Correndo na leitura dos primeiros capítulos pra alcançar vocês. Só vejo spoilers brotando em todos os cantos...
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Bernard Marx não detesta tudo isso, o que ele detesta, ao meu ver, é o fato de ser diferente fisicamente, o que o faz se sentir inferiorizado, não conseguindo por isso se encaixar adequadamente na esfera social a que pertence.
Uma limitação física podia produzir uma espécie de excesso mental. Parece que o processo era reversível. O excesso mental podia produzir, por sua vez, a cegueira e a surdez da solidão deliberada, a impotência artificial do ascetismo.
--Todos os homens são físico-quimicamente iguais, disse Henry sentenciosamente. Além disso, mesmo os Ipsilones realizam serviços indispensáveis.
-- Suponho que os Ipsilones realmente não se importem de serem Ipsilones, disse em voz alta.
A última a chegar foi Sarojini Engels.
-- Você está atrasada, disse com severidade o Presidente do Grupo. Que isso não torne a suceder.
Sarojini pediu desculpas e sentou-se entre Jim Bokanovsky e Herbert Bakunin.
-- [Marx] Quero sentir alguma coisa com violência.
-- Quando o indivíduo sente, a comunicação vacila, pronunciou Lenina.
Um rosto desfigurado e em lágrimas a fitava [Lenina]; a criatura estava chorando.
E os selvagens, hein?
Alguém tem alguma teoria do porque eles ainda existem naquele mundo?
Eu sou da opinião de que eles sobrevivem daquela maneira primitiva (propositadamente na pobreza, doença e imundície) para mostrar às pessoas do novo mundo como a vida era ruim e impedi-los de ter "ideias" pra tentar, de alguma maneira, mudar a sociedade.
"Agora sim somos todos felizes".
Isso que você disse faz sentido mesmo. Destaco uma passagem do capítulo 4:
Uma limitação física podia produzir uma espécie de excesso mental. Parece que o processo era reversível. O excesso mental podia produzir, por sua vez, a cegueira e a surdez da solidão deliberada, a impotência artificial do ascetismo.
A primeira vez que li esse livro foi por indicação de uma ex. Ela recomendou tanto que chegou até a me dar um exemplar, com aquela dedicatória doce que é muito possível num começo de namoro ou depois, bem depois do término, quando a memória seletiva e traiçoeira só lembra das tardes de chuva debaixo do edredom e se esquece das picuinhas de cada dia. Rapaz, deu uma saudade! E junto da saudade, uma vontade de se embebedar ouvindo Fábio Jr... Mas isso não vem ao caso.
No terceiro capítulo achei muito interessante a maneira como Huxley apresenta várias cenas acontecendo ao mesmo tempo, a troca de confidências entre Lenina e sua amiga Fanny, Bernard Marx conversando com seu colega, Sua Fordeza Mustafá Mond com os estudantes, etc.
Não sei se os demais foristas gostaram desse jeito de narração.
Então, como Bernard Marx é parecido com a gente, não?
Sabe que algo está errado no mundo em que vive mas não exatamente o quê, e mesmo que soubesse, teria coragem de abandonar aquilo tudo em troca de uma vida "mais verdadeira"?
E, que engraçado, eu imaginava que aquela moça havia deliberadamente "se perdido" no mundo dos selvagens.
Tipo alguém que havia se cansado da vida artificial e, a contrário do bunda mole do Bernard Marx, resolveu viver com os selvagens e ser um ser humano verdadeiro.
Mas não foi nada disso.
Como é triste a vida daquela mulher, Linda, e seu filho, John. =(
Com a volta de Bernard do mundo dos selvagens é justamente isso que se observa, ele não queria fazer algo diferente, ele queria ser igual aos outros...Bernard Marx não detesta tudo isso, o que ele detesta, ao meu ver, é o fato de ser diferente fisicamente, o que o faz se sentir inferiorizado, não conseguindo por isso se encaixar adequadamente na esfera social a que pertence.
Inicialmente acreditei que Bernard e Lenina seriam o casal que causariam alguma inquietação naquele mundo, que se inconformariam e talz.... achei isso por Bernard se sentir "deslocado" e Lenina me passou essa sensação quando, em conversa com Fanny ela diz que estava bem saindo com um cara só, me passou a impressão de que ela gostaria disso: de uma pessoa só, de ser diferente, só que não....
