Olha isso...
O Final
Parece-me cada vez mais claro que chegou minha época... A minha geração nasce com um mouse na mão, aprende inglês no jardim de infância, ganha o primeiro celular wap com 5 anos, assiste a constantes revoluções de efeitos especiais no cinema... Nada é impossível para nossas mentes tecnicamente compostas.
A arte segue esse caminho. Estão proliferando-se no mundo escultores que usam computadores, telas de televisão e outros apetrechos para demonstrar essa integração entre humano-máquina. O futuro é aqui. Somos os Jetsons, crescemos assistindo as reprises de Star Trek sem nos darmos conta que estamos no último estágio para a transformação em Capitão Kirk... Nossos melhores amigos realmente parecem vulcanos...
Tudo é real ou apenas virtual? Não sei... A única coisa que posso assegurar é que temos hj uma janela direta para o futuro próximo. O que ela mostra? Não sabemos, afinal, quem não teme o futuro?
Visualizando essa maquinização do humano, ou humanização da máquina, dois caras, Larry e Andy Wachovyski deram uma nova roupagem ao mito do messias, misturando teorias científicas (pois era para ser um roteiro de HQ) e algumas filosofias jogadas. Nasce MATRIX. Com a trilogia cinematografia, mudam-se os conceitos de impossibilidades, surge fanáticos, a moda é ditada, o kung-fu torna-se almejado por hackers, e, finalmente, nossas massas cinzentas são queimadas ao criar mil e uma possibilidades para o fim da missão do predestinado Neo.
Os irmãos introduzem numa história absurdamente criativa conceitos sobre a santa trindade, o messias, apocalipse, budismo, e Platão... Nesse "samba do crioulo doido" somos seduzidos por efeitos magnânimos, diálogos de N sentidos e (por que não?) sangue, tudo isso embalados por músicas do Marilyn Manson. Matrix tem milhões de pontos a favor, não é só mais um filme de ficção científica, tem mais conteúdo do que a trilogia de George Lucas, as 10 aventuras da Interprise e (eu confesso) a investida de Mulder & Scully na tela grande... Mas podia ser melhor.
O primeiro filme é um choque de maravilhas. O primeiro filme do século 21 feito para o século 21. Nada melhor do que perguntas retóricas bombardeando o espectador enquanto ele assiste um treinamento de Kung-fu em que os lutadores riem na cara da gravidade. Tem certeza que é ar que vc está respirando agora? Tem certeza que vc está lutando? Trabalhando, escrevendo, ouvindo música, comendo, dançando? Vc está realmente vivo? Como ter certeza? O primeiro Matrix não é só bullet time e sobretudos chiques, é realmente um encontro entre o nosso real e o nosso virtual, culminando com uma única e real questão: O que é matrix? Nossa prisão ou nosso conforto? Ainda não consigo definir se é melhor viver na matrix (segundo Smith o auge da nossa civilização) sendo pilha para máquinas ou viver numa Zion, pobre, fria, cinzenta, mas livre... Do que adianta sonhar com o paraíso, se da minha janela só vejo o beco?
Seria melhor se ficássemos sem respostas, afinal é na retórica que esse filme é magnânimo... Porém, é muita imaginação para nosso cérebro atrofiado pela internet. Tínhamos que ter um Reloded decepcionante, onde a filosofia fica de lado para dar lugar a mais lutas, bem treinadas, mas desnecessárias. Sobraram meses de espera para o final da trilogia, teorias, desenvolvimentos de spins-off, discussões acaloradas, tudo de melhor dentro da criação borbulhante de dignos fãs... Revolution chegou, incrivelmente, absurdamente, soluçantemente, bonita. Sim! Câmeras bem posicionadas, lutas de tirar o fôlego, tiros, explosões, sentinelas, Zion... Visualmente a perfeição, a quebra da tênue linha do impossível. Mas... Onde está nossas mil e umas possibilidades para o fim? Nossas respostas que não existiam foram dadas e não são condescendentes com as perguntas. Respostas vazias para perguntas inteligentes.
Valeu a pena a espera? A espera não deveria ter existido. Um final niilista e denso dá lugar a um desfecho apoteótico, mas clichezado... Sim, eu já sabia do que aconteceria... Sim, eu saí do cinema gostando, mas entendam-me: foi muita informação de uma vez só. Meu HD não comportou. Agora, recarregada, concertada, percebo que a maior trilogia de ficção científica do mundo foi criada, mas não foi terminada