ATENÇÂO É UMA REVIEW:
Tenho inicialmente de afirmar que esta critica não foi realizada por mim, mas sim por um comentador português, Nuno Gonçalves, do site 7arte.net .... Espero que gostem, e lembrem-se, é apenas mais um cheirinho!
"O fim chegou. Uma das mais ambiciosas sagas cinematográficas de todos os tempos tem o seu derradeiro clímax marcado daqui a menos de uma semana. “The Lord of the Rings” e o seu capitulo final “Return of the King”.
Peter Jackson, agora provavelmente o mais popular realizador do mundo, nunca terá fantasiado que teria oportunidade de ele próprio filmar um dos seus projectos de sonho. Ele que se deu a conhecer com filmes gore, munidos de um humor inenarrável, fossem eles “Braindead”, um filme de mortos vivos e o que mais litros de sangue usou na história do cinema, ou “Meet the feebles”, fantoches inspirados nos Muppets que viviam no irreverente mundo do espectáculo e deparavam-se com problemas como doenças sexualmente transmissíveis, drogas, sado-masoquismo e uma “hipopótama” cantora e hábil no uso de armas de fogo. Mas a sua obra mais aclamada terá sido uma fuga total ao trabalho habitual do cineasta, “Heavenly Creatures”, uma história real de duas raparigas neozelandesas envolvidas num crime hediondo, que foi também o filme em que a actriz Kate Winslet se revelou. Jackson revela então que o gore não é unicamente onde o seu talento reside, e a sua capacidade de contar uma história incrivelmente dramática emerge.
E aqui temos um obscuro realizador a adaptar cinematograficamente o mais amado livro do século XX, o segundo mais lido em todo o mundo a seguir à Bíblia Sagrada. As expectativas eram muitas e os admiradores sustiveram a respiração há dois anos com a estreia do primeiro capítulo, “Fellowship of the Ring”. Nada tinham a temer, porque Jackson e a sua extraordinária equipa conseguiram o impensável e criaram uma Middle-Earth que só era visível na imaginação de alguém que ama esta história. A fantasia funde-se com a realidade para construir uma mitologia histórica, que teria verdadeiramente acontecido há milhares anos. Apresentam-se os personagens, forma-se a irmandade e a fantástica viagem começa. E enquanto que a primeira parte era uma aventura vista pelos olhos de um hobbit, que se deparava com o mundo exterior pela primeira vez e com as imensas raças e locais esplendorosos ou sombrios, o segundo capitulo “The Two Towers” transmitia o negro sentimento da eminência de uma guerra invencível. E sete anos depois de iniciado este projecto megalómano estreia o capítulo final, o auge dramático e físico e a razão pela qual os outros existem e fazem sentido.
Frodo, Sam encontram-se finalmente nas fronteiras de Mordor, guiados pelo traiçoeiro Gollum. O caminho é sinuoso e íngreme e os dois hobbits encontram-se totalmente à mercê do antigo e distorcido portador do anel, que cada vez mais se sente tentado pelo “seu precioso” e Frodo, apesar dos conselhos de Sam, encontra-se cada vez mais susceptível ao controlo de Gollum, cuja parte “humana” – Smeágol – está praticamente extinta. Aragorn, acompanhado por Gandalf e o que resta da irmandade, dirige-se a Minas Tirith, no reino de Gondor, e prepara-se para concretizar o seu destino e fazer face a Mordor, numa derradeira batalha final em que novamente a raça humana se encontra largamente ultrapassada. Está a cumprir algo que sempre lhe esteve destinado e que nunca conseguiu aceitar totalmente. Mas agora é nele que residem todas as esperanças de resistência e de apoio a Frodo e a sua cruzada. Dizer mais que isto acerca da história é criminoso.
É em “Return of the King” que a paixão e dedicação a Tolkien e ao material de origem mais se concretiza. Actores, produção e realizadores empenham-se ao máximo para criar algo digno desta que é uma das mais fantásticas histórias alguma vez escritas. O resultado é o que muitos esperavam mas poucos ousavam prever.
