora. Tanto que ao redor do mundo inteiro, grupos de supremacia racial estão sempre aliados a partidos de Direita e Extrema-Direita.

Aliás, pega uma dessas crianças que dizem que nazismo é de esquerda e joga numa roda de neo-nazis, e deixa ele falar que Hitler era parça de Stalin. Aí assista a surra que a criança toma.

Na verdade essa historinha de nazismo = esquerda é chorume de olavete que, de alguma forma, ganhou força entre adolescentes. Eles pegam elementos como cor da bandeira e nome do partido como provas cabais. Mas se usássemos essa lógica pra tudo, o partido Republicano americano seria de esquerda. Assim como o PSDB :lol: Uns poucos que são mais lúcidos citam a intervenção do governo alemão na economia como sinal do "esquerdismo". Mas esse intervencionismo nazista era apenas a forma de Hitler alimentar a indústria bélica, e não pensando em direitos trabalhistas. Tanto que durante o início do governo nazi, os sindicatos acabaram, as greves foram proibidas, os salários foram congelados. Como o Brasil do Médici, foi um intervencionismo que priorizava o capital, e não o trabalho.

Aliás pela lógica olavete de intervenção do Estado = Esquerda, os regimes militares foram de Esquerda também. :lol:

Por fim outros citam a suposta aliança entre Hitler e Stalin. Coisa que nunca ocorreu, Hitler sempre atacou e odiou a URSS. Mas sabia que não podia abrir um front oriental no começo da guerra, e também precisava de um comércio com os ricos campos soviéticos ucranianos. Enquanto Stalin precisava de tempo para continuar sua industrialização e aumento do poderio bélico. Foi um Pacto de não-agressão que ambos sabiam que seria quebrado. Mas Stalin supôs que Hitler só atacaria o Leste após ter o controle das ilhas britânicas, pois seria perigoso para os alemães lutarem em dois fronts. Mas o alemão quis arriscar surpreender o soviético e atacou antes.
 
Reducionista.

Cara, desculpe, mas se o próprio Lula diz que o PT é um partido de esquerda, não vai ser você que vai desdizê-lo.

E quem está querendo associar o Hitler com a direita é você. Como se a Direita fosse o Nazismo.

Eu me considero de Direita, nunca li o "Minha Luta", não tenho a menor vontade de ler essa porcaria. Não acredito em extermínio de qualquer raça que seja. E não sou nazista nem neonazista como milhares de pessoas que estão fartas da Esquerda no poder.

Falar que o PT fez governo de Direita é que é uma piada. Me lembra aquele vídeo do Fidel dizendo que não é comunista:

Falar que o PT "errou" que é piada. Errar é quando alguém pede água sem gás e o outro entrega água com gás. O que o PT fez não foi erro, foi um crime. Corrupção é crime. Organizar a maior rede de corrupção da história desse país é crime.

O primeiro turno eu sempre escolho meu candidato.

No segundo turno eu voto no capeta, mas não voto no PT. O dano é menor.
 
Reducionista.

Reducionista é julgar o espectro político de um partido pela cor dele.

Cara, desculpe, mas se o próprio Lula diz que o PT é um partido de esquerda, não vai ser você que vai desdizê-lo.

Desculpe, mas você sofre de problemas de interpretação? Leia NOVAMENTE:

Mas eu não neguei que o PT foi de esquerda. A discussão começou com você dizendo que o governo petista foi socialista. E jamais foi mesmo ué.

Beleza? Quer que eu pinte a fonte agora?

E quem está querendo associar o Hitler com a direita é você. Como se a Direita fosse o Nazismo.

Eu me considero de Direita, nunca li o "Minha Luta", não tenho a menor vontade de ler essa porcaria. Não acredito em extermínio de qualquer raça que seja. E não sou nazista nem neonazista como milhares de pessoas que estão fartas da Esquerda no poder.

É, está com problemas de interpretação. Vou quotar novamente, deixando a fonte um pouco maior, belezinha?

Veja:

Eu não disse que a Direita é facista. Eu disse que o facismo faz parte dela. Ambas são amplas. Na esquerda, um anarquista progressista é quase o oposto de um comunista conservador. Na direita um progressista liberal é quase o oposto do fascista conservador. São espectros opostos.

A imagem não é perfeita, mas serve pra ilustrar um pouco o que estou tentando dizer:


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Como pode ler, se conseguir, em momento algum em disse que Direita = Nazismo. Eu disse que nazismo é DE direita. Não "nazismo é direita".

Eu estaria ofendendo todos vocês se fizesse isso, e aqui mesmo no fórum tem direitistas que sentem tanta aversão e nojo do nazismo quando qualquer socialista. Aliás eu acho que no fórum não tem nenhum adepto a ideais nazistas ou fascistas. :think:

Em tempo, esses sim são primos, Fascismo e Nazismo. Quase irmãos. Não atoa Hitler e Mussolini foram aliados.

Falar que o PT fez governo de Direita é que é uma piada. Me lembra aquele vídeo do Fidel dizendo que não é comunista:

Fidel foi mentiroso na entrevista mesmo. Isso não nega o fato do governo petista ter tomado ações de direita. Vou tentar ser ainda mais claro:

O PT foi um governo de centro, que tomou ações que condizem com ideais de esquerda e ações que condizem com ideais de direita. Em momento algum eu repito, eu disse a sentença: "O PT é de direita". Por favor, não leia só o que te interessa, tá ficando chato já.

Falar que o PT "errou" que é piada. Errar é quando alguém pede água sem gás e o outro entrega água com gás. O que o PT fez não foi erro, foi um crime. Corrupção é crime. Organizar a maior rede de corrupção da história desse país é crime.

O primeiro turno eu sempre escolho meu candidato.

No segundo turno eu voto no capeta, mas não voto no PT. O dano é menor.

A maior rede de corrupção da história desse país nunca teve um partido. Teve todos os que estiveram e ainda estão no poder. Saí da esfera pública também, atinge todo o alto escalão de empresas privadas do país. Corrupção não é marca patenteada pelo PT.
 
Essa discussão (masturbatória, mas que todo mundo gosta) sobre se tal movimento é esquerda ou direita não leva a lugar nenhum se ela não partir de um ponto essencial: qual é a definição de esquerda e direita? Só dá para construir alguma coisa a partir de uma definição.

Exato. Mas a questão ainda vai além disso: é preciso pensar nessas definições em termos históricos. Direita e esquerda não são conceitos imutáveis no tempo. É diferente falar nesses termos se estamos no contexto da Revolução Francesa, do período entre as grandes guerras, ou hoje, por exemplo. Ao longo do tempo, novas teorias e fenômenos políticos foram adicionando novos matizes a essas definições, tornando-as mais complexas. Tanto é que, como já apontado corretamente, é difícil falar contemporaneamente em direita e esquerda em sentido estrito.

Em todo caso, é preciso deixar claro se estamos pensando nesses termos com a ótica de hoje, ou se estamos buscando conceitos que eram contemporâneos aos fenômenos em questão. Caso contrário, corre-se o risco de cair em anacronismo.

Além disso, outro problema nesse tipo de análise diz respeito a diferentes dimensões que podem ser rotuladas por "esquerda" ou "direita". Um mesmo governo pode ser "de direita" em economia e "de esquerda" em termos políticos ou sociais, por exemplo. Convém analisar cada elemento desses de maneira separada, ao invés de colocar um único rótulo genérico para um fenômeno complexo e multidimensional. E, claro, também em é preciso falar que "capitalismo" e "direita" não são sinônimos, assim como não o são "socialismo" e "esquerda".

