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  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação
"Nos dois ensaios sobre a pena de morte, Bobbio lembra que, tradicionalmente, ela era vista como a rainha das penas pois atenderia simultaneamente às necessidades de vingança, de justiça e de segurança do corpo coletivo. Exprime uma concepção orgânica da sociedade, que afirma que o todo está acima das partes, o que permite justificar a extirpação, do corpo social, de um membro corrompido. É, por excelência, o endosso da concepção de pena exercendo uma função retributiva. Ao malum passionis do crime deve corresponder o malum actionis da pena.

O revisionismo crítico em relação à aceitabilidade da pena de morte, que vem levando à sua deslegitimação crescente, está ligado ao contratualismo e a uma concepção individualista da sociedade e do Estado, que tornou sua rejeição possível. A primeira grande expressão desta revisão se deve a Beccaria no seu famoso livro de 1764 ["Dos delitos e das penas"]. O ponto de partida de Beccaria é a sua concepção de pena. Esta, para ele, não é retributiva mas utilitária-intimidatória e daí o seu questionamento da força intimidatória da pena de morte. Para Beccaria, não é importante que a pena seja cruel; é preciso que ela seja certa, para que não haja impunidade. Neste sentido a pena de morte não é nem útil nem necessária."


Fonte: LAFER, Celso. Apresentação. In: BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. XV.
 
A idéia de me sentar diante de um homem e sua mesa e lhe dizer que eu queria um trabalho, que eu tinha as qualificações necessárias, era demais pra mim. Francamente, eu estava horrorizado diante da vida, o que um homem precisa fazer para comer, dormir, manter-se vestido. Então fiquei na cama enchendo a cara. Quando você bebia, o mundo continuava lá fora, mas por um momento era como se ele não o trouxesse preso pela garganta.
Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?

Factótum - Charles Bukowski
 
Alexandre O Grande. O Vencedor de Herois. "Alguns bajulavam adores, certa vez, disseram-lhe que, com a destreza que possuía devia competir com os que disputavam os Jogos Olímpicos. Irradiaria dessa maneira, a glória de seu nome por toda a Grécia. Alexandre , então, respondeu:
_ Disputaria os Jogos Olímpicos se meus competidores forem Reis . "

- - - Updated - - -

gostei do final de " Este Quarto "
 
Última edição:
ACHO que tem uns erros na citação, tipos palavras faltando e tal. Ficou confuso. XD
 
SOLNESS (olha-o fixamente diz com voz abafada) -- Porque... porque, ao deixar Aline ser injusta comigo, parece-me que me imponho uma espécie de tortura benfazeja.

O DR. HERDAL (abanando a cabeça) -- Não compreendo patavina disso tudo.

SOLNESS -- Olhe... É assim uma espécie de prestação que reduziria, fôsse de alguns vinténs, uma dívida enorme, terrível...

O DR. HERDAL -- Dívida para com sua mulher?

SOLNESS -- Sim. E isso sempre alivia um pouco. Respira-se por um momento, compreende?

O DR. HERDAL -- Não. Diabos me levem se entendo uma palavra...

SOLNESS (bruscamente, levantando-se) -- Está bem. Não falemos mais nisso. (...)

Ibsen, Solness, o Construtor, trad. Vidal de Oliveira.
 
Trecho do Ainulindalë

E
afinal pareceu haver duas músicas evoluindo ao mesmo tempo diante do trono de Ilúvatar, e
elas eram totalmente díspares. Uma era profunda, vasta e bela, mas lenta e mesclada a uma
tristeza incomensurável, na qual sua beleza tivera principalmente origem. A outra havia agora
alcançado uma unidade própria; mas era alta, fútil e infindavelmente repetitiva; tinha pouca
harmonia, antes um som uníssono e clamoroso como o de muitas trombetas soando apenas
algumas notas.

NUM FALEI?? Melkor inventou o funk!! :jornal:
 
THERE was a child went forth every day;
And the first object he look’d upon, that object he became;
And that object became part of him for the day, or a certain part of the day, or for many years, or stretching cycles of years.

