É incrível que eu acho a história brasileira fascinante.
Eu tenho uma birra aqui dentro com isso enorme. É algo que eu sou BEM cabeça dura *mesmo*.
O ponto é que existe por parte de muitos, e geralmente [não sempre] por parte dos mesmos que exercem um preconceito relativamente grande a determinados tipos de literatura, um descrédito em relação a Literatura essencialmente brasileira.
Eu até entendo a chuva de críticas em relação a gerações de escritores como a de J. de Alencar, etc... Mas eu não concebo o tamanho das críticas em relação a tudo que soe *extremamente* nacional, ou ainda, regional.
O Peregrino fez o favor de lembrar a minha trilogia favorita, O Tempo e o Vento, e eu me pergunto o que pode ter nesse Romance histórico [embora o autor nos diga que não foi a sua intenção fazer da trilogia algo histórico] chato, ruim ou ainda, menos digno de todo o prestígio que livros históricos de autores consagrados russos, como Tolstoi.
A minha percepção pessoal é que *muitos* se baseiam de forma restrita a julgar a literatura nacional, ou ainda, não percebem que o chato pode virar um clássico. Afinal o conceito de chato é diferente do conceito de "livro bom".
Alguns ainda podem argumentar que é loucura comparar algo nacional com os clássicos de Shakespeare, Dostoyevsky, Wilde, etc... mas não se dão conta de que a nossa história cultural é *muito* mais recente que tudo isso.
Sempre estivemos atrás, não dando descrédito aos índios, mas eles não escreviam livros. Somos produtores de literatura somente a partir da época da mineração com aquele bando de gente descrevendo o campo e os amores mal resolvidos... mas já nessa época vemos que um dos temas que teriam mais futuro e importancia dentro da *nossa* literatura seriam as críticas ou descrições sociais como em "Cartas Chilenas".
Então dois fatores são primordiais para entender o que aqui se escreve. A tardia chegada de cultura pra coisa e mais tardia ainda busca pela identidade (méritos pro Machadão aqui.). E obviamente o forte espaço aberto para as críticas sociais.
Ora, então é exatamente do tema "críticas sociais" que não gostam, essa história de estar sempre retratando nordestino/favela/golpes políticos/etc... bem, e o que tratam livros como Decameron de Boccacio? Não é este um clássico da literatura mundial? E ele nada mais fez do que tratar do aspecto que sanitário da época, ou seja, um equivalente a nossa "fome" de hoje. [toscamente comparando, eu sei]
O que basicamente quero dizer é que existe uma falta de perspecitiva, que parece já nascer junto com o gosto pela leitura, em relação a qualquer livro brasileiro. E isso leva a maioria a não se aprofundar no mundo novo criado por um Guimarães Rosa que em seus contos cria uma história com linguagem nova, consegue fazer crítica e prender a atenção, filosofar em um ambiente essencialemente regional. Ou quem sabe avaliar melhor um Érico Verissimo que não apenas cria uma pá de personagens como é hábil em descrições que praticamente te tranferem para dentro da situação.
Enfim, existe *muita* coisa boa em nossa literatura. Tendem cair em assuntos historico-brasileiros? Nem todos, mas vá lá... digamos que os mais famosos sim... E por isso vai deixar de ser "arte"? Não,´pra mim dizer que a história não pode virar arte é o mesmo que chingar os versos de Camões, é o mesmo que dizer que Guerra e Paz de Tolstoi é um lixo, é o mesmo que dizer que 1984 é uma viajem do autor (afinal se não temos base histórica pra saber o que estava acontecendo no fim da década de 40, não teriamos como dizer que o livro é bom) e assim por diante.
A história é portanto elemento motor da literatura... e difícil é não achar relação entre momento histórico x autor x obra.
E o mais interessante é que ao ler algo do tipo que retrate costumes da época, história nua e crua mesmo, etc... vemos que na verdade não sabemos *nada* da história. O Peregrino é professor de História e pode confirmar o quanto de detalhes que podem virar uma grande obra, como o já citado Guerra e Paz mesmo, e são detalhes que não vemos em livros comuns, muito menos nos didáticos a que estamos tão acostumados.
Mas claro eu sou tremendamente suspeito pra falar isso já que tenho um caso de amor com a história.
Basicamente entendo que tem muito de gosto pessoal envolvido, embora ainda defenda por princípio que *todos* deviamos dar valor ao que é aqui feito, entender sua cultura, olhar pro lado, crescer literariamente como potencia que tenha algo a mais pra vender lá fora do que essencialmente Paulo Coelho, etc...
Nossa, eu enrolei horrores e fugi do assunto do tópico,

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