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Clube de Leitura 3º livro: Senhora - José de Alencar

Na mosca! Comprei hoje o livro e foram exatos R$ 5,00.
Uma dúvida que surgiu, apenas consegui uma edição que o jornal ZH lançou, faz diferença? É ruim?

Eu acho que não, Arringa.
Só procure ver se é texto integral, e nessas coleções costuma ser sim, até porque este livro é curto, tem bem menos de 200 páginas. :yep:

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Gente, já tem cronograma.

Pra ficar fácil a divisão ficou por partes mesmo, cerca de 32 páginas por semana, bem fácil, né?

Até porque sei que o Spartaco tem gente que vai ler tudo bem antes. :lol:
 
Senhora é uma das últimas obras escritas por José de Alencar; trata-se de um romance urbano, publicado em 1875, na forma de folhetim.

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José de Alencar.webp

Na narrativa, o autor mostra a hipocrisia da sociedade fluminense durante o Segundo Império. Através do romance entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas, ele leva o leitor a refletir a respeito da influência do dinheiro nas relações amorosas e, principalmente, sua influência nos casamentos da época. O romance divide-se em quatro partes, que correspondem às etapas de uma transação comercial: Preço, Quitação, Posse e Resgate.

Fonte: Wikipédia
 
Última edição:
Então, terminei a primeira parte.
Faz bastante tempo que li esse livro, me lembro da história mas não dos detalhes e esses me fizeram recordar o motivo de eu ter tanta antipatia pelo José de Alencar.

Gente, o que são aquelas descrições que o homem faz!

"perfeição estatuária do talhe de sílfide"; "arfar ao suave influxo do amor"; "virgem bacante"; "como a alva papoula que se cora aos beijos de seu real amante"...

Algumas são engraçadas de tão pernósticas:

"órgão da palavra viril" (a boca de um homem);
"toalhas de papel com que a civilização enxuga a cara ao público todas as manhãs" (o jornal! :lol: )

Mas tudo bem, deixo de ser chata e credito essa baboseira toda ao romantismo do qual o escritor era representante; o problema é que existem passagens e palavras que eu simplesmente não entendi.
"Maganão" por exemplo (que é como o Lemos várias vezes chama o Fernando Seixas), não tem no dicionário.
Imagino, por dedução, que seja algo tipo "garotão", talvez até "cachorrão" (ou mesmo o "véi" dos manos de hoje.).

Em uma passagem eu não entendi nada, talvez alguém aqui tenha uma edição comentada que explique algumas referencias.
Esse trecho está no capítulo II, é o último parágrafo do capítulo, quando Aurélia conversa com a D. Firmina. A moça está meio nervosa, conversando com a senhora sobre seu futuro e passado e senta na conversadeira e logo em seguida levanta, impaciente, e aí vem o trecho:

Entretanto ela com a mesma volubilidade que a tomara ao erguer-se da conversadeira, correu para D. Firmina, travou-lhe do pulso fazendo-a de Polião, e deu imediatamente um jeito cômico à cena que terminou em risadas.

Por que ela correu pra D. Firmina? O que é fazer alguém ou algo "de Polião"? E por que isso foi tão engraçado?

Mas bem, tirando isso tudo, é bem bacana mesmo a personagem da Aurélia.
Principalmente se compararmos (e isso é inevitável) com as mongas irmãs do Fernandinho Seixas.

Fernandinho Seixas... mas que grande babaca, hein? :no:

Não dá pra entender o que a fodona da Aurélia viu naquele cara.
Se fosse um romance dos dias atuais eu diria que o moço tem mel na p**a, mas acho que não é o caso em se tratando de uma "virgem bacante" como a Aurélia, segundo nosso querido Zé de Alencar. =/

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Ai, agora que vi que a Arringa gostou do jeito do Zé escrever. :lol:

Já terminei a primeira parte.
Gente, paixonei pela forma como Alencar escreve. :amor:

E vocês não acham que o Fernandinho-coxinha-Seixas foi inspirado no próprio escritor?
Tipo, olha os retratos que o Spartaco colocou no post com informações do autor:


Era um tipão ele, hein?
Devia fazer sucesso entre o mulherio da época. :yep:
 
Última edição:
Ainda não terminei a primeira parte; mas, até agora, estou gostando.

