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Novo Coronavírus (COVID-19)

Quanto tempo a pandemia ainda dura?

  • Dois meses, no máximo (até maio/2022)

    Votos: 0 0,0%
  • Três ou quatro meses (até julho/2022)

    Votos: 1 14,3%
  • Seis meses (até setembro/2022)

    Votos: 1 14,3%
  • Um ano ainda (até março/2023)

    Votos: 2 28,6%
  • Não vai terminar nunca! (vira uma endemia, mas com número de vítimas similar ao de mar/2022)

    Votos: 3 42,9%

  • Total de votantes
    7
  • Votação encerrada .
Hoje na capa do portal da Globo:
OMS suspende testes com cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19
Hidroxicloroquina não diminuiu mortes entre pacientes com Covid-19, aponta novo estudo americano

Isso de duvidar do médico é viável se prescreverem o remédio, sei lá, agora ou no mês que vem, quando todo mundo está atualizado sobre o assunto, através das redes sociais e das páginas de notícias que divulgaram o estudo. E se prescreverem em dezembro? Ou ano que vem? Aí volta a confiar no médico? Ou adia a decisão e se dá ao trabalho de se inteirar da literatura médica recente, isso tudo enquanto estiver convalecendo....? Se pá o assunto esfriou até lá, mas não tem problema, embarca numa discussão técnica com o médico, pede e pesquisa artigos?

Acho que as pessoas que estão inteiradas sobre o assunto hoje continuarão se inteirando até que a pandemia tenha passado e se descubra um remédio já existente e comprovadamente eficaz, ou uma vacina for the win... Essa postura, como você deve imaginar, de duvidar do médico e contrariar uma receita, é motivada pela novidade da doença e justamente pela falta de um remédio comprovado etc. que põe qualquer "solução milagrosa" em xeque. Solução milagrosa essa, como acho que todos concordamos aqui, que só foi trazida à baila por quem estava desesperado para evitar o isolamento por causa dos efeitos econômicos (Trump, Bolsonaro etc.) e para fins políticos. Certamente as pessoas não saem por aí duvidando de outros remédios para outras doenças, nem da própria cloroquina para os casos em que ela é indicada de verdade, porque são coisas já bem estabelecidas. Acho salutar que as pessoas não queiram mesmo se tornar cobaias de políticos.
 
Sim. Só para deixar claro caso exista qualquer dúvida: vejo como imbecilidade política a tentativa de adoção pública da cloroquina como medicamento preliminar. O que estou tentando dizer aqui é que existe um sistema inteiro entre as boçalidades que saem da boca do presidente e o médico que prescreve os medicamentos.

Esse trecho diz que o benefício da droga contra o COVID é inconclusivo... ou seja, que precisamos de mais estudos e dados. Sabendo dos colaterais, o uso não é recomendado.

O link entre a informação acima e negar de forma rígida absolutamente qualquer prescrição é você que está fazendo.



Que a @Ana Lovejoy postou.

A gente tá falando a mesma coisa :lol:
 
Isso de duvidar do médico é viável se prescreverem o remédio, sei lá, agora ou no mês que vem, quando todo mundo está atualizado sobre o assunto, através das redes sociais e das páginas de notícias que divulgaram o estudo. E se prescreverem em dezembro? Ou ano que vem? Aí volta a confiar no médico? Ou adia a decisão e se dá ao trabalho de se inteirar da literatura médica recente, isso tudo enquanto estiver convalecendo....? Se pá o assunto esfriou até lá, mas não tem problema, embarca numa discussão técnica com o médico, pede e pesquisa artigos?

E quanto a outros remédios? Ah, aí provavelmente o sujeito vai na onda do médico mesmo. Quer dizer, pô, duplo padrão evidentemente oriundo de narrativa política. Culpa primeiramente do Bolsonaro, claro, mas a oposição entra na onda: o problema não é a cloroquina não funcionar, se o estudo do remédio tivesse sido favorável à cloroquina, Bolsonaro estaria igualmente errado na maneira como tornou algo técnico um instrumento de militância política. O problema maior a ser denunciado é justamente a politização do remédio e não o remédio em si. E convenhamos, grande parte de quem tá divulgado o artigo não tem o mínimo interesse na ciência do remédio, dificilmente leu o artigo, a vibe é de "o remédio é uma bosta, chupa gado, hehehehehe", quer dizer, a vibe é política - e é mais prazeroso vencer o debate no âmbito político do que denunciar o excesso de política no assunto em questão, embora essa última postura fosse, a meu ver, a mais enriquecedora tanto do ponto de vista da educação científica quanto das instituições. Até porque, fico imaginando, se o estudo tivesse saído favorável, esse pessoal ia estar com clima de enterro e mal ia divulgar o negócio...

Você coloca "acreditar no médico" como algo mais amplo do que deveria. Por exemplo. Se meu médico me manda tomar cloro, não vou tomar; é senso comum. Se meu médico me manda tomar fosforina, não vou tomar.

Acredito que uma regra muito simples é: o remédio que estão me empurrando foi liberado por vias políticas? Liga o alerta.
 
Isso de duvidar do médico é viável se prescreverem o remédio, sei lá, agora ou no mês que vem, quando todo mundo está atualizado sobre o assunto, através das redes sociais e das páginas de notícias que divulgaram o estudo. E se prescreverem em dezembro? Ou ano que vem? Aí volta a confiar no médico? Ou adia a decisão e se dá ao trabalho de se inteirar da literatura médica recente, isso tudo enquanto estiver convalecendo....? Se pá o assunto esfriou até lá, mas não tem problema, embarca numa discussão técnica com o médico, pede e pesquisa artigos?

