Primula disse:
Acho que você está vendo demais a putaria, Eru
Vem morar em Copacabana e você vai entender o porque.
Agora pensemos em termos de estratégia: se fosse um movimento sério e sisudo, atrairia as pessoas que não gays e lésbicas? Haveria os simpatizantes no meio?
Sempre tem. Eu sou da teoria de que o simpatizante é o enrustido sem coragem. Senão não seria simpatizante do movimento, mas sim das pessoas que fazem parte dele. Eu acho né.
Os movimentos estudantis, grevistas etc., atraem pessoas que não sejam estudantes ou grevistas?
Eles também são equivocados, cada um a sua maneira. O movimento estudantil não atende aquilo que se propõe. Traduzindo: O movimento estudantil, representado pela UNE, é hoje mais trampolim político pra uma corja de Lindbergs e um mecanismo de extorção pra fazer carteirinhas do que uma instituição que realmente lute pelos estudantes.
Fato: não, greves e estudantes protestantes não atraem. Temos de encarar isso: uma passeata gay sisuda teria o mesmo efeito de outras manifestações sérias.
Mas aí que está. Eu não acho que passeatas, mesmo sisudas, iriam surtir um efeito desejado. Já se passou dessa fase.
E exarcebados e histéricos, há os mesmos mesmo em movimentos sérios. Ou seja, por causa de uns poucos que não dá para levar a sério vamos ter o problema de estereotipar um todo por conta de uns poucos.
As passeatas, ao menos as que vi por essas bandas, não eram, por assim dizer, de uns poucos estereotipados. Não vou dizer que são todos (isso seria absurdo), mas muitos soltam a franga no meio da rua.
Há chances de serem mal interpretados? Sim. Mas essa interpretação errônea se dá in loco, e não distante na comodidade do sofá do cidadão comum. Que é o que acontece com movimentos sérios: as pessoas não vão lá conferir porque ficam com medo. Porque ficam entediadas.
E o circo é benéfico? Acho que naturalizar a questão, nesse momento, é muito mais importante. O cara hoje não tem tanto porque temer assumir sua homossexualidade perante a sociedade (claro, pra família o problema é mais embaixo). Ele tem o direito de ser gay e ponto. Ele não precisa mais gritar dizendo que tem o direito de ser. Isso ele já tem. As conquistas que ainda cabem aos gays não serão atingidas em carnavais, mas mediante mobilização política. E isso não se faz em paradas gay.
E na verdade, acha errado por conta do desconforto em estar na presença de pessoas esquisitas. E o desconforto normalmente sentimos quando temos receio que a pessoa faça algo que nos assuste ou nos machuque.
Eu juro que estou vendo a coisa do ponto de vista mercadológico (cacoete de publicitário que entende idéias a se vender como produtos, porque no fundo o são
)
E por outro lado, carnaval e futebol são mais queridos para nós que nossa independência. (apesar de que a gente não tem muito do que se orgulhar com a independência ou proclamação da república ao contrário do resto da América que lutou mesmo... mas dá para entender como isso nossa psique coletiva é meio estranha quando um mexicano, peruano, etc vem aqui...
).
Eu também não sinto o menor orgulho do carnaval. Às vezes eu sinto é vergonha, confesso.
Só nós é que não conseguimos entender direito esse negócio de festejar, relaxar e ao mesmo tempo ser sério.
Dá pra entender. Mas acho que existem níveis de seriedade, de um lado, e descontração, do outro, que dependem muito de bom senso para não serem ultrapassados pra descambar no vulgar ou no repressor. No caso das paradas gay, elas atravessam essa linha na direção do vulgar. E eu não sei até que ponto a parada tem efeitos práticos positivos. Quem vai jé porque já tem a mente mais aberta. E quem não tem a mente nem um pouco aberta cria ogeriza.