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Clube de Leitura 7º Livro: Um Estudo em Vermelho - Sir Arthur Conan Doyle

Então galerinha!

Vamos começar o clube?

Pra mim está ótimo, pois como disse um pouco acima, eu até já li o primeiro capítulo. Portanto, apenas no aguardo do cronograma.

O meu livro tá assim: 111 páginas / Parte I com 7 capitulos / Parte II com mais 7 capitulos.
É isso mesmo? Alguém confirma pra mim?

Pelo que lembro, pois estou no trabalho e, assim, impossibilitado de ter o livro nas mãos, parece que é isso mesmo.
 
Parte I

1. O Sr. Sherlock Holems
2. As ciencias da dedução
3. O mistério de Laureston Gardens
4. O que Johnn Rance tinha a dizer
5. Nosso Anuncio atraí um visitante
6. Tobias Gragson mostra o que pode fazer
7. Uma luz na escuridão

Parte II: A terra dos santos
1. Na grande planicie alcalina
2. A flor de Utah
3. John Ferrier fala com o profera
4. Fuga para a vida
5. Os anjos vingadores
6. Continuação das memórias de Dr. John Watson
7. Conclusão

Cronograma:

Primeira semana de 16/04 até 23/04 = Cap. 1 até Cap. 3
Segunda semana de 23/04 até 30/04 = Cap.3 até Cap.7
Parte II
Terceira semana de 30/04 até 07/05 = Cap. 1 até Cap.3
Quarta semana de 07/05 até 14/05 = Cap. 3 até Cap. 7
------------------------------
Vocês acham que 4 semanas é tempo demais para um livro tão curto?
 
beleza! pra mim está ótimo também, já que eu não aguentei esperar e comecei a ler outro livro, assim eu vou intercalando os dois sem problemas :dente:
 
Martin Freeman
Gaiman é ótimo! =D
Gostaria de apontar uma info aqui.

A série britânica Sherlock, tem seu primeiro episódio (e também seu episódio piloto, que são diferentes em muitos detalhes!!) baseados neste livro que iremos ler.
O primeiro episódio chama-se 'A Study in Pink' !! (Mas olha só, 'Um estudo em Rosa').

Para os que gostam/gostaram/gostarão do livro, recomendo fortemente a série. Que retrata com grande fidelidade a personalidade dos personagens, sem falar no elenco: Benedict Cumberbatch como Shrelock e Martin Freeman como Dr. Watson!!!
 
Esses três primeiros capítulos mostram tanta coisa, não só sobre Holmes e Watson como também sobre a época e o país nos quais vivem os personagens.

Dá pra perceber a arrogância e orgulho britânicos na fala de Watson quando se refere à Índia como "nossas possessões"; ou quando, mesmo todo estropiado pela guerra e ganhando uma mixaria do governo, é todo orgulho quando diz que foi pra guerra no Afeganistão como cirurgião assistente no Quinto Regimento de Fuzileiros de Northumberland!
E a gente pensa "grande coisa!" mas acho que pra os leitores ingleses isso era o máximo, não? :think:

E depois sabemos mais sobre Sherlock Holmes.
Sua aparência, seu provável vício em algum narcótico (ópio? maconha?) sua grande inteligência peculiar e sua personalidade fascinante (ainda que seja um mala sem alça) como quando explica a Watson como deduziu que ele esteve na guerra afegã ou que o mensageiro era sargento reformado dos Fuzileiros Navais.

Pra vocês faz sentido aquela teoria do Holmes, de ocupar a mente apenas com o que é útil para nossas atividades?
Nos dias de hoje, com tantos conhecimentos disponíveis e necessários, em tantos campos diferentes, ele estaria ultrapassado?
 
Sua aparência, seu provável vício em algum narcótico (ópio? maconha?) sua grande inteligência peculiar e sua personalidade fascinante (ainda que seja um mala sem alça) como quando explica a Watson como deduziu que ele esteve na guerra afegã ou que o mensageiro era sargento reformado dos Fuzileiros Navais.
No livro O Xangô de Baker Street do Jô Soares tem uma piada muito boa sobre isso. Alguém aqui já leu? Opa, tópico errado.