E quanto a outros remédios? Ah, aí provavelmente o sujeito vai na onda do médico mesmo. Quer dizer, pô, duplo padrão evidentemente oriundo de narrativa política. Culpa primeiramente do Bolsonaro, claro, mas a oposição entra na onda: o problema não é a cloroquina não funcionar, se o estudo do remédio tivesse sido favorável à cloroquina, Bolsonaro estaria igualmente errado na maneira como tornou algo técnico um instrumento de militância política. O problema maior a ser denunciado é justamente a politização do remédio e não o remédio em si. E convenhamos, grande parte de quem tá divulgado o artigo não tem o mínimo interesse na ciência do remédio, dificilmente leu o artigo, a vibe é de "o remédio é uma bosta, chupa gado, hehehehehe", quer dizer, a vibe é política - e é mais prazeroso vencer o debate no âmbito político do que denunciar o excesso de política no assunto em questão, embora essa última postura fosse, a meu ver, a mais enriquecedora tanto do ponto de vista da educação científica quanto das instituições. Até porque, fico imaginando, se o estudo tivesse saído favorável, esse pessoal ia estar com clima de enterro e mal ia divulgar o negócio...

Algumas considerações:

É evidente que, em tempos de pandemia, onde a esmagadora maioria das notícias e preocupações institucionais estão voltadas para o tema, vá haver uma politização, e vá haver uma maior atenção com qualquer elemento relacionado à doença - o que abrange os medicamentos em teste. Não é como se fosse possível dissociar inteiramente epidemia de política. Desde as primeiras civilizações, toda epidemia tem facetas políticas.

O mesmo pode ser dito da ciência. A ciência nunca é completamente neutra, nem tem como ser. Parte do que move a atividade científica é justamente a paixão humana, e esta está longe de ser neutra. Objetividade pura é uma quimera, os motivos que impelem a pessoa a buscar respostas científicas são extra científicos - incluindo aí motivos políticos e mesmo religiosos. Então, mesmo entre cientistas, é difícil dizer que há uma preocupação com a ciência movida unicamente pela própria ciência em si.


Sendo normal que a ciência seja impelida também por razões políticas, é de se esperar que ela por vezes ancore argumentos políticos, que serão utilizados por indivíduos, instituições, nações, para reforçarem suas posições, promoverem agendas, etc.

Dizendo isso, não quero dizer que não seja imbecil se posicionar em relação a um remédio apenas em virtude de uma ideologia política. Concordo que seja, até mencionei isso num post anterior, mas acho que cabe uma distinção. Nesse caso, estamos falando da emissão de um posicionamento/julgamento a respeito de um objeto ou de seus atributos como função única do rótulo político assumido pelo emissor.

Isso é diferente de, a partir de evidências científicas (que, lembrando, podem inclusive ter sido movidas por elementos políticos), emitir um argumento político contra seus opositores, buscando reforçar suas convicções, etc (ou deixar de fazê-lo, se as evidências que surgirem forem desfavoráveis).

As duas coisas podem ser ruins, mas cada qual ao seu modo. A primeira pode embargar a própria atividade científica, ou enviesar sobremaneira os resultados dessa atividade, à medida em que algum grupo envolvido tenha peso desmedido nas decisões institucionais, por exemplo. E isso, por sua vez, pode bloquear as discussões políticas. Já a segunda pode impedir que as decisões políticas levem a ciência em consideração, mas, até aí, isso é relativamente comum do próprio fazer política, e nesse caso a ameaça à atividade científica me parece menor. Claro que tudo isso depende de outros elementos contextuais etc.
 
Algumas considerações:

É evidente que, em tempos de pandemia, onde a esmagadora maioria das notícias e preocupações institucionais estão voltadas para o tema, vá haver uma politização, e vá haver uma maior atenção com qualquer elemento relacionado à doença - o que abrange os medicamentos em teste. Não é como se fosse possível dissociar inteiramente epidemia de política. Desde as primeiras civilizações, toda epidemia tem facetas políticas.

O mesmo pode ser dito da ciência. A ciência nunca é completamente neutra, nem tem como ser. Parte do que move a atividade científica é justamente a paixão humana, e esta está longe de ser neutra. Objetividade pura é uma quimera, os motivos que impelem a pessoa a buscar respostas científicas são extra científicos - incluindo aí motivos políticos e mesmo religiosos. Então, mesmo entre cientistas, é difícil dizer que há uma preocupação com a ciência movida unicamente pela própria ciência em si.


Sendo normal que a ciência seja impelida também por razões políticas, é de se esperar que ela por vezes ancore argumentos políticos, que serão utilizados por indivíduos, instituições, nações, para reforçarem suas posições, promoverem agendas, etc.

Dizendo isso, não quero dizer que não seja imbecil se posicionar em relação a um remédio apenas em virtude de uma ideologia política. Concordo que seja, até mencionei isso num post anterior, mas acho que cabe uma distinção. Nesse caso, estamos falando da emissão de um posicionamento/julgamento a respeito de um objeto ou de seus atributos como função única do rótulo político assumido pelo emissor.

Isso é diferente de, a partir de evidências científicas (que, lembrando, podem inclusive ter sido movidas por elementos políticos), emitir um argumento político contra seus opositores, buscando reforçar suas convicções, etc (ou deixar de fazê-lo, se as evidências que surgirem forem desfavoráveis).

As duas coisas podem ser ruins, mas cada qual ao seu modo. A primeira pode embargar a própria atividade científica, ou enviesar sobremaneira os resultados dessa atividade, à medida em que algum grupo envolvido tenha peso desmedido nas decisões institucionais, por exemplo. E isso, por sua vez, pode bloquear as discussões políticas. Já a segunda pode impedir que as decisões políticas levem a ciência em consideração, mas, até aí, isso é relativamente comum do próprio fazer política, e nesse caso a ameaça à atividade científica me parece menor. Claro que tudo isso depende de outros elementos contextuais etc.
Reconheço a minha falha de por vezes ser excessivamente romântico/idealizador, mas vamos lá.

