Bem, dando continuidade à análise do paralelismo entre a mitologia de Tolkien com os elementos bíblicos, gostaria de analisar um dos pontos mais importantes do Legedarium: As Silmarills. Eram basicamente três brilhantes jóias feitas de uma substância cristalina e que Feanor tinha "enchido"/aprisionado com a luz das duas árvores, Laurelin e Telperion. Destarte, essas três preciosidades foram considerados um dos objetos mais valiosos de toda Arda e dos mais enigmáticos/misteriosos quanto a sua feitura, haja vista (penso eu) que nem mesmo o artífice Aulë fora capaz de descobrir o seu segredo de fabricação, já que tal obra partiria da própria essência do filho de Finwë, vide a análise feita por Ilmarinen neste ótimo texto:
http://www.duvendor.com.br/portal/index.php?
Mas, quais (outros) elementos poderiam ter inspirados Tolkien na elaboração deste conceito? Ora, o conceito de uma gema luminosa-armazenadora de um grande e imensurável "conhecimento"/essência (vide o texto linkado) também é encontrada numa das lendas hebraicas que mencionam uma pedra denominada
Tsohar. Vide:
http://www.jweekly.com/article/full/4275/noah-finding-light-in-shadow-of-darkness/
No folclore judaico, o Tsohar constituía uma pedra luminosa detentora da
luz primordial da criação¹, e Aqueles que possuíam tal objeto adquiriam não só iluminação (no sentido físico-material), mas acessavam também os segredos da palavra de Deus (no caso em comento é uma referência à inspiração divina responsável pela elaboração do Torá) e muitos poderes misteriosos advindos de tal conhecimento. A lenda fala que Deus confeccionou tal peça, mas que, em seguida, a escondeu para que somente os "justos" pudessem ter um acesso exclusivo, à exemplo de quando o anjo Raziel entrega a gema à Adão após sua queda, sendo que este repassara tal dádiva à seus descendentes.
Outro episódio que remete ao uso de tal artefato ocorre quando Noé ilumina a Arca com esta luz primeva. Na descrição do dilúvio do Gênesis, há uma referência em Gênesis 8:6, onde a palavra hebraica "challon" é utilizada no sentido de indicar "abertura", ou seja, referindo-se à janela através da qual Noé soltou os pássaros. A outra referência, no entanto, utiliza uma palavra diferente - tsohar - que é traduzido como "janela", mas não significa janela ou abertura. Onde ele é usado, o seu significado pleno é dado como "brilho; um brilho, a luz do sol do meio-dia." Há quem identifiquem o "Tsohar" como "uma luz que tem sua origem em um cristal brilhante." A tradição hebraica descreveu o tsohar como uma jóia enorme ou pérola que Noé pendurou nas vigas da arca, e que, por algum poder contido dentro de si, iluminou o navio inteiro durante toda a saga do Dilúvio.
Destarte, em meio a todas as "armadilhas climáticas" e as "tribulações" decorrentes de tal hecatombe (o dilúvio bíblico), creio que um dos paralelos mitológicos presentes na obra de Tolkien decorra de um elemento (aparentemente) comum com a história de Eärendil, que possuía uma das "gemas do conhecimento" e a utilizou para escapar de todas as
armadilhas e barreiras advindas do véu de sombras que cobriam os mares adjacentes à terra abençoada, e assim como Noé, teve um papel vital para livrá-los de episódios de destruição (na bíblia com o dilúvio, e no Silmarillion com a loucura niilista de Melkor, e que, coincidentemente ou não, encheu a terra com tanta iniquidade, morte e pecado, que Beleriand acabou por ser "inundada", de forma este passado de maldade fora "erradicado"; tal elemento, creio eu, é (parcialmente) semelhante com os intentos primordiais da catástrofe bíblica. Enfim, este ponto é passível de debate):
¹
Salve, Eärendil, portador da luz anterior ao Sol e à Lua! Esplendor dos Filhos da Terra, estrela nas trevas, jóia no por-do-sol, radiante na manhã.
- Da Viagem de Eärendil e da Guerra da Ira - pag. 317.
Ademais, o conto do Tsohar descreve que Abraão também possuía tal pedra, e que uma vez em sua posse, a utilizava para curar e "abençoar" a tudo e a todos. Interessante é que o próprio Silmarillion retrata essa outra propriedade curiosa, na seguinte passagem:
Menos ainda enquanto Eärendil, seu senhor, estava em viagem, pois tinham a impressão de que na Silmaril residiam a cura e a benção que cobriam suas casas e embarcações
- Da viagem de Eärendil e da Guerra da Ira - pag. 314.
