Olha, Primula, compare as reações fisiológicas à dor de dois mamíferos diferentes. Acho que isso pode ser feito da maneira mais empírica possível, não é? O que você faria se um ferro incandescente encostasse na sua pele? Posso chutar? Gritaria e se afastaria dele. Um boi tenta fazer o mesmo, só que está amarrado.
Estava pensando alto sobre morte instantânea e do fato de um instituto que não tem acesso a essa informação divulgar um "resultado científico". Sobre os extremos que se realmente forem seguidos, não necessariamente resultam em coisas positivas. Sobre achismos e senso comum, sobre falta de verificação dos fatos nesta era de google onde qualquer um vira erudito sobre qualquer assunto...
Um ferro incandescente, e um tiro nos miolos (humanos) são coisas que tecnicamente não são a mesma coisa, e duvido que o prezado Instituto TENHA REALIZADO as duas experiências nos animais que preza para então divulgar estes resultados. Oras, mesmo em condenados à morte nos EUA não há elementos conclusivos sobre dor com injeção letal. (e convenhamos, esbarramos na ética ao efetuar estes estudos! É tênue o caminho para Auschwitz)
Até onde vejo, o resultado só poderia ter sido obtido pelo "açougueiro", e acho muito estranho o próprio atestar contra o método.
Me veio de repente à lembrança o acidente da Gol, onde disseram que as pessoas morreram instantaneamente no avião da Gol... e outra vertente rebateu dizendo que todos estavam conscientes...
Não nego que animais (homem incluso) sentem dor. E o senso comum diz que sentem mais dor que vegetais. Mas alerto para o fato que tanto quanto "crescei e multiplicai-vos" foi danoso para o ambiente - tornando o homem "melhor" que o resto dos animais - não é muito diferente de considerar animais "mais evoluídos" que plantas, ou que sentem mais dor que plantas. Hmmmm... tolkien ia adorar esta minha mente insana.
Esta "hierarquização" de formas de vida é que tornou o mundo a bagunça que temos hoje. Reestruturara uma nova hierarquização do valor das formas de vida não é solução, antes vamos todos nos tornar coelhos predadores de plantações.
Como eu disse, não há para mim, diferença de valor entre eu/primula e um carvalho bicentenário ou uma cenoura. Talvez os dois últimos devam ter mais valor...
De qualquer forma, o ponto é que sofrimento é inerente à vida. Note que não me ative a sofrimento humano ou sofrimento animal.
Uma frase engraçada que li na exposição de Darwin "na ilusória paz das florestas, ocorre uma guerra silenciosa e sem piedade o tempo todo"
Quando falei de budismo, falei em termos científicos e não religiosos, ou de abnegação em diminuir o sofrimento. Os praticantes da religião, apesar de considerar válido os esforços deles, cometem um pequeno deslize sobre dois preceitos fundamentais (no sentido fundador):
1) o fundador chamou a atenção para não seguir credulamente qualquer pessoa viva ou morta, para encontrar seu próprio caminho (isto me parece muito com o método científico atual), e
2) o sofrimento é inevitável - até por que é necessário para entendermos o seu oposto - mas a iluminação reside em algum ponto na compreensão que podemos ter por sofrer (considerando-se que num estado incorpóreo - caso exista - não temos como sentir dor ou sofrer)
O que me incomoda na religião é que os praticantes resolveram que todos os que seguem o budismo devem ser vegetarianos. Mas isto é algo que UM dos inúmeros iluminados (budas) achou melhor PARA SI PRÓPRIO (de forma a não sofrer sabendo que inflingiu algum sofrimento em outro ser vivo. O que é controverso hoje).
