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Tirante o Branco (Tirant lo Blanc, Joanot Martorell)

Béla van Tesma

Nhom nhom nhom
Colaborador
Colar aqui duas postagens feita lá no blog da Ateliê Editorial sobre essa clássica novela de cavalaria.

Com a Palavra nº30: conservar a cor da época
postado por Ateliê Editorial - 21/01/2025

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O Com a Palavra está de volta e para começar o ano nada melhor que apresentar a mais recente obra em pré-venda. A Ateliê Editorial publica a terceira edição de Tirant lo Blanc, revisada e em novo formato, agora integrada à Coleção Clássicos Comentados. A obra foi traduzida por Cláudio Giordano, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Tradução, em 1999.

Este romance épico, escrito por um rei valenciano em meados do século XV, é um clássico da literatura universal e influenciou Miguel de Cervantes, que o cita em Dom Quixote de la Mancha. O livro narra as façanhas de um cavaleiro andante que se transforma em grande general. Dono de enorme força física, o protagonista é também um audaz e sentimental cortejador de sua dama.

Neste número, os assinantes leram com exclusividade o texto de apresentação da obra, em que Cláudio Giordano explica o seu processo de tradução, assim como o primeiro capítulo do romance.

Esta traduçãopor Cláudio Giordano

Longe de nós parodiar nosso mestre da tradução, poeta e ensaísta, mas a pura verdade é que traduzimos o Tirant lo Blanc para lê-lo e saboreá-lo. Tivemos boa formação linguística, desde o grego clássico e o latim, até o francês, italiano e inglês; o catalão, porém, não fez parte desse aprendizado.

Em 1990 o acaso nos aproximou da língua catalã e acabamos traduzindo desse idioma o Livro das Bestas de Raimundo Lúlio. Valemo-nos então da tradução francesa de Patrick Gifreu (Le Livre des Bêtes, Editions Du Chiendent, 1985) e do socorro do amigo Esteve Jaulent. No embalo dessa experiência abalançamo-nos a fazer a tradução do Tirant. Inicialmente escoramo-nos nas traduções espanholas de J. F. Vidal Jové e na anônima quinhentista; depois obtivemos, graças ao interesse dedicado de Hector Olea, as inglesas de Rosenthal e de La Fontaine.

Entretanto o texto que o leitor tem agora em mãos é reprodução portuguesa feita do original catalão, lido (e, espero, suficientemente assimilado) palavra a palavra. Com isso não queremos mais do que arrogar-nos fidelidade ao original. De tal sorte que, mesmo as passagens abreviadas ou eliminadas pelos citados tradutores, aqui se encontram expressas segundo nos foi possível fazê-lo.

La Fontaine executou, a meu ver, o melhor trabalho: manteve-se praticamente fiel ao original, procurando vesti-lo à moda atual: “A presente tradução é necessariamente um tanto livre, na medida em que Tirant lo Blanc, mais do que em uma língua estrangeira, é escrito num estilo estrangeiro, livre de noções modernas de precisão sintática e economia de expressão. […] Embora eu tenha tentado minimizar a extravagância eliminando tautologias e palavreado estereotipado sempre que razoavelmente possível, também procurei não alterar excessivamente a qualidade estrangeira do trabalho”.

Para exemplificar sua maneira de agir na tradução, La Fontaine cita pequena passagem que reaproveitamos a fim de mostrar nossa opção. Diz ele: “Em uma situação nada excepcional, Tirant, comovido até as lágrimas pela aparência emaciada de seu primo Diafébus, há muito cativo, fala com ele com estas palavras: No em comporta la sang ni l’amor que en veure la vostra persona los meus ulls puguen retenir aquelles llàgremes que lo meu piadós cor piorar no cessa. Grau alteració i moviment de dolor m’ha portat la vostra presència, per los manifests senyals de tristor, treballs I afanys que en vostra cara se demostren, los quais, puix per mi ab tanta virtut i paciència los haveu sostenguts, humilment vos demane me vullau perdonar”.

“Na minha tradução, a passagem diz o seguinte: ‘Não posso deixar de chorar diante dos sinais de miséria, sofrimento e ansiedade que se revelam em seu rosto, e humildemente imploro que me perdoe pelas dificuldades que você suportou por minha causa com tal virtude e paciência’”.

O leitor encontrará nesta tradução: “O vínculo de sangue e o amor não permitem que, ao ver-vos, meus olhos contenham as lágrimas brotadas de meu coração compadecido. Forte comoção e sentimento doloroso provocou-me vossa presença pelos sinais evidentes de tristeza, desgastes e tribulações estampados em vossa fisionomia, a que virtuosa e pacientemente vos sujeitastes por mim. É com humildade que disso vos peço perdão”.

Procuramos não eliminar nada, sequer as redundâncias, impostações ou mesmo aparentes inocuidades do original: nosso propósito foi conservar-lhe o máximo da linguagem e estilo, sob forma inteligível ao leitor de língua portuguesa; dentro de nossas limitações, empenhamo-nos em tornar claro e em estilo minimamente arcaico o texto catalão marcado senão rebarbativamente medieval e não raro empolado. Mantivemos o uso verbal da segunda pessoa e as expressões de tratamento empregadas por Martorell até a exaustão. Pondo em português o original catalão, buscamos, ainda que palidamente, conservar-lhe a cor de época.

