Liurom disse:
Primula disse:
Exatamente... Ficamos limitados a leitor de um tipo de livro só... isso quando não é de um autor só.
Concordo. Mas por que isso acontece? Na minha opinião, a aversão pela leitura, como o gosto pela leitura, é algo que se constrói. Nesse processo, tem importância o próprio indivíduo, a família e a escola. Vou falar apenas desse último fator, para não fugir do tópico.
Olá "Boris Casoy".
Vamos por partes...
Sim, temos de construir o gosto pela leitura. Acho que o primeiro passo é tirar o vício de muitos professores de proibir de trazer Histórias em Quadrinhos para a classe (ler durante a aula é outra coisa!)
No entanto, como você disse é apenas um passo, o primeiro. Os subsequentes tem de ser feitos também, não importa se o aluno diga "ah, o livro é chato".
No Brasil, a escola freqüentemente falha em sua missão, que é, na minha opinião, acima de tudo incutir nas pessoas o gosto pela leitura. Ora, se a pessoa não ler necessariamente os clássicos na escola, mas adquirir o hábito da leitura, é muito provável que ela acabe lendo os clássicos em um momento futuro de sua vida, não acham?
Não necessariamente. Como discuti no tópico HPotter, incutir o gosto de UM TIPO de leitura pode ser tão danoso quanto. Exemplo: leitura de Sabrina, Bianca, mas não ter paciência de ler Duna, Fundação, SdA...
A missão da escola não é pura e simplesmente incutir o gosto pela leitura. É oferecer ao futuro cidadão ferramentas que ajudem a entender o mundo ao redor, desenvolver senso crítico ("esse cara tá me engabelando ou é impresão minha?"), fornecer ferramentas que o auxiliem no processo no futuro.
UMA das ferramentas é a língua. Outra é a matemática. História. Artes. Educação física.
No passado (e hoje) simplesmente despejava-se o conteúdo para o aluno assimilar (como se fosse uma pasta de arquivos). A informação por si só, tem dois lados: pode ser bom pois não vem incutido de opiniões e o aluno forma a sua própria, ou pode também tornar o aluno um mero catalogo de informações (se ele não tem tempo de refletir sobre a informação, ele aceita aquilo como verdade absoluta).
Esse método gerar pessoa que só leem romances do tipo Sabrina, Bianca, mas não acho que deixar ler o que as pessoas querem ler vá alterar esse quadro. Como disse, uma coisa é o primeiro passo, outra é ficar dando o primeiro passo infinitamente.
Mas se, ao contrário, a escola obrigar o aluno a ler obras, que apesar de seu valor inegável, seriam consideradas muito chatas por um adolescente mediano é bem possível que:
1. o aluno não entenda o livro além do enredo superficial, deixando de apreender diversos significados que ficam ocultos ao leitor despreparado;
Agora você me deixou confusa... se o enredo é superficial, o livro é muito fácil de ler, do tipo que uma ameba conseguiria entender. Mas se há significados ocultos então que diabos de livro é esse?
2. não consiga encontrar prazer na leitura;
Tome cuidado com uma coisa. Queremos que o aluno torne-se agente. Não temos que tornar tudo agradável ao aluno, sabe? O professor não é show-men para isso.
Parte do processo educacional é exatamente o desafio. O desafio de descobrir por si mesmo.
Precisa mesmo lembrar de tudo? (tm Sherlock Holmes)
4. (e o mais grave) tome verdadeira aversão pela leitura, e leia muito pouco durante o resto de sua vida.
Uma observação... os adolescentes de minha época são os adultos de hoje. A aversão não precisa se manter: eles perceberam que perderam a chance e vêem a leitura não com aversão, mas como se fosse um deus, algo inatingível para eles.
Para muitos, ler uma revista Veja ou Isto é está além das capacidades deles. "eu sei onde é meu lugar"
Mas a adoração pela leitura pode ser verificada pelo fato de comprarem inúmeras revistas frívolas, como Caras (só figuras), Agora, etc., onde a linguagem é mais acessível.