Sobre a parte de só ocupar com coisas úteis eu discordo. Informação é neutra, a utilidade quem dá é você. Você pode usar o fato de que o espirro sai a 150 km/h em algo proveitoso ou não. Não existe informação inútil.
 
E depois sabemos mais sobre Sherlock Holmes.
Sua aparência, seu provável vício em algum narcótico (ópio? maconha?) sua grande inteligência peculiar e sua personalidade fascinante (ainda que seja um mala sem alça) como quando explica a Watson como deduziu que ele esteve na guerra afegã ou que o mensageiro era sargento reformado dos Fuzileiros Navais.

Esse começo está bem interessante.

Como bem você falou Clara, os primeiros capítulos nos dá muitas informações, vindas através da narrativa de Watson. Somente no terceiro capítulo temos o começo de uma investigação sobre um crime.

Quanto ao vício de Sherlock Holmes, em uma das inúmeras notas constantes na edição da Zahar, é mencionado que poderia ser a cocaína.
 
Pra vocês faz sentido aquela teoria do Holmes, de ocupar a mente apenas com o que é útil para nossas atividades?
Nos dias de hoje, com tantos conhecimentos disponíveis e necessários, em tantos campos diferentes, ele estaria ultrapassado?

eu discordo da posição dele (sobre a memória não ser um espaço elástico), mas acho que teve ali alguma brincadeira do doyle com os especialistas. sabe aquela piada do meio acadêmico, "um especialista é aquele que sabe cada vez mais a respeito de cada vez menos."? então. holmes é um especialista na área dele, solução de crimes. repare nas anotações do watson:

SHERLOCK HOLMES—his limits.

1. Knowledge of Literature.—Nil.
2. Philosophy.—Nil.
3. Astronomy.—Nil.
4. Politics.—Feeble.
5. Botany.—Variable. Well up in belladonna,
opium, and poisons generally.
Knows nothing of practical gardening.
6. Geology.—Practical, but limited.
Tells at a glance different soils
from each other. After walks has
shown me splashes upon his trousers,
and told me by their colour and
consistence in what part of London
he had received them.
7. Chemistry.—Profound.
8. Anatomy.—Accurate, but unsystematic.
9. Sensational Literature.—Immense. He appears
to know every detail of every horror
perpetrated in the century.
10. Plays the violin well.
11. Is an expert singlestick player, boxer, and swordsman.
12. Has a good practical knowledge of British law.

são todos conhecimentos que veremos sendo utilizados depois, não só nesse caso, mas em caso futuros. o violino, é claro, entrando como um meio necessário para ele se concentrar nos casos. o engraçado é que watson cita zero para conhecimento de literatura mas depois eles têm uma conversa sobre detetives da literatura, incluindo o dupin do poe :lol:
 
Terminei o livro.
Foi o meu primeiro Conan Doyle e, pelo bem da verdade, devo dizer que esperava mais, até por tudo que me chegou aqui e ali sobre Sherlock Holmes.
Porém, pesando prós e contras, foi uma leitura agradável, do tipo que prende por diversos momentos e te faz querer ir adiante para chegar o quanto antes ao desfecho.

Dá pra perceber a arrogância e orgulho britânicos na fala de Watson quando se refere à Índia como "nossas possessões";

Esse tipo de coisa sempre me lembra Edward Said e a colonização do subjetivo, que tem na literatura um forte veículo [ele faz um bela análise (Cultura e Imperialismo) de Grandes Esperanças (Dickens) e a presença inglesa na Austrália, negando um caráter neutro e a-histórico da literatura. Não que Dickens deliberasse o romance dessa forma, mas havia um relação de construção e reconstrução, onde os agentes moldavam o contexto e eram por eles moldados].