Em essência, concordo com o que você falou se estivermos num contexto anterior ao nosso. O ponto de discordância que tenho é da relação entre política e ciência estabelecida como imutável através da história.

Não há possível comparação com qualquer pandemia da idade média e afins, então vou trazer um exemplo histórico mais próximo: gripe espanhola.

A diferença entre o trato da época e agora é justamente a revolução da informação. A exemplo, a capacidade que temos aqui no fórum de rapidamente fazer referências a estudos das últimas décadas. Entende? Isso não está vinculado a um país, a um governo. A comunidade científica, hoje, é absolutamente global - cientistas da China colaboram livremente com cientistas brasileiros, franceses, ou qualquer outro país que você possa imaginar. Isso não advém de uma concessão política mas sim da infraestrutura (aka internet) que a nossa era pode proporcionar.

Não há mais relação de dependência entre agenda política e desenvolvimento da ciência! Isso ficou muito claro com a execução do CERN, e isso já tem uns bons anos.

No caso da gripe espanhola, os governos europeus inicialmente tiveram a habilidade de mentir para não desestabilizar - ainda mais - os caminhos da guerra. Isso é obviamente uma decisão política, e a comunidade científica não dispunha de meios para fazer forte oposição a propaganda de que a gripe era apenas um problema local sendo enfrentado na Espanha.

Quer dizer, se eles tivessem a mesma estrutura de hoje, rapidamente haveria consenso científico da capacidade de proliferação da gripe, e isso interagiria com as estruturas políticas internas dos governos que, mesmo na época, teriam as suas agendas políticas profundamente afetadas. Entende a diferença? Na época o consenso não era trivial, mas hoje é. A política naturalmente trabalha enquanto não há consenso pois pode manipular dúvidas e desinformação a seu favor.

Dito isso, não acho justo estabelecer uma relação política-ciência equivalente a pandemias anteriores. Evidência disso é o próprio Bolsonaro que está tentando aplicar métodos típicos da idade média contra uma comunidade científica global. Essa tentativa patética dele de politizar o embate deveria imediatamente ser rechaçada como anti-ciência - coisa que hoje pode ser trivialmente comprovada mas que em 1918 não podia - mas por qualquer que seja o motivo estamos preferindo entrar no embate político.

Se evidenciada a anti-ciência no discurso do Bolsonaro, conforme venho insistentemente apontando, existe uma estrutura maior do que ele para impedir que esse discurso se transforme em prática. Quer dizer, por mais que um médico seja Bolsonarista, ele vai colocar em risco a própria carreira ao prescrever cloroquina de forma indiscriminada.

Porém, se o embate for político, aí estamos falando de uma estrutura completamente diferente. E, spoiler: nessa estrutura, você perde.
 
Última edição:
Em essência, concordo com o que você falou se estivermos num contexto anterior ao nosso. O ponto de discordância que tenho é da relação entre política e ciência estabelecida como imutável através da história.

Mas então não há discordância, porque eu não disse que essa relação é imutável :lol:
 
Mas então não há discordância, porque eu não disse que essa relação é imutável :lol:
Mais ou menos. A imutabilidade que refiro é a relevância da relação, e não a condição da relação.

A minha posição defende que o protagonismo da política na ciência atingiu um nível negligível. Por isso falo tanto de consenso.

Quando falamos de um artigo científico isolado, da posição de um cientista (renomado ou não), estamos falando de aspectos individuais e amplamente influenciados por política. Nesse ponto concordamos totalmente.

Mas, falando de consenso da comunidade, aí automaticamente removemos a variável política. Não depende de um governo, de uma pessoa, de uma entidade. Depende do método! Claro que pode existir uma micro influência aqui e ali, por isso é injusto falar que a política é completamente ausente. O que muda dramaticamente é a sua expressividade.

Por isso que sou totalmente contra imprimir um artigo específico e sair discutindo com médico no meio de atendimento. Dessa forma, trazemos a discussão para o prisma individual, e, me permitindo a alfinetada, individualidade é coisa de liberal safado :rofl:
 
Mais ou menos. A imutabilidade que refiro é a relevância da relação, e não a condição da relação.

Mas não acho que a relevância seja imutável não. Se dei a entender isso em alguma frase (não identifiquei relendo), então me expressei mal.

A minha posição defende que o protagonismo da política na ciência atingiu um nível negligível. Por isso falo tanto de consenso.

Só pra esclarecer, 1: em nenhum momento eu falei de protagonismo de uma coisa sobre a outra.

Só pra esclarecer, 2: eu estou falando dessas relações tanto ao nível individual (afetando a motivação científica para a incursão científica, por ex.), quanto institucional (também afetando a condução da atividade científica, mas indo até a forma de apreensão política dos resultados científicos).

E ainda são relações que dependem do campo científico, do país, etc.

Por exemplo, o consenso climático está longe de se refletir em políticas totalmente alinhadas entre os países. Há uma politização, afetando políticas públicas, que vai desde o negacionismo, à justa ponderação dos trade-offs entre comprometimento com reduzir emissões e desenvolvimento econômico.

Mas não precisamos nos restringir aos consensos. A tendência é que, à medida que diferentes ciências e campos científicos tenham menor grau de consenso e maior relação com aspectos políticos da sociedade (e.g. nas ciências sociais de modo geral), maior seja a relação entre política e ciência e o espaço para politização.

Em outro exemplo, vide os posicionamentos institucionais do atual governo em relação do financiamento de bolsas de pesquisa em ciências humanas.

Mas, falando de consenso da comunidade, aí automaticamente removemos a variável política. Não depende de um governo, de uma pessoa, de uma entidade. Depende do método! Claro que pode existir uma micro influência aqui e ali, por isso é injusto falar que a política é completamente ausente. O que muda dramaticamente é a sua expressividade.

Nesse caso você se refere à condução da atividade científica, e eu concordo.
O que não significa que não possa haver relação entre essas coisas em outras instâncias, como na apreensão dos resultados dessa atividade pela sociedade (exemplo do consenso climático).