Finalmente, é preciso considerar discursos e ações em categorias que não são necessariamente congruentes. O Neithan mencionou, por exemplo, declarações de Hitler contra o socialismo como uma prova de que o Nazismo era de direta. Ora, o Nazismo não se reduz às posições de Hitler, bem como as características do fenômeno nazista não se resumem às palavras ditas por Hitler ou outros membros do partido. Pelo mesmo caminho, podemos encontrar declarações de Hitler e Goebbels atacando o capitalismo [1] e os judeus como encarnação do capitalismo [2], e até mesmo dizendo que o bolchevismo seria preferível ao capitalismo [3], e então utilizar isso como argumento de que o Nazismo era de esquerda. Percebem a contradição? Acontece que essa contradição é natural, uma vez que faz parte de discursos intencionados para a obtenção e legitimação do poder. No próprio Mein Kampf Hitler dispara ataques contra a esquerda e contra a direita [4]. Indo na mesma linha, também é possível encontrar contradições e posições diversas no pensamento dos membros do partido e nas ações deste. Por exemplo, a vertente strasserista era mais alinhada com pensamentos da esquerda revolucionária, e é nessa vertente que o neo-nazi Riis-Knudsen escreve o livro "National Socialism - A Left Wing Movement" em 1984 - mostrando, aliás, que associações do nazismo com a esquerda não são coisas criadas recentemente por "olavetes infantis etc."

Moral da coisa: enquanto conceitos podem ser bem estabelecidos e definidos, fenômenos do mundo real não se conformam necessariamente a uma única categoria, a um constructo mental estanque. Então é preciso ter muito cuidado com certas categorizações. O mais prudente seria afirmar que o Nazismo tinha elementos de esquerda e de direta, e que ele procurava se opor às visões mais hegemônicas de seu tempo e contexto, o capitalismo e o socialismo. Coloquem-se no período em questão, transportem-se para o interguerras e pensem com seus botões: segundo as ideias e conceitos daquele tempo, ser contra o capitalismo equivalia necessariamente a ser de esquerda? E ser contra o socialismo equivalia necessariamente a ser de direita?

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Lições parecidas podem ser tiradas para analisar a questão do "PT de direita/esquerda" ou "socialista/capitalista", com a facilidade de que estamos trabalhando com conceitos mais atuais. Por exemplo, contemporaneamente "socialista" não é adjetivo para o partido que advoga revolução socialista, bem como aumento dos lucros de bancos e grandes empresas não é sinônimo de "ideologia" capitalista, estando na realidade associados com as ideias de clientelismo e mercantilismo. Uma linha mais adequada para se pensar em mais ou menos capitalista tem a ver com ser pró ou contra um regime econômico concorrencial. Procurem aí medidas pró e contra concorrência dos governos petistas, e elenquem aqui para comparamos. Ou talvez não seja necessário.
 
Ou você caiu no conto de revisionistas de direita loucos que tentam desassociar a imagem do nazismo à direita por pura vergonha?

Não é necessário nenhum "revisionismo", muito menos de "loucos". Já na década de 40, em plena Guerra, tinha gente muito bem gabaritada falando que nazismo era esquerda. Não havia motivação politiqueira nem mimimi político de rede social como hoje você atribui a quem discorda de você nesse ponto. E a definição não tinha nada a ver com aumento de Estado. Ou antes: isso era apenas um elementinho dentre tantos outros. É só catar artigos da época do Erik von Kuehnelt-Leddihn, por exemplo (eu mesmo traduzi e pus aqui no fórum "O credo de um reacionário", que ninguém leu kkk). Dica de leitura: https://mises.org/library/leftism-de-sade-and-marx-hitler-and-marcuse - Capítulo 4. A dica é muito mais para o @Gerbur Forja-Quente , na real, que anda confuso e pode se beneficiar da leitura; eu acho que você já não tem salvação. :lol:



Eu só fiquei curioso mesmo porque numa hora você diz que os outros não podem ser simplistas de achar que direita = conservadorismo, e na hora seguinte você mostra o Hitler falando mal de marxismo/comunismo e diz: "pronto, olha ele aí falando mal da esquerda", como se esquerda fosse sinônimo de marxismo e comunismo. Quer dizer: você simplificou a porra toda quando lhe conveio.
 
Última edição por um moderador:
– Nós exigimos a divisão de lucros de indústrias pesadas.
– Nós exigimos uma reforma agrária adequada às nossas necessidades, uma legislação para desapropriação da terra com propósitos de utilidade pública, sem indenização, a abolição dos impostos territoriais e a proibição de toda a especulação com a terra.
– O Estado deverá se responsabilizar por uma reconstrução fundamental de todo o nosso programa nacional de educação, para permitir que todo alemão capaz e laborioso obtenha uma educação superior e subsequentemente seja encaminhado para posições de destaque. […] Nós exigimos que o estado financie a educação de crianças com excepcionais capacidades intelectuais, filhas de pais pobres, independentemente de posição ou profissão.
– O Estado deve cuidar de elevar a saúde nacional, protegendo a mãe e a criança, tornando ilegal o trabalho infantil, encorajando o preparo físico por meio de leis que obriguem à prática de ginástica e do esporte, pelo apoio incondicional a todas as organizações que cuidam da instrução dos jovens.

Pode parecer discurso de comunista/socialista, mas são as reivindicações do Partido Nazista na década de 30.

Aliás, a direita alemã foi toda contra o Nazismo, tanto até que a "Noite das Facas Longas" foi justamente a eliminação da oposição de Direita. É verdade que em 1931 Hitler até fez cortejos com grandes empresário para conseguir financiamento ao Nazismo, mas foi no sapatinho pois ele se anunciava como verdadeiro socialista... o que de fato era! Assim que assumiu o poder tratou de colocar em prática as políticas anti-capitalistas e confiscou empresas, além de transformar empresários em reféns do Estado (eram obrigados a deixar o Estado gerir a empresa, como foi o caso de Paul Van Hindenburg, presidente da Thyssen). A maior parte dos empresário via o discurso socialista de Hitler como mero apelo às massas e por isso financiou o Partido, mas assim que ele assumiu o poder ele realmente pôs em prática o socialismo nazista e muitos empresários fugiram ou retiraram o apoio (e foram perseguidos).

A confusão de que o Nazismo era simplesmente um Marxismo Alemão era tanta que o próprio Hitler comentou em sua biografia: “Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam a suspeita de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de marxistas, talvez simplesmente marxistas, ou melhor, socialistas”
 
Exato. Mas a questão ainda vai além disso: é preciso pensar nessas definições em termos históricos. Direita e esquerda não são conceitos imutáveis no tempo. É diferente falar nesses termos se estamos no contexto da Revolução Francesa, do período entre as grandes guerras, ou hoje, por exemplo. Ao longo do tempo, novas teorias e fenômenos políticos foram adicionando novos matizes a essas definições, tornando-as mais complexas. Tanto é que, como já apontado corretamente, é difícil falar contemporaneamente em direita e esquerda em sentido estrito.

Em todo caso, é preciso deixar claro se estamos pensando nesses termos com a ótica de hoje, ou se estamos buscando conceitos que eram contemporâneos aos fenômenos em questão. Caso contrário, corre-se o risco de cair em anacronismo.

Perfeito. Mas ao analisar o período entre 25 e 39, vemos que:

1-O Crescimento dos votos do partido nazista vem de encontro com a queda dos votos de partidos da direita conservadores, enquanto os votos de partidos de esquerda se mantêm estável. Sinal de que o eleitorado prioritário de Hitler era o eleitor de ideologia direitista e conservadora:
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Veja que enquanto os votos dos comunistas e socialistas (SPD e KPD) se mantêm em uma certa constância, os votos dos partidos mais conservadores, da direita alemã, como o Partido Nacional Popular Alemão e Partido Popular da Baviera caem de forma vertiginosa, na mesma proporção da subida do partido nazista. O lado mais conservador da Alemanha enxergou no partido nazista uma nova saída para a crise do país.