The early lilacs became part of this child,
And grass, and white and red morning-glories, and white and red clover, and the song of the phoebe-bird,
And the Third-month lambs, and the sow’s pink-faint litter, and the mare’s foal, and the cow’s calf,
And the noisy brood of the barn-yard, or by the mire of the pond-side,
And the fish suspending themselves so curiously below there—and the beautiful curious liquid,
And the water-plants with their graceful flat heads—all became part of him.

Leaves of Grass - Walt Whitman
 
Última edição:
Obrigado. Ofertar meus versos a um banqueiro?
Como é vulgar! Vender minha arte por dinheiro,
Na esperança de ver nos lábios de um ministro
Sorriso que não tenha algo de sinistro?
Almoçar cada dia um sapo e não ter nojo,
Carregar a hipocrisia em seu próprio bojo?
Obrigado. Trazer os joelhos encardidos?
Exercitar a espinha em todos os sentidos?
Obrigado. Galgar trapézios de acrobata?
Ser um grande homenzinho em roda aristocrata?
Ter de suportar os infelizes lamentos
Das velhas senhoras em seus tristes tormentos?
Obrigado. Gozar sempre ser editado
Pelo editor Sercy... pagando-lhe? Obrigado.
E sentir um prazer na reles esperança
De ter qualquer menção no "Mercúrio de França"?
Obrigado. Antepor -- de medo e covardia --
Salamaleque infame à boa poesia?
Redigir petições e pertencer a alguém?
Obrigado! Muito agradecido... Porém
Cantar, sonhar, passar, ter liberdade e fibra,
Ter a vista segura, e ter a voz que vibra,
Fazer o que bem quero e -- espanto dos perversos --
Por um sim por um não bater-me, ou fazer versos;
Trabalhar, sem visar a lucros e honrarias,
Numa excursão à Lua e outras fantasias!
Nada escrever jamais que eu mesmo não produza,
E, modesto, dizer à minha altiva musa:
"Seja do meu pomar -- seu próprio -- o que colha,
Embora fruto, flor ou simplesmente folha."
Depois, se acaso a glória entrar pela janela,
A César não dever a mínima parcela,
Guardar para mim mesmo a gratidão mais pura.
Enfim, sem ser a hera -- a parasita obscura --
Nem a seringueira -- gigante do caminho --
Subir, não muito, sim; porém subir sozinho.

Cyrano de Bergerac, adaptação de Rubem Braga

:grinlove:

P.S. (20/06/13): Descobri, um tempo depois, que esse trecho foi traduzido pelo Carlo Porto Carreiro e adaptado pelo Rubem Braga. O Braga tirou alguns trechos do início, mais especificamente. Então, ficam aqui os créditos corretos para o grande Porto Carreiro :)
O resto da tradução, ao que me consta, foi traduzido mesmo pelo Braga, em prosa.
 
Última edição:
— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
[Esconder]
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

—João Cabral de Melo Neto

Assim começa uma das leituras mais fantásticas que li na vida.
 
purgatório

Ó Padre nosso que nos Céus estás,
não circunscrito, mas em todo o amor,
que aos primos entes do teu feito dás,

louvado seja o teu Nome e o Valor
por toda criatura, à qual apraz
render graças também ao teu Vapor.

Bem venha do Teu reino a nós a paz,
porque de procurá-la, se dos Céus
não vier mais, nosso engenho é incapaz.

Como, de seu querer, os anjos teus
fazem, cantando a ti, renúncia pia,
o mesmo façam os homens dos seus.

Dá-nos hoje o maná de cada dia,
que, se faltar neste deserto infido
vai pra trás quem pra frente mais porfia.

E como nós o mal que hemos sofrido
a cada um perdoamos, tu perdoa,
benigno, sem cuidar se é merecido.

Nossa virtude que preste esboroa
não experimentes co'o antigo adversário,
mas dele nos liberta, que a aguilhoa.


