Mas o que seria o Big Bang senão o princípio de todas as coisas? Onde falha a analogia? Inclusive, a hipótese de Anaximandro sobre criação dos opostos muito se assemelha a questão da matéria x anti-matéria, só que a dele feita de maneira mais "ingênua" por falta de dados disponíveis naquela época (por isso falei na tal ótica moderna).
O que falha é sua tentativa de apontar uma incoerência baseada na afirmação que o ar-pherion "não inclui espíritos" baseado numa "ótica moderna" (?!). Primeiramente porque a Chama (na minha visão) não é o ar-pherion, mas algo parecido com este. Mesmo se o ar-pherion não incluisse "espíritos", isso não impede de eu afirmar que a Chama inclui-os, nem por isso a analogia perde sua validade.
Segundo porque afirmar isso é no mínimo um anacronismo, na medida que na filosofia de Anaximandro não há espíritos ou mundo espiritual separada do mundo "comum", mas há espíritos no sentido como algo natural, elemento da Existência. Dentro da cosmologia de Anaximandro o ar-pherion inclui sim a gênese de almas, como inclui a gênese de tudo.
Mesmo se por ventura na mitologia tolkienriana haja uma diferenciação clara entre espiritual X material, não impede-me de afirmar que tanto espíritos quanto matéria
existem e afirmar que, como existência, podem ter um princípio comum.
Eru não faz parte de Eä, ele permanece fora do mundo (carta 181) assim como os Ainur que decidiram não "descer" até lá. (...) mas além disso nos conduz a pensar que nenhuma parte de Eru está em Eä.
Numa lida rápida na carta 181 (
carta na Valinor,
carta na Dúvendor) não enxerguei tal condução. Mas mesmo se tal condução existisse, pode-se afirmar que Eru não está no mundo porque a Primeira Pessoa da Trindade não está, ainda que a Trindade, ou a divindade, esteja. Ou que a Chama não está no Mundo, mas constitui, ou é, o Mundo.
Ainda que pelo que interpreto Tolkien nega a encarnação de Deus na obra, Deus feito pessoa, Deus no mundo andando por aí. Deus de alguma forma tem que estar no mundo, afinal ele não é onipresente?
A carta 181, principalmente, afirma que não há o Deus Filho, não há Jesus Cristo dentro da mitologia
Jesus não está na mitologia do mesmo forma que não está dentro da mitologia do Antigo Testamento, mas isso não impede os católicos de afirmarem que ele existia desde essa época. Mas eu creio que Eru confunde-se com a Primeira e Segunda Pessoa, a distinção entre Pai e Filho não está clara como não estava no Antigo Testamento.
Finrod no dialógo com Andreth sugere a vinda de Deus no mundo de forma parecida com o que acontece com Jesus no catolicismo, o que dá Andreth esperança. Não interpreto-o como uma mera conjectura, e sim como uma fala inspirada, com fundo de verdade, por parte de Finrod.
A Chama foi mandada para meio do Vazio (que também não faz parte de Eä), ela está no "coração do Mundo" (sentido figurado, óbvio) e assim inspira a existência das coisas e da vida.
Inspira a existência das coisas e da vida em que sentido? Como se dá a existência das coisas e da vida sem essa inspiração? Seja mais objetivo pra que possa compreender sua visão.
Esse sentido figurado eu interpreto como justamente "na intimidade do Mundo", "aquilo que dá suporte ao mundo", etc.
Ela não tem qualquer papel na criação, dela não parte nada (a não ser a inspiração divina, o sopro da vida), ela não pode ser moldada por ninguém e a ninguém está acessível a não ser ao próprio Ilúvatar.
Sim, já ficou claro que você acha isso. Só não entendi o porquê e como se dá a visão alternativa.
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Enfim, claro que também posso estar errado no que digo, e provavelmente o estou porque há incoerências. Mas até agora não ficou-me claro qualquer outra visão que consiga explicar o papel da Chama de forma mais clara e coerente.