Estou achando o máximo esse negócio de o aAldous Huxley fazer o contrário do que a gente espera.
Tive exatamente a mesma impressão que você, Marci.
Depois que vi que não era nada disso foi me dando uma raiva desse casal.
Já na primeira semana estava detestando os dois, solenemente, mas agora acho que os compreendo melhor, porque vejo neles muita coisa em comum comigo mesma.
Por exemplo, não gostar de muitas coisas, de inúmeras convenções que existem na nossa sociedade, mas ao mesmo tempo não conseguir ficar sem tantas outras e de vez em quando se flagrar pensando/agindo exatamente como algumas dessas pessoas que tanto desprezo.
É triste admitir, mas acho que detesto tanto o Bernard Marx por causa disso. =/
PS. Alguém sabe se tem filme inspirado nesse livro???
Marci, há dois filmes baseados nesse livro, um de 1980 e outro de 1998:
Brave New World de Burt Brinckerhoff (1980) com Kristoffer Tabori (John), Bud Cort (Bernard Marx), Julie Cobb (Linda), Ron O'Neal (Mustapha Mond) e Marcia Strassman (Lenina);
Brave New World de Leslie Libman e Larry Williams com Tim Guinee (John), Peter Gallagher (Bernard Marx), Leonard Nimoy (Mustapha Mond), Sally Kirkland (Linda) e Rya Kihlstedt (Lenina Crowne).
já viu algum deles Spartaco?
Como não posso? Não, o verdadeiro problema é este: como é que não posso; ou antes, pois sei perfeitamente porque é que não posso, o que eu sentiria se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo meu condicionamento?
(...) para experimentar o efeito produzido pela repressão dos meus impulsos.
Admirável Mundo Novo é um dos meus livros favoritos, acho que vou reler para poder participar mais ativamente. Até porque gostaria de discutir do meio para o final, quando chega a parte do "selvagem".
Achei interessantíssimo essa questão dos nomes, nunca havia me ocorrido.
[...]
Lenina ainda é o padrão feminino ideal em nossa própria sociedade. Um caso recente que serve de exemplo: Mulheres aprendem a "desmunhecar" em curso para "atrair partidão"
O Stalin apagava o Trotsky até das fotos, o safado!
[...]
Lendo as impressões dos(as) camaradas do Clube sobre Bernard Marx e refletindo sobre o prefácio de Huxley e Admirável Mundo Novo, cheguei a conclusão de que o nosso amigo, a despeito da covardia e oscilações de caráter, é tão revolucionário e subversivo quanto Helmholtz ou o Selvagem.
Partindo da relação com o saber: um pesquisador e educador francês chamado Bernard Charlot, diz que o homem nasce incompleto. Ao contrário dos demais seres vivos, que chegam ao mundo dotado de instintos que os fazem rapidamente se adaptarem às condições postas pelo seu habitat, o homem vem desarmado. Porém, antes de ser um defeito, é uma capacidade [...]
Pra finalizar: A gente tem Bernard Marx e seus conflitos. Igualmente, vemos paixão e rejeição em Lenina; uma certa nostalgia no Diretor ao falar de sua ida à Reserva dos Selvagens; a inquietação inominável de Helmholtz; os instintos maternos em Linda. Tenho a impressão de que, pelos exemplos, é impossível a doutrinação completa do ser humano. Mesmo com todo condicionamento, cerceamento, drogas, o homem conserva em algum lugar sua indocilidade. (Chupa, Sistema!).
O que vocês acham dessa "revolução" de Bernard e da insubmissão intrínseca no homem?
Não avancei muito, mas a impressão atual que tenho, é que todos eles tem questionamentos, e resolvem com soma. Com todo o trabalho que o sistema teve, mesmo assim surge de algum lugar "mal lavado" insatisfações, que também tem sua solução (soma). É isso que também me parece muito com a atualidade. O jeito que as pessoas dão para sua consciência. Ela incomoda, ou seja, não se acomoda ao sistema? Temos álcool e pílulas, ainda pode ser falta de mulher ou falta de homem. Êta... ainda bem que não vivemos no sistema FORD T
Ver anexo 52273
Talvez seja isso o que aquele amigo dele, Helmholtz, vê no Bernard Marx e se irrita tanto. =/
No fundo ele (Bernard) só quer se igual aos outros, não está preocupado de fato com as coisas, não pensa que tudo poderia ser diferente, que é como parece o Helmholtz vê.
