Mouth of Sauron
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Rubens Ewald Filho fala da trilogia ''Matrix'' do ponto de vista filosófico e arrisca explicações em conversa com amigo
Tenho ficado impressionado com a quantidade de pessoas que não têm gostado de ''Matrix Reloaded''. É curioso porque elas reagem quase como se fosse um ato de rebeldia e coragem. ''Não gostei e pronto, agora podem bater em mim, me chamar de burro...''. E fiquei pensando como é curioso, o marketing de certos filmes, que criam tal rolo compressor, que deixa você inibido de não gostar dele, sob pena de ser considerado burro e idiota.
É tamanha a lavagem cerebral (inconsciente, óbvio, como toda lavagem) que somos constrangidos a entrar na moda e na onda, sob pena de exclusão social. Não é apenas nesse caso, em qualquer filme da moda é assim, até que começam a aparecer os segundos resultados de bilheteria. E as pessoas que não gostaram do filme se impressionam como o filme caiu rápido nas bilheterias, usando isso como prova de que elas que estão certas. Enfim, hoje em dia é o marketing das fitas (às vezes criadas pela própria Internet) e não reação da crítica que determina os modismos.
Não revi o filme ainda e só irei fazê-lo quando chegar o terceiro, ''Matrix Revolutions''. Mas conversei com meu amigo, Christopher Chen, que mora no Canadá, e que levantou alguns pontos que eu achei interessantes e que queria compartilhar com vocês. Ele faz restrições às cenas de ação, achando-as excessivamente coreografadas e repetitivas, com exceção da auto-estrada e a cena do Neo contra os capangas do Merovingian. ''A cena do Neo contra os 100 agentes Smiths é muito bem feita, mas ainda tem cara de CGI-in-your-face, ou seja, excessivamente efeito visual feito por computador, onde se perde o momento de espontaneidade e humanidade'', diz. Por outro lado, ele gosta das partes pseudo-filosóficas, especialmente a conversa com o Arquiteto. Coloco a seguir algumas das teorias do Chen. Se você não viu o filme ainda, leia por conta e risco.
''É fundamental as pessoas entenderem a seqüência da conversa do Neo com o Arquiteto'', diz Chen (aproveite para ler todo o diálogo transcrito e traduzido). ''Dica 1: Tudo o que você viu no primeiro filme, 'Matrix', e as duas primeiras horas de 'Matrix Reloaded' não são o que aparentam. Dica 2: A cidade de Zion e os humanos não são reais (apesar deles pensarem o contrário), tudo é um ciclo de uma simulação dentro de uma simulação''.
Ele continua: ''O que posso dizer é que tudo se encaixa dentro do terceiro filme, 'Matrix Revolutions'. 'Matrix Reloaded' tem o problema de ser complicado, portanto, ia ser incompreendido de qualquer forma. O grande problema do 'Reloaded' é puramente ''editing pacing'' (o ritmo da edição, por exemplo, tudo foi esticado ao máximo: as cenas de diálogo e as cenas de ação, o que eles tinham de fazer era simplesmente 'tirar a gordura')''.
''O 'Superman' do Keanu Reeves é pura piada auto-indulgente e filosófica, já que as referências do niilismo e estilo de vida hedonista são relacionadas a Nietzsche (no livro 'Assim Falava Zaratustra'), além do bem e do mal, onde faz alusão a teoria do Super-Homem, etc''.
''O primeiro 'Matrix' mencionava bastante o livro 'Simulação e Simulacro', do filósofo Jean Baudrillard, o famoso neo-niilista. O negócio dos irmão Wachowsky é simplesmente tornar citações filosóficas dos últimos dois séculos (Schopenhauer, Hegel, Baudrillard, Cornel West, este, premiado professor de filosofia de Princeton, que faz ponta dentro do conselho de Zion) e transformar em jargões da cultura pop ('Philosophy for Dummies, vol. 1'). Mas obviamente existem certas dúvidas com relação a eficácia desta 'manobra'. Mas posso dizer que a chave da trilogia 'Matrix' é a resposta dessa pseudo-charada filosófica. E o final deve ser bem curioso. Mas você acertou no fator zen-budista, mas é mais próxima ao Siddartha. Os temas da saga são: Nascimento, Vida e Morte.
'Matrix' é o Nascimento. Todo o Nascimento é Excitante.
'Matrix Reloaded' é a Vida. E a vida em si é repetitiva e monótona. E talvez, sem culpar o resultado do 'Reloaded', acaba sendo chato meio que de propósito.
'Matrix Revolutions' é a morte. O final de tudo. Para que haja um novo ciclo de vida''.
Bom, essa é a dica do meu bem informado amigo. Achei que vocês gostariam de ouvi-lo.