Por isso que sou totalmente contra imprimir um artigo específico e sair discutindo com médico no meio de atendimento. Dessa forma, trazemos a discussão para o prisma individual, e, me permitindo a alfinetada, individualidade é coisa de liberal safado :rofl:

Mas não precisa "sair discutindo". Conversar sobre alternativas de tratamento com um médico deveria ser a coisa mais natural do mundo. Ele vai emitir a opinião de especialista dele, e você é livre para, na condição de leigo, pedir a opinião dele sobre resultados científicos recentes e, em última instância, decidir se você se sente seguro para seguir completamente a prescrição do médico ou procurar a opinião de outro especialista.
Em tempo: concordo plenamente que a resposta desejada deve estar no nível institucional, mas uma coisa não anula a outra.

Ah, e liberal safado nunca coloca a individualidade acima de tudo. Isso é coisa de liberteen anarcocapitalista :lol:
 
Aí eu acho uma boa. Se não comprometer o apoio à decisão institucional, pode conflitar ideias o quanto quiser com o médico. É importante ter clareza que iniciativa individual de rejeitar a medicação, isoladamente, não ajuda.

Mesmo não havendo consenso sobre o HCQ, acredito que chegamos num consenso aqui :D
 
Bolsonaro colocou generais para combater coronavírus, e Brasil está perdendo a batalha


26/05/2020 16h30

Por Stephen Eisenhammer e Gabriel Stargardter
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Em meados de março, o governo brasileiro tomou medidas que pareciam um ataque poderoso e antecipado contra a pandemia de coronavírus.
O Ministério da Saúde determinou que os cruzeiros fossem cancelados. Aconselhou as autoridades locais a descartarem eventos de grande escala. E orientou os viajantes que chegavam do exterior a ficarem isolados por uma semana. Embora o país ainda não tivesse relatado uma única morte por Covid-19, as autoridades de saúde pública pareciam estar saindo na frente do vírus. Elas agiram em 13 de março, apenas dois dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamar a doença de pandemia.
Menos de 24 horas depois, o ministério atenuou suas próprias orientações, citando "críticas e sugestões" recebidas das autoridades locais.
No entanto, quatro pessoas familiarizadas com a questão disseram à Reuters que a mudança ocorreu após intervenção do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
"Essa correção se deu por pressão", afirmou Julio Croda, epidemiologista que era chefe do departamento de imunização e doenças transmissíveis do Ministério da Saúde. A intervenção de Braga Netto não havia sido relatada anteriormente.
A mudança de postura, que não chamou muita atenção na época, marcou um ponto de virada no tratamento da crise pelo governo federal, segundo as quatro fontes. Nos bastidores, disseram elas, o poder estava mudando do Ministério da Saúde, tradicional líder em questões de saúde pública, para o gabinete de Braga Netto, general do Exército.
O Brasil perdeu dois ministros da Saúde nas últimas seis semanas --um foi demitido (Luiz Henrique Mandetta) e o outro pediu demissão (Nelson Teich)-- depois de discordarem publicamente de Bolsonaro sobre a melhor forma de combater o vírus. O ministro interino agora é outro general do Exército, Eduardo Pazuello.
As revisões destacaram o fortalecimento da visão de Bolsonaro de que manter a economia brasileira em funcionamento era fundamental, disseram as fontes. Bolsonaro nunca vacilou nessa postura formulada durante alguns dias cruciais em meados de março, apesar das críticas nacionais e internacionais ao tratamento da crise e do aumento no número de mortos.
O Brasil tem agora o segundo maior número de infecções no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com mais de 374.000 casos confirmados. Mais de 23.000 brasileiros morreram de Covid-19.
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?", disse Bolsonaro recentemente quando perguntado por repórteres sobre as crescentes mortes no país.
A Casa Civil informou que as mudanças nas diretrizes de 13 de março foram feitas pelo Ministério da Saúde, após contribuições de Estados e municípios.
O Ministério da Saúde disse que houve uma divergência de opiniões devido a diferentes situações nos Estados e cidades em todo o país. Acrescentou que a implementação de medidas de distanciamento social era de responsabilidade das autoridades locais de saúde.
"A estratégia da resposta brasileira à Covid-19 não foi prejudicada em nenhum momento", afirmou o ministério.
O gabinete de Bolsonaro se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
A Reuters entrevistou mais de duas dezenas de autoridades atuais e antigas do governo, especialistas em medicina, representantes do setor de saúde e médicos para mostrar a imagem mais completa das falhas do Brasil em conter o surto de coronavírus no país
Elas descreveram uma resposta que começou de maneira promissora, mas que logo foi atrapalhada pelos confrontos do presidente com o Ministério da Saúde e outras autoridades, que não conseguiram convencê-lo de que o destino econômico dependia da eficácia com que o país lidava com a emergência de saúde pública.
Especialistas em saúde foram afastados, segundo as fontes, e Bolsonaro adotou um remédio sem eficácia comprovada --a cloroquina-- para tratar infecções por Covid-19. A coordenação federal naufragou. Governadores --alguns dos quais Bolsonaro considera rivais na reeleição-- ficaram isolados para definir suas próprias políticas de distanciamento e garantir grande parte de seus testes e equipamentos, disseram as pessoas ouvidas.
Alguns especialistas afirmaram que os tropeços no país são ainda mais chocantes por causa de seu sucesso anterior com malária, zika e HIV.
"Uma coisa que vinha brilhando no Brasil é o sistema de saúde pública", disse Albert Ko, professor da Escola de Saúde Pública de Yale, com décadas de experiência no Brasil. "Ver tudo se desintegrar tão rapidamente é muito triste."