E assim como no conto de Eärendil, o folclore do Tsohar dita que Abraão se encaminhou para o firmamento/céu e lá utilizava-se de tal dádiva. E coincidentemente ou não, ambos os personagens seriam as figuras primevas e que originariam grandes nações.
Destarte, o estudo etimológico do termo "tsohar" inclui: Tsor (uma pedra; à beira de uma espada ou faca para cortar/moldar uma peça preciosa); tsoorah (algo que constitui uma forma); tsachar (algo intensamente branco/brilhante ou ensolarado); e, por fim, o termo "tsoot" (algo que queima). Neste sentido, o paralelismo com as Silmarils torna-se ainda mais destrinchado com as características de tal artefato, haja vista que a obra de Feanor também era uma pedra preciosa, com um forte brilho branco e que, literalmente, brilhara tão intensamente como o sol do meio-dia.
Imperioso ressaltar, por oportuno, que o estudo dos escritos originais da língua hebraica no Gênesis 6:16, revela que o texto não descreve a criação de uma "janela" ou/e uma "porta"/portinhola, mas sim a instalação, não só de uma, mas três tsohar, uma para iluminar cada um dos três pavimentos da arca - exatamente o mesmo número de Silmarills criadas por Fëanor.
Estranhamente, há um antigo manuscrito hebraico intitulado "A Rainha de Sabá e seu único filho Menyelek", traduzido por Sir EA Wallis Budge, que contém a seguinte declaração: "Como a Casa do Rei Salomão
foi iluminada como o dia, na sua sabedoria, ele fez brilhar pérolas que eram semelhante ao sol, a lua e as estrelas no telhado de sua casa." Em vista disso, não é surpreendente que o próprio Salomão escreveu certa vez: "
... não há coisa nova debaixo do sol. Existe alguma coisa que se possa dizer: Vê, isto é novo? Ela já existiu nos tempos antigos que era antes de nós." (Eclesiastes 1:9-10). - Ou seja, artefatos reluzentes que se perderam nos tempos antigos e que nunca mais serão encontrados. É bem parecido com algo que já lemos:
...e sabiam que essas pedras não poderiam ser encontradas ou reunidas novamente..
- Da Viagem de Eärendil e da Guerra da Ira - pag. 324.
Assim sendo, vale citar um fato curioso e que acredito que haja um paralelismo na obra de Tolkien: As visões do lendário profeta e vidente Edgar Cayce (
http://en.wikipedia.org/wiki/Edgar_Cayce). Em suas visões da antiga Atlântida, e do mundo antediluviano, Cayce fazia menções frequentes de antigas e misteriosas pedras que ele denominava "Firestones". Eram essencialmente pedras enormes, possivelmente cristais de quartzo que foram cortados em formas hexagonais, tendo a capacidade de brilhar com uma intensa luz branca. E os detentores "dessas pedras de fogo" tinham a capacidade não só de se comunicar com o mundo espiritual, mas podiam se aproveitar das propriedades "energéticas" de tais artefatos, a fim de trazer cura ou luminosidade.
he Three Jewels are:
Buddha Sanskrit, Pali: The Enlightened or Awakened One; Chn: 佛陀, Fótuó, Jpn: 仏, Butsu, Tib: sangs-rgyas, Mong: burqan Depending on one's interpretation, it can mean the historical Buddha (Shakyamuni) or the Buddha nature—the ideal or highest spiritual potential that exists within all beings;
Dharma Sanskrit:The Teaching; Pali: Dharmam, Chn: 法, Fǎ, Jpn: Hō, Tib: chos, Mong: nom The teachings of the Buddha.
SanghaSanskrit, Pali: The Community; Chn: 僧, Sēng, Jpn: Sō, Tib: dge-'dun, Mong: quvaraɣ The community of those who have attained enlightenment, who may help a practicing Buddhist to do the same. Also used more broadly to refer to the community of practicing Buddhists.[1]
Em suas "visões" Cayce passava a maior parte do seu tempo descrevendo como tais cristais "trabalhavam", basicamente absorvendo a luz do sol, a lua e das estrelas, e convertendo-as em enormes quantidades de energia que eram usadas pelos antigos atlantes para uma variedade de usos, fornecendo energia para tudo, desde veículos terrestres, até aeronaves, navios e aparelhos domésticos comuns. Neste sentido, vale citar:
http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=104987
Da tecnologia Númenoreana e sua força aérea (hã?)