******

Sobre o procedimento de investigação de Holmes, pensei no contexto histórico de cientificismo do século XIX. O método científico - embora não ortodoxo - se faz presente em vários campos, adentrando na criminologia, que, segundo o Google, é uma ciência do XVIII.

Como uma coisa puxa a outra, a Criminologia do XVIII era conhecida como "Escola Clássica" e se pautava por Rosseau ao afirmar que o crime estava na sociedade e em seus valores. Lá pela segunda metade do XIX, que é o que nos interessa, veio a "Escola Positivista", cujo maior expoente foi Cesare Lombroso e a sua teoria do "criminoso nato". Por ela, pretendia-se inibir o crime ainda em sua fase de pré-gestação, pelo conhecimento do potencial criminoso, determinado principalmente por sua morfologia:

" O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugídia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido.
O homem criminoso estaria assinalado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica, com profundo embotamento da receptividade dolorífica (analgesia) e do senso moral. Como anomalias fisiológicas, ainda, o mancinismo (uso preferente da mão esquerda) ou a ambidextria (uso indiferente das duas mãos), além da disvulnerabilidade, ou seja uma extraordinária resistência aos golpes e ferimentos graves ou mortais, de que os delinqüentes típicos pronta e facilmente se restabeleceriam. Seriam ainda comuns, entre eles, certos distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, acarretando a ausência de enrubescimento da face. Conseqüência do enfraquecimento da sensibilidade dolorífica no criminoso por herança seria a sua inclinação à tatuagem, acerca da qual Lombroso realizou detidos estudos."

Fonte

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Pode parecer um monte de bobagens e carregado com altas doses de preconceitos, mas as teorias de Lombroso encontraram eco nos homens do XIX e começo do XX.

Eu estudei Lombroso na graduação, na disciplina História da Ciência e da Técnica, mas foi de leve. Se não me engano, o pessoal de Direito tem maior contato e talvez possa contribuir com melhor embasamento.

Seguindo no rastro da Criminologia, no fim do XIX, nos deparamos com a Escola Sociológica, destacando Enrico Ferri - discípulo de Lombroso. Além das características físicas - utilizadas em menor grau - sobressaíam-se outras condições:

"O delito, para Ferri, não é produto exclusivo de nenhuma patologia individual (o que contraria a tese antropológica de Lombroso), senão –como qualquer outro acontecimento natural ou social - resultado da contribuição de diversos fatores: individuais, físicos e sociais. Distinguiu, assim, fatores antropológicos ou individuais (constituição orgânica do indivíduo, sua constituição psíquica, características pessoais como raça, idade, sexo, estado civil etc.), fatores físicos ou telúricos ( clima, estações, temperatura etc.) e fatores sociais (densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação, alcoolismo etc.) Entende, pois, que a criminalidade é um fenomeno social como outros, que se rege por sua própria dinâmica, de modo que o cientista poderia antecipar o número exato de delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e em um momento concreto, se contasse com todos os fatores individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz de quantificar a incidência de cada um deles."

Fonte

E Ferri, confirmando que tudo o que é novo guarda em si o anseio de romper com o antigo, desce a lenha nos clássicos:

"Falamos de duas linguagens diferentes. Para nós, o método experimental (indutivo) é a chave de todo conhecimento; para eles, tudo deriva de deduções lógicas e da opinião tradicional. Para eles, os fatos devem ceder seu lugar ao silogismo; para nós, os fatos mandam...; para eles, a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e o resto sai de um cérebro cheio de leituras de livros, mais ou menos abundantes e feitos da mesma matéria. Para nós, a ciência requer um gasto de muito tempo, examinando os fatos um a um, avaliando-os, reduzindo-os a um denominador comum e extraindo deles a ideia nuclear. Para eles, um silogismo ou uma anedota é suficiente para demolir milhares de fatos conseguidos durante anos de observação e análise; para nós, o contrário é a verdade".

Fonte

Não que Conan Doyle fosse um especialista em criminologia, sei lá. Mas era um homem de seu tempo e situou seu personagem na segunda metade do XIX, quando esses debates se acaloraram.

