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Clube de Leitura 27º Livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)

Eu fui fazendo anotações mentais enquanto lia, para postar aqui depois, mas quando terminei, esqueci. :dente:
O precursor do hiperdistraidismo fazendo anotações mentais. Não tinha como dar errado. :hihihi:
Só lembro de uma: alguém me explica aquele capítulo dos chapéus?
Ainda bem que já falaram sobre o conto, porque eu ia perguntar se você queria saber sobre ele. :oops:
Certeza que a @Melian vai. :mrgreen:
Ó, se eu não estiver enganada — e, quase sempre, estou —, na parte em que tece considerações sobre a filosofia da ponta do nariz, Brás utiliza o cérebro dos chapeleiros para exemplificar o que falara anteriormente sobre a ponta do nariz, não? Se não for sobre isso, sorria e acene.

Segue a fala do Brás: Um chapeleiro passa por uma loja de chapéus; é a loja de um rival, que a abriu há dous anos; tinha então duas portas, hoje tem quatro; promete ter seis e oito. Nas vidraças ostentam-se os chapéus do rival; pelas portas entram os fregueses do rival; o chapeleiro compara aquela loja com a sua, que é mais antiga e tem só duas portas, e aqueles chapéus com os seus, menos buscados, ainda que de igual preço. Mortifica-se naturalmente; mas vai andando, concentrado, com os olhos para baixo ou para a frente, a indagar as causas da prosperidade do outro e do seu próprio atraso, quando ele chapeleiro é muito melhor chapeleiro do que o outro chapeleiro… Nesse instante é que os olhos se fixam na ponta do nariz.

Roberto Schwarz diz que Brás é um narrador que cometeu traição de classe, àquela a que pertencia. O crítico classifica, magistralmente, o narrador das Memórias como volúvel, muda de ideia a cada linha, faz troça de tudo e todos, desrespeita o leitor e, ao mostrar seu estilo de vida, isto é, a burguesia que se instaurava no Brasil de outrora, evidencia as mesquinharias em que tal classe se apoiava. Com isso em mente, Schwarz diz que a busca de uma "supremacia qualquer" comanda o ritmo e a forma da obra. Aqui, entra, a meu ver, a filosofia da ponta do nariz e, por conseguinte, a explicação sobre os chapéus, mas não nos apressemos.

A reflexão sobre a ponta do nariz se dá a partir de um aforismo: Cada homem tem necessidade e poder de contemplar o seu próprio nariz, para o fim de ver a luz celeste. Século das luzes, a ideia da ponta do nariz como a universalidade do homem (mas é uma ideia fora de lugar — Schwarz tem um texto maravilhoso sobre isso! —, visto que a sociedade brasileira importou ideias liberais, mas o sistema que a sustentava era escravocrata!)... Mas, se pensarmos bem, não há nada de celestial em contemplar o próprio nariz, uma vez que ficar olhando por muito tempo para o próprio nariz faz com que nosso olhar fique enviesado e nossas ideias também o fiquem. Nesse muito olhar para o próprio umbigo, próprio da sociedade brasileira que se formava, e que buscava uma supremacia qualquer, nem que seja no âmbito da fantasia, embotava-se a dimensão do indivíduo e da sociedade. No caso dos chapéus, é o que acontece. O chapeleiro cria uma fantasia na qual o outro — cuja chapelaria prospera — é inferior a ele para não admitir sua fraqueza, inabilidade, ou o que quer que seja. O homem "comum" reflete as características de uma elite ressentida, escravagista, que contempla apenas a ponta de seu nariz, cheia dos seus vazios, e disposta a tudo para defender sua posição de classe.​
 
De vez em quando (Infelizmente, com lapsos temporais significativos), as redes sociais são usadas para alguma coisa boa. Isso mostrou o poder da globalização e como a internet poderia ser uma ferramenta ainda melhor se bem usada pelas pessoas.
 
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