Ainda sobre o Helmholtz, me pareceu o mais sensato daquele povo todo.
Parece que ele vê, ou está em vias de ver, abaixo da superfície da sociedade.
Talvez não seja por acaso que (voltando ao tema dos nomes) ele tenha o mesmo nome de Hermann von Helmholtz, que era físico, médico e filósofo e um dos homens mais inteligentes do século XIX.
É verdade, kuinzytao, elas resolvem os "impasses" com o soma. Mas todos os sentimentos "desagradáveis" são condicionados nos bocais e não brotam de insatisfações, já que o meio social foi construído para satisfazer desejos. Vejamos Lenina, por exemplo: ela se desespera de estar sozinha com Bernard sobre o mar escuro, no silêncio, numa sensação originada pelas repetições a que todos foram submetidos durante o sono; ela detesta e sente aversão aos Deltas e Ípsilons, porém como resultado da doutrinação. Outros sentimentos - igualmente sanados com soma - emergem do seu lado que escapou ao condicionamento.
Washington, 1937
Há exatamente um século, os primeiros Ford T começavam a soltar fuligem, gases e partículas tóxicas nas ruas dos EUA. O primeiro “carro do povo” da história humana foi oficialmente concluído em 27 de setembro de 1908, mas as primeiras unidades só foram vendidas em 1 de outubro daquele ano.
Apelidado no Brasil de “Ford bigode”, o modelo produzido inicialmente em Detroit pode ser considerado não apenas um marco na história da hegemonia do automóvel sobre as cidades, mas também o início de uma das maiores falácias do capitalismo moderno: o mito de que todos podem (ou devem) ter um carro.
A grande inovação do Ford T não aconteceu no interior do bólido, na aerodinâmica, na velocidade máxima alcançada ou no consumo de combustível. Aliás, o Ford T gastava um litro de gasolina a cada 7 km, média muito parecida com a dos Stupid User Vehicles que destroem as cidades contemporâneas 100 anos depois.
A “revolução” do Ford T aconteceu dentro das fábricas. Foi com este modelo que a empresa de Henry Ford consolidou o sistema de produção que marcaria o século XX: a linha de montagem.
Usando a racionalidade capitalista da época, Ford descobriu que a produtividade de sua indústria seria alavancada se os operários permanecessem parados enquanto uma esteira movimentava o produto pelos diversos setores da fábrica. Se antes um mesmo operário montava o chassi, instalava a lanterna e colocava o estofamento, na linha de produção fordista cada operário era responsável por uma única função ou estágio da produção.
A divisão de trabalhos complexos (a produção de um carro) em diversos estágios simples (o apertar de um parafuso) permitiu a utilização de mão-de-obra menos qualificada e, principalmente, o aumento exponencial da produção e dos lucros da empresa.
O conceito da linha de montagem, junto com outras práticas capitalistas do início do século passado, foi chamado de “fordismo”, servindo como base para toda a indústria durante o século XX. Serviu também de inspiração para Charles Chaplin no clássico “Tempos modernos”, que conta a história de um angustiado “apertador de parafusos” em busca da felicidade para além das engrenagens.
Para enteder melhor o impacto da linha de produção: em 1913, a Ford tinha 13 mil empregados e produziu cerca de 260 mil carros. No mesmo ano, os 65 mil empregados das demais fábricas de automóveis produziram 286 mil unidades. Ou seja, com 5 vezes menos operários, a linha de montagem fordista garantia a mesma produção que os concorrentes.
Com a redução da folha de pagamento e o aumento da produção, a Ford pôde vender carros mais baratos que a concorrência e consolidou seu modelo como o primeiro carro “popular” da história, atingindo a marca de 15 milhões de unidades vendidas entre 1908 e 1927. Ou seja, em 19 anos a Ford colocou pouco menos do que três frotas paulistanas de 2008 para competir com bondes, trens, pedestres, ciclistas, praças e áreas de convivência. Não é preciso dizer quem venceu a disputa ao final do século XX.