Em uma passagem eu não entendi nada, talvez alguém aqui tenha uma edição comentada que explique algumas referencias.
Esse trecho está no capítulo II, é o último parágrafo do capítulo, quando Aurélia conversa com a D. Firmina. A moça está meio nervosa, conversando com a senhora sobre seu futuro e passado e senta na conversadeira e logo em seguida levanta, impaciente, e aí vem o trecho:


Por que ela correu pra D. Firmina? O que é fazer alguém ou algo "de Polião"? E por que isso foi tão engraçado?

Quanto ao trecho que a Clara mencionou, deve ser compreendido com um trecho anterior que diz:

Depois de saturar-se de sol como a alva papoula, que se cora aos beijos de seu real amante, a moça dirigiu-se ao piano e estouvadamente o abriu. Dos turbilhões da estrepitosa tempestade cromática, que revolvia o teclado, desprendeu-se afinal a sublime imprecação da Norma, quando rugindo ciúme, fulmina a perfídia de Polião.

Pelo que entendi, ela interpretou no piano uma ária da ópera Norma de Bellini, quando tem um atrito com Pollione, seu amante no enredo operístico, devido ao ciúme; no entanto, Aurélia deu à cena uma interpretação exagerada e, daí, acabaram rindo as duas. Foi o que eu achei.
 
Pelo que entendi, ela interpretou no piano uma ária da ópera Norma de Bellini, quando tem um atrito com Pollione, seu amante no enredo operístico, devido ao ciúme; no entanto, Aurélia deu à cena uma interpretação exagerada e, daí, acabaram rindo as duas. Foi o que eu achei.

É, faz sentido mesmo Spartaco.
Ela exagerou de propósito, pra ficar engraçado. :yep:
Eu que não fiz a ligação entre um trecho ao outro.
 
Gente, o que são aquelas descrições que o homem faz!

Ai, agora que vi que a Arringa gostou do jeito do Zé escrever. :lol:
Não sei, sempre gostei desses livros que buscam descrições diferenciadas. Em suma, toda descrição desse livro me arranca risadas, mesmo as vezes, quando acaba sendo algo um tanto forçado na descrição, como as que tu citou, ainda assim, acabo por rir. rsrs
Não dá pra entender o que a fodona da Aurélia viu naquele cara.
Se fosse um romance dos dias atuais eu diria que o moço tem mel na p**a, mas acho que não é o caso em se tratando de uma "virgem bacante" como a Aurélia, segundo nosso querido Zé de Alencar. =/
Um fato de insensatez foi ela escolher Seixas,
Fico lendo e relendo, tentando captar o que o Seixas tem e que eu tenha deixado escapulir. Com todo senso crítico, avaliativo e opinativo que Aurélia vem demonstrando, por que ela escolhe logo ele? Por que não escolher alguém mais manipulável? considerando que ela trata amor com razão, e por que não escolher alguém distante do seu passado? :think:

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O que achei estranho (nem sei se encaixa-se como estranho, pouco lembro sobre romantismo), mas a mulher, no romantismo, ela não é mais voltada as futilidades domésticas, um ser sem opinião, pouco pensante, quase uma decoração ao homem, um adorno?
Aurélia não é assim e no entanto, ela não é tratada de forma ( a palavra "desdem" não se encaixa, mas é o caminho do que quero dizer) diferente, não é mal vista pela sociedade, tanto que muitos homens a queriam.

Claro, ela toma certo cuidado para quem demonstra essa ligeireza que tem na compreensão das coisas e sociedade, mas ainda assim, aceitam ela bem demais para uma sociedade onde mulher deveria ser o anjo prostrado na casa e servir de alicerce à pureza e moral.

Esse detalhe é intencional, por quê? (Não sou boa em interpretar livros a fundo, gentem, então expliquem.)
 
Acabei de ler a primeira parte do livro e achei bem interessante. Estou começando a ler agora a segunda parte, onde conhecemos o que aconteceu com os pais da Aurélia.
 
