Parece couro, mas é vegano: fábrica aposta em laminado sem origem animal
Sapatos feitos com laminado sintético vegano desenvolvido pela Cipatex Imagem: Divulgação/Cipatex
A internacionalização já estava nos planos do empresário Marcos Basso, 51 anos, de Novo Hamburgo (RS), há algum tempo. O que ele não imaginava era que seria um produto vegano, bastante usado na confecção de sapatos e bolsas, que abriria portas fora do Brasil para seu negócio voltado à produção de correias para guitarras.
Desde que apresentou ao mercado exterior correias produzidas com laminado vegano, um tecido com aparência similar ao couro, porém sem qualquer substrato de origem animal, Basso já soma contratos nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Chile.
"Apresentamos a correia com laminado vegano em uma feira na Califórnia que reúne a indústria da música, com mais de 100 mil pessoas. Conseguimos abrir o mercado com um produto sustentável, mesmo ocupando um espaço menos privilegiado entre os expositores e com uma marca brasileira", comenta o dono da Basso Straps.
Marcos Basso usa o laminado vegano na fabricação de correias para guitarras
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O produto que o empresário levou em janeiro para a National Association of Musical Merchants (NAMM), em Los Angeles, é fabricado com o laminado sintético com componentes de origem vegetal comercializado pela Cipatex.
Em atividade há 55 anos em Cerquilho, interior de São Paulo, a fábrica é especializada em laminados sintéticos de diversos tipos, como os usados pelo setor calçadista e de transporte pesado, em lonas que cobrem carrocerias de caminhões de carga. O material é constituído por uma ou mais camadas de plástico (PVC ou PU).
No início de 2018, a empresa decidiu buscar meios para fazer um produto sustentável, de qualidade e durabilidade equivalente ao couro e que não tivesse qualquer matéria-prima de origem animal. Oito meses depois, oferecia aos clientes a primeira linha vegana. "Pesquisando, vimos que poderíamos fazer a substituição dos produtos de origem animal por outros ingredientes. Assim, nasceu nosso laminado 100% vegano", relata o químico da indústria, Fernando Brandão.
Composição e mercado
Um dos aspectos favoráveis do produto, explica o químico, é a composição isenta de metais pesados tóxicos, como bário, presente no laminado comum. Em vez disso, são utilizados metais que facilitam o descarte e a reciclagem, como cálcio, zinco e potássio. O ciclo de vida do produto pode ultrapassar os 10 anos, e ele é 100% reciclável.
Pesquisas para chegar ao produto vegano levaram oito meses, segundo o químico Fernando Brandão
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"A composição também minimizou o uso de sustâncias provenientes de carbono fóssil. O que deixa o material mais macio, por exemplo, vem de origem vegetal e não do petróleo", assinala Brandão.
O material também atende ao Reach, um regulamento relativo ao registro, avaliação, autorização e restrição de produtos químicos em produtos utilizados pela Comunidade Europeia.
No caso dos sapatos, a vida útil do produto depende do quanto será usado e dos cuidados que o consumidor terá, mas a empresa diz que a flexão (quantidade de passos dados com um calçado) do laminado vegano é quatro vezes maior que a do laminado comum.
Maior parte do produto vegano é usada pelo setor de calçados e bolsas
Imagem: Divulgação/Cipatex
A fábrica, que tem três plantas industriais e 1.000 colaboradores, produziu 14 mil metros quadrados de laminado vegano desde agosto de 2018, enquanto a produção do laminado sintético convencional ultrapassa os 5 milhões de metros quadrados por mês. Para se ter uma ideia, 10 mil metros quadrados de laminado vegano são suficientes para produzir até 400 mil pares de calçados.
No próximo ano, no entanto, a Cipatex planeja dobrar a produção de 2019 do produto vegano. "Para 2020, nossa meta é produzir de 20 mil a 30 mil metros. Começamos com uma meta baixa, de 6 mil a 7 mil metros, e já passamos isso sem ter fechado o ano", comemora o gerente de Desenvolvimento da Cipatex, Rodolfo Zaratin.
Comportamento
Zaratin observa que a iniciativa atende a um segmento de consumidores que vem chamando atenção dentro e fora do Brasil. Embora a maior parte do laminado vegano produzido pela indústria em Cerquilho seja enviada para o setor da moda, outras áreas também têm demonstrando interesse pelo produto.
O gerente Rodolfo Zaratin diz que Cipatex planeja dobrar a produção do laminado vegano em 2020
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É o caso da automotiva, com veículos sendo vendidos sem componentes com couro, como no caso do revestimento dos bancos. "Pessoas que se preocupam com o bem-estar animal, sendo veganas ou não, podem preferir produtos que usam o laminado vegano. Então a indústria automotiva, entendendo esse movimento, faz a substituição do couro pela laminado vegano", enfatiza o gerente.
Na área de instrumentos musicais, isso é ainda mais acentuado, analisa o empresário Marcos Basso, que compra laminado vegano da Cipatex para produzir correias para guitarras. O público-alvo dele são músicos que tocam por hobby. "No mundo todo, principalmente entre a população com idade entre 8 e 25 anos, a preocupação com sustentabilidade é muito forte. É uma geração que já nasceu com internet e está muito ligada à questão ecológica", diz.
Cerca de 50% das exportações da empresa de Basso são feitas com laminado vegano. "No Brasil, a receptividade é boa, porém as vendas da correia vegana ainda não chegam a isso. Ainda não há, infelizmente, uma mentalidade como lá fora", pontua o empresário.