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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Lendo o Antologia Poética do Mário Quintana. É uma edição com a capa branca bem agradável. Não tenho certeza se já a havia lido (li o 80 Anos de Poesia ano passado), mas, sem dúvidas, foi um dos primeiros livros que comprei. É muito interessante ver como alguns poemas que você leu e passaram batido do nada, por um investimento de formas improváveis, ganham um brilho, um encanto...

NOTURNO

Este silêncio é feito de agonias
E de luas enormes, irreais,
Dessas que espiam pelas gradarias
Nos longos dormitórios de hospitais.

De encontro à Lua, as hirtas galharias
Estão paradas como nos vitrais
E o luar decalca nas paredes frias
Misteriosas janelas fantasmais...

Ó silêncio de quando, em alto mar,
Pálida, vaga aparição lunar,
Como um sonho vem vindo essa Fragata...

Estranha Nau que não demanda os portos!
Com mastros de marfim, velas de prata,
Toda apinhada de meninos mortos...

É um soneto horripilante, não porque ele nos mostra coisas horríveis ou medonhas, mas, sim, porque brinca com a nossa espinha.

Outro que achei bem comovente foi esse:

ESTE QUARTO...

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
 
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Mário Quintana, melhor poeta do RS e do Brazil também. :amor:

Hahaha.

[/O Bairrista mode off]
 
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Antigamente era que adversário morria adversário; hoje, não: com essa balbúrdia de tanto partido, nenhum vence sem coligação. Veja como tudo tem mudado: nas eleições passadas, nós nos aliamos aos democratas para vencer os liberais; nas últimas, nos unimos aos liberais para derrotar os democratas; agora, o boato é que os democratas estão se aproximando dos liberais para acabarem com a gente... Nessa confusão toda, sobram para os mais duros, que ninguém é bobo de fazer casa com pau bichado...

Vila dos Confins, Mário Palmério.
 
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

"No Egito Antigo, como hoje, a morte e a tributação são as duas únicas certezas da vida."

Pirâmides: a verdadeira história por trás dos mais antigos monumentos do Egito (Joyce Tyldesley)
 
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

- E o que você está estudando, ó sábio e esperto neto? É um livro sobre fome e homens andando pelas ruas à procura de trabalho? É um livro contando sobre seu pai sem um serviço há sete meses, ou é a rica promessa da América dourada, terra da igualdade e da fraternidade, linda América, que fede como uma peste?

1933 foi um ano ruim, John Fante.
 
Re: Cite o livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Tinha a impressão de ter tomado uma droga poderosa cujo efeito nunca passava, ou de ter caído num sonho de uma incrível nitidez do qual não despertava nunca, mas em que permanecia plenamente consciente, de segundo a segundo a segundo, e que não era uma droga nem um sonho mas só a vida acontecendo com ela, uma vida só com presente e sem passado, um romance diferente de qualquer romance que já tivesse imaginado.

Liberdade, de Jonathan Franzen
 
- Que passagem! Tem de ir tudo é por terra, feito animal! Nesta desgraça quem é que arranja nada! Deus só nasceu pros ricos!

Chico Bento estendeu o olhar faminto para a lata onde o leite subia, branco e fofo como um capucho...
E a mão servil, acostumada à sujeição no trabalho, estendeu-se maquinalmente num pedido... mas a língua ainda orgulhosa endureceu na boca e não articulou a palavra humilhante.

Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai.
Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sembra da mesma cruz

O quinze, Rachel de Queiroz
 
Golpeia a parede com toda a força. O impacto sobe pelos braços, faz tremer sua espinha. Há um prazer extático em transferir tanta energia de um só golpe para a pilha de tijolos e cimento e a estrutura parece amolecer mais um pouqinho.

Barba ensopada de sangue (Daniel Galera) - página 105
 
O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava mas também me deixava enojado. Pensar em ser um advogado ou um professor ou um engenheiro, qualquer coisa desse tipo, parecia-me impossível. Casar, ter filhos, ficar preso a uma estrutura familiar. Ir e retornar de um local de trabalho todos os dias. Era impossível. Fazer coisas, coisas simples, participar de piqueniques em família, festas de Natal, 4 de julho, Dia do Trabalho, Dia das Mães... afinal, é para isso que nasce um homem, para enfrentar essas coisas até o dia de sua morte?

Misto Quente, Charles Bukowski
 
Sixto Martínez fez o serviço militar num quartel de Sevilha.
No meio do pátio desse quartel havia um banquinho. Junto ao banquinho, um soldado montava guarda para o banquinho. A guarda era feita porque sim, noite e dia, todas as noites, todos os dias, e de geração em geração os oficiais transmitiam a ordem e os soldados obedeciam. Ninguém nunca questionou, ninguém nunca perguntou. Assim era feito, e sempre tinha sido feito.
E assim continuou sendo feito até que alguém, não sei qual general ou coronel, quis conhecer a ordem original. Foi preciso revirar os arquivos a fundo. E depois de muito cavoucar, soube-se. Fazia trinta e um anos, dois meses e quatro dias, que um oficial tinha mandado montar guarda junto ao banquinho, que fora recém pintado, para que ninguém se sentasse na tinta fresca.
O livro dos abraços, Eduardo Galeano
 
Em tempos de Comissão da Verdade:
A desmemória I
Estou lendo um romance de Loise Erdrich.
A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto.
O bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor da água) e sorri com o mesmo beatífico sorriso de seu bisneto recém-nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz por que não tem, ainda, nenhuma memória.
Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não a quero.