Bem, primeiramente gostaria de desejar a todos os membros um ótimo feriado. Começo com este tópico falando da minha surpresa e alegria em encontrar certos escritos do Professor no que tange ao esplendoroso avanço da civilização Númenoreana. Destarte, gostaria de analisar com vocês a seguinte citação que encontrei em minha busca por mais informações relacionadas à Númenor:
"Of old many of the exiles of Númenor could still see, some clearly and some more faintly, the paths to the True West; and they believed that at times from a high place they could descry the peaks of Taniquetil at the end of the straight road, high above the world. Therefore they built very high towers in those days, and their holy places were upon the tops of mountains, for they would climb, if it might be, above the mists of Middle-earth into the clearer air that doth not veil the vision of things far off.
"But ever the number of those that had the ancient sight dwindled, and those that had it not and could not conceive it in their thought scorned the builders of towers, and trusted to ships that sailed upon the water. But they came only to the lands of the new world, and found them like to those of the old and subject to death; and they reported that the world was round. For upon the straight road only the gods could walk, and only the ships of the elves could journey; for being straight that road passed through the air of breath and flight and rose above it, and traversed ilmen in which no mortal flesh can endure; whereas the surface of the earth was bent, and bent were the seas that lay upon it, and bent also were the heavy airs that were above them.
Yet it is said that even of those Númenóreans of old who had the straight vision there were some who did not comprehend this, and they were busy to contrive ships that should rise above the waters of the world and hold to the imagined seas. But they achieved only ships that would sail in the air of breath. And these ships, flying, came also to the lands of the new world, and to the east of the old world; and they reported that the world was round. Therefore many abandoned the Valar and put them out of their legends. But men of Middle-earth looked up with fear and wonder seeing the Númenóreans that descended out of the sky; and they took these mariners of the air to be gods, and some of the Númenóreans were content that this should be so." (HISTORY OF MIDDLE EARTH 9, THE DROWNING OF ANADÛNÊ, 338-9)
Da leitura dos dois últimos parágrafos dessa citação fiquei intrigado, pois com a leitura que fiz no akallabêth, entendi que os exilados dessa grande civilização fizeram o importante feito de realizarem navegações que circundavam a Arda recém arredondada. Mas pelo trecho acima transcrito, percebe-se que Dúnedain foram mais longe ainda, pois, por dedução, eles conseguiram construir "literalmente" aeronaves ou aviões que chegavam até os limites da nossa atmosfera (até a estratosfera?), só não conseguindo chegar ao "vácuo" do espaço tão somente (creio eu) por não estarem providos dos conhecimentos tecnológicos de trajes espaciais etc.
Ora, fazendo uma leitura meio que "ficção científica", sempre imaginei, por exemplo, que Vingilot, após ser abençoada e "trabalhada" pelos Valar, veio adquirir feições e capacidades de um verdadeiro "UFO", não só uma nave espacial que voava além das galáxias, mas também uma nave que (agora extrapolando) conseguia "navegar" em regiões eivadas de "anti-matérias" ou até mesmo em regiões do universo que ainda estavam se formando (teria sido uma referência ao "oceano" de expansão que o universo ainda "sofre" hoje em dia?), vide o escrito: "Muito viajou ele (Eärendil) naquela embarcação, penetrando mesmo nos vazios desprovidos de estrelas" (O silmarillion - pag. 318).
Enfim, tenho que confessar que nunca imaginei que esses Atlantis pudessem realizar tal proeza, ainda mais em aeronaves que beiram até os limites da reentrada atmosférica (poxa, mesmo atualmente não são todos os aviões que chegam à essas altitudes).
Gostaria de analisar esse escrito, e discutir o que seriam esses "navios voadores" dos Númenoreanos, sei lá, seriam alguma espécie de Dirigível, avião?
Atenciosamente. E obrigado.
Sem dissentir:
Falando nisso olhem esse livro google books aí
Capítulo sobre as Aeronaves atlantes num livro de 1911
E só um acréscimo pra não dar confusão Ragnaros. Os textos incluídos em HoME V NÃO SÃO uma versão prévia não editada por Christopher Tolkien do Akhalabêth, são versões de textos independentes cuja "fabric" foi canibalizada por Tolkien ao compor o texto do Akhalabêth quase trinta anos depois. O Lost Road e seu complexo de textos não é o Akhalabêth numa versão primitiva; ele só contém elementos que Tolkien iria usar mais tarde.
