"Após os ataques a Hamburgo, inúmeros do que fugiram até os cantos mais longínquos do Reich se achavam em estado de demência. Em uma das conferências anteriores, foi citada uma anotação do diário de Friedrich Reck, em que ele conta ter visto em uma estação de trem da Alta Baviera um cadáver de criança que caiu da mala de uma dessas mulheres loucas de Hamburgo, que se abrira. Como consta no meu comentário antes de tudo perplexo, mesmo que não se possa imaginar que Reck tenha inventado essa cena grotesca, também não se sabe como enquadrá-la em um padrão de realidade e acaba-se pondo em dúvida sua autenticidade. Há algumas semanas, no entanto, estive em Sheffield para visitar um senhor idoso que, por conta de sua origem judaica, fora forçado, em 1933, a deixar Sonthofen, no Allgäu, sua cidade natal, e se mudar para a Inglaterra. Sua esposa, que chegou à Inglaterra logo depois da guerra, fora criada em Stralsund. Parteira por profissão, essa enérgica senhora possui um forte senso de realidade e não simpatiza com ornamentos fantásticos. No verão de 1943, após a tempestade de fogo de Hamburgo, ela, então com dezesseis anos de idade, ocupava seu posto de ajudante voluntária na estação de Stralsund, quando chegou um trem especial de refugiados, dos quais a maioria estava completamente fora de si, incapaz de dar qualquer informação, abatida pela mudez ou soluçando e urrando de desespero. E, como vim a saber há pouco tempo em Sheffield, várias das mulheres que chegaram de Hamburgo nesse transporte carregavam de fato em suas bagagens seus filhos mortos, asfixiados pela fumaça ou que, durante o ataque, haviam perdido a vida de outra maneira. Não sabemos o que ocorreu a essas mães com tais cargas, se e como elas voltaram a adaptar-se à vida normal."