Foi a primeira grande obra do Verne que li na vida e foi um prazer enorme ter lido logo já na infância por volta dos 10 anos.
De início, eu tive tudo pra achar a vida do Philleas Fogg muito monótona, estática e pouco interessante, já que praticamente tudo era muito rotineiro, acontecendo em horários muito bem definidos e quando Passepartout começa a trabalhar para ele, me impressionava muito o francês apreciar tranquilamente essa rotina bastante sistemática.
Mas quem diria que tudo isso iria mudar, graças a uma das tantas idas do Fogg ao Reform Club, o que parecia uma simples conversa de cavalheiros, se torna uma importante aposta, algo que os ingleses sabem levar muito bem a sério até os dias de hoje e de repente vemos a vida rotineira do Fogg mudar totalmente e começamos a conhecer um outro lado desse senhor até então muito enigmático.
Apostar uma volta ao mundo em 80 dias, levando em conta toda a tecnologia dos meios de transporte e as possíveis condições dos roteiros encontrados ao final do século XIX, era algo realmente muito desafiador e logo vemos que em nenhum momento Fogg levava aquilo na brincadeira, já que ele monta uma grande organização e planejamento de viagem, procurando antever todos as variáveis possíveis envolvidas nessa empreitada, algo que seria muito mais difícil se comparado aos nossos tempos, onde hoje temos uma enorme facilidade de obter informações muito precisas.
O fato de ter acontecido um grande roubo no Banco da Inglaterra, muito próximo ao início da viagem e envolvendo alguém cuja descrição física é muito próxima de Fogg, foi o combustível pra deixar a aventura mais emocionante, já que o Sr, Fix aparece e não mede esforços para poder observa-lo, estuda-lo, segui-lo e detê-lo em momento oportuno e logicamente aproveitando-se muito bem da ingenuidade de Passepartout. Aliás, o francês é um personagem que oscilando entre ingenuidade, distração e algumas trapalhadas, graças a ele foi possível salvar a vida de Aouda que passaria a ser uma nova integrante nessa longa jornada.
Daí em diante vemos que Fogg destaca-se muito não apenas pela enorme paciência que tem pra lidar com qualquer eventual imprevisto e adversidades que possam dificultar e atrasar a viagem, mas também pela sua enorme generosidade algo que é muito marcante. Mesmo chegando de volta a Inglaterra e atrasado pela detenção proclamada pelo Fix, ele mostra que estaria preparado para perder com toda a dignidade, mas eis que o desejo de casar com Aouda no final salvou Fogg de perder a aposta, pois este senhor que tinha feito um planejamento de viagem tão brilhante, não havia se atentado a um detalhe tão importante, que foi o ganho de tempo obtido ao redor do mundo viajando sempre de Oeste para Leste o que permitiu no final ter o "ganho" de mais um dia. Realmente foi uma verdadeira obra multidisciplinar reunindo elementos de turismo, ciência, geografia, história, cultura internacional, romance e aventura tudo junto e misturado na medida certa. Uma leitura muito agradável e prazerosa.