2-A reação do mercado à vitória de Hitler, assim como a do ex-Kaiser, foi boa, enquanto vemos desde já uma resistência da ala marxista do país:
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O NSDAP não obteve maioria absoluta no Parlamento, conseguiu o poder com o apoio o de outros conservadores. O político Franz von Papen participou do início do governo nazista, que um ano após o seu início, começou a prender militantes comunistas.

Historicamente, é fato que o Nazismo foi considerado de direita, já na época de seu início. Você nega isso, @Fëanor ?

Além disso, outro problema nesse tipo de análise diz respeito a diferentes dimensões que podem ser rotuladas por "esquerda" ou "direita". Um mesmo governo pode ser "de direita" em economia e "de esquerda" em termos políticos ou sociais, por exemplo. Convém analisar cada elemento desses de maneira separada, ao invés de colocar um único rótulo genérico para um fenômeno complexo e multidimensional. E, claro, também em é preciso falar que "capitalismo" e "direita" não são sinônimos, assim como não o são "socialismo" e "esquerda".

Ok, falemos disso separadamente. Quais elementos do governo Nazista podem ser considerados de esquerda, além da já citada intervenção estatal no mercado, que apenas intervinha para aumentar a capacidade bélica?

Finalmente, é preciso considerar discursos e ações em categorias que não são necessariamente congruentes. O Neithan mencionou, por exemplo, declarações de Hitler contra o socialismo como uma prova de que o Nazismo era de direta. Ora, o Nazismo não se reduz às posições de Hitler, bem como as características do fenômeno nazista não se resumem às palavras ditas por Hitler ou outros membros do partido. Pelo mesmo caminho, podemos encontrar declarações de Hitler e Goebbels atacando o capitalismo [1] e os judeus como encarnação do capitalismo [2], e até mesmo dizendo que o bolshevismo seria preverível ao capitalismo [3], e então utilizar isso como argumento de que o Nazismo era de esquerda. Percebem a contradição? Acontece que essa contradição é natural, uma vez que faz parte de discursos intencionados para a obtenção e legitimação do poder. No próprio Mein Kampf Hitler dispara ataques contra a esquerda e contra a direita [4]. Indo na mesma linha, também é possível encontrar contradições e posições diversas no pensamento dos membros do partido e nas ações deste. Por exemplo, a vertente strasserista era mais alinhada com pensamentos da esquerda revolucionária, e é nessa vertente que o neo-nazi Riis-Knudsen escreve o livro "National Socialism - A Left Wing Movement" em 1984 - mostrando, aliás, que associações do nazismo com a esquerda não são coisas criadas recentemente por "olavetes infantis etc."


Moral da coisa: enquanto conceitos podem ser bem estabelecidos e definidos, fenômenos do mundo real não se conformam necessariamente a uma única categoria, a um constructo mental estanque. Então é preciso ter muito cuidado com certas categorizações. O mais prudente seria afirmar que o Nazismo tinha elementos de esquerda e de direta, e que ele procurava se opor às visões mais hegemônicas de seu tempo e contexto, o capitalismo e o socialismo. Coloquem-se no período em questão, transportem-se para o interguerras e pensem com seus botões: segundo as ideias e conceitos daquele tempo, ser contra o capitalismo equivalia necessariamente a ser de esquerda? E ser contra o socialismo equivalia necessariamente a ser de direita?

Você pode citar alas alternativas do partido nazista, mas você sabe que a ideologia era declaradamente de direita, Fea. Eu sei que é difícil assumir ser um liberal e "aceitar" o nazismo no mesmo espectro político, ainda que seja, dentro da Direita, o oposto à sua visão (ufa), entendo a relutância em admitir isso. Mas acho que o dever de qualquer um é, ao invés de tentar negar o nazismo, ou colocá-lo com um ar "complexo demais pra ser direita ou esquerda", é deixar ele bem claro, para que novas gerações de direitistas não cresçam com a informação errada e alienados quanto à verdade a respeito do pior lado da direita mundial.

Veja por exemplo o link do @Thanatos e o que diz o Parlamento Alemão:

The National Socialist German Workers’ Party (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei – NSDAP) was founded in 1919 and initially drew support from the lower middle classes in Munich, who had suffered an erosion of their social status. Especially after the party chairmanship, invested with dictatorial powers, was conferred on Adolf Hitler in 1921, the NSDAP sought, through chauvinistic nationalist and anti-Semitic demonstrations and acts of violence intended as protests against the Treaty of Versailles and the ‘politics of surrender’ of the Weimar Republic (the ‘stab-in-the-back legend’), to stir up the widespread hostility to the new political order that simmered in nationalist circles and to undermine the democratic system. Following the failed Munich Beer Hall Putsch of 9 November 1923, Hitler’s arrest and imprisonment and a temporary ban on the party, the right-wing extremist NSDAP, which had tasted little electoral success before 1930, polling between 2.6% and 6.5% of the vote, switched to a pseudo-legal approach. The insecurity and social deprivation experienced by broad sections of the population offered considerable scope for the National Socialists’ antiSemitic and anti-capitalist agitation. In 1930 the NSDAP scored a resounding electoral success as its share of the vote rocketed to 18.3%. Now the second-largest parliamentary group in the Reichstag with 102 seats, the party was able not only to extend its subversive influence on the work of Parliament but also to enhance its own reputation among the middle classes on the right of the political spectrum. The NSDAP was perceived by more and more former supporters of the Conservative and Liberal parties, as well as by many young people and non-voters, as a fresh force which, with its racist, nationalist and collectivist ideology and its aggressive stance in the field of foreign policy, seemed capable of finding solutions to Germany’s economic and political problems. In the autumn of 1931, the NSDAP, the DNVP and nationalist paramilitary associations joined forces in the Harzburg Front in order to step up the fight against parliamentary democracy. The destabilisation policies pursued by the NSDAP and the KPD led to a rapid succession of governments without parliamentary majorities that could only rule with the aid of presidential decrees and to the recurrence of general elections at brief intervals. Finally, the National Socialists had consolidated their position of power to such an extent that President Paul von Hindenburg, partly under pressure from right-wing Conservative circles and in spite of a decline in the NSDAP vote in the last democratic election to the Reichstag, appointed Hitler to serve as Chancellor of a coalition government of NSDAP and DNVP, thereby dealing the death blow to the sorely beleaguered parliamentary democracy of the Weimar Republic.

O nazismo pode ter sido complexo em algumas coisas, mas não no espectro político. Não há dificuldade em considerá-lo integrante da direita.


Não é necessário nenhum "revisionismo", muito menos de "loucos". Já na década de 40, em plena Guerra, tinha gente muito bem gabaritada falando que nazismo era esquerda. Não havia motivação politiqueira nem mimimi político de rede social como hoje você atribui a quem discorda de você nesse ponto. E a definição não tinha nada a ver com aumento de Estado. Ou antes: isso era apenas um elementinho dentre tantos outros. É só catar artigos da época do Erik von Kuehnelt-Leddihn, por exemplo (eu mesmo traduzi e pus aqui no fórum "O credo de um reacionário", que ninguém leu kkk). Dica de leitura: https://mises.org/library/leftism-de-sade-and-marx-hitler-and-marcuse - Capítulo 4.

Calib, quantos falavam isso na década de 30? Pois desde o ínicio, o eleitorado de Hitler era o eleitorado médio conservador, como já citei acima. Jornais e o próprio Fuhrer se colocava como um bastião nacionalista contra o socialismo soviético que crescia na Europa.

