(...) Paulo se entrega ao desmantelamento dos grupos baseados no culto à personalidade: "Pois, que é Apolo? E que é Paulo?" (v.5). Para isso emprega duas belíssimas imagens sobre a comunidade cristã, símbolo de toda a comunidade humana, tiradas da tradição bíblica. A primeira: "Vós [sois] o campo de Deus, o edifício de Deus" (v.9). Os ministros e os servidores da fé não são donos da comunidade. Eles plantam, regam, constroem, edificam, fazem crescer, isto é, "somos operários com Deus" (v.9), mas só Deus faz crescer, e "quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo" (v.11), cf. Ef 2, 20-22. A segunda: "Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (v.16). No santuário de Jerusalém residia a glória de Deus. Era uma instituição venerada e respeitada (cf. Jr 7 e 27; Mt 21, 12-16). O novo santuário de Deus não é um recinto, informa Paulo. Não é feito de pedra e sim de vida, e são todos os homens e mulheres deste mundo, sem distinção de religião, etnia ou nação. Esse santuário é sagrado. Nele Deus habita. Ninguém disse algo tão sublime sobre a dignidade da pessoa humana. E ninguém foi tão radical e contundente no condenar todos aqueles ou aquelas que destruam, abusem, discriminem, menosprezem ou se esqueçam desse santuário de Deus: "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós" (v.17).
Estas palavras revolucionárias de Paulo precisam continuar inquietando e questionando nossas comunidades cristãs de hoje em dia. O lugar "privilegiado" para prestar culto a Deus já não são as igrejas, os santuários, os centros de peregrinações ou o lugar favorito das devoções de cada um, e sim 'as pessoas', especialmente aquelas que são os santuários profanados de Deus: os pobres, os marginalizados, os famintos, os emigrantes, as crianças abandonadas e esse longo etcétera da miséria humana. (...)"