Neithan, você esqueceu uma coisa muito importante que eu falei no meu post: Tolkien falou sim que ninguém conseguiria destruir o Anel; eu concordo com isso - mas isso só demonstra que
todo mundo falharia na situação dele. Não é uma falha
moral, é uma falha
objetiva. Todos os argumentos do seu post não mostram que ele não falhou, e sim que ele
não pode ser condenado por sua falha. É diferente. Está claro que o próprio Frodo
não tem culpa alguma mas sim, analisando objetivamente os seus atos, está claro que ele falhou, no mesmo ponto em que Isildur falhou.
O próprio Tolkien admite a
falha objetiva de Frodo, na Carta 181:
Falhar ela [a Busca] iria, e falhou no que diz respeito a Frodo levado em consideração sozinho.
E é isso que eu estou tentando dizer. De modo algum podemos
culpar Frodo.
Eu acho interessanto, para compreendermos melhor essa aparente dicotomia nas cartas dando uma olhada na moral católica. O tempo todo, na Carta 246, Tolkien se refere à possível falha
moral de Frodo. Isso fica claro logo no começo do quinto parágrafo:
Não acho que o fracasso de Frodo foi moral.
Aí ele começa a discorrer sobre a moralidade da ação de Frodo. Na moral católica (lembro que Tolkien era católico fervoroso, e isso se refleta na sua obra), há três tipos de atos: os atos moralmente maus, os moralmente bons, e os moralmente neutros. Só que não há uma lista de atos do tipo "esse é bom, esse é mau". Para classificarmos os atos, precisamos conhecer a intenção de quem o pratica, seu estado psicológico, as circustâncias, etc. Um ato pode ser
objetivamente mau, mas as condições do praticante é que dirão se ele é moralmente culpado ou não por aquele ato. Ferir uma pessoa, por exemplo, é um ato objetivamente mau, mas o praticante pode não ser culpado caso, por exemplo, tenha agido em legítima defesa.
Resumindo: temos duas facetas a analisar: a moralidade do ato em si e a culpa do praticante, dadas as circustâncias.
E toda a Carta 246 gira em torno disso. Tolkien não nega que o ato de Frodo tenha sido
objetivamente falho; mas argumenta que, devido às circunstâncias, ele não pode ser, de modo algum,
culpado por ter falhado. Pode-se dizer, objetivamente, que Frodo falhou, mas não se pode condená-lo por isso. E é isso que eu penso.