Cara, mais uma vez: Eu entendo quem é de direita mas abomina o nazismo tenta negá-lo. Mas busque então grupos contemporâneos que apoiam causas neo-nazis ao redor do mundo. Veja seus políticos favoritos, seus partidos e seus ódios. Sabe que são de direita até hoje. Pode perguntar pro @ExtraTerrestre sobre Frauke Petry, suas frases de efeito em homenagem ao governo de Hitler e seu eleitorado. O AfD é extrema-direita, e vêm ganhando adeptos de grupos neo-nazi descontentes com os novos imigrantes. Desde o surgimento de grupos neo-nazi ao redor do mundo (inclusive aqui no Brasil), esses grupos buscam apoiar partidos da ala mais conversadora da direita. Não por um acaso demonstraram simpatia pelo Trump nos EUA.

Me mostre um neo-nazi de esquerda. :lol:

A dica é muito mais para o @Gerbur Forja-Quente , na real, que anda confuso e pode se beneficiar da leitura; eu acho que você já não tem salvação. :lol:

Minha salvação vem de meu deus e senhor:
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Amem!


Eu só fiquei curioso mesmo porque numa hora você diz que os outros não podem ser simplistas de achar que direita = conservadorismo, e na hora seguinte você mostra o Hitler falando mal de marxismo/comunismo e diz: "pronto, olha ele aí falando mal da esquerda", como se esquerda fosse sinônimo de marxismo e comunismo. Quer dizer: você simplificou a porra toda quando lhe conveio.

Mas quando Hitler fala mal do marxismo, ele ataca qual espectro político? Ok, realmente ele não atacou a esquerda inteira, mas sua principal fonte ideológica. Enfim, fiquei repetitivo, em momento algum quis dizer que a esquerda é toda comunista e a direita é toda nazista. Apenas que nazismo é todo de direita. :mrgreen:





Enfim, proponho abrir um tópico pro tema e jogar esses posts lá. Fidel já virou pó e ninguém mais tá falando dele. :dente:
 

Anexos

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Perfeito. Mas ao analisar o período entre 25 e 39, vemos que:

1-O Crescimento dos votos do partido nazista vem de encontro com a queda dos votos de partidos da direita conservadores, enquanto os votos de partidos de esquerda se mantêm estável. Sinal de que o eleitorado prioritário de Hitler era o eleitor de ideologia direitista e conservadora:
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Veja que enquanto os votos dos comunistas e socialistas (SPD e KPD) se mantêm em uma certa constância, os votos dos partidos mais conservadores, da direita alemã, como o Partido Nacional Popular Alemão e Partido Popular da Baviera caem de forma vertiginosa, na mesma proporção da subida do partido nazista. O lado mais conservador da Alemanha enxergou no partido nazista uma nova saída para a crise do país.

Você persiste naquele erro que você mesmo estava apontando antes: misturar conceitos, como se conservadorismo fosse idêntido à direita. Embora exista correlação, são conceitos diferentes. Além disso, conseguir votos de uma determinada ala não implica necessariamente em práticas alinhadas integralmente a esse segmento. Por aqui mesmo o PT se elegeu com grande proporção de votos de camadas mais pobres, muito embora tenha incorrido em práticas contrárias àquilo que defendia e prejudicado essas mesmas camadas. Aliás, você mesmo afirmou que o PT no governo não atuou de acordo com a ideologia do partido, não é? E isso ocorre o tempo todo em política. Como eu já disse antes: o discurso é voltado para obter o poder, e isso não significa que a prática política será idêntica à prometida (em se tratando de política, é mais comum o contrário). Hitler procurou ao mesmo tempo apoio das classes trabalhadores e de grandes empresários, condenando ao mesmo tempo o capitalismo e o socialismo. Política, naquilo que ela tem de melhor (?).

2-A reação do mercado à vitória de Hitler, assim como a do ex-Kaiser, foi boa, enquanto vemos desde já uma resistência da ala marxista do país:
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O NSDAP não obteve maioria absoluta no Parlamento, conseguiu o poder com o apoio o de outros conservadores. O político Franz von Papen participou do início do governo nazista, que um ano após o seu início, começou a prender militantes comunistas.

Mesmo ponto que acima. É fato que o partido conseguiu apoio de segmentos conservadores e mais alinhados à direita. Mas esse fenômeno não pode ser utilizado como base exclusiva para classificar um partido e suas práticas dentro de uma categoria única. No máximo serve como argumento acessório. Mas não serve como condição necessária, quem dirá suficiente.

Historicamente, é fato que o Nazismo foi considerado de direita, já na época de seu início. Você nega isso, @Fëanor ?

Não neguei em nenhum momento. Estou apenas advogando em favor de uma visão menos simplista do mundo e dos fenômenos políticos, e admoestando contra posturas que tentam enquadrar um fenômeno complexo, de matizes contínuas, a conceitos discretos e estanques. A realidade extravasa os constructos mentais, e não podemos esquecer que estes servem para facilitar nossa compreensão do mundo, mas não são o próprio mundo. O mapa e o território são diferentes, e embora o primeiro seja extremamente útil para entender o segundo, confundir ambos pode ser um erro fatal.

Ok, falemos disso separadamente. Quais elementos do governo Nazista podem ser considerados de esquerda, além da já citada intervenção estatal no mercado, que apenas intervinha para aumentar a capacidade bélica?

Não é "só" a intervenção estatal, mas o discurso anti-capitalista em geral, a defesa de amplo sistema de proteção social como promovedor de justiça social (mas naturalmente exlusivo aos alemães arianos, daí o "nacional"), bem como a subordinação do indivíduo aos interesses da comunidade (Volksgemeinschaft). Todos esses aspectos encontram mais ressonância na esquerda do que na direita. Talvez se possam elencar outros elementos, mas esses aí já não são pouca coisa.

Você pode citar alas alternativas do partido nazista, mas você sabe que a ideologia era declaradamente de direita, Fea. Eu sei que é difícil assumir ser um liberal e "aceitar" o nazismo no mesmo espectro político, ainda que seja, dentro da Direita, o oposto à sua visão (ufa), entendo a relutância em admitir isso. Mas acho que o dever de qualquer um é, ao invés de tentar negar o nazismo, ou colocá-lo com um ar "complexo demais pra ser direita ou esquerda", é deixar ele bem claro, para que novas gerações de direitistas não cresçam com a informação errada e alienados quanto à verdade a respeito do pior lado da direita mundial.

Talvez você não leu os links que postei, mas eles não se declaravam como "direita". Repito novamente, eles se posicionavam contra direita e esquerda. Contra o capitalismo e o socialismo. O mais correto seria falar que o nazismo advogava uma terceira via. Ele não é "complexo demais para ser direita ou esquerda", ele é complexo a ponto de possuir elementos de ambos, como praticamente toda ideologia política traduzida ao mundo real. E é justamente reconhecer isso, ao invés de pintar um panorama reducionista, que é entender o fenômeno de maneira mais clara.

De todo modo, eu não tenho nenhum problema pessoal com classificações do nazismo na direita, e isso não tem nada a ver com o liberalismo. Eu tenho uma veia libertária, que se aproxima da esquerda em temas sociais, e nunca neguei que a direita possa ter esqueletos no armário tal como a esquerda. Se eu estou falando aqui sobre ser coerente em classificações dentro de espectros políticos é unicamente em nome de um maior rigor científico, falando justamente como alguém do meio das ciências sociais.

O nazismo pode ter sido complexo em algumas coisas, mas não no espectro político. Não há dificuldade em considerá-lo integrante da direita.