O filme atinge uma escala perfeitamente avassaladora, nunca antes vista neste meio, e no entanto mantém uma profundidade emocional também perturbadora. O final de todas as coisas está perto e o desespero é cada vez mais evidente. As esperanças esvaem-se e transformam-se em perdição, mas a grandiosidade da força humana mantém-se. A batalha final de Pelennor Fields é provavelmente a maior em escala física e dramática de toda a 7ªarte, colocando-se lado a lado das grandes obras épicas. Mas a epopeia não se extingue nas batalhas e encontra o seu verdadeiro valor nos corpos e almas das personagens que aqui finalmente se revelam na sua totalidade, quando vivem os últimos momentos das suas vidas.
Uma das grandes forças de toda a saga “Lord of the Rings” é de facto um elenco empenhado e único com o único objectivo de entregar ao filme as melhores actuações das suas vidas. Não há a mínima duvida que as pessoas escolhidas são as mais indicadas e perfeitas para os papéis e neste momento não há quem consiga dar a estas personagens novos rostos e novas vozes. E apesar da uniformidade e qualidade incrivelmente estável de todos há alguém que se destaca. Sean Astin e o seu Sam, revela-se o grande herói de “Return of the King”, adiando o inevitável e mantendo a sua lealdade para com Frodo acesa até ao último instante. Astin é verdadeiramente brilhante na sua performance capturando e transmitindo toda a amargura e tragédia do frágil mas corajoso hobbit. Seria injusto não mencionar outros nomes como os de Elijah Wood, revelador da deterioração constante de Frodo, Miranda Otto, que no seu papel reduzido mostra-nos mais sobre a coragem humana – e predominantemente feminina – que muitos protagonistas de outros “épicos”, Andy Serkis, novamente extasiante como Gollum, Viggo Mortensen, Ian McKellen, o grande actor teatral britânico, habituado a Shakespeare, é novamente surpreendente no seu retrato do ícone mundial que é o feiticeiro Gandalf. Surpreendente é também o hobbit Pippin, protagonizado por Billy Boyd, que tinha um papel puramente cómico nos outros capítulos e que aqui é protagonista de alguns dos mais dramáticos momentos de todo o filme.
O argumento, apesar de algumas omissões que estarão para apreço de muitos fãs na edição alargada do filme, é talvez o que se mantém mais fiel a Tolkien, dando-lhe uma ambiência muito mais literária mas que funciona na perfeição. A equipa de produção, a todos os níveis – produção artística, guarda-roupa, miniaturas, efeitos digitais, etc – ajudam a dar uma credibilidade fundamental à história, não descurando o mais ínfimo detalhe. Howard Shore, compositor da música dos três filmes, termina a sua majestosa ópera, demarcada com momentos empolgantes de exaltação ensurdecedora e atingindo novos patamares na orquestração das cenas dramáticas finais, não esquecendo os temas que caracterizam cada personagem e cada lugar.
Mas se o herói do final desta história é Sam, o herói de todo este filme é sem dúvida o realizador Peter Jackson, o grande e incansável visionário de toda a obra. Os mais preciosos e valorosos temas de condição humana inseridos num épico de proporções imensuráveis, que não só impressiona como comove imensamente. É uma inovadora e revolucionária maneira de fazer cinema, mas mantendo sempre presente o clássico objectivo desta arte que é encantar quem a vivencia. Os artifícios tornam-se secundários e o que fica nas memórias é o virtuosismo de Jackson utilizar todos esses valorosos artifícios de realização e utilizá-los sempre em prol da história que está a contar, cuja carga emocional é absolutamente devastadora.
O fim realmente chegou e é extremamente difícil fazer as despedidas a esta história e a estas personagens que já se tornaram reais nas nossas mentes. E se a tristeza nos toma no rolar dos créditos, o sentimento que fica é o facto de sabermos que esta odisseia se manterá viva para sempre e verdadeiramente nunca acabará.
“Lord of the Rings” é muito mais que uma mera peça cinematográfica. É uma obra lírica apaixonante de um arrebatamento visual e dramático sem precedentes. E à medida que o sol se põe e esta ópera termina, os corações elevam-se e prestam homenagem a uma obra que se torna instantaneamente num clássico intemporal e imortal, que terá uma inimaginável ressonância emocional nestas gerações e nas vindouras, até que chegue o dia em que o Homem o deixa de ser."
***** (10/10)
Nuno Gonçalves