Finalmente inaugurando o meu censo. Como eu previa, as leituras obrigatórias da faculdade restringiram drasticamente o meu tempo para as leituras recreativas. Então nem vou separar por mês esse ano pra não passar vergonha. Hahaha
Mas vamos lá:
1) Vozes do Deserto, de Nélida Piñon (p. 320).
Gostei? Mixed feelings.
Eu entendo que, ao pretender uma releitura da história das Mil e Uma Noites, focada não nas histórias narradas, mas na própria agonia de Scherezade, tiranizada a cada dia com a ameaça do cadafalso caso falhasse em capturar o interesse do Califa; confinada a um universo muito restrito, prisioneira dos aposentos do monarca e das obrigações de ser violada sexualmente a cada noite, antes de ser obrigada a exercer todo o seu fascínio como contadora de histórias numa luta pela própria sobrevivência; numa rotina absolutamente cruel e excruciante... enfim, eu entendo que essa narrativa necessariamente teria de assumir uma forma circular. Capítulo após capítulo, o leitor é enredado nessa rotina e também se vê tiranizado por ela. A leitura entedia, mas talvez, de maneira um tanto paradoxal, o tédio ajude a compor a ambientação da história.
Lentamente, Nélida vai deixando ver as mudanças que as histórias de Scherezade operam nas disposições íntimas do Califa. E essas transições vão ocorrendo de maneira realmente sutil. Paralelamente, Scherezade, em seu esforço heroico, começa a soçobrar.
O final é bom, mas não surpreendente.
O texto é impecável e o tom épico compõe bem o drama da mais famosa contadora de histórias da literatura universal.
Daria nota 3,0 em 5,0.