No entanto, durante a abstinência de alimentação (jejum por não sei quantos dias), à procura da iluminação, outro buda percebeu que as austeridade não é o caminho. Tentar alcançar o espiritual, negligenciando o corpo - quando o estado espiritual todos irão alcançar querendo ou não - e assim DESPERDIÇANDO o enorme aprendizado que pode ter com uma experiencia terrena, corporal é um desrespeito a si mesmo e a tudo que existe. Pois para este outro iluminado, somente sendo carne é que pode-se entender o sofrimento dos outros, ter simpatia pelos outros. (uma grande semelhança com Deus encarnando na forma de Jesus para entender os homens)
Outro ponto que é extremamente perigoso é cair no lugar comum. Acho que por isso o Budismo (no seu sentido original) também me interessa: não acredite ou siga cegamente as palavras de outros, ou dos mestres. O caminho de cada um é de cada um, e onde dá certo para um, não precisa dar certo para outro. Mesmo que tenha sido o caminho dos mestres. (professor = aquele que nasceu antes. De certa forma, significa que um pai não pode definir o caminho/vida do filho, que ele não vai escolher o melhor caminho para o filho, talvez aquilo que na verdade ele próprio queria mas não pôde realizar)
Um lugar comum é que animais sentem dor. E então, atentei para o fato de que plantas tem também movimentação quando estimuladas, e por vezes é instantânea a reação. Como nas mimosas que fecham suas folhas ao sentir algum toque, ou as plantas carnívoras. Algumas espécies que tentam "relaxar" suas folhas à noite (elas ficam menos rígidas) e se são impedidas de "relaxar" e têm suas folhas fixadas na posição diurna, definham e morrem. (experiência feita na vida científica de Darwin)
Isto também posso considerar "sofrimento".
E neste sentido, o simples fato de estar viva, significa que inflinjo sofrimento em outros. E aí vem a escolha dos vegetarianos, carnívoros, onívoros, vivíparos e sei la mais o que.Alguns escolhem comer seres vivos que sentem "menos dor", outros escolhem comer os que sentem "mais dor". Mas não existe a escolha: não comer.
Em algum momento até este instante havia uma consciencia no homem de que estar vivo provoca em outros dor e sofrimento?
Na verdade, ninguém pensa nisso... nem mesmo os orientais que proferem o verso agradecendo a comida, muito dificilmente concatenam o raciocínio que estão agradecendo ao senhor arroz e ao senhor cervo, por terem se sacrificado em seu favor.
O ser humano é neste ponto diferente por que uma hora percebe que provoca sofrimento e pode agir no sentido de diminuir ou aumentar. (e de aguentar as consequencias de suas escolhas neste sentido. Os vegetarianos - até onde EU vi - pagam com um estado de apatia e sem energia, enquanto os carnívoros tem ataques cardíacos)
Mas... e esta é a graça de toda esta argumentação: mesmo isto é algo que o ser humano teima em achar que uns sofrem menos que outros, na necessidade de não ser o vilão. O que me lembra um artigo interessante que pessoas pobres conseguem ser felizes com maior intensidade, enquanto que as que tem tudo não conseguem manter o sentido de felicidade por muito tempo... Não é meio maquiavélico concluir que é melhor deixar as pessoas pobres para que sejam mais felizes?
Ops... novamente quantificação de sentimentos, tentando justificar uma escolha que na verdade é algo pessoal e intransferível. Eu pessoalmente não acho que peixes e moluscos sofram menos que bois, mas o senso comum diz que sofrem menos... (apesar do peixe morrer por asfixia, e no caso da piranha permanece viva por horas fora d´agua. Experiencia própria e dolorosa de conhecido que teve um dedinho amputado pensando que a bichinha tinha já morrido).
Uma amiga uma vez me contou que as pessoas querem ser heróis, mas nunca vilões. Se não pode ser herói, preferem ser vítimas do que pegar o papel de vilão... o que me lembra daquele comentário do Espelho mágico lamentando sobre a bruxa da Branca de Neve.
As vezes é necessário saber que o vilão não está em outra pessoa. Cada um de nós tem uma predisposição em ser ditador, em querer que outros sigam o MEU caminho (ou O caminho, porque outros estão andando por lá, deve ser o correto... mas a sensação de que estão no caminho correto aumenta se outras pessoas também forem de opinião que é uma boa idéia andar por ali)
Como disse Pratchett "O problema de se ter uma mente aberta é que as pessoas pensam que isso signfica que podem colocar suas coisas lá dentro"
Sobre a simulação sobre plantar arvores aumentar o efeito estufa... bem, vou ver o que posso fazer para possibilitar um debate do assunto com o autor do artigo. Vou ver se consigo o pdf do tal Journal no portal de periodicos da capes depois, OK? Normalmente tem address de correspondência...