CAPÍTULO 1​

Começa a Primeira Parte do livro de Tirant, que trata de alguns feitos virtuosos realizados pelo Conde Guilherme de Varoic em seus bem-aventurados últimos dias

Tal é a excelência da carreira militar, que deveria ser mui reverenciada, observando-a os cavaleiros de acordo com o fim para o qual foi instituída e ordenada. Entretanto, estabeleceu a divina Providência e assim lhe apraz que os sete planetas exerçam influência no mundo e tenham domínio sobre a natureza humana, inclinando os homens por muitos modos a pecar e viver em vício; todavia, não lhes tolheu o Criador universal o livre-arbítrio que, se bem governado, pode mitigar e vencer aquela influência, desde que se viva virtuosa e ponderadamente. Por isso, com a ajuda divina, o presente livro de cavalaria se dividirá em sete partes principais, para demonstrar a honra e o domínio que os cavaleiros devem exercer sobre o povo.

A primeira parte versará sobre as origens da cavalaria; a segunda sobre a condição e ofício da cavalaria; a terceira sobre o exame que deverá fazer o gentil-homem ou o nobre que deseja receber a ordem de cavalaria; a quarta sobre a forma como deve tornar-se cavaleiro; a quinta sobre o que significam as armas de cavaleiro; a sexta sobre os atos e costumes afetos ao cavaleiro; a sétima e última sobre a honra que se há de prestar ao cavaleiro. Essas sete partes de cavalaria serão discutidas em determinada parte do livro. Agora, neste início, se tratará de alguns atos valorosos de cavalaria que realizou o egrégio e intrépido cavaleiro, pai da cavalaria, o Conde Guilherme de Varoic nos seus bem-aventurados derradeiros dias.

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Com a Palavra n.38: Ariano Suassuna sobre ‘Tirant lo Blanc’
postado por Ateliê Editorial - 18/03/2025

A Ateliê Editorial publica a terceira edição de Tirant lo Blanc, revisada e em novo formato, agora integrada à Coleção Clássicos Comentados. A obra foi traduzida a partir da edição integral catalã, publicada em 1947 aos cuidados de Martí de Riquer, por Cláudio Giordano, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Tradução em 1999 e conta com o prólogo do Prêmio Nobel de Literatura Mário Vargas Llosa.

Este romance épico, escrito por um rei valenciano em meados do século XV, é um clássico da literatura universal e influenciou Miguel de Cervantes, que o cita em Dom Quixote de la Mancha. Narra as façanhas de um cavaleiro andante que se transforma em grande general. Dono de enorme força física, o protagonista é também um audaz e sentimental cortejador de sua dama.

Neste número, os assinantes puderam ler com exclusividade o texto escrito por Ariano Suassuna sobre a obra, publicado em 1999, na Folha de S. Paulo. O texto também está presente nesta edição de Tirant lo Blanc.

Um Editor

No capítulo em que, no Dom Quixote, o padre e o barbeiro começam a queimar os romances de cavalaria que tinham enlouquecido o Cavaleiro da Triste Figura, existe um trecho que sempre me intrigou. No momento em o barbeiro pega Tirante, O Branco e quer jogá-lo ao auto de fé da fogueira literária, o padre o impede, exclamando:

Passe-me cá o livro, compadre. Agirei como quem sempre encontrou nele um tesouro de satisfação e mina de passatempos. […] Por seu estilo, é este o melhor livro do mundo: aqui os cavaleiros comem, dormem, morrem em suas camas e fazem testamento antes de sua morte, com tudo o mais que falta aos demais livros deste gênero.

A partir daí é que as palavras postas por Cervantes na boca do cura me intrigavam: porque, na minha opinião, o padre as conclui de modo contraditório em relação ao começo. Na verdade, depois de considerar Tirante, O Branco como “o melhor livro do mundo”, remata-se assim o comentário:

− Por isso, digo-vos que quem o compôs, não tendo perpetrado tantas leviandades sem razão, merecia que o lançassem às galeras por todos os dias de sua vida.

Sou um velho entusiasta de novelas de cavalaria, como, entre outras, Tristão e Iseu e A Demanda do Santo Graal. Mas, até o ano passado, nunca lera Tirante, O Branco, simplesmente porque não encontrava o livro em biblioteca nenhuma. Foi aí que apareceu um editor, Cláudio Giordano, que é também um apaixonado por tais livros e que teve o bom gosto e a coragem de traduzir e editar o romance, escrito originalmente em catalão por Joanot Martorell.

Num gesto de generosidade que nunca esquecerei, Cláudio Giordano me presenteou com o livro. Li-o e fiquei encantado, entre outras coisas ao descobrir como foi grande a influência dele sobre o Dom Quixote. O melhor, porém, é que, em nota colocada antes da apresentação, Cláudio Giordano, baseado em Martí de Riquer, esclarece aquela aparente contradição de Cervantes. Lembra que, em espanhol (como em português, recorde-se), “galera” é também “uma tábua na qual o tipógrafo ia colocando as frases de um texto a ser impresso”, motivo pelo qual “lançar às galeras” pode, às vezes, significar “imprimir”. Assim, a frase do cura não configurava uma contradição: o que Cervantes estava dizendo por sua boca era que, como autor “do melhor livro do mundo”, Joanot Martorell era digno de continuar sendo impresso “por todos os dias de sua vida”.

Por tudo isso, quero mandar, daqui, meu braço a Cláudio Giordano, que, talvez sem o suspeitar, me deu, com Tirante, O Branco, uma das maiores ajudas que já recebi para levar adiante meu trabalho de escritor.

Publicado originalmente em Folha de S.Paulo, Opinião, terça-feira, 27/07/1999.
 
Felizmente, já tenho meu exemplarzinho lindo e bem guardado, porque essa nova edição está saindo por nada menos que 320 janjas (preço tabelado sem auxílio-bezos).
:grinlove:
 

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