Quem consolidou a imagem da Atlântida tecnológica foi Ignatius Donnely nesse livro aí, a Atlântida dele é a do desenho da Disney. Detalhe, Donnelly que foi inspiração pra Teosofia da Blavatsky era filho de imigrante irlandês pras Américas.
In 1882, Donnelly published Atlantis: The Antediluvian World, his best known work. It details theories concerning the mythical lost continent of Atlantis. The book sold well, and is widely credited with initiating the theme of Atlantis as an antediluvian civilization that became such a feature of popular literature during the 20th century and contributed to the emergence of Mayanism. Donnelly suggested that Atlantis, whose story was told by Plato in the dialogues of Timaeus and Critias, had been destroyed during the same event remembered in the Bible as the Great Flood. Citing research on the ancient Maya civilization by Charles Étienne Brasseur de Bourbourg and Augustus Le Plongeon, he believed it had been the place of a common origin of ancient civilizations in Africa (especially ancient Egypt), Europe, and the Americas. He also thought that it had been the original home of an Aryan race whose red-haired, blue-eyed descendants could be found in Ireland. Donnelly's theories about the location of Atlantis as a large land mass in the Atlantic Ocean and its destruction by sinking were eventually discarded with the advent of the theory of plate tectonics in the late 1960s. However, they fueled the imagination of many individuals, among them Helena Blavatsky, Rudolf Steiner, James Churchward, Edgar Cayce, and Graham Hancock. The themes in his book are echoed by the plot of the 2009 film 2012 directed by Roland Emmerich.
Detalhe: a Blavastksy acreditava que o druidismo céltico era um resíduo das crenças da Atlântida levada por refugiados da Catástrofe pro continente europeu ( como mostrado no background de As Brumas de Avalon). Como as lendas dos Tuatha falam que a magia deles era "druídica" e eles eram um dos antepassados míticos do povo gaélico, celtas irlandeses, cuja religião era o druidismo, a inferência que Tolkien deve ter feito é que os navios voadores dos Tuatha foram a inspiração mítica-legendária pras aeronaves atlantes da HPB.
Aliás é bem capaz que ela mesma tenha dito isso explicitamente na Doutrina Secreta ( se não disse, falou coisa bem próxima, o bastante pro Abraham Merrit deduzir o mesmo que eu disse que Tolkien deduziu. E Tolkien, provavelmente, leu A. Merrit tb, uma vez que o equivalente "atlante", feiticeiro sumo-sacerdote corruptor de uma civilização "atlanchi", do Merrit "Nimir" é um nome que Tolkien adaptou pra sua mitologia pra se referir aos elfos como "brilhantes" em adunaico.
Wikipedia-The Face in the Abyss-1931
Outside of science, one other aspect of FIA really caught my attention: the rough similarity between elements of Merritt's tale and Tolkien's masterwork, The Lord of The Rings. I was first struck in Merritt's tale by the "Fellowship", an eclectic band of resistance members who gather together to decide the best course for defeating the evil Nimir. Nimir himself, an incorporeal shadow who manipulates his servant Lantlu and wages massive battles from behind the scenes, sounds a lot like Sauron. An immortal race of beings, once wise and powerful but now dying out and rather corrupted, sounds a lot like Tolkien's tale of the elves. Graydon, much like the Hobbits, in LOTR, is sent late in the novel on a mission into the heart of the Lord of Evil's lair, and the entire war hinges upon his success.
On the other hand, in a less tentative analysis, the name Vanyar may be related with the etymology of elf. Tolkien was obviously aware that elves were traditionally believed to be fair (beautiful) creatures, but moreover he should have known that the word elf itself was thought to originally mean "fair" in the sense of "light colored, white," as commented on above. Thus, it is possible that the name of the first kindred of Elves had been inspired by that idea. This theory is further supported by the generic name by which Men referred to Elves in Adunaic: Nimir, which stands for "the Beautiful" (WJ 386), but literally meant "the Shining Ones," from the verb NIMIR "shine" (Sauron Defeated 358, 416). (10) It is told that they were so named because "they were exceeding fair to look upon, and fair were all the works of their tongues and hands." But all those Adunaic words seem to be clearly connected to the Sindarin term nim ("white"), occurring in names like Nimloth ("White Flower"), Ered Nimrais ("White Mountains"), etc. (Sil. 438). This means that the pattern of a noun that etymologically means "white, light-colored," but is used to mean "beautiful" or to refer to fair beings, is not only common to Vanyar and the hypothetical history of the word elf, but also to the history of Nimir, the generic Adunaic name for Elves.
