Sim, eu acho, vc acha por acaso que existem orcs, dragões e elfos? É literatura, naum física ou biologia.
E dentro da ficção existe aquilo que é real, e o imaginário. E o Ainulindalë ao meu ver é um mito sobre a criação, talvez os elfos o acreditassem como real, mas nao necessariamente o seja, e eu não vejo como possa ser.
Tolkien afirma categoricamente que o Tempo existe apenas em Eä. Só com isso creio que a cena da música seja impossível tal como foi descrita.
No mundo real (não o imaginário de Tolkien) é comum em todos os povos e culturas a criação de mitos para explicarem sua origem. Muitos se adequam a um e o consideram como verdadeiro, o que torna religioso. Eu posso acreditar na origem do mundo pela explicação cristã, assim como não posso. O mesmo para o hinduísmo, ateísmo, xamãnismo, xintoísmo, etc.
Alguns desses mitos são hoje em dia unanimente considerados como mito (os gregos, por exemplo), mas em sua época foram tidos como verdade.
Quando não se tem compreensão nem capacidade de explicar algo, o ser humano usa do mito para tal. Não vejo porque seria diferente com os elfos, visto que seu destino estava instrínseco a Arda, portanto não tinham compreensão sobre o que estava fora dela. Os homens ainda tinham a esperança de atingirem essa compreensão pós morte, mas os elfos não.
Um universo fora do tempo e fora do espaço não é compreensivo para um ser que só existe no tempo e espaço. Então ele usa de mitos, meios metáfóricos para tentar explicar o que aconteceu, nos padrões de seu mundo, que são completamente diferentes do mundo fora de Eä. Então esse acontecimento é descrito no tempo e espaço para retratar aquilo que ocorreu fora disso.
Eru não teria como ser personificado fora de Eä, não teria como ter uma mão e erguê-la, pois esse conceito só passou a existir e Eä, e somente dentro dela.
O máximo que eu consigo ver é que fora de Eä existe apena a consciência (de Eru e dos Ainur), nada além de pensamento. Mas mesmo isso ainda é uma visão mundana e terrana que nós temos, talvez a verdade em absoluto do que se passou lá seja completamente incompreensível para nós humanos, enquanto vivos e ligados ao mundo terreno, e ao elfos, para sempre.
Não que com isso eu negue a existência de Eru ou dos Ainur, ou da criação do mundo por estes. Mas não vejo como ela possa ter acontecido da forma em que foi narrada (pelos elfos). Aquilo pra mim é mito, metáfora. Demonstra que tudo teve sua origem em Eru, que é onisciênte, que os Ainur foram seus intrumentos, e que Melkor ja demonstrava um comportamento atípico. Mas não que eles possuíam formas humanóides, que cantavam com vozes audíveis e que sentavam-se em cadeiras e que ocupavam salões de pedra. Isso tudo faz parte de Eä e não de fora dela. É a visão mítica que os habitantes de Eä tem.
Quando Melkor vagava pelo vazio, ele não estava andando no meio do nada, mesmo porque, é o nada, não tem como estar presente no nada, pois se é nada não tem tempo nem espaço, simplesmente não é. Eu vejo essa passagem como sendo o pensamento de Melkor buscando novas idéias, e o nada deixa de ser nada quando essas idéias surgem. O único conceito de Eä que consigo transpor para fora dela é esse, o da consciência, do pensamento. Mais que isso acho pura figuração dos Eldar para explicarem sua própria existencia. Como todos os povos já o fizeram.
Claro que tudo isso é subjetivo, é uma visão minha. É bastante lógico pensar na Chama como sendo o Espírito Santo, como também Arpérion, talvez também seja lógico pensar como o Cristo (embora eu ainda não tenha visto essa lógica) e acho que todas as interpretações são válidas, mesmo porque não existe uma resposta para isso. Mas eu prefiro pensar desse jeito. Para mim as coisas funcionam melhor dessa maneira.
Acho que não foi a toa que Tolkien escreveu o Silmarillion como visão dos elfos, e não dele próprio. Essa subjetividade da perspectiva dos personagens é mostrada claramente em muitos de seus textos.