"GELADEIRA VAZIA"
Quando o primeiro caso de coronavírus no Brasil foi confirmado, em 26 de fevereiro, o Ministério da Saúde estava se preparando há quase dois meses.
A equipe da pasta estava executando modelos para estimar quando e como implementar as determinações para ficar em casa, em colaboração com autoridades estaduais e municipais, disseram as fontes. O ministério era o centro de comando de um comitê de emergência coordenando a resposta federal em várias agências.
A dimensão continental do Brasil, os problemas nos hospitais públicos e a pobreza eram vulnerabilidades. Mas o país possui importantes cientistas e um setor de saúde privado competente, e teve semanas de aviso prévio, já que o vírus atingiu países como China e Itália primeiro. Os representantes da linha de frente achavam que o Brasil estava em boa posição para responder ao surto.
Mas as pessoas que conversaram com a Reuters disseram que as coisas começaram a desmoronar em duas frentes principais: a oposição de Bolsonaro às medidas de isolamento apoiadas pelo Ministério da Saúde e a incapacidade do governo de ampliar os testes rapidamente.
Integrantes do governo tentaram várias vezes convencer Bolsonaro a endossar um isolamento nacional, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto das discussões. Bolsonaro se recusou, disse a fonte, acreditando que o vírus passaria logo e que as autoridades de saúde estavam exagerando sobre a necessidade de distanciamento social que se mostrou eficaz em outras partes do mundo.
"A massa não tem como ficar em casa, porque a geladeira está vazia", disse Bolsonaro no dia 20 de abril em frente ao Palácio da Alvorada.
O gabinete de Bolsonaro se recusou a comentar por que ele priorizou a economia. Mas o presidente enfrentou pressão para fazê-lo. Membros de sua base de apoio protestaram em algumas cidades contra o isolamento, que ameaçava sua promessa de retomar o crescimento econômico.
Os assessores econômicos de Bolsonaro, no entanto, parecem ter demorado para entender a escala da crise. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor do livre mercado, disse em meados de março à CNN Brasil que a economia do país em 2020 poderia "crescer 2% ou 2,5% com a queda no mundo" por causa do coronavírus.
Essa previsão estava longe de ser acertada. A atividade industrial entrou em colapso, o desemprego está aumentando e o real caiu cerca de 30% em relação ao dólar este ano. Em 15 de maio, o Barclays reduziu previsão do PIB brasileiro em 2020 de -3,0% para -5,7%, ao citar política "ineficaz" do Brasil para lidar com a pandemia.
O Ministério da Economia agora projeta que o PIB contrairá 4,7% este ano. Em um comunicado enviado por email, disse que suas previsões evoluíram de acordo com a gravidade da situação.
Guedes rejeitou pedido para comentar sua previsão anterior.
Solange Vieira, aliada de Guedes que esteve envolvida na importante reforma previdenciária do governo no ano passado, também mostrou pouca urgência quando foi apresentada a previsões do Ministério da Saúde em meados de março, de acordo com o epidemiologista Croda. O ministério previu mortes generalizadas entre os idosos, se o vírus não fosse contido.
Segundo Croda, ela afirmou: "É bom que as mortes se concentrem entre os idosos... Isso melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário."
O relato de Croda foi corroborado por outra autoridade, que, falando sob condição de anonimato, contou que recebeu informação do ocorrido, mas não estava na reunião.
Solange Vieira não respondeu a uma mensagem no LinkedIn. A Superintendência de Seguros Privados, que ela lidera, disse em resposta a perguntas sobre seus comentários que ela participou da reunião de meados de março a convite do então ministro da Saúde Mandetta para entender as projeções do ministério.
Ela observou os impactos de vários cenários "sempre com foco na preservação de vidas", informou, em nota.

