Férias e mais tempo pra me dedicar à leitura de A República dos Sonhos, da Nélida Piñon. Por conta das leituras do Clube de Leitura Travessia, a que dou prioridade, ele ficou como minha leitura "B". E por isso vinha num ritmo bastante lento. Mas eu estou completamente arrebatado por esse livro.
E queria compartilhar uma perplexidade: como é que um romance dessa magnitude segue sendo tão pouco lido e tão pouco conhecido, mesmo entre leitores? Falo por mim, inclusive, que tomei conhecimento de sua existência apenas no ano passado. Minha porta para a Nélida Piñon, cuja existência - do alto da minha ignorância - me era desconhecida, foi a Lygia Fagundes Telles. E, me parece, há uma certa injustiça nessa situação, porque Nélida, a meu juízo, não é uma escritora de menor estatura. Aliás, meu ímpeto é fazer coro com o português Eduardo Lourenço, que apontou Nélida Piñon como uma das grandes escritoras da América Latina e como a maior escritora brasileira viva. Me contenho, porque estou tendo apenas o primeiro contato e ainda tenho muito que navegar em sua produção literária.
Fui consultar o Skoob para ter uma dimensão da coisa, a partir da comparação com outras grandes obras da literatura de língua portuguesa. Apenas para se ter uma ideia, com dados de hoje, 03 de novembro de 2020:
1) "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa foi lido por 11.011 skoobers.
2) "O Continente", volume 1 de "O Tempo e o Vento", de Erico Verissimo, foi lido por 8.951 skoobers.
3) "A Hora da Estrela", novela de Clarice Lispector, foi lida por 79.104 skoobers.
4) "As Meninas", da Lygia Fagundes Telles, foi lido por 6.237 skoobers.
5) "A obscena Senhora D", novela de Hilda Hilst, foi lida por 2.480 skoobers.
6) Memorial do Convento, do português José Saramago, foi lido por 4.046 skoobers.
E um monumento literário como "A República dos Sonhos" foi lido por apenas 150 skoobers. O fato de se tratar de uma obra volumosa (736 páginas, na edição que tenho aqui) sem dúvida pode desencorajar alguns leitores, mas não explica esse resultado. Consultei outros livros da escritora e "A República dos Sonhos" é o livro mais lido dela, no skoob. Parece que a escritora - fora de determinados nichos - não é mesmo tão conhecida.
Vi um bate-papo recente da Nélida Piñon com o Professor João Cezar de Castro Rocha, em que ela diz a ele que sua obra nunca foi bem compreendida no Brasil e que ela sempre foi mais reconhecida no exterior do que por aqui.
Esse romance - "A República dos Sonhos" - precisa ser redescoberto, precisa ter sua posição consolidada como uma das grandes obras da literatura brasileira, precisa ser lido. Já ganhei uma leitora pra esse livro. Vendo o meu entusiasmo com ele, minha esposa já entrou na fila e está ansiosa para lê-lo. Fica a minha "propaganda" - e perdoem a veemência - também aqui na Valinor: vamos ler Nélida!
Na mesma conversa com o Professor João Cezar de Castro Rocha, a Nélida disse que com o novo romance que ela acaba de publicar - Um dia chegarei a Sagres - ela acredita finalmente ter escrito um romance da estatura de "A República dos Sonhos". Já comprei o meu exemplar, que está pra chegar essa semana ainda. E também comprei um terceiro livro da Nélida pela Estante Virtual - "A Casa da Paixão".
Aparentemente, a Lygia Fagundes Telles ganhou uma rival na minha estante.