A racionalidade fordista daquele início de século XX, tão eficiente para aumentar lucro e produção, só não contemplava uma variável: a finitude dos recursos. E não se trata apenas de combustíveis fósseis, aço ou ar limpo, mas também (e principalmente) de um recurso que se tornou cada vez mais precioso à medida em que a humanidade abandonou o campo e passou a viver majoritariamente em cidades: o espaço.
Números e lucros são infinitos. A submissão humana a trabalhos degradantes ou a desesperada luta pela sobrevivência também provaram ser bastante elásticas ao longo dos séculos. Mas a falácia fordista não considerou que é absolutamente impossível cada ser humano adulto possuir um automóvel, simplesmente porque não existe espaço para que todos estes carros sejam acomodados junto com as pessoas (isso para não falar dos recursos para produzir e alimentar a máquina).
A consolidação do automóvel como o símbolo maior do Ocidente fez com que boa parte dos países e cidades passassem boa parte do século XX em uma insana e degradante corrida em busca de recursos, idéias e espaço (muito espaço) para acomodar e alimentar os carros (...)
(Fonte)
08 - Só se case por amor.
Aproveitando que a kuinzytao tocou no Ford T, e que é o modo de produção "fordista" o aplicado na reprodução humana em Admirável Mundo Novo, achei esse vídeo que mostra os operários na linha de montagem do automóvel:
[...] E também um texto que elucida bem o processo: ... A submissão humana a trabalhos degradantes ou a desesperada luta pela sobrevivência também provaram ser bastante elásticas ao longo dos séculos. Mas a falácia fordista não considerou que é absolutamente impossível cada ser humano adulto possuir um automóvel, simplesmente porque não existe espaço para que todos estes carros sejam acomodados junto com as pessoas (isso para não falar dos recursos para produzir e alimentar a máquina).
A consolidação do automóvel como o símbolo maior do Ocidente fez com que boa parte dos países e cidades passassem boa parte do século XX em uma insana e degradante corrida em busca de recursos, idéias e espaço (muito espaço) para acomodar e alimentar os carros (...)
(Fonte)
Quero só comentar uma coisa mesmo, sobre o decálogo que o Cantona colocou:
... Manual da Família Alemã, que as autoridades nazistas distribuíam aos jovens casais. O decálogo inicial era o seguinte:
...
08 - Só se case por amor.
... Isso me deixou em parafuso... Claro que a gente sabe que não é bem assim, que você só pode se casar por amor depois de cumprir algumas coisinhas aqui e acolá, como o 06. Mas e se fosse apenas isso: e se o governo te obrigasse a casar por amor?
O que quero dizer é: casar por amor é sinônimo de liberdade. Mas se o governo te obriga a ter liberdade, paradoxalmente isso não anula totalmente essa mesma liberdade?
N'O Admirável Mundo Novo, a coisa não seria parecida com isso? Ou não seria análoga? Não estou nem tanto falando dos Alfas, Ipsilones e tal e coisa, mas e se olharmos para os selvagens? A gênese deles talvez esteja em algo parecido com isso: o governo os obrigou a ficar em liberdade.
"O Poder do Hábito: Por que Fazemos o que Fazemos na Vida e nos Negócios" apresenta o resultado de duas décadas de pesquisa ao lado de psicólogos, sociólogos, publicitários e cientistas sobre comportamento. Escrito pelo repórter investigativo Charles Duhigg
Isso me deixou em parafuso... Claro que a gente sabe que não é bem assim, que você só pode se casar por amor depois de cumprir algumas coisinhas aqui e acolá, como o 06. Mas e se fosse apenas isso: e se o governo te obrigasse a casar por amor?
O que quero dizer é: casar por amor é sinônimo de liberdade. Mas se o governo te obriga a ter liberdade, paradoxalmente isso não anula totalmente essa mesma liberdade?
N'O Admirável Mundo Novo, a coisa não seria parecida com isso? Ou não seria análoga? Não estou nem tanto falando dos Alfas, Ipsilones e tal e coisa, mas e se olharmos para os selvagens? A gênese deles talvez esteja em algo parecido com isso: o governo os obrigou a ficar em liberdade.
O condicionamento, nesse caso, considera uma pessoa como uma espécie e máquina mecânica e basta descobrir suas engrenagens e em que local devemos conectar, pra pilotar quem acreditamos que deveria fazer algo, que nós não estamos dispostos a fazer.