A derrota de um time fraco, construído sobre erros e que só tinha Felipão
Por PVC:
No Bate Bola 1a Edição e no Abre o Jogo da Eldorado ESPN, a chance do Goiás foi tratada. Existia. E a armadilha ficou mais clara no depoimento do técnico Artur Neto, no BB 1 desta quarta-feira. Ele não iria atacar o Palmeiras, mas recolher-se e contra-atacar, calmamente. Aproveitaria o erro do Palmeiras. Erro previsível por ser um time construído em cima de erros, antes da chegada de Felipão. E que aprendeu, com o treinador campeão da Libertadores de 99, a marcar. Não havia tempo para ensinar a criar.
Ainda que o primeiro tempo do Palmeiras tenha sido bom, empurrado pela alegria do Pacaembu, inflamado. Pacaembu que se calou no gol de Carlos Alberto, aos 47 do primeiro tempo. Voltou mais tímido, como o Palmeiras. Até Felipão cometer seu erro também. Tirar Lincoln do jogo, ainda que não tivesse mais pernas e não jogasse bem foi a nota que faltava para o Palmeiras não ter quem parasse o jogo na frente. O ritmo ficou ataque x contra-ataque. Como o Goiás sonhava.
Ganhar a Sul-Americana seria um prêmio a um ano desastroso. Pense no que foi o Palmeiras, que começou 2010 com Muricy treinador e com toda a diretoria querendo sua cabeça. Conseguiu. Quando Muricy foi embora, a diretoria cometeu o erro de trazer Antônio Carlos e, com ele, uma legião de jogadores que não deram certo. Paulo Henrique, Bruno Paulo, Ivo... São 18 jogadores que passaram pelo Palmeiras e foram embora antes do meio do ano.
O ano do Palmeiras acabou em abril. E recomeçou em julho, no anúncio da chegada de Felipão.
Só a sua presença reergueu a cabeça do palmeirense, que passou a acreditar na chance de ser campeão da Copa Sul-Americana. A esperança de ir à Libertadores e, muito mais do que isso, de ganhar um título, coisa tão rara na vida da torcida verde nos últimos dez anos.
Vencer o título sul-americano permitira começar o ano novo com vida nova, ainda que com a ameaça do retorno de Mustafá Contursi, por meio de seu candidato à presidência, Arnaldo Tirone. Ameaça reforçada pelo desastre político que foi a gestão Luiz Gonzaga Belluzzo, que demorou para se posicionar sobre seu candidato, pela intransigência de Salvador Hugo Palaia, que não abre mão de sua candidatura à presidência, apesar da evidência da derrota eleitoral e do retrocesso político do clube.
Se você acha que algo que está tão ruim não pode piorar, pode sim. Porque a derrota do Palmeiras compromete até o Brasileirão. Quem conhece Felipão sabe que depois da derrota sua intenção seria colocar time titular para vencer e apagar o vexame da eliminação para um time rebaixado. O Palmeiras não perdeu para o "rebaixado". Perdeu do Goiás. Ou melhor, perdeu para si próprio.
E difícil será Felipão achar clima para escalar titulares e lutar pela vitória contra o Fluminense. A Mancha Verde ameaçará, como ameaçou Vágner Love.
... E Elias ainda vai comemorar que o Palmeiras perdeu para o Corinthians B...
Santa inteligência!
_________________
Fonte: ESPN
PVC, como sempre, perfeito na análise.
EDIT: Mauro César Pereira perfeito também:
Futebol nos ensina cedo euforia e o sofrimento profundo. É aula de vida
Não, eu não vou escrever sobre o jogo. Dane-se o que aconteceu nas quatro linhas, o sistema, o esquema, o 4-3-2-1, o 3-5-2, as duas linhas de quatro, o diabo. Coloquei as cervejas para gelar e me preparei para acompanhar Palmeiras x Goiás sem muita expectativa, ainda mais depois do fraco encontro entre os dois times, uma semana antes.
Minha missão era acompanhar atentamente a peleja, escrever as últimas linhas para a minha coluna semanal no jornal Marca.BR e publicar um post aqui no blog. Depois, dormir. Fui surpreendido. O duelo do Pacaembu foi mais do que eu esperava. E jamais será esquecido. E não só pela chance de ver mais uma das surpresas esportivas que só o futebol consegue proporcionar.
A imagem do pequeno "japonesinho" palmeirense aos prantos, incrédulo, diante do fracasso do seu time de coração foi marcante. Incrível, você está vendo um jogo que tem tudo para ser apenas mais um e repentinamente as coisas viram e a TV lhe mostra uma cena forte, impactante. O menino chorava, chorava e chorava. E não chorava à toa.
O pequeno torcedor chorava por seu clube de coração, sim, aquele que irá amar pela vida toda, de forma incondicional, aconteça o que acontecer. Por que o futebol é isso, é muito mais do que direitos federativos, de televisão, patrocínios e projetos marqueteiros capitaneados por oportunistas de toda ordem. Só o nosso esporte faz uma criança sofrer como um adulto e um adulto virar criança.
Lugares marcados em "arenas" com telões em atmosferas que tentam transformar o nosso jogo numa espécie de teatro. Jogadores sem vínculo e muitas vezes sequer respeito pelas camisas que vestem. O dinheiro, e só ele, ditando as normas, os caminhos, as tendências. Tudo isso forma o chamado "futebol moderno" que eu odeio, como muita gente odeia.
O "esporte bretão" pode comportar espaços confortáveis para quem os deseja, mas precisa de envolvimento, conexão entre quem joga e quem torce. Não, a camisa não pode deixar de ser o elo maior da paixão das pessoas pelo jogo, pelo time. E na derrota para o Goiás o choro do "japinha" foi forte, cortante, linda e emocionante cena.
A paixão dele pelo Palmeiras vale mais do que qualquer taça. E é por isso que o clube continuará sendo um grande. O futebol é assim, ensina desde cedo o que é euforia extrema e sofrimento profundo. É aula de vida. E e por essas e outras que nós adoramos isso.
E nunca é demais lembrar: melhor do que vencer é ter um time pelo qual torcer.
__________