O nazismo, como todo fenômeno político-social no espaço e no tempo que é conduzido por diferentes atores num meio complexo, é ele próprio complexo por natureza, e essa complexidade se reflete também em termos de suas categorias políticas. Achar o contrário é não somente forçar a barra, mas também ignorar importantes lições das ciências sociais. E não poucos cientistas desse meio já incorreram eles mesmos no erro de simplificar excessivamente as descrições realidade, ao ponto de confundir a realidade com os modelos mentais. "Esquerda" e "direita" não existem no mundo real. São conceitos criados em nossas mentes, com os quais tentamos resumir e relacionar elementos da realidade, a fim de entendê-la. Confundir as duas coisas é um engano primário em qualquer ciência, especialmente nas ciências sociais.

Me mostre um neo-nazi de esquerda. :lol:

Serve esse?:
o neo-nazi Riis-Knudsen escreve o livro "National Socialism - A Left Wing Movement" em 1984
 
Sobre o argumento de "Hitler era de esquerda porque se aliou a Stalin". e o pacto anti-Comintern? Aqui tem a pesquisa do Google com o resultado para "pacto anti comintern" você escolhe a página que quiser (pra não dizer que meu resultado está enviesado).

Eu me considero de Direita, nunca li o "Minha Luta", não tenho a menor vontade de ler essa porcaria.

Eu já li. Talvez por eu ser de esquerda e o nazismo ser de esquerda, né? E nele Hitler deixa claro seus posicionamentos políticos.

Nossa, mas aí você foi reducionista hein?

Escrevi textos bem maiores que essa única frase. Aí você a recorta, retira do texto do contexto e descarta tudo o que eu disse, para reduzir nessa máxima simplista.

Novamente, não foi isso que eu disse.

Eu disse que o PT é esquerda. Eu disse que o PT é um partido socialista ou com tendência socialista. Isso que eu disse.

E não é verdade? E não é um fato?

Não venha reduzir o que os outros disseram.
Já foi respondido em vários posts. Ninguém nunca disse que o PT não é de esquerda, mas socialista não é oras.
 
Nazismo nasceu em um momento de tensão e desespero de onde aparecem as insatisfações socialistas e populares, uma "Twilight zone" ou lusco fusco que visava se apropriar do que quer que fosse para garantir uma Alemanha forte e o domínio do espaço vital. É nesse espaço criativo perturbado aonde se aproximavam os extremistas. Porque tanto Marx e Engels quanto Hitler não estavam olhando mais para os conflitos modernos ou de uma revolução francesa, mas ainda mais para trás, na direção de uma época mais longínqua de heróis que esmagavam os inimigos e a sobrevivência significava a eliminação do outro. A política externa Russa de hoje (lembrando o império) ainda carrega muito dessa característica. Ele começou a desejar ter um tipo de controle sobre a pureza do povo e da herança ariana e a doutrina não funcionaria sem apoio dos meios de produção, a segunda guerra não decolaria se o sonho não fosse comprado pelos operários e trabalhadores. Estes últimos estavam ansiosos por alguém possuidor de objetivos claros em meio a anos de sofrimento e incerteza política do pós guerra. Sabedor disso Hitler dissimulava o assunto, se fosse para montar um sistema de castas ele precisaria manipular todas elas. No caminho eliminaria quem ameaçasse seus domínios.

Em 98 o Independent era mais interessante que hoje. Esse artigo toca o assunto do que ele pegou do socialismo:

(Hitler e o Sonho do Socialismo - Em Inglês)

Hitler and the socialist dream
http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/hitler-and-the-socialist-dream-1186455.html

In April 1945, when Adolf Hitler died by his own hand in the rubble of Berlin, nobody was much interested in what he had once believed. That was to be expected. War is no time for reflection, and what Hitler had done was so shattering, and so widely known through images of naked bodies piled high in mass graves, that little or no attention could readily be paid to National Socialism as an idea. It was hard to think of it as an idea at all. Hitler, who had once looked a crank or a clown, was exposed as the leader of a gang of thugs, and the world was content to know no more than that.

Half a century on, there is much to be said. Even thuggery can have its reasons, and the materials that have newly appeared, though they may not transform judgement, undoubtedly enrich and deepen it. Confidants of Hitler. such as the late Albert Speer, have published their reminiscences; his wartime table-talk is a book; early revelations like Hermann Rauschning's Hitler Speaks of 1939 have been validated by painstaking research, and the notes of dead Nazis like Otto Wagener have been edited, along with a full text of Goebbels's diary.

It is now clear beyond all reasonable doubt that Hitler and his associates believed they were socialists, and that others, including democratic socialists, thought so too. The title of National Socialism was not hypocritical. The evidence before 1945 was more private than public, which is perhaps significant in itself. In public Hitler was always anti-Marxist, and in an age in which the Soviet Union was the only socialist state on earth, and with anti-Bolshevism a large part of his popular appeal, he may have been understandably reluctant to speak openly of his sources. His megalomania, in any case, would have prevented him from calling himself anyone's disciple. That led to an odd and paradoxical alliance between modern historians and the mind of a dead dictator. Many recent analysts have fastidiously refused to study the mind of Hitler; and they accept, as unquestioningly as many Nazis did in the 1930s, the slogan "Crusade against Marxism" as a summary of his views. An age in which fascism has become a term of abuse is unlikely to analyse it profoundly.

His private conversations, however, though they do not overturn his reputation as an anti-Communist, qualify it heavily. Hermann Rauschning, for example, a Danzig Nazi who knew Hitler before and after his accession to power in 1933, tells how in private Hitler acknowledged his profound debt to the Marxian tradition. "I have learned a great deal from Marxism" he once remarked, "as I do not hesitate to admit". He was proud of a knowledge of Marxist texts acquired in his student days before the First World War and later in a Bavarian prison, in 1924, after the failure of the Munich putsch. The trouble with Weimar Republic politicians, he told Otto Wagener at much the same time, was that "they had never even read Marx", implying that no one who had failed to read so important an author could even begin to understand the modern world; in consequence, he went on, they imagined that the October revolution in 1917 had been "a private Russian affair", whereas in fact it had changed the whole course of human history! His differences with the communists, he explained, were less ideological than tactical. German communists he had known before he took power, he told Rauschning, thought politics meant talking and writing. They were mere pamphleteers, whereas "I have put into practice what these peddlers and pen pushers have timidly begun", adding revealingly that "the whole of National Socialism" was based on Marx.

That is a devastating remark and it is blunter than anything in his speeches or in Mein Kampf.; though even in the autobiography he observes that his own doctrine was fundamentally distinguished from the Marxist by reason that it recognised the significance of race - implying, perhaps, that it might otherwise easily look like a derivative. Without race, he went on, National Socialism "would really do nothing more than compete with Marxism on its own ground". Marxism was internationalist. The proletariat, as the famous slogan goes, has no fatherland. Hitler had a fatherland, and it was everything to him.

Yet privately, and perhaps even publicly, he conceded that National Socialism was based on Marx. On reflection, it makes consistent sense. The basis of a dogma is not the dogma, much as the foundation of a building is not the building, and in numerous ways National Socialism was based on Marxism. It was a theory of history and not, like liberalism or social democracy, a mere agenda of legislative proposals. And it was a theory of human, not just of German, history, a heady vision that claimed to understand the whole past and future of mankind. Hitler's discovery was that socialism could be national as well as international. There could be a national socialism. That is how he reportedly talked to his fellow Nazi Otto Wagener in the early 1930s. The socialism of the future would lie in "the community of the volk", not in internationalism, he claimed, and his task was to "convert the German volk to socialism without simply killing off the old individualists", meaning the entrepreneurial and managerial classes left from the age of liberalism. They should be used, not destroyed. The state could control, after all, without owning, guided by a single party, the economy could be planned and directed without dispossessing the propertied classes.

