Eu acho esta pergunta importante. E dá pra responder sem entrar na seara ideológica.
Eu resumiria no seguinte: 1) ter um projeto: não ideias soltas, opiniões dispersas, ainda que de boa fé ou corretas isoladamente, mas um verdadeiro projeto com início, meio e fim, coeso, detalhado, estudado; 2) conhecê-lo a fundo; 3) ser gabaritado, por estudo e por práticas anteriores, para executá-lo.
O fato de a Presidência da República ser uma função política apenas lhe acrescenta mais complexidade, mas não lhe retira a natureza de cargo executivo, com uma série de responsabilidades. Nossa desilusão com a política, que tem razão de ser, acaba nos levando ao erro de encará-la como um universo mirabolante, passível de soluções mágicas, como se fosse possível ignorar o trivial.
Quando vamos encarar uma missão, seja ela qual for, qual é a melhor forma de aumentarmos as chances de sermos bem sucedidos? Primeiramente: conhecê-la, o mais profundamente possível - saber exatamente aonde queremos chegar, em curto, médio e longo prazo, e identificar quais são as principais dificuldades para encarar e as principais potencialidades ao nosso alcance para utilizar; e, com base nesse diagnóstico, traçar um plano criterioso para cada um dos objetivos, repartindo-o em tarefas.
A existência de um projeto assim - e é inevitável que seja complexo, porque a missão também é - já é um ponto que conta muito para a qualificação de uma candidatura à Presidência da República. Mas é também essencial que o seu líder, aquele que terá a missão de dar uma unidade ao projeto e conduzi-lo, mantendo a sua coesão, o conheça. Uma empresa não escolhe para geri-la um entusiasta, por mais bem intencionado que seja, que não compreenda os próprios objetivos da organização, seus problemas, seu produto, seus concorrentes. Na Administração Pública a lógica não é tão diferente, o que muda é que os interlocutores e organismos com que você é obrigado a fazer política (porque política não é privativo da atividade pública) têm natureza muito própria e apresentam desafios peculiares.
E a melhor forma de se qualificar para tudo isso não tem outra: estudando, conversando com especialistas, participando de debates sobre as matérias a enfrentar e, o principal, desempenhando pessoalmente o máximo de funções parecidas ou relacionadas com aquilo que você vai encarar: exercer o parlamento (com o qual você vai ter que dialogar), a gestão de uma prefeitura, um estado, uma secretaria, um ministério, ou mesmo de uma empresa privada. Tudo isso é preparação válida. E é isso inclusive que o habilita para desenvolver bem um projeto e para ter segurança do que propõe, portanto está tudo interligado.
Independente de quem seja o candidato de vocês, acho que a nossa obrigação enquanto eleitor é esta: cobrar dele(a) um projeto sério; cobrar dele(a) que o conheça em detalhes e guarde coerência entre o que fala, o que já fez e o que propõe; e avaliar se acumulou estudo e experiência que lhe deem condições para executá-lo. Creio que a única forma de se julgar isso é estudando a sua biografia e observá-lo(a) em entrevistas, debates e, principalmente, sabatinas com os setores fragmentários (associações da indústria, agricultura, construção civil, saúde, ciência e tecnologia, segurança pública e por aí vai).