Gente... fui na Cultura, o livro indicado é da Cia da Letras - Preço: R$ 27,00 - Número de páginas: 336
ISBN: 856356059X - ISBN-13: 9788563560599
Idioma: PORTUGUÊS - Encadernação: BROCHURA - Dimensão: 20 X 13 cm
Edição: 1° - Ano de Lançamento: 2013 - Peso: 0,32

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Procurei uma edição que não me deixasse a ver navios, já que, só minha amizade irrestrita e carinho pelos colegas, me fazem olhar para o passado brasileiro. Daí FUI A SARAIVA.

A Coleção de bolso da Saraiva tem Biografia, introdução e notas: M. Cavalcanti Proença, necessários para eu me situar. Com 296 páginas, bem longe das 190 que o pessoal está falando no tópico. R$12,00 - nos dias 9, 19 e 29 tem 20% de desconto. Comprei dia 29 :D

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I.S.B.N.: 9788520927045 - Cód. Barras: 9788520927045 - Reduzido: 3649496
Altura: 17,5 cm. x Largura: 10,5 cm. x Profundidade: 1 cm. - Acabamento : Brochura
Edição : 1 / 2011 - Idioma : Português - País de Origem : Brasil
Número de Paginas : 296 - Grau : Ensino Médio

1829 - 1° / Maio - Messejana - bairro de Fortaleza-CE - Nasce José Martiniano de Alencar, fruto do amor entre um Padre e sua prima, que abandona a batina e torna-se Senador.

Em 1837, seu pai deixa a presidência do Ceará e volta ao Rio de Janeiro. José de Alencar está com 8 anos e esta viagem se faz pelo interior, de Fortaleza até o rio São Francisco e daí até Salvador. O conhecimento do sertão deixará marcas inapagáveis na memória do menino José e será uma evocação permanente na obra do romancista.

Com 11 anos, lendo muito bem, José é leitor dos serões em que a mãe, a tia e algumas pessoas se reúnem para ouvir romances de "amor contrariado", histórias de esposas caluniadas que, no capítulo final, são, afinal, desagravadas, enquanto os carrascos e os maus recebem o castigo pelo falso levantado. Na mesma casa, entretanto, se planeja a revolução de 1842... Frustrada a conspiração, dela partem e a ela aportam pessoas estranha, de sussurrantes vozes e pesados silêncios; os derrotados, procurando escapar às perseguições. Mas o tempo é de criança não se meter em conversas de mais velho, quanto mais em planos revolucionários! O que ninguém podia proibir ao menino era adivinhar e pressentir, e perceber; silencioso, sofrido, tenso, aprende fatos, interpreta notícias. E vem, talvez, dessa conjura fracassada o seu plano de escrever uma história dos movimentos rebeldes no Nordeste.

1846 está em São Paulo, na Faculdade do Largo de São Francisco, à sombra daquelas arcadas onde se pode dizer que nasceu grande parte da literatura romântica do Brasil. É um estudante sério, pouco dado as loucuras boêmias, a ênfase em seus estudos de francês, a leitura de Balzac, Victor Hugo e Chateaubriand, a aquisição do artesanato literário, o singulariza entre os nossos românticos.

1848 tem que se transferir para a Faculdade de Direito de Olinda. Lá, a paisagem evocativa de um passado heroico e as bibliotecas das comunidades religiosas lhe abrem ao espírito as largas perspectivas do romance histórico, Alma de Lázaro e Guerra dos Mascates estão diretamente ligados a essa permanência em Pernambuco; podem situar-se na mesma linha O ermitão da Glória e O garatuja, embora tenham como cenário o Rio de Janeiro.

Aproveitando a proximidade, vai ao Ceará; o reencontro da paisagem natal reaviva-lhe o encantamento pelos índios, a admiração pelo conhecimento que possuíam da terra, íntimos das plantas e dos animais silvestres, quase miraculoso para o entusiasmo do jovem estudante.

Mais tarde contará que nessa ocasião se delineiam os primeiros sinais de O guarani, e também de Iracema, embora a distância de oito anos que haveria entre um e outro.

