A Forma Fonética ostenta o maior número de documentos e amostras em comparação com qualquer outra valoração. Destes documentos apenas três são realmente textos Sarati (R20, R21, RV1); todos os outros são descrições da escrita, principalmente listas dos sarati e seus valores sonoros. Algumas destas descrições também apresentam umas poucas palavras individuais ou frases curtas escritas em Sarati (R9, R10, R11, R16, R18, R19).
Alguns destes documentos contêm as mais detalhadas e elaboradas descrições de Tolkien acerca do Sarati (R14, R17b, R18), listando um grande número de sinais que não são necessários para a representação de sons da língua inglesa. Consequentemente, muitos caracteres exóticos são encontrados apenas nestas listas, e não existem em nenhum dos textos reais.
A Forma Fonética pode ser subdividida em três variantes, baseadas no uso de certos símbolos para sons específicos.
Para os propósitos desta descrição, considero a terceira variante a versão mais “pura” da Forma Fonética.
As letras utilizadas na Forma Fonética são mostrada na figura 1.
No canto esquerdo superior de cada célula um valor sonoro é escrito de acordo com o Alfabeto Fonético Internacional. A sua direita é dado o sarat correspondente mais comumente utilizado, ou aquele utilizado na terceira variante. Para formas não usuais ou sons raramente atestados, as referências são dadas entre parênteses. A expressão alt indica que o sarat dado é uma forma variante opcional. A expressão final indica que o sarat é utilizado no final das palavras. A expressão error? indica um possível engano cometido por Tolkien. Uma flexa apontando para um símbolo fonético indica que o sarat é atestado também para aquele som. O uso dos sarati que claramente pertence apenas à primeira variante é mostrado contra um fundo cinza. O uso encontrado apenas na segunda variante é mostrado dentro de uma borda pontilhada.
Figura 1: Sinais consonantais da Forma Fonética.
1.1. Oclusivas
1.2. Fricativas não-sibilantes
1.3. Sibilantes
1.4. Nasais
1.5. Semivogais (ou Glides)
1.6. Líquidas
1.7. Ajuntamentos Consoantais
A Forma Fonética utiliza diacríticos para indicar consoantes longas ou duplas, nasal precedente, e [s] adjacente ou [z] adjacente.
Consoante longa ou dupla é indicada por dois pontos ou dois pequenos traços na base do sarat. (Em R18 a natureza do diacrítico é incerta: apesar de poder ser interpretado como dois pontos escritos apressadamente, outras interpretações são possíveis.) Note que este diacrítico é idêntico ao sinal vocálico para [e] ou [i], o qual pode ser escrito na base do sarati em algumas circunstâncias (veja posteriormente Vogais abaixo).
Em R10 e R11, uma consoante dupla é indicada por um linha reta parelela à barra de alinhamento, tanto no topo quanto na base do sarat. De acordo com aquele sistema, é possível indicar uma vogal entre duas consoantes posicionando-na entre o sarat e a "linha duplicada". Na terceira variante, um diacrítico idêntico é utilizado para identificar vogais longas.
Nasal homorgânica precedente (i.e. [m] antes de [p] ou [b], [n] antes de [t] ou [d], e [ŋ] antes de [k] ou [g]) é indicada por um diacítico com formato de "copo" posiconado na base do sarat.
Na terceira variante, [s] ou [z] precedentes são indicados por traços duplos presos nas costas do sarat. [S] ou [z] subsequentes são indicados por um ganho preso na frente do sarat.
Nas primeiras e segundas variantes, diacríticos separados de aparência variada são utilizados para [s] e [z], como pode ser visto abaixo.
Na Forma Fonética, as Vogais são representadas por diacríticos que podem ser vistos na figura 2. Conforme está escrito em R17, a forma fonética permite posicionar o diacrítico vocálico no topo tanto na consoante precedente quanto na subsequente, “de acordo com diferentes práticas ou usos”. Na grande maioria das amostras, entretanto, as vogais são colocadas na consoante subsequente; apenas em R19 (e esporadicamente em RV1) os diacríticos vocálicos são colocadas no sarat precedente. Em R20, as vogais podem ser também posicionadas na base dos sarati: devem então ser pronunciadas depois da consoante.
Figura 2: Diacríticos vocálicos da Forma Fonética.
Os usos de diacríticos que pertencem especificamente à primeira ou segunda variante são mostrados contra um fundo cinza.
Uma flecha apontando para um símbolo fonético indica que o diacrítico é atestado também para aquela vogal.
Como mostrado na figura 2, R11 fornece um grande número de diacríticos para distinção entre pronúncias semi-abertas e semi-fechadas de e e o.
Vogais que não possuam sinais consonantias na posição requerida podem ser colocadas no topo (ou ocasionalmente, na base) de um suporte curto, o qual possui a forma de uma curta linha reta. Na Forma Fonética, esta linha é usualmente paralela à barra de alinhamento, seguindo a direção de escrita. Entretanto, em alguns documentos, o suporte é colocado perpendicularmente à direção de escrita. Em R17, esta última forma é apresentada como alternativa à forma usual.