That realisation was crucial. To dispossess, after all, as the Russian civil war had recently shown, could only mean Germans fighting Germans, and Hitler believed there was a quicker and more efficient route. There could be socialism without civil war.

Now that the age of individualism had ended, he told Wagener, the task was to "find and travel the road from individualism to socialism without revolution". Marx and Lenin had seen the right goal, but chosen the wrong route - a long and needlessly painful route - and, in destroying the bourgeois and the kulak, Lenin had turned Russia into a grey mass of undifferentiated humanity, a vast anonymous horde of the dispossessed; they had "averaged downwards"; whereas the National Socialist state would raise living standards higher than capitalism had ever known. It is plain that Hitler and his associates meant their claim to socialism to be taken seriously; they took it seriously themselves.

For half a century, none the less, Hitler has been portrayed, if not as a conservative - the word is many shades too pale - at least as an extreme instance of the political right. It is doubtful if he or his friends would have recognised the description. His own thoughts gave no prominence to left and right, and he is unlikely to have seen much point in any linear theory of politics. Since he had solved for all time the enigma of history, as he imagined, National Socialism was unique. The elements might be at once diverse and familiar, but the mix was his.

Hitler's mind, it has often been noticed, was in many ways backward-looking: not medievalising, on the whole, like Victorian socialists such as Ruskin and William Morris, but fascinated by a far remoter past of heroic virtue. It is now widely forgotten that much the same could be said of Marx and Engels.

It is the issue of race, above all, that for half a century has prevented National Socialism from being seen as socialist. The proletariat may have no fatherland, as Lenin said. But there were still, in Marx's view, races that would have to be exterminated. That is a view he published in January-February 1849 in an article by Engels called "The Hungarian Struggle" in Marx's journal the Neue Rheinische Zeitung, and the point was recalled by socialists down to the rise of Hitler. It is now becoming possible to believe that Auschwitz was socialist-inspired. The Marxist theory of history required and demanded genocide for reasons implicit in its claim that feudalism was already giving place to capitalism, which must in its turn be superseded by socialism. Entire races would be left behind after a workers' revolution, feudal remnants in a socialist age; and since they could not advance two steps at a time, they would have to be killed. They were racial trash, as Engels called them, and fit only for the dung-heap of history.

That brutal view, which a generation later was to be fortified by the new pseudo-science of eugenics, was by the last years of the century a familiar part of the socialist tradition, though it is understandable that since the liberation of Auschwitz in January 1945 socialists have been eager to forget it. But there is plenty of evidence in the writings of HG Wells, Jack London, Havelock Ellis, the Webbs and others to the effect that socialist commentators did not flinch from drastic measures. The idea of ethnic cleansing was orthodox socialism for a century and more.

So the socialist intelligentsia of the western world entered the First World War publicly committed to racial purity and white domination and no less committed to violence. Socialism offered them a blank cheque, and its licence to kill included genocide. In 1933, in a preface to On the Rocks, for example, Bernard Shaw publicly welcomed the exterminatory principle which the Soviet Union had already adopted. Socialists could now take pride in a state that had at last found the courage to act, though some still felt that such action should be kept a secret. In 1932 Beatrice Webb remarked at a tea-party what "very bad stage management" it had been to allow a party of British visitors to the Ukraine to see cattle-trucks full of starving "enemies of the state" at a local station. "Ridiculous to let you see them", said Webb, already an eminent admirer of the Soviet system. "The English are always so sentimental" adding, with assurance: "You cannot make an omelette without breaking eggs." A few years later, in 1935, a Social Democratic government in Sweden began a eugenic programme for the compulsory sterilisation of gypsies, the backward and the unfit, and continued it until after the war.

The claim that Hitler cannot really have been a socialist because he advocated and practised genocide suggests a monumental failure, then, in the historical memory. Only socialists in that age advocated or practised genocide, at least in Europe, and from the first years of his political career Hitler was proudly aware of the fact. Addressing his own party, the NSDAP, in Munich in August 1920, he pledged his faith in socialist-racialism: "If we are socialists, then we must definitely be anti-semites - and the opposite, in that case, is Materialism and Mammonism, which we seek to oppose." There was loud applause. Hitler went on: "How, as a socialist, can you not be an anti-semite?" The point was widely understood, and it is notable that no German socialist in the 1930s or earlier ever sought to deny Hitler's right to call himself a socialist on grounds of racial policy. In an age when the socialist tradition of genocide was familiar, that would have sounded merely absurd. The tradition, what is more, was unique. In the European century that began in the 1840s from Engels's article of 1849 down to the death of Hitler, everyone who advocated genocide called himself a socialist, and no exception has been found.

The first reactions to National Socialism outside Germany are now largely forgotten. They were highly confused, for the rise of fascism had caught the European left by surprise. There was nothing in Marxist scripture to predict it and must have seemed entirely natural to feel baffled. Where had it all come from? Harold Nicolson, a democratic socialist, and after 1935 a Member of the House of Commons, conscientiously studied a pile of pamphlets in his hotel room in Rome in January 1932 and decided judiciously that fascism (Italian-style) was a kind of militarised socialism; though it destroyed liberty, he concluded in his diary, "it is certainly a socialist experiment in that it destroys individuality". The Moscow view that fascism was the last phase of capitalism, though already proposed, was not yet widely heard. Richard remarked in a 1934 BBC talk that many students in Nazi Germany believed they were "digging the foundations of a new German socialism".

By the outbreak of civil war in Spain, in 1936, sides had been taken, and by then most western intellectuals were certain that Stalin was left and Hitler was right. That sudden shift of view has not been explained, and perhaps cannot be explained, except on grounds of argumentative convenience. Single binary oppositions - cops-and-robbers or cowboys-and-indians - are always satisfying. The Molotov-Ribbentrop pact was seen by hardly anybody as an attempt to restore the unity of socialism. A wit at the British Foreign Office is said to have remarked that all the "Isms" were now "Wasms", and the general view was that nothing more than a cynical marriage of convenience had taken place.

By the outbreak of world war in 1939 the idea that Hitler was any sort of socialist was almost wholly dead. One may salute here an odd but eminent exception. Writing as a committed socialist just after the fall of France in 1940, in The Lion and the Unicorn, Orwell saw the disaster as a "physical debunking of capitalism", it showed once and for all that "a planned economy is stronger than a planless one", though he was in no doubt that Hitler's victory was a tragedy for France and for mankind. The planned economy had long stood at the head of socialist demands; and National Socialism, Orwell argued, had taken from socialism "just such features as will make it efficient for war purposes". Hitler had already come close to socialising Germany. "Internally, Germany has a good deal in common with a socialist state." These words were written just before Hitler's attack on the Soviet Union. Orwell believed that Hitler would go down in history as "the man who made the City of London laugh on the wrong side of its face" by forcing financiers to see that planning works and that an economic free-for-all does not.

At its height, Hitler's appeal transcended party division. Shortly before they fell out in the summer of 1933, Hitler uttered sentiments in front of Otto Wagener, which were published after his death in 1971 as a biography by an unrepentant Nazi. Wagener's Hitler: Memoirs of a Confidant, composed in a British prisoner-of-war camp, did not appear until 1978 in the original German, and arrived in English, without much acclaim, as recently as 1985. Hitler's remembered talk offers a vision of a future that draws together many of the strands that once made utopian socialism irresistibly appealing to an age bred out of economic depression and cataclysmic wars; it mingles, as Victorian socialism had done before it, an intense economic radicalism with a romantic enthusiasm for a vanished age before capitalism had degraded heroism into sordid greed and threatened the traditional institutions of the family and the tribe.