...
José de Alencar confessa que procurava na literatura "diversão à tristeza que (lhe) infundia o estado da Pátria" (Iracema, 1865). Frase cujo sentido se completa nesta outra em que mal se revela uma alusão ao seu caso pessoal: "Quando as letras, entre nós, forem uma profissão, talentos que hoje aí buscam apenas passatempo ao espírito, convergirão para tão nobre esfera suas poderosas faculdades". Note-se, a propósito, a abundância de sua produção no campo da jurisprudência e da política, da crítica literária e da filosofia (cerca de 42 trabalhos), e compare-se com o volume da obra de ficção que não chegou a 20 romances.

Do ponto de vista nacional, é ele o nosso mais importante escritor, em 20 anos de ofício literário, levantou em seus romances um retrato do Brasil.

Um brasileiro que merece muitos aplausos e que pagou um preço elevado, como todas as pessoas sérias e comprometidas com seu tempo. As divergências com D. Pedro II tolheram sua carreira (sei lá quando terá fim essa vergonha na política brasileira). Deixo um link, para quem gosta de mergulhar, quando lê uma obra, que mostra as posições de José de Alencar que tornaram sérias, talvez, as diferenças de pontos de vista, com o imperador.
Link: http://www.revistaaopedaletra.net/volumes/Volume%2013.1/Vol-13-1-Genesson-Johnny-Lima-Santos.pdf

M. Cavalcanti Proença foi muito feliz em sua biografia. Para quem ainda não comprou, recomendo. É claro que tem muito mais, dei umas pinceladas apenas.

Estou, ainda, terminando a leitura da:

Primeira Parte - O PREÇO
Muito do esforço feminino em parecer interessante, naqueles tempos, como a imagem de um anjo que se move como se deslizasse, sem suar em uma temperatura absurda, cheia de panos. Parecer soberba, soberana, quando se é tão festejada como a protagonista, cantar liricamente, tocar piano e ser linda, é muito bem retratado em Senhora. Mostra muito de como se comportam as moças de 18 anos até hoje, um pouco esnobes, os comentários com a amiga, de repente começam a ficar estranhas, um brilho que lhes dá encanto, desassossego...

Ainda, Aurélia era perspicaz, facilidade em operações aritméticas por muito difícil e intrincadas que fossem, não havia nela nem sombra do ridículo pedantismo de certas moças que, tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a tagarelar de tudo. Ou seja, ela tinha cérebro, por enquanto parece... Em um livro romântico, a mocinha é inteligente!

Estou passada com esse José de Alencar, por enquanto, pode-se dizer, que ele olhava mesmo para as mulheres, não fazia de conta, como era o costume local.

Leio mais e volto. :)
 
Última edição:
O que achei estranho (nem sei se encaixa-se como estranho, pouco lembro sobre romantismo), mas a mulher, no romantismo, ela não é mais voltada as futilidades domésticas, um ser sem opinião, pouco pensante, quase uma decoração ao homem, um adorno?
Aurélia não é assim e no entanto, ela não é tratada de forma ( a palavra "desdem" não se encaixa, mas é o caminho do que quero dizer) diferente, não é mal vista pela sociedade, tanto que muitos homens a queriam.

Claro, ela toma certo cuidado para quem demonstra essa ligeireza que tem na compreensão das coisas e sociedade, mas ainda assim, aceitam ela bem demais para uma sociedade onde mulher deveria ser o anjo prostrado na casa e servir de alicerce à pureza e moral.

Também não entendo muito de movimentos literários, Arringa.

Mas acho que no caso da Aurélia, o que chama atenção, além da beleza, é o fato de ela ter muito dinheiro.
Então, não é que ela seja "aceita bem demais" pela sociedade, é que ela é (muito) rica e a maioria das pessoas tende a fazer vista grossa pra certas coisas quando se trata de gente endinheirada.
A própria Aurélia tem consciência disso, da hipocrisia da sociedade em que vive.

Acho que é isso. =/


Primeira Parte - O PREÇO
Muito do esforço feminino em parecer interessante, naqueles tempos, como a imagem de um anjo que se move como se deslizasse, sem suar em uma temperatura absurda, cheia de panos. Parecer soberba, soberana, quando se é tão festejada como a protagonista, cantar liricamente, tocar piano e ser linda, é muito bem retratado em Senhora. Mostra muito de como se comportam as moças de 18 anos até hoje, um pouco esnobes, os comentários com a amiga, de repente começam a ficar estranhas, um brilho que lhes dá encanto, desassossego...

