Nos últimos 4 anos, eu perdi 6 pessoas para doenças terminais: três avós, a avó da minha esposa e uma amiga colega de trabalho. Uma coisa que a gente tem tendência a achar super desagradável e a achar que não vai fazer bem nenhum é conversar com a pessoa sobre a morte. Hoje, lendo essas histórias, eu me arrependo de não ter feito isso. Todas elas tinham (ao menos em parte) perfeita lucidez do que estava acontecendo, e certamente gostariam e se sentiriam bem ao conversar sobre isso, se alguém tivesse a coragem de ser o interlocutor.
Sinto muito pelas suas perdas, Eriadan.
Esse é um tema muito sensível, né? Todos nós temos consciência da nossa mortalidade, mas a maioria de nós prefere não encará-la. Vivemos como se não tivéssemos consciência de que eventualmente iremos morrer. Então, de repente, um diagnóstico de uma doença terminal como que segura a cabeça da pessoa e a obriga a encará-la.
Imagino que seja um momento muito assustador. E imagino também que a pessoa termine vivendo esse medo da morte de maneira solitária, porque a maioria das pessoas que compõe o seu círculo de afetos talvez prefira permanecer em negação; talvez se agarre a algum tipo de esperança, por mais improvável que ela possa ser em tal ou qual caso. E a própria possibilidade da morte se torna um tema inabordável, porque admiti-la pode ser também devastador, uma forma de antecipar a dor da perda.
À medida que vivemos, a morte, aos poucos, vai despovoando o nosso presente, deslocando alguns de nossos afetos mais queridos para o nosso passado. Sofremos, vivenciamos o luto e eventualmente nos acostumamos a viver com a dor da ausência. Mas nem assim encaramos a nossa mortalidade.
Me fez pensar em dois livros da Nélida Piñon.
Ela escreveu "Uma Furtiva Lágrima" após receber o diagnóstico de que teria poucos meses de vida. Isso a levou a encarar a própria finitude e ela se pôs a organizar a própria morte, inclusive em termos estéticos, como chegou a dizer em uma de suas entrevistas. Depois, o diagnóstico se mostrou equivocado. Seu quadro não era tão grave como o primeiro médico havia imaginado.
E no livro póstumo, que acaba de sair pela Record, "Os Rostos que Tenho", fica nítida a consciência da escritora de que lhe restava pouco tempo. O tema da morte é onipresente, atravessa diversos capítulos. Escrever sobre a própria morte talvez seja uma forma de se libertar dessa "conspiração do silêncio" que ronda o túmulo. Mas a maioria de nós não é capaz de se socorrer desse recurso.
Fui ver a sinopse do livro que você leu. Deve mesmo ser um livro muito bonito.