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Está vendo aquela casa? Guinevere fez um gesto na direção de uma bela construção de dois andares no lado norte da rua. É ali que vive Nabur, e onde nosso pequeno rei peida e vomita. Ela estremeceu. Mordred é uma criança particularmente desagradável. Manca e nunca pára de gritar. Pronto! Está ouvindo? Realmente eu podia ouvir uma criança chorando, mas não podia dizer se era realmente Mordred. Ande, venha cá ordenou Guinevere enquanto atravessava uma pequena multidão que a olhava do lado da rua, e depois subiu uma pilha de pedras partidas ao lado da bela casa de Nabur.
Eu a acompanhei e descobri que tínhamos chegado a uma área de construção, ou melhor, a um lugar onde uma construção estava sendo derrubada e outra sendo erigida nas ruínas. O prédio que estava sendo destruído parecia um templo romano.
Era aqui que as pessoas cultuavam Mercúrio disse Guinevere mas agora teremos um templo para um carpinteiro morto. E como é que um carpinteiro morto vai nos dar boas colheitas, diga! Essas últimas palavras, ostensivamente faladas para mim, foram pronunciadas suficientemente alto para perturbar a dúzia de cristãos que trabalhavam em sua nova igreja. Alguns estavam assentando pedras, alguns aparelhando portais com enxós, enquanto outros derrubavam as paredes antigas para pegar material para a nova construção. Se você precisa de um abrigo para o seu carpinteiro disse Guinevere em voz ressoante , por que não ocupar simplesmente o prédio antigo? Perguntei isso a Sansum, mas ele diz que deve ser tudo novo para que seus preciosos cristãos não precisem respirar o ar que já foi usado por pagãos, e segundo essa crença absurda nós derrubamos o antigo, que era belíssimo, e montamos um prédio medonho cheio de pedras mal ajustadas e sem qualquer graça! Ela cuspiu na poeira, para afastar o mal. Ele diz que é uma capela para Mordred! Dá pra acreditar? Ele está determinado a transformar aquela criança desgraçada num cristão lamuriento, e é nesta abominação que fará isso.
Cara senhora! O bispo Sansum surgiu de trás de uma das novas paredes, que realmente era mal-assentada em comparação com o cuidadoso trabalho de pedreiro dos antigos templos romanos. Sansum usava um manto preto que, como seu cabelo rigidamente tonsurado, estava embranquecido com o pó de pedra. A senhora nos causa imensa honra com sua presença disse ele, enquanto se curvava para Guinevere.
Não estou lhe fazendo honra, seu verme. Vim mostrar a Derfel a carnificina que está fazendo. Como pode cultuar num lugar assim? Ela apontou para a igreja semiconstruída. É o mesmo que usar um curral de vacas!
Nosso querido senhor nasceu num curral, senhora, de modo que me regozijo ao saber que nossa humilde igreja a faz lembrar de algo assim. Ele fez outra reverência. Alguns de seus trabalhadores tinham se reunido na extremidade mais distante da construção nova, onde começaram a cantar uma de suas canções sagradas para se guardar da presença maléfica dos pagãos.
O som certamente se parece com o de um curral disse Guinevere azedamente, depois passou pelo sacerdote e caminhou sobre o chão cheio de entulho até onde uma cabana de madeira se encostava na parede de tijolo e pedra da casa de Nabur. Em seguida soltou os cães para que eles corressem livres. Onde está aquela estátua, Sansum? Ela fez a pergunta por sobre o ombro, enquanto chutava a porta da cabana.
Infelizmente, graciosa dama, apesar de eu Ter tentado salvá-la para a senhora, nosso abençoado Senhor ordenou que fosse derretida. Para os pobres, entende?
Ela se virou selvagemente para o bispo.
Bronze! Que uso o bronze tem para os pobres? Eles comem bronze? Ela me olhou. Uma estátua de Mercúrio, Derfel, do tamanho de um homem alto e lindamente trabalhada. Linda! Obra romana, não britânica, mas sumiu, derretida numa fornalha cristã porque vocês ela estava olhando para Sansum de novo, com desprezo no rosto forte não podem suportar a beleza. Ficam amedrontados com ela. São como larvas derrubando uma árvore e não têm idéia do que fazem. Guinevere entrou na cabana, que era obviamente o lugar onde Sansum guardava os objetos valiosos que descobria nos restos do templo. Emergiu com uma pequena estatueta de pedra, que jogou para um de seus guardas. Não é muito falou , mas pelo menos está em segurança de um verme carpinteiro nascido num curral.
Sansum, ainda sorrindo apesar de todos os insultos, me perguntou como ia a luta no norte.
Estamos vencendo lentamente falei.
Diga ao meu senhor Artur que rezo por ele.
Reze pelos inimigos dele, seu sapo disse Guinevere e talvez vençamos mais rapidamente. Ela olhou para os seus dois cães que estavam mijando nas paredes novas da igreja. Cadwy fez um ataque nesta direção no mês passado disse-me ela e chegou perto.
Graças a Deus fomos poupados acrescentou piedosamente o bispo Sansum.
Não graças a você, seu verme desgraçado disse Guinevere. Os cristãos fugiram. Levantaram a bainha das saias e correram para o leste. O resto de nós ficou, e Lanval, graças aos Deuses, expulsou Cadwy. Ela cuspiu na direção da igreja nova. Com o tempo estaremos livres dos inimigos, e quando isso acontecer, Derfel, vou demolir esse curral e construir um templo digno de um Deus de verdade.
Para Ísis? perguntou Sansum marotamente.
Cuidado alertou Guinevere , porque minha Deusa governa a noite, sapo, e ela pode roubar sua alma para se divertir. Ainda que só os Deuses saibam qual a serventia de sua alma miserável. Venha, Derfel. (...)”