Fonte: Rubens Ewald Filho
Tenho ficado impressionado com a quantidade de pessoas que não têm gostado de ''Matrix Reloaded''. É curioso porque elas reagem quase como se fosse um ato de rebeldia e coragem. ''Não gostei e pronto, agora podem bater em mim, me chamar de burro...''. E fiquei pensando como é curioso, o marketing de certos filmes, que criam tal rolo compressor, que deixa você inibido de não gostar dele, sob pena de ser considerado burro e idiota.
É tamanha a lavagem cerebral (inconsciente, óbvio, como toda lavagem) que somos constrangidos a entrar na moda e na onda, sob pena de exclusão social. Não é apenas nesse caso, em qualquer filme da moda é assim, até que começam a aparecer os segundos resultados de bilheteria. E as pessoas que não gostaram do filme se impressionam como o filme caiu rápido nas bilheterias, usando isso como prova de que elas que estão certas. Enfim, hoje em dia é o marketing das fitas (às vezes criadas pela própria Internet) e não reação da crítica que determina os modismos.
Não revi o filme ainda e só irei fazê-lo quando chegar o terceiro, ''Matrix Revolutions''. Mas conversei com meu amigo, Christopher Chen, que mora no Canadá, e que levantou alguns pontos que eu achei interessantes e que queria compartilhar com vocês. Ele faz restrições às cenas de ação, achando-as excessivamente coreografadas e repetitivas, com exceção da auto-estrada e a cena do Neo contra os capangas do Merovingian. ''A cena do Neo contra os 100 agentes Smiths é muito bem feita, mas ainda tem cara de CGI-in-your-face, ou seja, excessivamente efeito visual feito por computador, onde se perde o momento de espontaneidade e humanidade'', diz. Por outro lado, ele gosta das partes pseudo-filosóficas, especialmente a conversa com o Arquiteto. Coloco a seguir algumas das teorias do Chen. Se você não viu o filme ainda, leia por conta e risco.
''É fundamental as pessoas entenderem a seqüência da conversa do Neo com o Arquiteto'', diz Chen (aproveite para ler todo o diálogo transcrito e traduzido). ''Dica 1: Tudo o que você viu no primeiro filme, 'Matrix', e as duas primeiras horas de 'Matrix Reloaded' não são o que aparentam. Dica 2: A cidade de Zion e os humanos não são reais (apesar deles pensarem o contrário), tudo é um ciclo de uma simulação dentro de uma simulação''.
Ele continua: ''O que posso dizer é que tudo se encaixa dentro do terceiro filme, 'Matrix Revolutions'. 'Matrix Reloaded' tem o problema de ser complicado, portanto, ia ser incompreendido de qualquer forma. O grande problema do 'Reloaded' é puramente ''editing pacing'' (o ritmo da edição, por exemplo, tudo foi esticado ao máximo: as cenas de diálogo e as cenas de ação, o que eles tinham de fazer era simplesmente 'tirar a gordura')''.
''O 'Superman' do Keanu Reeves é pura piada auto-indulgente e filosófica, já que as referências do niilismo e estilo de vida hedonista são relacionadas a Nietzsche (no livro 'Assim Falava Zaratustra'), além do bem e do mal, onde faz alusão a teoria do Super-Homem, etc''.
''O primeiro 'Matrix' mencionava bastante o livro 'Simulação e Simulacro', do filósofo Jean Baudrillard, o famoso neo-niilista. O negócio dos irmão Wachowsky é simplesmente tornar citações filosóficas dos últimos dois séculos (Schopenhauer, Hegel, Baudrillard, Cornel West, este, premiado professor de filosofia de Princeton, que faz ponta dentro do conselho de Zion) e transformar em jargões da cultura pop ('Philosophy for Dummies, vol. 1'). Mas obviamente existem certas dúvidas com relação a eficácia desta 'manobra'. Mas posso dizer que a chave da trilogia 'Matrix' é a resposta dessa pseudo-charada filosófica. E o final deve ser bem curioso. Mas você acertou no fator zen-budista, mas é mais próxima ao Siddartha. Os temas da saga são: Nascimento, Vida e Morte.
'Matrix' é o Nascimento. Todo o Nascimento é Excitante.
'Matrix Reloaded' é a Vida. E a vida em si é repetitiva e monótona. E talvez, sem culpar o resultado do 'Reloaded', acaba sendo chato meio que de propósito.
'Matrix Revolutions' é a morte. O final de tudo. Para que haja um novo ciclo de vida''.
Bom, essa é a dica do meu bem informado amigo. Achei que vocês gostariam de ouvi-lo.
Fonte: Rubens Ewald Filho