Ainda, Aurélia era perspicaz, facilidade em operações aritméticas por muito difícil e intrincadas que fossem, não havia nela nem sombra do ridículo pedantismo de certas moças que, tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a tagarelar de tudo. Ou seja, ela tinha cérebro, por enquanto parece... Em um livro romântico, a mocinha é inteligente!

Estou passada com esse José de Alencar, por enquanto, pode-se dizer, que ele olhava mesmo para as mulheres, não fazia de conta, como era o costume local.

Leio mais e volto. :)

Então, confesso ter uma certa bronca do Zé de Alencar por causa da bocó da Iracema e acho que me deixei levar por isso quando comecei essa leitura.

Mas puxa, a Aurélia é uma mulher muito além de seu tempo.
E foi o José de Alencar quem a criou.
Parece que só agora me dei conta disso, tão ocupada que estava em encontrar traços "iracementos" na leitura de Senhora.
Encontrei esses traços nas irmãs Seixas e nas mães respectivamente de Aurélia e Seixas.

Mas na Aurélia, não.

Que coisa espantosa aquela descrição da moça na janela pra arrumar pretendentes.
Naquela época, pelo jeito, isso era coisa normal, mas hoje em dia isso é tão humilhante e estranho!
E o José de Alencar pensava assim também, pois que colocou esses sentimentos e pensamentos na Aurélia.

E o Lemos cafetão?
Mas que gordinho sem-vergonha.
Aliás, que família essa da mãe da Aurélia, hein? :no:
 
[...]
Então, confesso ter uma certa bronca do Zé de Alencar por causa da bocó da Iracema e acho que me deixei levar por isso quando comecei essa leitura.
...
Parece que só agora me dei conta disso, tão ocupada que estava em encontrar traços "iracementos" na leitura de Senhora.
Encontrei esses traços nas irmãs Seixas e nas mães respectivamente de Aurélia e Seixas.
Mas na Aurélia, não.
Que coisa espantosa aquela descrição da moça na janela pra arrumar pretendentes.
Naquela época, pelo jeito, isso era coisa normal, mas hoje em dia isso é tão humilhante e estranho!
E o José de Alencar pensava assim também, pois que colocou esses sentimentos e pensamentos na Aurélia. [...]

Clara, por isso é tão bom os debates, as leituras em grupo. As impressões de cada um se somam e nos enriquecem. Sabendo da história do Brasil, é claro que temos um ranço com o passado. Imagine que nossas avós ou bisavós não tinham direito a educação, apenas lhes eram permitidas as prendas do lar, isso era sofisticação na época.

Os que me conhecem a mais tempo, sabem que tenho uma certa aflição quando vejo as meninas aceitando alguns jogos de sedução, com o qual pensam estar modernizando as relações, quando estão eternizando um passado não muito distante. Há 50 anos poderíamos ser rejeitadas, marginalizadas e até espancadas, apenas por utilizar nossa massa cinzenta. Qual homem aceitaria uma mulher com um cérebro desafiante, questionador? Haveria o risco de ser envergonhado em público por um ser inferior. Um homem sempre sabia o que fazia e não devia explicação a uma "mulher".

É ainda recente todo esse sofrimento, não gostamos de falar sobre isso, mas deveríamos falar mais. Mary Del Priori tem livros maravilhosos, para que as garotas não trilhem caminhos que nos levam ao passado, um passado muito recente.

Quando resolvo olhar obra e vida de um autor, como fiz com Machado de Assis e agora José de Alencar, fico feliz com a surpresa. Reconheço que haviam inteligências do bem e a antipatia que temos pode se desfazer, se temos acesso aos fatos.
 