(Pai-Nosso poetizado por Dante Alighieri no Canto XI, do livro Purgatório)
 
Acabei de ler hoje "A Culpa é das Estrelas", do John Green. O livro tem um monte de trechos legais.
Passei a maior parte da minha vida tentando não chorar na frente das pessoas que me amavam, por isso sabia o que o Augustus estava fazendo. Você trinca os dentes. Você olha para cima. Você diz a si mesmo que se eles o virem chorando, aquilo vai magoá-los, e você não vai ser nada mais que Uma Tristeza na vida deles. Você não deve se transformar numa mera tristeza, então não vai chorar, e você diz tudo isso para si mesmo enquanto olha para o teto. Aí engole em seco, mesmo que sua garganta não queira, olha para a pessoa que ama você e sorri.

Aparentemente, o mundo não é uma fábrica de realização de desejos.

O que mais? Ela é tão linda! Não me canso de olhar para ela. Não me preocupo se ela é mais inteligente que eu: sei que é. É engraçada sem nunca ser má. Eu a amo. Sou muito sortudo por amá-la, Van Houten. Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é possível escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas escolhas. Espero que a Hazel aceite as dela.
Eu aceito, Augustus.
Eu aceito.
 
"- O senhor crê - disse Cândido - que os homens sempre tenham se massacrado, como fazem hoje? Que sempre tenham sido mentirosos, velhacos, pérfidos, ingratos, bandidos, fracos, levianos, invejosos, gulosos, beberrões, avarentos, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e tolos?

- O senhor crê - replicou Martinho - que os falcões sempre tenham comido os pombos ao encontrá-los?"

Cândido ou O Otimismo - Voltaire
 
O mais forte nunca o é bastante para ser sempre o amo, se não transformar sua força em direito e a obediência em dever. Daí, o direito do mais forte, direito tomado ironicamente em aparência, e realmente estabelecido em princípio. Entretanto, jamais se nos explicará esta palavra? A força é um poder físico; não vejo que moralidade pode resultar dos seus efeitos. Ceder à força é um ato de necessidade, não de vontade, é, entretanto, um ato de prudência. Em que sentido poderá ser um dever?
Russeau - Contrato Social
 
Um dos mais bonitos poemas do Octávio Paz
Não é de um livro específico, mas de uma série de poemas que eu fui baixando aqui e ali.


E as sombras se abriram outra vez e revelaram teu corpo:
teus cabelos, outono espesso, queda de água solar,
tua boca e a branca disciplina de seus dentes canibais, prisioneiros em chamas,
tua pele de pão apenas dourado e teus olhos de açúcar queimado,
lugares onde o tempo não transcorre,
vales que só meus lábios conhecem,
desfiladeiro da lua que ascende à tua garganta por entre teus seios,
cascata petrificada da nuca,
alta meseta de teu ventre,
praia sem fim de teus flancos.

Teus olhos são os olhos fixos do tigre
e um minuto depois são os olhos úmidos do cão.

Sempre há abelhas em teus cabelos.

Tuas costas fluem tranquilas sob meus olhos
como a costa do rio à luz do incêndio.

Águas adormecidas golpeiam dia e noite tua cintura de argila
e em tuas costas, imensas como os areais da lua,
o vento sopra por minha boca e seu longo queixume cobre com suas duas asas cinzentas
a noite dos corpos,
como a sombra da águia a solidão do deserto.

As unhas dos dedos dos teus pés são feitas do cristal do verão.

Entre tuas pernas há um poço de água adormecida,
baía onde o mar à noite se acalma, negro cavalo de espuma,
cova ao pé da montanha que esconde um tesouro,
boca do forno onde se assam as hóstias,
risonhos lábios entreabertos e atrozes,
núpcias da luz e da sombra, do visível e do invisível
(lá a carne espera por sua ressurreição e pelo dia da vida perene).

Pátria de sangue,
única terra que conheço e que me conhece,
única pátria em que creio,
única porta ao infinito.