Em textos Sarati em inglês, vogais curtas "fracas" (não vibrantes) - usualmente pronunciadas como schwa [ə] - são frequemente não escritas. Além disso, a vogal é geralmente omitida em alumas palavras monossilábicas mais comuns, como and, the, at, of, are, is. De acordo com a descrição apresentada em R17, existem variantes da Forma Fonética nas quais vogais específicas, tipicamente [a] ou [ə], “são embutidas numa consoante pelo uso”. Em tais variações, uma consoante sem vogal é marcada com um ponto na base do sarat; entretanto, não se conhece nenhum exemplo textual desta prática (mas cf. o Uso do Quenya, e o Modo Tengwar Clássico).
Figura 3: Vogais longas da Forma Fonética.
Os usos de diacríticos que pertencem especificamente à primeira ou segunda variante são mostrados contra um fundo cinza.
Uma flecha apontando para um símbolo fonético indica que o diacrítico é atestado também para aquela vogal.
Vogais longas são escritas como mostrado na figura 3 acima. Como pode ser visto, a forma primária de se indicá-las na terceira variante é colocar uma linha reta no topo do sarat (em R11, um diacrítico semelhante é utilizado para indicar uma consoante repetida).
A primeira e segunda variantes apresentam outros meios de marcar uma vogal como longa: [i:] e [u:] longos são indicados por meio de um diacrítico colocado nos sarati correspondentes a [j] e [w]. Um suporte vocálico longo, escrito coom um linha reta perpendicular à barra de alinhamento é também frequentemente utilizado.
Outro método de indicação é a duplicação do diacrítico vocálico: quando a convenção é colocar o sinal no topo da consoante subsequente, a vogal é repetida na base da consoante precedente [R20]. Quando os diacríticos vocálicos são escritos no topo da consoante precedente, um segundo diacrítico pode ser adicionado na base do mesmo sarat, mas não se posssui amostras disto. Note que o diacrítico ponto-duplo representando [e] ou [i] é idêntico ao diacrítico usado para marcar uma consoante como longa, o qual é sempre escrito na base do sarat.
Todos estes métodos para indicar vogais longas ocorrem em valorações mais antigas ou mais tardias, e alguns ocorrem em ambas (cf. a Forma Antiga e a Forma Tardia).
Em R14, um sistema vocálico peculiar é descrito. Mas já que é tanto difícil de entender quanto incompleto, eu o ignorei nesta discussão. É suficiente dizer que algumas vogais longas são diferenciadas pelo uso dos sarati [r] e [l] anteriores como suportes vocálicos.
Ditongos são escritos de duas maneiras diferentes na Forma Fonética.
Para ditongos decrescentes, o primeiro elemento pode ser escrito com um diacrítico vocálico e o segundo com um sarat representativo de uma semivogal— a vogal precedente [ɪ] é escrita com o mesmo sarat que representa [j], e a vogal posterior [ʊ] é escrita como mesmo sarat que reprsenta [w].
O segundo método é escrever o ditongo como duas vogais consecutivas (esta é a única forma atestada para se escrever ditongos centrais). Na descrição presente em R18, a primeira vogal é escrita no topo de um suporte, e a segunda em sua base. Em descrições mais antigas (incluindo a primeira variante) é imposto que, nas ocasiões em que o diacrítico vocálico esteja posicionado no topo da consoante subsequente, a primeira vogal do ditongo deve ser escrita na base do sarat precedente. Não existem textos reais que indiquem ditongos desta forma, entretanto. No texto em inglês médio presente em R20, ambos os sinais vocálicos são colocados no topo do sarat - a primeira vogal mais internamente.
Em R10 e R11, a sequência sonora [ɪu] (como u no inglês use) é escrita com um diacrítico que combina os símbolos para [u] com uma versão espelhada do sarat correspondente a [j].
Os métodos atestados para a escrita de digontos estão resumidos na figura 4.
Figura 4: Ditongos da Forma Fonética.
Utilizando as regras da Forma Fonética apresentadas acima, um texto como o que se segue pode ser facilmente escrito:
Dos Valar e seus parentes
No princípio Ilúvatar, o Pai-de-todos, fez todas as coisas, e os Valar, ou Poderes, vieram ao mundo. Eles eram nove: Manwe, Ulmo, Aule, Orome, Tulkas, Osse, Lórien, Mandos, e Melko.
Orome [e Tulkas] wǽron gingran on Ealfæderes geþohtum acende ǽr þǽre worolde gescepennisse þonne óþre fífe, [and] Orome wearð Iafannan geboren, séo þe wyrð æfter nemned, ac he nis Aules sunu.
— Rúmil, fragmento dos Anais de Valinor, parcialmente traduzido (por Ælfwine?) para o Inglês Antigo.