A desmemória II
O medo seca a boca, molha as mãos e mutila. O medo de saber nos condena à ignorância; o medo de fazer nos reduz à impotência. A ditadura militar, medo de escutar, medo de dizer, nos converteu em surdos mudos. Agora a democracia, que tem medo de recordar, nos adoece de amnésia; mas não se necessita ser Sigmund Freud para saber que não exite tapete que possa ocultar a sujeira da memória.

O livro dos abraços, Eduardo Galeano
 
"tem, como ele próprio declarou, uma ferida na alma, e, não lhe consentindo a sua natureza esperar que lha sarasse o simples hábito de viver com ela, até chegar a fechá-la essa cicatriz benévola que é não pensar, foi à procura do mundo, quem sabe se para multiplicar as feridas e fazer, com todas elas juntas, uma única e definitória dor."

José Saramago - O Evangelho segundo Jesus Cristo (p. 164, Companhia de Bolso)
 
E será que ele quase avançara no filho passando por cima da sopa de tomate e dos sanduíches de queijo quente e o esbofeteara? Seu filho único? O velho e bom Ty, que só estava preocupado? Que Deus o ajude, ele fizera isso.

Stephen King e Peter Straub - A Casa Negra
 
"Após os ataques a Hamburgo, inúmeros do que fugiram até os cantos mais longínquos do Reich se achavam em estado de demência. Em uma das conferências anteriores, foi citada uma anotação do diário de Friedrich Reck, em que ele conta ter visto em uma estação de trem da Alta Baviera um cadáver de criança que caiu da mala de uma dessas mulheres loucas de Hamburgo, que se abrira. Como consta no meu comentário antes de tudo perplexo, mesmo que não se possa imaginar que Reck tenha inventado essa cena grotesca, também não se sabe como enquadrá-la em um padrão de realidade e acaba-se pondo em dúvida sua autenticidade. Há algumas semanas, no entanto, estive em Sheffield para visitar um senhor idoso que, por conta de sua origem judaica, fora forçado, em 1933, a deixar Sonthofen, no Allgäu, sua cidade natal, e se mudar para a Inglaterra. Sua esposa, que chegou à Inglaterra logo depois da guerra, fora criada em Stralsund. Parteira por profissão, essa enérgica senhora possui um forte senso de realidade e não simpatiza com ornamentos fantásticos. No verão de 1943, após a tempestade de fogo de Hamburgo, ela, então com dezesseis anos de idade, ocupava seu posto de ajudante voluntária na estação de Stralsund, quando chegou um trem especial de refugiados, dos quais a maioria estava completamente fora de si, incapaz de dar qualquer informação, abatida pela mudez ou soluçando e urrando de desespero. E, como vim a saber há pouco tempo em Sheffield, várias das mulheres que chegaram de Hamburgo nesse transporte carregavam de fato em suas bagagens seus filhos mortos, asfixiados pela fumaça ou que, durante o ataque, haviam perdido a vida de outra maneira. Não sabemos o que ocorreu a essas mães com tais cargas, se e como elas voltaram a adaptar-se à vida normal."

Guerra aérea e literatura, pgs. 80-81 (W. G. Sebald)
 
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Anexos

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É uma lei da natureza, de que tantas vezes descuidamos: que a versatilidade intelectual é a nossa compensação por enfrentar as mudanças, os perigos, os problemas. Um animal em perfeita harmonia com seu ambiente é um mecanismo perfeito. A natureza nunca apela para a inteligência senão quando o hábito e o instinto são incapazes de resolver um problema. Não existe inteligência onde não existe mudança ou a necessidade de mudança. Os únicos animais que demonstram inteligência são aqueles que tiveram de enfrentar uma grande variedade de necessidade e de perigos.

(A Máquina do Tempo - H. G. Wells)
 
Uma carta de Elis Regina para Patricia Figuieredo;

Furação Elis disse:
" Vê se não deixa passar um segundo do que você vai ver e viver. Fique atenta. Qualquer descuido pode ser fatal. Aproveite a chance. Você ganhou ouro em pó de presente. Faça jóias com ele. Não pense muito em robes, chaussures e coiffeurs. A vida não é isso. Muito menos Paris. Não seja provinciana. Aja como uma mulher desenvolvida, que é o que não há por aqui. Meta uma calça comprida, uma bota, caderno e lápis e equipe-se para a vida"

Furação Elis
Regina Echeverria pg 93
 
" Agora saca só esse pessoal aí na frente. Estão preocupados, contando os quilômetros, pensando em onde irão dormir essa noite, quanto dinheiro vão gastar em gasolina, se o tempo estará bom, de que maneira chegarão onde pretendem - e quando terminarem de pensar já terão chegado onde queriam, percebe? Mas parece que eles têm que se preocupar e trair suas horas, cada minuto e cada segundo, entregando-se a tarefas aparentemente urgentes, todas falsas; ou então a desejos caprichosos puramente angustiados e angustiantes, suas mentes jamais descansam, não encontram paz, a não ser que se agarrem a uma preocupação explícita e comprovada, e tendo encontrado uma, assumem expressões faciais adequadas, graves e circunspectas, e tudo isso não passa, você sabe, de pura infelicidade, e durante todo esse tempo a vida passa voando por eles e eles sabem disso, e isso também os preocupa num círculo vicioso que não tem fim."

On the Road, Jack Kerouac
 
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