1) Genial foi a explicação da ideia de posse, que parece incompreensível para Kholstomér:
Os homens não orientam suas vidas por atos, mas por palavras. Eles não gostam tanto da possibilidade de fazer ou não fazer alguma coisa quanto da possibilidade de falar de diferentes objetos utilizando-se de palavras que convencionam entre si. Dessas, as que mais consideram são "meu" e "minha", que aplicam a várias coisas seres e objetos, inclusive à terra, às pessoas e aos cavalos. Convencionaram entre si que, para cada coisa, apenas um deles diria "meu". E aquele que diz "meu" para o maior número de coisas é considerado o mais feliz, segundo esse jogo. Para quê isso, não sei, mas é assim. Antes eu ficava horas a fio procurando alguma vantagem imediata nisso, mas não dei com nada.
Nesse sentido, percebemos que o cavalo é mais inteligente e sensível que o humano, que, por sua vez, se apega a materialidades com o intuito de ser feliz. O homem precisa reforçar que
possui coisas, pessoas e animais diante dos outros. E o que é de um não pode ser de outro. Complementando com a primeira frase: o homem se define na linguagem, mesmo que suas atitudes não sejam condizentes com o que se fala.
2) A relação homem-animal, em que o segundo se vê subjugado ao primeiro, mas incapaz de se separar deste:
Embora tenha sido ele a causa da minha ruína, embora ele não gostasse de nada nem ninguém, justamente por isso eu gostava e ainda gosto dele.
Mais tarde, ainda acrescenta que por conta do seu dono, perdeu metade da vida. (Kholstomér também tem seus complexos.)
3) A cena do charuto. Quando último proprietário de Kholstomér, homem muito rico, recebe Sierpukhóvski, que está falido, os dois iniciam uma pequena discussão sobre os charutos, cada qual querendo mostrar sua superioridade sobre o outro. Na cena, fica claro que o anfitrião e sua esposa possuem certa aversão ao visitante, já que este não faz mais parte do mesmo círculo social.
4) Sobre a cena final, não poderia comentar melhor que o
@Spartaco: o homem, que é inútil tanto em vida quanto após a morte, recebe uma sepultura como mera formalidade:
E como há vinte anos seu corpo morto vinha andando pelo mundo como um grande estorvo para todos o seu recolhimento à terra foi apenas uma dificuldade a mais para as pessoas
enquanto o cavalo, que foi útil sempre, é deixado aos corvos após o homem (que é inútil) utilizar-se dele ao máximo.