E, considerando que o vilão sobrenatural de livro anterior do Merrit, The Moon Pool, era justamente chamado Shining One... A impressão que dá é que Tolkien pegou o nome do segundo e combinou com o significado do primeiro pra batizar os elfos nessa acepção dos nomes inventados por ele em numenoreano justamente o idioma "atlanchi"...
Poderiam ter os Númenorianos criado artefatos que "imitassem" (parcialmente) essa propriedade "reveladora" que permitiu Eärendil chegar ao reino abençoado em Vingilot? Se sim, essa é uma das explicações mais "completas" para explicar como os "Atlantis" puderam invadir Valinor, não obstante o véu de sombras e armadilhas que cercavam tal reino.
Por fim, JF Sutton fornece as citações relevantes de Cayce em seu excelente artigo, "The Atlantean Tuaoi Stone Revisited" (
http://en.wikipedia.org/wiki/Three_Jewels) onde Cayce em suas visões explica o que viu através dos olhos dos antigos cientistas-sacerdotes que eram responsáveis pela criação e manutenção dos cristais gigantes de energia conhecidos como as Pedras de "Tuaoi" ou "Firestones"; neste sentido:
Neste caso, pergunta-se. E como eles conseguiram desenvolver tal conhecimento? Já possuíam antes? Alguns podem pensar que a base científica fora desenvolvida em Númenor (algum conhecimento de Aulë ou algum servo seu), mas somente com a queda da ilha os exilados "trabalharam" ainda mais o conceito, pois queria atingir a rota dos "deuses". Sou da opinião (pode ser absurda) de que esse conhecimento possa ter vindo da seguinte passagem:
"Pois os dúnedain consideravam que até os homens mortais, se tivessem esse dom, poderiam contemplar outras épocas que não fossem as da vida de seus corpos."
De início, considero tal passagem como sendo a capacidade desses homens de vivenciarem fatos e lugares do passado, em sua maioria no passado, (uma espécie de viagem "tempo-espaço"?), entretanto, num exercício de imaginação (extrapolação?), teriam tais homens feito esta "viagem mental à outros tempos"? Teriam eles tido contato com os conhecimentos espaciais-tecnológicos-aeronáutica nos tempos modernos?
Seria esse dom algo "análogo/parecido/remetente à habilidade dos Ainur de vislumbrar/prever épocas e fatos, em razão da grande música?
É. É uma exercício de imaginação.
Por fim:
Tolkien, de fato, achava que os sonhos recorrentes que ele e Christopher, que também os teve uma vez, ligados ao "complexo de Atlântida", eram alguma coisa misteriosa; a ligação da versão ficcionalizada disso com o conceito de reencarnação ou memória genética incluída em Lost Road (HoME V) e Notion Club Papers (HoME IX) é algo, no fim, sugerido pela inferência deixada em aberto no texto, que ambos os conceitos são a base pra metafísica da coisa.
Se o Lost Road e, ainda mais, o Notion Club Papers contêm material autobiográfico ficcionalizado, é uma dedução razoável, sim, supor que Tolkien podia COGITAR explicações "espiritualistas" pro fenômeno já que isso é indicado pelas narrativas.
Agora até onde isso refletia na relação que Tolkien tinha com a noção de não adequação da idéia de reencarnação ou de viagem astral através do tempo para corpos de antepassados* e a ortodoxia católica é outra questão mais complexa de responder.
*base pras teorias de JW.Dunne que parecia ser um teosofista "no armário" que, comprovadamente, influenciaram Tolkien como tratado no livro A Question of Time da Flieger.Tolkien tinha o livro do Dunne, An Experiment with Time e o recheava de comentários)
Para mim, parece lógico e aceitável inferir que Tolkien PODIA achar que as idéias proeminentes do cânone católico/cristão-ortodoxo contemporâneo não se aplicavam universalmente para TODOS OS HOMENS em TODOS os lugares da vasta extensão do Espaço-Tempo (coisa dita por Lewis de forma ficcionalizada em That Hideous Strenght) e que, portanto, as idéias de reencarnação e de julgamento do espírito mais tardio com uma única encarnação terrena podiam, afinal, coexistir e se aplicar para grupos diferentes de pessoas ou crentes. Isso é a metafísica incluída,por exemplo, nas idéias "cabalísticas" da obra do Neil Gaiman, e Gaiman foi influenciado por Tolkien e por Lewis e recebeu até um agradecimento de Christopher Tolkien em HoME IX por ter achado uma explicação pra referência obscura no texto de JRRT.
Mas isso é especulação pessoal minha nada mais.