Socialism, Hitler told Wagener shortly after he seized power, was not a recent invention of the human spirit, and when he read the New Testament he was often reminded of socialism in the words of Jesus. The trouble was that the long ages of Christianity had failed to act on the Master's teachings. Mary and Mary Magdalen, Hitler went on in a surprising flight of imagination, had found an empty tomb, and it would be the task of National Socialism to give body at long last to the sayings of a great teacher: "We are the first to exhume these teachings." The Jew, Hitler told Wagener, was not a socialist, and the Jesus they crucified was the true creator of socialist redemption. As for communists, he opposed them because they created mere herds, Soviet-style, without individual life, and his own ideal was "the socialism of nations" rather than the international socialism of Marx and Lenin. The one and only problem of the age, he told Wagener, was to liberate labour and replace the rule of capital over labour with the rule of labour over capital.

These are highly socialist sentiments, and if Wagener reports his master faithfully they leave no doubt about the conclusion: that Hitler was an unorthodox Marxist who knew his sources and knew just how unorthodox the way in which he handled them was. He was a dissident socialist. His programme was at once nostalgic and radical. It proposed to accomplish something that Christians had failed to act on and that communists before him had attempted and bungled. "What Marxism, Leninism and Stalinism failed to accomplish," he told Wagener, "we shall be in a position to achieve."

That was the National Socialist vision. It was seductive, at once traditional and new. Like all so- cialist views it was ultimately moral, and its economic and racial policies were seen as founded on universal moral laws. By the time such conversations saw the light of print, regrettably, the world had put such matters far behind it, and it was less than ever ready to listen to the sayings of a crank or a clown.

That is a pity. The crank, after all, had once offered a vision of the future that had made a Victorian doctrine of history look exciting to millions. Now that socialism is a discarded idea, such excitement is no doubt hard to recapture. To relive it again, in imagination, one might look at an entry in Goebbels's diaries. On 16 June 1941, five days before Hitler attacked the Soviet Union, Goebbels exulted, in the privacy of his diary, in the victory over Bolshevism that he believed would quickly follow. There would be no restoration of the tsars, he remarked to himself, after Russia had been conquered. But Jewish Bolshevism would be uprooted in Russia and "real socialism" planted in its place - "Der echte Sozialismus". Goebbels was a liar, to be sure, but no one can explain why he would lie to his diaries. And to the end of his days he believed that socialism was what National Socialism was about.

The Lost Literature of Socialism by George Watson is published by Lutterworth, pounds 15
 
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Recuperando temporariamente a discussão paralela apenas para postar essa matéria curta da BBC, onde entrevistaram historiadores para saber: o nazismo era um movimento de esquerda ou de direita?

Especialmente para o @Neithan: veja como os entrevistados tendem a apontar justamente o que eu mencionei em posts anteriores: o nazismo tinha elementos de esquerda e de direta, e se colocava contra o capitalismo e o socialismo, advogando uma terceira via.
 
Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães... Isso é nome de partido de Direita?
Apropriação do patrimônio privado. Isso é atitude de Direita?

Stalin alimentou e criou o Partido Nazista, para que agisse de ponta de lança na dominação do continente europeu. Posteriormente a Rússia viria conquistando para si estes países devastados pelos nazistas - como ocorreu no leste europeu.

O Império Alemão, liderado pelo Kaiser, até a 1ª Guerra Mundial, é que era um governo totalitário de extrema direita. Já o Partido Nazista era completamente comunista, tanto quanto a Coréia do Norte ou Cuba são hoje.

Sério mesmo que ainda tem comunista lunático nesse fórum?
 
Última edição:
Da mesma forma como tem reacionário lunático, que acha que nazismo era de esquerda. O Partido da Social Democracia Brasileira também é social democrata porque sim.

Hogwarts também é comunista, porque tem a sala comunal.

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Aqui a 5ª Internacional na sua reunião de abertura com jovens de todo o mundo. Bruxos do mundo, uni-vos!

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Nazismo é meio Frankenstein, feito com partes de corpos de outras pessoas.
** Posts duplicados combinados **
Nazismo é meio Frankenstein, feito com partes de corpos de outras pessoas.
 
Longe de mim querer jogar mais bosta no ventilador, mas, sobre o assunto "nazismo é de direita ou de esquerda?", vejamos o que o próprio Hitler tinha a dizer:

Como resposta, Hitler pôs sua xícara de chá sobre a mesa e usou um tom beligerante. “O socialismo é a ciência que se ocupa do bem comum. Socialismo e comunismo não são a mesma coisa. O marxismo não é o socialismo. Os marxistas se apropriaram do termo e mudaram o seu significado. Eu arrancarei o socialismo dos socialistas.”

“O socialismo é uma antiga instituição ariana e germânica”, prosseguiu. “Nossos antepassados compartilhavam terras e cultivavam a ideia do bem comum. O marxismo não tem o direito de disfarçar-se de socialismo. Ao contrário do marxismo, o socialismo não rejeita a propriedade privada. Ao contrário do marxismo, não implica renegar a própria personalidade. Ao contrário do marxismo, o socialismo é patriótico. Poderíamos ter escolhido o nome de Partido Liberal, mas decidimos nos chamar Nacional-Socialista. Não somos internacionalistas; nosso socialismo é nacional. Exigimos que o Estado satisfaça as justas reclamações das classes produtoras com base na solidariedade racial. Para nós, Estado e raça são a mesma coisa.”

http://acervofolha.blogfolha.uol.co...ostrou-que-hitler-queria-acabar-com-marxismo/

Não sei ao certo como interpretar essa informação e pra ser sincero nem faço muita questão pois, né, caguei pro assunto, mas no mínimo nos leva a crer que jogar o nazismo APENAS pro lado da direita é uma postura bem questionável.
 
Nazismo é de direita.

O ponto é entender que esquerda e direita não são nem conceitos gerais e universais, a partir dos quais se pode aplicar tais categoriais a qualquer movimento político e social determinado nem são características individualmente consideradas que nos permitem dizer que tal regime é de direita ou de esquerda.

A ideia da direita e da esquerda é como a de um pêndulo. É analisando a totalidade e a composição dos elementos estruturais de determinado regime político-econômico e ideologia ou movimento social, político ou econômico é que vemos os vetores direita-esquerda funcionando. Podemos usar o critério de Bobbio para dizer que o vetor direita ruma para uma supressão maior da desigualdade e da desnaturalização e racionalização de hierarquias, e direita como o posto: manutenção ou avanço da desigualdade e naturalização/irracionalização de hierarquias.

Assim é que as medidas sociais e de amparo ao trabalhador de Hitler não deveriam enganar ninguém quanto ao seu caráter reacionário, por exemplo. O 'socialismo' que ele pregava era um coletivismo primitivista völkisch mesclado por pontos reformistas, uma imagética mítica nacionalista e racialista, mas isso é só a configuração ideal. O verdadeiro objeto de análise para a aferição da direção são as relações materiais e concretas de produção e socialibilidade da Alemanha hitlerista (1933-1945).
 
Se o critério for "aceitar/naturalizar/racionalizar desigualdades", então sim, não tem muita discussão, o nazismo é de direita, como o liberalismo, o conservadorismo, o positivismo, o fascismo, teocratas islâmicos, tradicionalistas católicos... Já na esquerda, na atualidade, só os socialistas estariam lá, bem espaçosos...