Como disse o mestre Freire, mesmo nestes casos a alfabetização é possível. E deve-se levar em conta o mundo que cerca esse analfabeto.
É isso que infelizmente acontece com muitos adolescentes e é por isso que o Brasil tem uma média vergonhosa de livros lidos por habitante por ano, como Prímula mencionou. Se não me engano, a média está próxima de três livros por habitante (incluindo os livros didáticos). Uma vergonha.
Sim, mas melhorar isso não devemos esquecer que o gosto pela leitura não pode ser apenas com o que eu gosto de ler...
Porque é chato que é importante ele ler... As notícias importantes de um jornal (que impedem que o jovem se torne mais um "cara-pintada" manipulado pelas mídias e propagandas para derrubar um Collor de Mello que a mesma mídia ajudou a eleger) são chatas.
Um contrato de trabalho é chato...
Uma confissão de um crime que não cometeu tem um monte de cláusulas chatas...
As leis são chatas...
Um monte de coisa é chata, mas ignorar isso é abrir mão da sua cidadania.
De certa forma, o único problema do sistema atual é que os professores querem que os alunos desenvolvam o gosto pela leitura a partir do 5o. ano de estudo. Não começamos com livros de figuras simples, mas com "para gostar de ler" e coleção vaga-lume.
Que são perfeitos para a idade...
Mas então porque tanta gente não consegue ler esses livros ao entrar no 5 ano de estudos?
Bem, isso me lembra meu amigo Maki falando do curso de inglês que ele frequenta... todos dizem que ele devia estar vários níveis acima, que ele sabe muito e não devia estar com eles...
Na verdade, Maki me disse "será que não passa pela cabeça deles que eu estou no nível certo, mas eles é que não aproveitaram nada dos níveis anteriores?"
Então o que temos? Um monte de gente "passando de ano", mas com praticamente zero de aproveitamento de estudos... Em poucas palavras, tem gente que passa de ano por obrigação, mas não percebe que cada ano que eles não aproveitam o pouco estudo que tem (pois mesmo escolas particulares estão virando piada... novamente!), simplesmente passam pelas escolas em brancas núvens...
O que preferem? "Aproveitar a vida" muitos dizem.
Carpe diem errôneo onde aproveitar a vida é pura e simples diversão.
Resultado? Como disse, a pessoa se nega conhecimento que os ajudariam em suas vidas adultas no futuro.
Mayoros fez uma excelente analogia em termos de vida sexual... Uma pesquisa mostrou que as pessoas "caretas" tem melhor vida sexual depois dos 30 anos. Mas porque?
Porque ao fazer precocemente (aproveitar a vida, lembram?) muita gente acaba por (ups) engravidar, tendo de assumir responsabilidades antes mesmo de ter uma profissão... acabam por ter de arranjar empregos (leia-se sub-empregos) para sustentar a família precoce. Quando chega aos 35 já tá acabado e a vida sexual virou uma lástima (frustração, preocupações financeiras, aluguel, etc.)
Enquanto o "careta" porque se preocupou com outras coisas além de "ficar adulto sexualmente falando mais depressa", normalmente tem melhor qualificação, pois não pulou passos. Normalmente terá um bom emprego, e é financeiramente independente. Uma pessoa assim pode e tem condições de manter uma vida sexual melhor que um cara que saiu correndo na frente.
Em termos de escola e educação é a mesma coisa. A pessoa precisa ler livros que não gosta? Não precisa, mas é melhor... A pessoa precisa estudar para ter sucesso na vida? Não, mas fica mais fácil se tiver algum conhecimento para se virar... A pessoa precisa se guardar sexualmente? Não, todos os meus colegas que viraram mamãe/papai aos 18 anos (sendo otimista) hoje em dia são balconistas e ganham menos de um salário mínimo.
Isto te ajuda um pouco Urd...?