Y las sombras se abrieron otra vez y mostraron tu cuerpo:
tu pelo, otoño espeso, caída de agua solar,
tu boca y la blanca disciplina de sus dientes caníbales, prisioneros en llamas
tu piel de pan apenas dorado y tus ojos de azúcar quemada,
sitios en donde el tiempo no transcurre,
valles que sólo mis labios conocen,
desfiladero de la luna que asciende a tu garganta entre tus senos,
cascada petrificada de la nuca,
alta meseta de tu vientre,
playa sin fin de tu costado.

Tus ojos son los ojos fijos del tigre
y un minuto después son los ojos húmedos del perro.

Siempre hay abejas en tu pelo.

Tu espalda fluye tranquila bajo mis ojos
como la espalda del río a la luz del incendio.

Aguas dormidas golpean día y noche tu cintura de arcilla
y en tus costas, inmensas como los arenales de la luna,
el viento sopla por mi boca y su largo quejido cubre con sus dos alas grises
la noche de los cuerpos,
como la sombra del águila la soledad del páramo.

Las uñas de los dedos de tus pies están hechas del cristal del verano.

Entre tus piernas hay un pozo de agua dormida,
bahía donde el mar de noche se aquieta, negro caballo de espuma,
cueva al pie de la montaña que esconde un tesoro,
boca del horno donde se hacen las hostias,
sonrientes labios entreabiertos y atroces,
nupcias de la luz y la sombra, de lo visible y lo invisible
(allí espera la carne su resurrección y el día de la vida perdurable).

Patria de sangre,
única tierra que conozco y me conoce,
única patria en la que creo,
única puerta al infinito.
 
Última edição:
"Béla Lugosi está morto, e eu também. O que resta dele está apodrecendo em algum lugar num caixão de pinho, enquanto eu tenho a oportunidade de estar sentado aqui no terraço, apreciando minha bebida e olhando para você. Corrija-me se eu estiver sendo presunçoso, mas acho que tive um fim melhor que o dele"
Prólogo- Uma Reunião de Monstros
Vampiro: A Máscara


ééééééé, tô mestrando =]
 
"Estar cansado não é o mesmo que ser rico, mas na maior parte do tempo é quase a mesma coisa."

Clube da Luta - CHUCK PALAHNIUK
 
Então aconteceu. Uma noite em que a chuva fustigava o telhado inclinado da cozinha, um grande espírito entrou para sempre na minha vida. Segurei seu livro em minhas mãos e tremi enquanto ele me falava do homem e do mundo, de amor e sabedoria, de sofrimento e culpa, e eu soube que nunca mais seria o mesmo. Seu nome era Fiódor Mikhailovich Dostoiévski. Ele sabia mais sobre pais e filhos do que qualquer homem no mundo, e de irmãos e irmãs, padres e malfeitores, culpa e inocência. Dostoiévski me transformou. O idiota, Os possessos, Os irmãos Karamázov, O jogador. Virou-me pelo avesso. Descobri que podia respirar, que podia ver horizontes invisíveis. O ódio a mai pai derreteu. Eu amava meu pai, pobre, sofredor, um infeliz perseguido. Amava minha mãe também, toda minha família. Era hora de me tornar um homem, de deixar San Elmo e sair para o mundo. Eu queria pensar e sentir como Dostoiévski. Eu queria escrever. (...) Dostoiévski tinha epilepsia, eu tinha asma. Para escrever bem, um homem precisa ter uma doença fatal. Era a única maneira de lidar com a presença da morte.

A irmandade da uva - John Fante
 
PAZ DO ENTARDECER.

Já lacerada pela labareda
Exausta descansa a seca vereda

E a escura e sulfurina nuvem cai
Uma muralha esconde e o mastro esvai.

Os jardins arquejam com o perfume -
A sombra invade os caminhos sem lume.

As ternas vozes suspiram e calam -
As altas em zumbido se resvalam.

Se visões atraem a rica festa
A selvagem luta atrai luz funesta.

Na névoa densa só são escutados
Os débeis sons de mundos dominados.

trad. Eduardo de Campos Valadares. Crepúsculo, George Stefan (Iluminuras).

Pra quem acha que Crepúsculo é sinal de livro ruim... Maior poeta expressionista alemão :)
 

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