Zuleica
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Mavz, é uma forma interessante de se pensar. A obrigação de ser livre, a liberdade vigiada, termos que se repelem nos significados, mas que paradoxalmente desenham o cotidiano das relações.
Eu interpretei a relação entre os Selvagens e a Civilização de Admirável Mundo Novo pela questão histórica do colonizador. Como se os Selvagens pertencessem a um passado remoto e puro, semelhante a visão de espanhóis e portugueses sobre os índios americanos. Num primeiro momento, a inocência acalentada, motivada até pela ideia de Paraíso Terreno, de País da Coconha e outros mitos de pureza e superabundância que povoaram a imaginação à época das Grandes Navegações. Num segundo, a superioridade eurocêntrica diante de um povo pagão e atrasado, como forma de justificar a exploração material e extermínio. No filme 1492 - A Conquista do Paraíso, vemos um Colombo levando índios para a Corte Espanhola, reforçando a imagem do exótico para quem o Ocidente seria uma benção com sua civilização. O mesmo posteriormente, com franceses, ingleses, belgas, holandeses e os escambau em relação ao negro: os utensílios e adereços religiosos, juntamente com os próprios negros, sendo expostos em espetáculos no melhor estilo "as coisas mais bizarras do mundo".
Exato!
E mais: Marx dizia que na produção capitalista o mundo produzido termina por governar o produtor. Huxley segue a linha, mas bota a coisa em outra dimensão: ao trocar o Ford-T por embriões, produtor e produto se confundem. Perdemos a noção de onde começa um e termina o outro, e a reificação capitalista atinge seu auge.
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Aproveitando a colocação do Mavericco sobre a obrigatoriedade da liberdade, temos a ditadura da felicidade. A mesma que também está presente em outras distopias, como Fahrenheit 451 e 1984.
Felicidade é instrumento de dominação?
Está implícito no comportamento social, um termômetro para medir a felicidade pelos resultados obtidos. E quando não estamos felizes, mesmo com os resultados?
Tem estudos, agora não estou com as informações a mão, sobre as representações de liberdade. Bem, tem inclusive um livro: A Invenção Da Liberdade, de
Starobinski, Jean - Um autor sério.