Na primeira leitura de Um estudo em vermelho, não localizei nenhum indício do "criminoso nato", apesar das constantes análises físicas de Holmes. Mas quero me deter na colocação de Ferri, quando diz: o método experimental (indutivo) é a chave de todo conhecimento; para eles, tudo deriva de deduções lógicas e da opinião tradicional. Para eles, os fatos devem ceder seu lugar ao silogismo; para nós, os fatos mandam." A Ciência de Sherlock, no segundo capítulo, foi batizada de dedução. Pela etimologia, cai para o silogismo. Porém, o indutivo opera-se "examinando os fatos um a um, avaliando-os, reduzindo-os a um denominador comum e extraindo deles a ideia nuclear", numa tese sustentada pelo próprio Holmes. O que me leva a crer que seu método é o indutivo e o batismo foi errado. E que eu, também, independente do método utilizado para a investigação, acordei muito cedo e não tenho o que fazer no feriado.
 
Quanto ao vício de Sherlock Holmes, em uma das inúmeras notas constantes na edição da Zahar, é mencionado que poderia ser a cocaína.

Também ouvi isso, que ele era viciado em cocaína.
Não entendo muito de drogas mas a cocaína não é excitante?
E o Watson dizia que o Holmes ficava com "expressão vaga e sonhadora" que me faz pensar mais em ópio, morfina ou algo do tipo, que faz a pessoa ficar entorpecida.

eu discordo da posição dele (sobre a memória não ser um espaço elástico), mas acho que teve ali alguma brincadeira do doyle com os especialistas. sabe aquela piada do meio acadêmico, "um especialista é aquele que sabe cada vez mais a respeito de cada vez menos."? então. holmes é um especialista na área dele, solução de crimes. repare nas anotações do watson:

são todos conhecimentos que veremos sendo utilizados depois, não só nesse caso, mas em caso futuros. o violino, é claro, entrando como um meio necessário para ele se concentrar nos casos. o engraçado é que watson cita zero para conhecimento de literatura mas depois eles têm uma conversa sobre detetives da literatura, incluindo o dupin do poe :lol:

Também acho que é mais brincadeira do Conan Doyle, até porque ela parecia ser fã do Poe, não?

Acho que o mais fascinante no Sherlock Holmes é o fato de ele ser um cara metódico, excêntrico, presumido, ou seja, chato pra caramba, mas ainda assim a gente acaba gostando muito dele; e fazer ele falar mal do Dupin e do Leqoc (e dos conhecimentos astronômicos :lol: ) faz parte da construção da personalidade, muitas vezes irritante, do Holmes. :yep:
 
Também ouvi isso, que ele era viciado em cocaína.
Não entendo muito de drogas mas a cocaína não é excitante?
E o Watson dizia que o Holmes ficava com "expressão vaga e sonhadora" que me faz pensar mais em ópio, morfina ou algo do tipo, que faz a pessoa ficar entorpecida.
Acho que era ópio mesmo.
 

Muito bacana esse site! :yep:
E tem uma parte do texto em que o autor comenta o aparente engano ou confusão do Conan Doyle (apesar de médico formado) descrevendo a cocaína como droga anestésica em vez de estimulante (grifo meu):

In A Scandal in Bohemia Doyle errs in referring to cocaine in describing “the drowsiness of the drug”. This error is puzzling. Cocaine was recognized widely as a stimulant and given Doyle’s attempt to specialise as an oculist, where cocaine was used as an anaesthetic, it is likely that he was well versed with the drug. His clear depiction of cocaine addiction in The Sign of Four, published before A Scandal in Bohemia, and accurate depiction of other drugs (6) suggests that this is one of Doyle’s infamous errors of detail. In The Sign of Four it is suggested that Holmes also abused morphine and Doyle may simply have forgotten to which drug he was referring. Doyle wrote very quickly, sometimes not even revising his draft, and in his memoirs admits that he has neverSherlock Holmes's Cocaine Habit been nervous about details and that his readers reprimanded him for his lapses
 

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