Os que me conhecem a mais tempo, sabem que tenho uma certa aflição quando vejo as meninas aceitando alguns jogos de sedução, com o qual pensam estar modernizando as relações, quando estão eternizando um passado não muito distante. Há 50 anos poderíamos ser rejeitadas, marginalizadas e até espancadas, apenas por utilizar nossa massa cinzenta. Qual homem aceitaria uma mulher com um cérebro desafiante, questionador? Haveria o risco de ser envergonhado em público por um ser inferior. Um homem sempre sabia o que fazia e não devia explicação a uma "mulher".

Mas, guardando as devidas proporções, isso acontece nos dias de hoje, sim.
Com exceção das de classe alta e as do meio artístico, mulheres "diferentes" são mal vistas ainda, inclusive por outras mulheres, o que é mais triste.
E esse "ser diferente" pode ser uma coisa simples como não querer se casar ou não querer ter filhos, por exemplo.

É ainda recente todo esse sofrimento, não gostamos de falar sobre isso, mas deveríamos falar mais. Mary Del Priori tem livros maravilhosos, para que as garotas não trilhem caminhos que nos levam ao passado, um passado muito recente.

Não conheço Mary Del Priori, mas tem um tópico sobre ela aqui (importado do Meia Palavra) indique uns livros dela sobre isso, Kuinzytao. :yep:
 
Mas, guardando as devidas proporções, isso acontece nos dias de hoje, sim.
Com exceção das de classe alta e as do meio artístico, mulheres "diferentes" são mal vistas ainda, inclusive por outras mulheres, o que é mais triste. E esse "ser diferente" pode ser uma coisa simples como não querer se casar ou não querer ter filhos, por exemplo.

Não conheço Mary Del Priori, mas tem um tópico sobre ela aqui (importado do Meia Palavra) indique uns livros dela sobre isso, Kuinzytao. :yep:

Fiz um post lá, para o pessoal ter uma ideia sobre a autora e sua pesquisa. É bom ver se é do nosso interesse, antes de partir para as compras.

Sabes Clara, esta falta de solidariedade e excesso de competição entre as mulheres, sempre foi estimulada pelos homens* – dividir para conquistar – a mais antiga das estratégias. O interessante é que os homens são solidários entre eles e guardam a competição para as arenas. No entanto, as mulheres agem mais em um estilo mercenário. Isolam, negam o direito as provisões da tribo a todas as que recebem qualquer tarja preconceituosa. Eu fico envergonhada, quando assisto isto. E olha que não é raro o fato.

* Lembrando, toda a regra tem suas exceções. Minha geração tentou criar bem seus filhos homens.

O exótico é maravilhoso. A coragem é maravilhosa. Desenvolver seu estilo interior é ter uma coragem verdadeira, cujo o foco seja existir, sendo ou não aceita. Quem quer ser amada como se fosse única, não pode detestar-se como indivíduo... Odiar quem se assume como indivíduo?!, parece uma mostra de desintegração interior.

Apesar do respeito ao livre arbítrio em nosso espaço X tempo, ser uma piada ainda, não querer pagar "mico", não quer encontrar oposição, não quer conflito e não gastar tempo na solução desse conflito, faz de nós mulheres, criaturas amedrontadas, e até assustadoras, se abrimos mão de nossos princípios por receio de sermos jogadas para fora do grupo, foco de nosso interesse. Isto tudo é anti-vida.

Um exemplo pessoal: Não faz muito que me divorciei e passei a ser persona não grata nos círculos familiares. O motivo, se compreendi direito, sempre fui uma mulher que desperta admiração. Um absurdo! Se eu tivesse menos fibra, transformaria minha condição de "admirável" em arma, bem distante do que quis para o meu desenvolvimento pessoal.

Estamos em que século, de acordo com as nossas emoções coletivas?

Vou deixar o link do vídeo, que penso, orienta a gente sobre os motivos da mulher estar nas condições que a obra "Senhora" descreve. A partir do 3° minuto, Mary del Priore nos encanta com os fatos.
[video=vimeo;27201270]http://vimeo.com/27201270[/video]
 
Última edição:
Vou deixar o link do vídeo, que penso, orienta a gente sobre os motivos da mulher estar nas condições que a obra "Senhora" descreve. A partir do 3° minuto, Mary del Priore nos encanta com os fatos.