Mas esse critério me parece bem arbitrário e pouco iluminador porque, afinal de contas, não dá pra comparar as visões de mundo de, sei lá, de um país como Singapura e de um país sob uma teocracia islâmica, apenas pelo fato de ambas naturalizarem desigualdades. Isso diz muito pouco sobre qualquer coisa referente às visões de mundo dessas sociedades, tampouco pode dizer sobre as sociedades em si mesmas.... Outros critérios poderiam ser utilizados. Por exemplo, algumas pessoas (liberais não-conservadores) priorizam a divisão binária "regimes estatistas - regimes liberais", e outras (alguns conservadores não-liberais) priorizam a divisão "regimes laicos - regimes religiosamente orientados". No fundo, no fundo, esses critérios também são simplificadores, como é inevitável em critérios binários - o primeiro (segundo) critério, por exemplo, tenderia a aproximar o Antigo Regime (a república americana dos Pais Fundadores) com o regime estalinista. Mas esses critérios ao menos tentam tocar em aspectos basilares da sociedade, enquanto a "naturalização das desigualdades" me parece uma questão bem abstrata, quase metafísica. Afinal, a atuação do elemento estatal e do elemento religioso ocorre através de atores sociais bem específicos: tomando como exemplo o catolicismo na Espanha de Franco, o anglicanismo na Inglaterra moderna, e o islamismo no Irã, os três exercem funções análogas em suas sociedades, ainda que tenham mil e uma diferenças no modo e na força de suas atuações. O Reino de Portugal, o Terceiro Reich e a República Americana também exercem funções análogas em seu respectivos países (justamente por serem a força estatal atuante), ainda que (de novo) tenham mil e uma diferenças. Parece haver um certo consenso em torno disso.... Agora, as desigualdades do Irã, de Singapura, do Brasil Imperial ou do Terceiro Reich são análogas? Só sob um viés ideológico bem específico para se acreditar nisso...

De minha parte, eu simplesmente constato que (1) há três tradições políticas duradouras e mais importantes: (a) socialismo, (b) liberalismo, (c) conservadorismo, (2) há uma intersecção grande entre liberalismo e conservadorismo, como por exemplo nos Pais Fundadores americanos, nos estadistas do Império do Brasil, na monarquia de Julho, etc, (3) há bem menos intersecção com o socialismo. Poderíamos acabar por aqui... Mas podemos, por mera convenção e sem uma definição clara, colocar o socialismo na esquerda, e o liberalismo e o conservadorismo na direta. Também nisso parece haver certo consenso, exceto por conservadores e liberais mais puristas...

E quanto ao nazismo? Bem, primeiramente, vejo nele uma tradição própria. Mas dentre aquelas três principais tradições, vejo um parentesco bem maior com o socialismo do que com o liberalismo e o conservadorismo. O nazismo pouco queria conservar, queria moldar a sociedade de cima a baixo de acordo com suas crendices, crendices que eram fundamentadas (1) no socialismo e (2) no retorno à Antiguidade Clássica. Por meio de (2) pode-se entender o racismo nazista, pois o racismo dentro de um ambiente cristão ainda que possa existir necessariamente será muito menos radical, pois crê que a diferença de raças não tornariam os homens essencialmente diferentes, diferente do racismo da Antiguidade Clássica.

Também sob esse ponto de vista pode-se entender a origem de certos aspectos que coincidem com o conservadorismo, como a visão do papel da mulher na sociedade, o anti-modernismo na arte, etc, ainda que essas coincidências sejam mais superficiais e não toquem nos cernes dessas duas ideologias. Aliás, em muito desses aspectos alheios ao socialismo (inclusive no racismo), o nazismo vai ao encontro do pensamento de Nietzsche, e poucas coisas seriam mais erradas do que apontá-lo como um filósofo conservador. Nietzsche fundou ou faz parte de uma tradição de pensamento bem específica e da qual pertence ao nazismo, tradição que busca não um conservadorismo mas um retorno genuíno e radical aos valores da Antiguidade Clássica. Justamente por isso o nazismo foi uma ameaça ao Ocidente como o conhecemos desde o advento do cristianismo. E justamente por isso o nazismo constitui uma tradição própria e bastante peculiar. Mas se insistirmos em inseri-lo no binário esquerda-direita, não vejo motivo para colocá-lo longe dos socialistas, que são seus parentes mais próximos.
 
Última edição:
Esquerda e direita são conceitos contemporâneos, demasiadamente contemporâneos. Não vejo como aplicar "esquerda" e "direita" para analisar grupos políticos da República Romana.

Mas isso não reduz a conveniência de tais definições para analisar a contemporaneidade. Afinal, a experiência de vida de todos os países atualmente existentes, do Brasil ao Irã, da África do Sul às Ilhas Fiji, foi afetada pela bagagem iluminista de igualdade entre os indivíduos e pela consequente racionalização das hierarquias citada pelo @Caio Alves. E o conceito desse eixo político é útil justamente quando ele é tomado como sendo o de combate de desigualdes x naturalização das mesmas. Esquerda sem igualitarismo é, como diria o véio de Richmond, um quadrado redondo.

Sobre exemplos como o da teocracia iraniana e outros regimes religiosamente orientados do Oriente Médio, aí a questão é que o eixo de maior polarização é outro, não sendo o nosso de igualitarismo x anti-igualitarismo. Mas mesmo por lá, ainda que de forma secundária, essa questão aparece.
 
Cuba aprova projeto de nova Constituição e inicia consulta popular
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A Assembleia Nacional de Cuba concluiu neste domingo (22) dois dias de debates sobre o anteprojeto de reforma da Constituição, cujo conteúdo será submetido agora à consulta popular entre 13 de agosto e 15 de novembro.

Antes, serão incorporadas ao texto modificações aprovadas no debate parlamentar, e não está descartado que, após a consulta popular, possam ser introduzidas novas variações ao anteprojeto de Carta Magna, que finalmente deverá ser aprovado em um referendo em data ainda não anunciada.

Entre as novidades mais destacadas do projeto de reforma da Constituição cubana, cujo texto atual data de 1976, estão:
  • a eliminação das referências ao comunismo
  • o reconhecimento da propriedade privada
  • a instituição de um primeiro-ministro e
  • a modificação da definição de casamento, o que abre as portas para a legalização dos casamentos homossexuais.

A previsão era que o plenário parlamentar - retransmitido pela TV estatal e sem acesso para a imprensa estrangeira - se prolongasse até amanhã, quando também se esperava o discurso de encerramento do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que finalmente se pronunciou neste domingo.

Durante os três meses de consulta popular, os cidadãos poderão se expressar e sugerir mudanças ao documento e, concluída essa etapa, "cada opinião e proposta será avaliada pela Comissão para a Reforma Constitucional", segundo a documentação sobre o processo divulgado pela Assembleia cubana.

Em seguida, o projeto atualizado voltará à Assembleia, onde será discutido mais uma vez e submetido à aprovação, após o quê o Conselho de Estado convocará o referendo para que a população se pronuncie por meio de voto direto e secreto.

Com esta reforma, que modifica 113 artigos, acrescenta 87 e elimina 11 com relação à atual Carta Magna, o governo cubano também quer dar categoria constitucional às reformas impulsionadas pelo ex-presidente Raúl Castro (2008-2018) para abrir a economia cubana, atrair investimento estrangeiro e permitir um - ainda limitado e muito controlado - desenvolvimento do setor privado.

Foi precisamente o mais novo dos irmãos Castro quem anunciou em abril deste ano, quando passou a chefia do Estado a Díaz-Canel, que a reforma constitucional era iminente, e também foi ele quem esteve à frente da comissão que em menos de três meses elaborou a primeira minuta.

Raúl Castro, que seguirá à frente do governante Partido Comunista de Cuba até 2021 e ainda é deputado pela cidade de Santiago, não pronunciou nenhum discurso no plenário dos dois últimos dias, embora estivesse presente o tempo todo.

A atual Constituição passou por reformas parciais em três ocasiões: em 1978, em 1992 e em 2002, quando se destacou no texto o caráter "irrevogável" do socialismo no país caribenho.

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E assim ainda que lentamente e levemente, Cuba timidamente vai mudando e caindo cada vez na real que é um caminho sem volta.
 

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