PRESSÃO DE CIMA
Por alguns dias em março, parecia que as consequências de uma viagem à Flórida para encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, poderiam ter alterado o pensamento de Bolsonaro sobre o coronavírus.
Logo após o retorno da visita, em 12 de março, o secretário de Comunicação da Presidência teve teste positivo para Covid-19. Nos dias seguintes, cerca de duas dezenas de autoridades que fizeram a viagem teriam resultados positivos, provocando temores de que Bolsonaro e Trump pudessem estar infectados.
Depois de passar por um teste de coronavírus em 12 de março, Bolsonaro pediu aos seus apoiadores para suspenderem protestos planejados para 15 de março por medo de agravar a disseminação. No dia seguinte, ele disse que seu teste foi negativo. Enquanto isso, o Ministério da Saúde anunciava recomendações iniciais de distanciamento social em uma conferência de imprensa na capital.
E então as coisas mudaram.
Logo após a publicação das novas diretrizes, em 13 de março, Croda disse que recebeu uma ligação de seu ex-chefe, o secretário de Vigilância em Saúde Wanderson Oliveira, que afirmou que estava "sob muita pressão da Casa Civil e que tinha que mudar o comunicado" publicado pelo ministério descrevendo as medidas. Segundo Croda, Oliveira não disse especificamente quem na Casa Civil exigiu que as diretrizes fossem enfraquecidas.
Em 24 horas, o ministério havia alterado as recomendações em seu site. Removeu as orientações sobre auto-quarentena para viajantes e o cancelamento de cruzeiros, dizendo que essas medidas estavam "em revisão". E revisou o cancelamento de grandes eventos para aplicá-lo apenas em áreas com transmissão local.
Oliveira não respondeu aos pedidos de comentário. Ele saiu nesta semana do Ministério da Saúde.
Em 15 de março, Bolsonaro ignorou seu próprio pronunciamento de três dias antes que desencorajava protestos e se reuniu com apoiadores do lado de fora do Palácio do Planalto. Com camisa da seleção brasileira, cumprimentou pessoas e posou para selfies.
"Foi a primeira vez que vimos essa postura totalmente diferente", disse o então ministro Mandetta à Reuters em entrevista depois que deixou o cargo.
No dia seguinte, em 16 de março, Bolsonaro formalizou a conduta ao tirar poder do Ministério da Saúde e criar um "gabinete de crise" intergovernamental liderado por Braga Netto. O Brasil registrou sua primeira morte por coronavírus em 17 de março.
Em resposta a perguntas da Reuters, o gabinete de Braga Netto disse que o grupo foi formado porque a pandemia "transcendeu" a saúde pública.
Três pessoas familiarizadas com a situação disseram à Reuters que o novo gabinete substituiu efetivamente o grupo que já havia sido criado dentro do Ministério da Saúde. A grande diferença, segundo eles, é que Braga Netto agora tinha a palavra final, em vez de especialistas em saúde pública, e que as preocupações econômicas ganharam mais peso.
O Ministério da Saúde disse que não comentaria questões econômicas, e que a resposta ao coronavírus atravessou os departamentos governamentais.
Croda saiu logo após a criação do novo centro de comando. Ele disse à Reuters que não queria ser responsabilizado por "mortes elevadas".
Nas semanas que se seguiram, as diferenças políticas entre Bolsonaro e Mandetta foram escancaradas. Mandetta continuou defendendo que a população ficasse em casa, desafiando o presidente. Ele também pediu cautela sobre o medicamento cloroquina. Bolsonaro, seguindo a liderança de Trump, promovia cada vez mais a droga como uma possível cura da Covid-19, apesar da falta de evidências de sua eficácia.
A popularidade de Mandetta aumentou a tensão. Uma pesquisa realizada no início de abril pelo Datafolha mostrou que o Ministério da Saúde sob sua liderança tinha um índice de aprovação de 76%, mais do que o dobro de Bolsonaro.
Em 16 de abril, após dias de especulações, Bolsonaro demitiu Mandetta. Ele o substituiu por Nelson Teich, um respeitado oncologista e empresário da área da saúde, sem experiência em administração na saúde pública.
Duas fontes recém-saídas do Ministério da Saúde disseram que a última quinzena de abril foi perdida enquanto Teich "tomava pé" da situação. As decisões sobre testes e novos equipamentos foram adiadas, afirmaram. Mais de 15 especialistas em saúde pública, incluindo epidemiologistas experientes, saíram com Mandetta, segundo uma das fontes. Muitos foram substituídos por militares.
"Essas mudanças afetam muito a capacidade, a velocidade e a qualidade da resposta", disse José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde que liderou a reação do Brasil à crise da epidemia de gripe suína em 2009. "Foi uma decisão desastrosa."
O Ministério da Saúde negou que sua resposta tenha sido prejudicada pelas mudanças.
Em 15 de maio, Teich pediu demissão após menos de um mês no cargo. Bolsonaro o criticou por ter sido muito tímido em promover a reabertura da economia brasileira e o uso de cloroquina.
Teich não respondeu a um pedido de comentário.
Em entrevista à GloboNews no domingo, Teich disse que o desejo de Bolsonaro de uma rápida expansão do uso de cloroquina teve peso em sua decisão de deixar o cargo.
A saída de Teich acelerou a influência militar dentro do Ministério da Saúde. Eduardo Pazuello, general do Exército em atividade e sem formação médica, é agora ministro interino da Saúde. Das oito pessoas no topo do ministério, apenas uma tinha origem militar em março. Agora três delas têm. Pelo menos 13 militares também foram nomeados para cargos no ministério.
Dias após a demissão de Teich, o ministério abriu caminho para o amplo uso da cloroquina no tratamento de pacientes com casos leves de Covid-19.
As Forças Armadas geralmente ajudam na logística durante emergências. Mas Wildo Araújo, um ex-funcionário do Ministério da Saúde que foi coautor de um dos primeiros grandes estudos de Covid-19 do país, disse que o pessoal militar está sendo colocado em funções inadequadas.
"Tenho o maior respeito pelas Forças Armadas, mas tenho pena dos que estão entrando agora porque não têm ideia do que fazer", disse ele. "Eles não sabem como lidar com o sistema público de saúde brasileiro".
O Exército se recusou a comentar, encaminhando perguntas ao Ministério da Saúde, que também não quis comentar o papel dos militares.

MENOS TESTES
A oposição de Bolsonaro ao distanciamento social e a recusa em apoiar as autoridades locais em suas tentativas de impor isolamento contribuíram para minar o cumprimento dessas medidas, disseram especialistas.
Uma análise da Reuters dos dados de mobilidade do Google, que reúne a movimentação dos telefones celulares e os compara a um referencial pré-pandemia, mostrou uma redução muito menor de pessoas que entram e saem de centros de trânsito e locais de trabalho no Brasil do que em países europeus como Itália, França e Reino Unido, onde medidas de confinamento foram eficazes.
A Reuters também verificou que a redução de mobilidade no Brasil era menor do que a de outros países em desenvolvimento, como Argentina, Índia e África do Sul. A Reuters analisou dados de 17 países da África, Europa, América Latina e Ásia para o mês de abril.
Como outros países, incluindo Estados Unidos, o Brasil também teve dificuldades para garantir os testes para Covid-19. É uma grande deficiência, dizem alguns epidemiologistas, o que tornou mais difícil rastrear e controlar o vírus no Brasil.
A escassez de testes deve-se em parte ao excesso de dependência do Ministério da Saúde a uma instituição.
De acordo com documento interno do Ministério da Saúde visto pela Reuters, a pasta começou a comprar kits de testes de diagnóstico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entre janeiro e fevereiro.
Em 7 de abril, no entanto, a Fiocruz entregou apenas 104.872 --ou 3,5%-- dos cerca de 3 milhões de kits que o ministério havia encomendado, segundo o documento. Croda e outros disseram que a Fiocruz tinha dificuldade para adquirir reagentes cruciais no mercado internacional. Fontes do setor afirmaram que anos de cortes no orçamento também podem ter influenciado.
O Ministério da Saúde deveria ter estabelecido uma ampla rede de laboratórios públicos e privados, disse uma fonte, o que melhoraria a capacidade de adquirir reagentes e realizar os testes.
Em comunicado, a Fiocruz afirmou ter cumprido todas as suas obrigações perante o Ministério da Saúde.
A fundação disse que superou a meta inicial de 220.000 testes em 13 de abril e entregou quase 1,3 milhão de testes na última semana daquele mês. Afirmou ainda que espera entregar 11,7 milhões de testes até setembro.
"A competição mundial por esse tipo de teste foi muito grande", declarou a Fiocruz, "o que causou uma escassez de produtos".
A burocracia também prejudicou o Brasil. Um lote de 500.000 testes de anticorpos, usado para determinar quem teve o vírus, ficou retido no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por 9 dias, enquanto o órgão regulador da saúde processava uma exceção para serem distribuídos sem rótulos em português, disseram à Reuters duas pessoas com conhecimento da situação.
O Ministério da Saúde se recusou a comentar o incidente. Disse que aumentou a capacidade de teste e realizará 46,2 milhões de testes, sem especificar um prazo. "A iniciativa faz parte dos esforços para encontrar novas compras no mercado nacional e internacional", afirmou.
Em 12 de maio, no entanto, o Brasil havia processado apenas 482.743 testes. Dos 10 países com maior número de mortes por Covid-19, apenas a Holanda havia testado menos pessoas do que o Brasil -- um país 12 vezes menor do que a população brasileira.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito, Pedro Fonseca, Marcela Ayres e Lisandra Paraguassu)
 