Perfeito pra gente se situar no que acontece com o casal Fernando/Aurélia. :yep:
 
Só eu que tô lendo o livro?

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Nesse vídeo que a kuinzytao postou, numa certa altura a Mary del Priore diz que o que levou o Seixas a aceitar o casamento por dinheiro (sem saber quem era a noiva) foi a preocupação com o destino da irmã mais velha, que não se casava por não ter dote.
A Mary fala isso bem rapidamente, só pra situar os ouvintes sobre a situação da mulher naquela época, e é o único comentário que faz sobre a obra do José de Alencar.

Sinceramente eu não vi isso na história.
O Fernandinho-coxinha aceitou o casamento principalmente porque precisava manter um nível de vida que era incompatível com seus ganhos de funcionário público. Além do mais, tem um trecho em que ele está tão encantado com a própria pessoa (dá a impressão de que se pudesse comia a si próprio) que nem nota a precariedade da vida das irmãs e da mãe.
Só nota isso quando as leva ao teatro e um amigo, que desconhece o parentesco do Fernando com as mulheres, se refere a elas como "roceiras".
Fernando Seixas então, passa toda a noite evitando ficar muito próximo das irmãs e da mãe, morto de vergonha.

Ao sair de casa, com a pressa e à luz mortiça do candeeiro, não tinha ele reparado no vestuário da mãe e irmãs. No camarote, porém, ao clarão do gás, não escaparam a seu olhar severo em pontos de elegância, os esquisitos do vestuário das três senhoras, tão alheias às modas e usos da sociedade. O resto da noite, que lhe pareceu interminável, esquivou-se do camarote, e quando lá demorava-se, não chegava à frente.

E cabe lembrar que ele já havia desistido da Aurélia exatamente pelo mesmo motivo (casamento mais vantajoso) quando jogou na moça e na mãe desta aquele papo mosca de que preferiria abrir mão da Aurélia a ficar com com ela sem poder dar-lhe todas as coisas que merecia (e que ele, pobretão metido a galã, não podia mesmo).

O que aconteceu ao Seixas depois do casamento?
Porque pra mim parece um outro personagem.
Vira um homem austero, cheio de orgulho próprio (que ridícula a cena em que ele compra escova e pente de um ambulante) trabalhador sério que procura faltar o menos possível ao trabalho (ao qual vai a pé!).

Não sei, parece que o autor quis que os leitores tivessem mais simpatia pelo Seixas, por que no início da história ele é simplesmente insuportável de tão babaca, egoísta e fútil que se mostra.

A Aurélia toma o caminho inverso.
Virou uma bitch da pior espécie, cheia de vontades bobas e risos maldosos.
Acaba que a gente acha que um merece o outro, no fim das contas. :tsc:

Aurélia não tem mais nada daquela moça gracinha pra quem a gente ficava torcendo.
E apesar de saber como a história termina, eu torci pra que ela ficasse com o Eduardo Abreu, bem mais "homem" que o Seixas.

Mas uma coisa eu achei bacana nessa perte da história: os diálogos cheios de ironias e alfinetadas entre o Seixas e a Aurélia, ao mesmo tempo em que tentam manter as aparências de casal feliz.

Como este trecho, que ao ler hoje cedo, me fez rir sozinha:

Aurélia fez um gesto de impaciência.
- Não contesto-lhe o direito que pretende haver sobre o que chama sua alma e seu caráter. Ideou este meio engenhoso de contrariar-me; não lhe roubarei o prazer; mas se deseja saber o que penso...
- Tenho até o maior empenho. Sua opinião é para mim como um farol; indica-me o parcel.
- O que não impediu seu naufrágio. Mas não gastemos o tempo em epigramas. Que necessidades temos nós destes trocadilhos de palavras, quando somos a sátira viva um do outro? Há neste mundo certos pecadores que depois de obtidos os meios de gozar da vida, arranjam umas duas virtudes de aparato, com que negociam a absolvição e se dispensam assim de restituir a alma de Deus.
O aspecto de Seixas denunciava a cólera que sublevava-se em sua alma e não tardava a prorromper.

:lol:

Ou seja, ó a cara do Seixas-coxinha: :fire:














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