O ritmo da pandemia
Luigi Mazza e Renata Buono
A pandemia de coronavírus começou na China, mas é um problema cada vez mais ocidental. Depois das quarentenas rígidas e dos hospitais construídos da noite para o dia, os chineses reduziram de forma drástica a ocorrência de novos casos. Nas primeiras semanas de março, a cada vinte novas contaminações, só uma foi na China. A Itália, enquanto isso, decolou no número de casos, e a Europa é agora o novo epicentro da crise. No Brasil, o governo está perto de decretar uma epidemia de coronavírus, o que colocará à prova a capacidade do nosso sistema de saúde. É uma questão crucial: o exemplo da China mostra que, num cenário de superlotação hospitalar, a taxa de mortalidade do Covid-19 pode quase sextuplicar. O =igualdades desta semana faz um retrato do atual momento da pandemia de coronavírus.
A China conseguiu reduzir radicalmente as novas contaminações. Em fevereiro, a cada 20 novos casos no mundo todo, 18 eram na China. Em março (até o dia 12), apenas 1 a cada 20 novos casos foi registrado na China.
Depois de atingir um pico em fevereiro, o número de novos casos na China recrudesceu ao patamar do início da epidemia. Em 22 de janeiro, foram 31 novos casos; em 5 de fevereiro, no auge da crise, foram 3.893 novos casos; em 13 de março, foram apenas 11.
Até o final de fevereiro o quadro clínico dos contaminados na China se dividia assim: a cada 100 infectados, 81 apresentavam sintomas leves (com a recomendação apenas de ficar em casa), 14 entravam em estado grave (exigindo internação hospitalar) e 5 atingiam um estado crítico (exigindo internação em unidades de tratamento intensivo).
Pessoas com doenças crônicas são mais vulneráveis à Covid-19. Na China, até o final de fevereiro, a taxa de mortalidade entre pessoas saudáveis foi de 1,4%; entre os diabéticos, de 9,2%; e entre pessoas que tinham problemas cardíacos, de 13,2%.
Casos graves requerem internação em UTI, e esse é um dos pontos de preocupação no Brasil. O país tem 2 leitos de UTI para cada 10 mil adultos, para todas as doenças. Durante o auge da epidemia na China, a cidade de Wuhan precisou – só para dar conta do coronavírus – de 2,6 leitos de UTI para cada 10 mil adultos.
A mortalidade da Covid-19 tem ligação direta com a capacidade de atendimento dos hospitais. No auge da superlotação das UTIs em Wuhan, entre janeiro e fevereiro, a taxa de mortalidade chegou a 4,5%, enquanto no restante da China era de 0,8%. Ou seja: a mortalidade da Covid-19 num sistema hospitalar sobrecarregado é 5,6 vezes a fatalidade num sistema em condições normais.
A Itália começou a sofrer com a epidemia no mesmo período que a Coreia do Sul, mas demorou para tomar medidas de contenção. Na última semana de fevereiro, para cada novo caso registrado na Itália, havia 3 na Coreia do Sul. Já na semana de 7 a 13 de março, para cada caso novo na Coreia, havia 7 na Itália.
Na Coreia do Sul, para cada pessoa que morreu por causa do vírus, 8 foram curadas (até 12 de março). Na Itália, a proporção foi de 1 para 1. Já nos Estados Unidos, a proporção é praticamente inversa à da Coreia do Sul: para cada pessoa curada, houve 5 mortos.
Quem morreu na Coreia do Sul foram principalmente os idosos. Até o dia 12 de março, a cada 10 mortos pela Covid-19, 7 tinham 70 anos ou mais; 2 tinham entre 60 e 69 anos; e apenas 1 tinha menos do que 60.
Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS); Chinese Center for Disease Control and Prevention; Korea Centers for Disease Control and Prevention; Universidade Johns Hopkins; Ministério da Saúde; estudo publicado pela Universidade de Harvard.