Em 12 de maio, no entanto, o Brasil havia processado apenas 482.743 testes. Dos 10 países com maior número de mortes por Covid-19, apenas a Holanda havia testado menos pessoas do que o Brasil -- um país 12 vezes menor do que a população brasileira.
Vale lembrar que isso vai mudar em menos de um mês.

O governo Holandês reconheceu a baixa realização de testes e anunciou uma política de testes em massa. A partir de 01 de Junho, qualquer cidadão poderá ser testado por iniciativa própria sem precisar apresentar sintomas.

Ainda não tenho certeza se vai ser gratuito - se não for, certamente será com baixo custo para o cidadão.
 
Solange Vieira, aliada de Guedes que esteve envolvida na importante reforma previdenciária do governo no ano passado, também mostrou pouca urgência quando foi apresentada a previsões do Ministério da Saúde em meados de março, de acordo com o epidemiologista Croda. O ministério previu mortes generalizadas entre os idosos, se o vírus não fosse contido.
Segundo Croda, ela afirmou: "É bom que as mortes se concentrem entre os idosos... Isso melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário."
:shock:
 

Engraçado a pesquisa bater em 60% se na prática a população cada vez está "nem aí" pro isolamento social.

Talvez a questão esteja muito aberta a interpretações e os entrevistados associaram lockdown ao distanciamento social meia-boca que estamos fazendo. Mesmo assim não é suficiente e continuamos brincando com fogo.

O que mais assusta é que, no Brasil, parece que não temos dados adequados sobre essa Peste em lugar nenhum! A contagem de mortos é, horrivelmente, a informação mais confiável que temos (não dá para esconder uma pessoa que morreu, né?), mas vejam essa mudança de método de ontem no Rio.

O Globo Rio disse:
Novo método da Prefeitura do Rio para registrar óbitos com Covid-19 exclui 1.177 mortos da estatística
A partir desta terça-feira, serão consideradas na contagem apenas mortes cujos atestados de óbito contêm confirmação de infecção pelo vírus

João Paulo Saconi
26/05/2020 - 20:59 / Atualizado em 26/05/2020 - 21:43


RIO — Após uma semana sem divulgar dados de óbitos causados pelo novo coronavírus no Painel Rio Covid-19, a Prefeitura do Rio restabeleceu nesta terça-feira a publicação dessas informações com novo método. A partir de agora, estão sendo consideradas na contagem apenas mortes cujos atestados de óbito contêm confirmação de infecção pelo vírus. A mudança cria um gargalo nas estatísticas: enquanto os hospitais já registraram 2.978 vítimas fatais da doença na capital, o painel mostra apenas 1.801 óbitos — uma diferença de 1.177 pessoas que já morreram e deixam de constar no painel. O número maior foi anunciado mais cedo pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), que inclui a cidade em seus boletins diários.

Os dados sobre sepultamentos são fornecidos pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, que os coletará com os cemitérios cariocas. A diferença desses dados para os dados médicos é que atestados de óbitos são emitidos, muitas vezes, antes que fiquem prontos os resultados de exames que constatam infecções por Covid-19. Uma vez que uma pessoa seja enterrada por suspeita da doença, com quadros fatais de pneumonia ou síndrome respiratória aguda grave (SRAG), sua certidão de óbito teria que ser retificada para que ela passasse a ser identificada como vítima da pandemia pela Prefeitura. Isso pode ser feito em cartórios e depende dos familiares do paciente que morreu.

Na segunda-feira, a secretária municipal de saúde, Beatriz Busch, já havia afirmado que os dados estavam sendo revistos e que o sistema passaria a mostrar informações divulgadas pelos cemitérios. Ela destacou que, dessa maneira, os dados de óbito passariam a ser divulgados pela data em que, de fato, ocorreram e não quando forem confirmados após os exames laboratoriais.

A nova versão da contabilidade de óbitos tem outra fragilidade. Ao contrário dos dados médicos divulgados desde março, não há separação do número de mortos em cada bairro. Só é possível separá-los por data, sem informações sobre a localização geográfica em que as pessoas que morreram residiam. Essas informações, no molde antigo de contabilidade, vinham sendo utilizadas pela própria Prefeitura, para modular medidas de isolamento social para combater o contágio do vírus. Campo Grande, bairro da Zona Oeste, por exemplo, era um dos líderes em mortes até a semana passadas e foi o primeiro a ser objeto de um "lockdown" para diminuir a circulação de pessoas.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/novo-m...19-exclui-1177-mortos-da-estatistica-24447428
Mirror: https://archive.is/uQi1F
 
O que mais assusta é que, no Brasil, parece que não temos dados adequados sobre essa Peste em lugar nenhum! A contagem de mortos é, horrivelmente, a informação mais confiável que temos (não dá para esconder uma pessoa que morreu, né?), mas vejam essa mudança de método de ontem no Rio.
Cara, odeio fazer essa piada, mas nao vou resistir: corpo encontrado na praia eh afogamento!
 

Lá se foi a última bala de prata da gestão "Bruno pé literalmente na Cova".

Ele não tem culpa da população ser o supra sumo da ignorância.

Galera na cidade dos meus pais, nesta altura do campeonato, tá usando máscara nessas proporções: 40% usa certinho, 20% usa acima do nariz, 40% não usa porra nenhuma, mesmo com tanta informação veiculada há meses.. Aí depois umas merdas dessas ficam doentes e ocupam todas as vagas de CTI e pessoas que se cuidaram o tempo todo e foram contaminadas por azar ficam sem. Eu fico puta com isso!
 

Tô tentando entender a lógica: os estudos mais recentes demonstram que a cloroquina não é eficaz no tratamento da covid-19 e que, em alguns casos, pode até prejudicar, não é? Então, tudo bem: bora lá deslocar da cloroquina para florais, homeopatia e reiki porque, veja bem, se não fizer bem, mal não fará. MAS ISSO NÃO É VERDADE! Primeiro que você está dando uma esperança falsa para as pessoas, e isso é cruel. Segundo que: A GENTE NÃO DEVERIA GASTAR A VERBA DA SAÚDE COM HOSPITAIS DE CAMPANHA, RESPIRADORES, EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA QUEM ESTÁ NA LINHA DE FRENTE DOS HOSPITAIS TRABALHAR? Então, sim, investir nessas coisas faz mal. Eu estou exausta.

Btw, como boa mineira que sou, vai aí um "causo" de "antonti": ouvi fortes batidas no portão. Relutante, fui atender. Era uma senhora (que aparentava ter mais de sessenta anos), que tem um tremor em um dos braços, e dificuldade para andar. Ela estava de máscara, e pediu para ir ao banheiro. Deixei. No meio do caminho, vi que ela mal estava aguentando, tadinha. Falou que era diabética e que estava na rua fazendo a obra (evangelizando), e sentiu uma vontade absurda de ir ao banheiro. Falei que entendia, que minha mãe também é diabética.

Ela foi ao banheiro e, quando saiu, perguntou qual era a minha religião (como que eu falaria com a senhora que já fui católica e evangélica e que hoje eu prefiro não professar religião, embora tenha fascínio por estudá-las e participe, sem problema, de quaisquer cultos religiosos para os quais for convidada?). Eu desconversei, e ela disse que gostaria de pregar a palavra. Eu agradeci e disse que estava com as panelas no fogo (e realmente estava. Quase queimei meu arroz). Ela disse que voltaria outra hora (eu queria dizer que não precisava voltar, mas não quis ser rude. hahahah)

Quando ela estava quase saindo, não aguentei, e falei: "a senhora não pode ficar saindo. A senhora é risco. Idosa e diabética. E o coronavírus mata.". Ela disse: "A Bíblia disse que a gente tem de fazer a obra". Eu falei: "Mas a senhora precisa estar viva para fazer a obra." E ela respondeu: "Eu tenho que fazer a obra". Eu me senti conversando com um robô desses que sobem hashtag no Twitter. Acho que se eu tivesse tentado conversar com um pernilongo a conversa faria mais sentido.
 
Btw, como boa mineira que sou, vai aí um "causo" de "antonti": ouvi fortes batidas no portão. Relutante, fui atender. Era uma senhora (que aparentava ter mais de sessenta anos), que tem um tremor em um dos braços, e dificuldade para andar. Ela estava de máscara, e pediu para ir ao banheiro. Deixei. No meio do caminho, vi que ela mal estava aguentando, tadinha. Falou que era diabética e que estava na rua fazendo a obra (evangelizando), e sentiu uma vontade absurda de ir ao banheiro. Falei que entendia, que minha mãe também é diabética.

Ela foi ao banheiro e, quando saiu, perguntou qual era a minha religião (como que eu falaria com a senhora que já fui católica e evangélica e que hoje eu prefiro não professar religião, embora tenha fascínio por estudá-las e participe, sem problema, de quaisquer cultos religiosos para os quais for convidada?). Eu desconversei, e ela disse que gostaria de pregar a palavra. Eu agradeci e disse que estava com as panelas no fogo (e realmente estava. Quase queimei meu arroz). Ela disse que voltaria outra hora (eu queria dizer que não precisava voltar, mas não quis ser rude. hahahah)

Quando ela estava quase saindo, não aguentei, e falei: "a senhora não pode ficar saindo. A senhora é risco. Idosa e diabética. E o coronavírus mata.". Ela disse: "A Bíblia disse que a gente tem de fazer a obra". Eu falei: "Mas a senhora precisa estar viva para fazer a obra." E ela respondeu: "Eu tenho que fazer a obra". Eu me senti conversando com um robô desses que sobem hashtag no Twitter. Acho que se eu tivesse tentado conversar com um pernilongo a conversa faria mais sentido.
Bem, ela fez a obra em sua casa e se não estiver se aguentando vai obrar lá de novo.
 
Semana passada mesmo eu tinha lido nas desnotícias (de mentirinha, claro) da Desciclopédia que o governo ia oferecer tratamento de cristais pra curar corona. Pelo jeito a realidade não está muito longe disso.

Imagina no futuro como os livros de História vão explicar o momento atual no Brasil.
 
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